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~ Economia, Opinião e Atualidades

José Luis Oreiro

Arquivos da Tag: Os erros de Paulo Guedes

Trégua com os servidores (Correio Braziliense, 25/11/2021)

30 terça-feira nov 2021

Posted by jlcoreiro in José Luis Oreiro, Reforma Administrativa : PEC 32

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José Luis Oreiro, Os erros de Paulo Guedes, Reforma Administrativa

Paulo Guedes busca reconciliação com o funcionalismo, enquanto reforma administrativa patina no Congresso

Tainá Andrade

Em evento interno do Ministério da Economia, o ministro Paulo Guedes tentou melhorar a relação com os servidores públicos. Apesar de explicar, à sua maneira, os episódios nos quais foi criticado por xingar a categoria e amenizar a antipatia ocasionada por ele com elogios aos serviços dos colaboradores de sua pasta, ele voltou a defender a reforma administrativa.

O ministro tem retomado o assunto insistentemente. A proposta passou por Comissão Especial, mas está emperrada na Câmara dos Deputados. Precisa ser aprovada no plenário das duas Casas do Congresso. Nas palavras de Guedes, a reforma administrativa é uma tentativa de trazer “modernização, digitalização, maior produtividade e trabalhar com meritocracia” dentro do segmento. Ele pediu apoio à plateia que o assistia, formada por servidores.

“Agora não é só fazer um concurso público e ganhar estabilidade. Você vai fazer um concurso público e será avaliado em sua integridade, na prestação de serviço, na assiduidade, na capacidade de trabalhar em equipe, para então merecer a estabilidade de emprego que os quadros atuais já têm e que continuarão tendo”, ressaltou Guedes. “Eles têm senioridade, experiência suficiente para avaliar os quadros mais jovens. Então, nossa reforma administrativa era basicamente isso”, justificou o ministro.

Apesar do esforço de retórica de Guedes, o fato é que a reforma administrativa proposta pelo governo federal enfrenta sérias dificuldades no Congresso. Não há perspectiva de aprovação da PEC 32 este ano, quando faltam poucas semanas para o recesso de fim de ano.

Se depender do deputado federal Professor Israel (PV-DF), líder da Frente Parlamentar Mista da Reforma Administrativa, a atual proposta não vai prosperar. A estratégia de dificultar a votação, utilizada na Comissão Especial a fim de impedir retrocessos, deverá continuar. “O governo perdeu o debate público. Não era uma reforma séria, que pretendia trazer melhoria. Era de caráter fiscal e enfraquecia o Estado no sentido de que ficaria muito submetido aos ventos da política eleitoral; permitiria a contratação de servidores por meio de análise curricular, processo simplificado, terceirização”, enumerou o deputado. “Mostrou-se ruim ao longo do debate, não conseguiu convencer nem mesmo os parlamentares da base governista”, salientou.

Israel vê uma descoordenação do governo em relação à proposta. Ele não crê em um esforço do Planalto e do Ministério da Economia para pautar o tema. As tentativas de Guedes, segundo o deputado, partem de uma falta de organização e credibilidade que são recorrentes na gestão de Bolsonaro. “Desencontrado, faz parte do conjunto de falas que faz sem consultar ninguém. A equipe técnica do Guedes contradiz o próprio Guedes e o presidente. Guedes contradiz o presidente. Bolsonaro não responde pelo próprio governo”, criticou o parlamentar da Frente Parlamentar Mista da Reforma Administrativa.

Voz isolada

Especialistas também avaliam que Guedes está isolado em relação à reforma administrativa. “Uma coisa é ele pedir, outra coisa é o Congresso aprovar. Ele próprio reconhece. Ele está no papel dele, mas parece ser uma voz solitária no governo. É diferente de quando se compara o empenho com a PEC dos Precatórios”, comenta Cristiano Noronha, cientista político da Arko Advice. Segundo ele, para aprovar a PEC dos Precatórios, “o governo envolveu ministros, escolheu o líder do governo para relatar a matéria. É claramente muito ostensivo o empenho do governo que não é o mesmo na reforma administrativa”, acrescentou. “Se a Câmara não percebe o empenho do governo, então o negócio tem um andamento muito lento. Por que vai aprovar uma matéria que não tem certeza se vai avançar no Senado? Os parlamentares poderão se desgastar com o eleitorado de concursados, se não têm certeza do que acontecerá no Senado. Há uma resistência, primeiro, porque não vê o governo com um trabalho sistemático e colocando toda a energia”, analisou.

