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Autor(es): José Luis Oreiro
Valor Econômico – 18/06/2013

 

A performance macroeconômica durante os dois  primeiros anos da presidente Dilma tem sido decepcionante. O crescimento  econômico foi medíocre, ficando abaixo de 1,5% ao ano na média  2011-2012. A inflação permanece elevada e ameaça acionar os velhos  mecanismos de indexação, abandonados desde o Plano Real como por exemplo  o “gatilho salarial”. Por fim, a situação externa, tão confortável  durante os dois mandatos do presidente Lula, já mostra sinais de visível  deterioração com a elevação do déficit em conta corrente para mais de  3% do PIB, com viés de alta. Em suma, trata-se de um quadro de  “estagflação” com sérios riscos de crise de balanço de pagamentos a  médio prazo.

A equipe econômica tem insistido em culpar o cenário  externo pela pífia performance macroeconômica. Não resta dúvida que o  quadro recessivo nos países desenvolvidos contribuiu para a  desaceleração do crescimento da economia brasileira ao derrubar em quase  20% as nossas exportações de manufaturados, o que explica, em parte, a  situação de estagnação da produção industrial prevalecente na economia  brasileira.

Mas também não podemos esquecer que esse mesmo cenário  permitiu que o Banco Central iniciasse um ciclo de redução da taxa de  juros em meados de 2011, levando a Selic ao seu mais baixo patamar nos  últimos 20 anos. Esse enorme estímulo monetário deveria ter induzido um  crescimento robusto da economia brasileira, se a razão fundamental da  sua estagnação fosse a escassez de demanda agregada.

A apreciação cambial e o aumento dos salários levam a um aumento muito rápido do custo unitário do trabalho

O  problema da economia brasileira não está no lado da demanda, mas do  lado da oferta. A razão de nossa estagflação encontra-se na brutal perda  de competitividade sofrida pela indústria brasileira nos últimos seis  anos em decorrência dos efeitos combinados da apreciação da taxa real de  câmbio, do crescimento dos salários acima da produtividade do trabalho e  das deficiências notórias e crescentes em nossa infraestrutura. A  apreciação cambial em conjunto com o aumento dos salários tem levado a  um aumento extremamente rápido do custo unitário do trabalho, fazendo  com que, em poucos anos, a indústria brasileira se tornasse incapaz de  concorrer, tanto nos mercados externos como no mercado interno, com a  indústria de outros países, notadamente a China. As deficiências de  infraestrutura completam o quadro, acrescentando externalidades  negativas à produção industrial doméstica.

Esses problemas são  resultado da inconsistência do modelo de desenvolvimento adotado pelo  Brasil no final do governo Lula e aprofundado nos dois primeiros anos da  presidente Dilma.

Esse modelo de desenvolvimento baseia-se na  ideia do “desarollo hacia dentro”. Trata-se de um modelo no qual as  políticas de redistribuição de renda e de aumento real do salário  mínimo, em conjunto com uma forte expansão do crédito bancário, deveriam  estimular um vigoroso crescimento dos gastos de consumo, o que levaria  os empresários a aumentar os gastos de investimento, permitindo assim um  aumento simultâneo da capacidade produtiva e da produtividade do  trabalho. Nesse caso, seria possível obter um elevado crescimento do PIB  e dos salários reais, ao mesmo tempo em que a inflação seria mantida  sob controle.

Esse modelo de desenvolvimento, no entanto, se  mostrou inconsistente no caso brasileiro. O forte crescimento da demanda  doméstica no período (2007-2012) levou o desemprego a níveis  historicamente baixos, fazendo com que os salários reais crescessem  acima da produtividade do trabalho, exacerbando a perda de  competitividade decorrente da apreciação cambial acumulada desde 2005.  Para reverter a perda de competitividade seria necessário uma forte  desvalorização cambial, o que causaria uma forte elevação da taxa de  inflação, a não ser que seu efeito fosse contrabalançado por uma  política fiscal mais apertada. O problema é que desde 2008 a política  fiscal brasileira tem sido expansionista – além de ter um viés em  consumo e custeio, em vez de investimento- tornando impossível um ajuste  não inflacionário da taxa real de câmbio.

Em suma, o modelo de  desenvolvimento brasileiro não pode alcançar simultaneamente dois  objetivos, a saber: inflação baixa e estável e câmbio competitivo.  Faz-se necessário sacrificar um objetivo para (tentar) alcançar o outro.  Aparentemente, o apelo eleitoral fez a presidente Dilma escolher o  controle da inflação, sacrificando no altar do poder as perspectivas de  crescimento da economia brasileira.