José Luis Oreiro, professor do departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB) e especialista em macroeconomia e desenvolvimento econômico, acredita que a reforma administrativa precisa ganhar mérito antes de voltar ao debate público. Na avaliação dele, a PEC fragiliza o vínculo do servidor público, visa substituir servidores do Estado por servidores de políticos.

“É consenso entre economistas que não sejam chapa branca que ela é muito ruim. É um retorno à República Velha. Os servidores contratados no novo regime ficarão na mão dos chefes das repartições, que serão ocupados por indicação política. Com isso, aumenta enormemente o espaço de ingerência política no Estado brasileiro. Acaba com a linha que divide o Estado do governo, construído em 90 anos, desde Getúlio Vargas”, explicou.

Foto: José Luis Oreiro

Nova crítica à Petrobras

Durante o 1º Seminário da Corregedoria do Ministério da Economia, Paulo Guedes disse que o papel do governo é “cuidar da população” e não focar em outras questões, como buscar lucro “até excessivo” com a produção de petróleo no Brasil, mercado que é dominado pela Petrobras. “Estamos aqui para cuidar da população e não tentar fazer chapa de aço com prejuízo, petróleo com lucro, que às vezes até o mercado — todo mundo reclama que é até excessivo —, exatamente pela concentração e verticalização do mercado”, comentou o ministro.

A menção vai ao encontro da declaração do presidente Jair Bolsonaro. No fim de outubro, o chefe do Executivo disse que a estatal precisaria reduzir sua margem de lucro. Guedes criticou o modelo intervencionista de governo. “Eu sempre disse que o erro é de modelo. Não são as pessoas em si, mas modelo equivocado, que tem intervenção demais na economia, vai derrapando em direção à corrupção. Você tem gente que era muito idealista, entrou na política e 20, 30, 40 anos depois, está tendo problema na Justiça exatamente porque esse modelo de intervenção não é saudável”, afirmou Guedes.

Segundo ele, a pasta tem feito um trabalho cada vez mais integrado com órgãos como o Tribunal de Contas da União (TCU), a Controladoria-Geral da União (CGU) e até a Procuradoria-Geral da República (PGR) para impedir a corrupção. “Exatamente tendo aquela filosofia que é melhor prevenir do que remediar. Mantém altos padrões de integridade, confiança de que precisamos ter um nos outros, de quem ninguém vai desonrar o trabalho dos outros, que toda vez que alguém comete um erro desse toda a classe, a categoria é acusada”.

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Guedes pode ter novas baixas no ministério da Economia (Correio Braziliense, 13/08/2020)

13 quinta-feira ago 2020

Posted by jlcoreiro in Oreiro, Os erros de Paulo Guedes

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José Luis Oreiro, Os erros de Paulo Guedes

Rumores da saída de Waldery Rodrigues e Carlos da Costa foram grandes, mas governo negou a demissão deles

Rosana Hessel Renato Souza

(foto: Evaristo Sa/AFP – 3/4/20 )

A debandada no Ministério da Economia parece não ter acabado, em meio à expectativa, nesta quarta-feira (12/8), de que o ministro Paulo Guedes pode ter novas baixas na pasta. O mercado ficou apreensivo sobre os rumos da política econômica diante do visível enfraquecimento do “Posto Ipiranga” do presidente Jair Bolsonaro. Até mesmo a saída do ministro foi cogitada, se o chefe do Executivo não defender o teto de gastos, o que ele fez publicamente, na quarta, em postagem nas redes e em pronunciamento à noite.

Os secretários especiais Waldery Rodrigues (Fazenda) e Carlos da Costa (Produtividade, Emprego e Competitividade) poderiam ser os próximos a deixar o governo, pois eles chegaram a falar sobre a intenção de pedir demissão a alguns interlocutores, após desgastes recentes. Os rumores da saída de ambos foram grandes na quarta, após Guedes, na véspera, confirmar a “debandada” na equipe durante o anúncio dos pedidos de demissão de Salim Mattar, secretário especial Desburocratização e Privatização, e de Paulo Uebel, secretário especial de Desestatização e Privatização. Em nota no fim da tarde de ontem, o Ministério da Economia negou a saída de Waldery e de Carlos Da Costa.

Desde junho, houve outras quatro baixas importantes na equipe econômica: Marcos Troyjo, Mansueto Almeida (Tesouro Nacional), Caio Megale (diretor de Programas) e Rubens Novaes, que anunciou sua saída da presidência do Banco do Brasil para o fim deste mês. No ano passado, os desfalques foram o secretário especial da Receita Federal, Marcos Cintra, e o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES), Joaquim Levy.

Para analistas, a desidratação de Guedes é evidente devido à falta de resultados das promessas feitas em campanha. E, para piorar, o presidente não é um adepto da cartilha liberal do ministro. “O estilo de governo que Bolsonaro quer fazer é o da direita da Polônia e da Hungria, que não é compatível com o liberalismo. Só que Guedes foi muito importante para a eleição de Bolsonaro, pois garantiu apoio do mercado financeiro. Se ele rifar o ministro, aí não tem reeleição”, disse José Luis Oreiro, professor de Economia da UnB.

Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, não vê a saída de Guedes “por enquanto”, mas ele não a descarta se os riscos fiscais ficarem incontornáveis. “A pressão por aumento do gasto público será grande nos próximos anos, especialmente, da nova base de apoio do governo: o Centrão. Bolsonaro nunca foi liberal. Era normal que esse problema fosse aparecer, em algum momento, e Guedes está perdendo força”, lamentou.

Pedido de afastamento
O PDT entrou com uma ação de descumprimento de preceito fundamental (ADPF) no Supremo Tribunal Federal para que Paulo Guedes seja afastado do cargo sob a acusação de fraudes em fundos de pensão. As ilegalidades teriam ocorrido por meio de uma gestora da qual ele é sócio. O relator do caso ainda não foi sorteado na Corte. Procurada, a assessoria do Ministério da Economia não comentou o assunto. Já a defesa do ministro refutou as acusações. “É extremamente leviano e irresponsável um partido político se utilizar de tais aleivosias para pedir o afastamento de um ministro de Estado”, informou, em nota.

 

Agenda de Guedes afundou o país e será um desastre no pós-pandemia, diz Oreiro (Hora do Povo, 12/07/2020)

13 segunda-feira jul 2020

Posted by jlcoreiro in Debate macroeconômico, Os erros de Paulo Guedes

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Debate Macroeconômico, José Luis Oreiro, Os erros de Paulo Guedes

Professor Oreiro. Banco de Imagens da Câmara dos Deputados

“Qual é o plano que Guedes tem para o pós-pandemia? Exatamente o mesmo que ele tinha antes da pandemia, ou seja, a agenda privatização-ajuste fiscal-abertura comercial. O problema é que essa agenda não estava dando certo antes da pandemia, por que razão daria certo no mundo pós Covid-19?”

O economista José Luis Oreiro, professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília, afirmou, neste domingo (12), em entrevista ao HP, que “no pós-pandemia o Estado será o único agente capaz de puxar o crescimento”.

“A economia brasileira sairá da pandemia com uma enorme capacidade ociosa, com uma taxa de desemprego muito elevada e com empresas altamente endividadas. Nessas condições não devemos esperar que o crescimento seja liderado pelo consumo e pelo investimento do setor privado nacional”, alerta o professor.

HORA DO POVO – As medidas tomadas pelo governo até agora para enfrentar a crise são suficientes para superar a queda da atividade econômica, que já vinha antes, mas foi agravada pela pandemia?

JOSÉ LUIS OREIRO – Antes de mais nada temos que deixar claro que é impossível evitar a queda de atividade econômica decorrente das medidas de distanciamento social para evitar/retardar o contágio pelo coronavírus, tudo o que o governo pode fazer é (i) reduzir a queda de demanda agregada por intermédio de políticas de transferência de renda para os trabalhadores informais e de manutenção dos empregos e da renda dos trabalhadores formais e (b) socorrer as empresas do setor privado, principalmente as pequenas e médias empresas com crédito a juros baixos e elevado prazo de carência para evitar uma onda de falência de empresas. O programa de renda emergencial, iniciativa do Congresso Nacional, foi bem sucedido em preservar a renda dos trabalhadores informais e das parcelas mais vulneráveis da população brasileira, e precisa ser mantido ao menos até o início de outubro de 2020 para evitar um colapso da demanda agregada no último trimestre do ano. A grande lacuna tem sido o crédito para as empresas PME’s. Os programas lançados pelo governo até agora não têm sido efetivos no sentido de proporcionar crédito às pequenas e médias empresas. Teremos um tsunami de falência de empresas no segundo semestre, o que terá um impacto muito negativo sobre o emprego e a renda em 2021.

HP – O Estado, em sua opinião, tem condições de puxar o crescimento econômico no pós-pandemia? De que forma?

JOSÉ LUIS OREIRO – No pós-pandemia o Estado será o único agente capaz de puxar o crescimento. A economia brasileira sairá da pandemia com uma enorme capacidade ociosa, com uma taxa de desemprego muito elevada e com empresas altamente endividadas. Nessas condições não devemos esperar que o crescimento seja liderado pelo consumo e pelo investimento do setor privado nacional. O setor privado estrangeiro não terá interesse em investir num país cuja imagem no mundo é a pior possível devido à política ambiental do governo e ao tratamento dado a questão dos direitos humanos. O comportamento negacionista do Presidente da República durante a Pandemia contribuiu muito para piorar a imagem do país no exterior. Nessas condições os investidores estrangeiros, notadamente os investidores institucionais que estão sujeitos a regras estritas de compliance em seus países, não vão colocar um centavo num país que é visto como sendo governado por bárbaros. Sendo assim, ou o Estado brasileiro puxa o crescimento por intermédio de um programa vigoroso de investimentos em infraestrutura ou ficaremos numa situação de estagnação econômica por anos a fio.

Ou o Estado brasileiro puxa o crescimento por intermédio de um programa vigoroso de investimentos em infraestrutura ou ficaremos numa situação de estagnação econômica por anos a fio

HP – Como aumentar os investimentos públicos? O governo diz que não pode gastar mais, vai estourar a dívida pública. Alguns economistas defendem o endividamento junto ao mercado financeiro, outros através da emissão de moedas. Qual sua opinião?

JOSÉ LUIS OREIRO – Para aumentar os investimentos públicos é preciso abrir espaço no orçamento. Hoje o maior entrave ao aumento do investimento público é a restrição auto-imposta do teto de gastos. Quando a EC 95 foi aprovada em 2016 qualquer pessoa com um mínimo de conhecimento de contas públicas sabia que o mesmo era inviável. Isso porque não faz sentido congelar a despesa primária total em termos reais até 2026 se a despesa previdenciária, mesmo depois da reforma da previdência, cresce 3% a.a. Além disso como a população brasileira cresce 0,8% a.a, congelar a despesa primária em termos reais significa reduzir a despesa primária per-capita. Isso só faria sentido num país em que houvesse um suprimento adequado de serviços públicos (saúde, educação, segurança) e de infraestrutura. Claramente não é o caso do Brasil . Desde 2017 que o crescimento da despesa previdenciária e com os salários dos servidores públicos tem reduzido o espaço para o investimento no orçamento do governo. Os economistas liberais afirmam que a solução é rever as despesas obrigatórias, ou seja, reduzir os serviços públicos ofertados a população por intermédio da redução da jornada de trabalho dos servidores públicos. Cria-se assim um conflito distributivo artificial entre serviços públicos e investimento em infraestrutura que só existe num mundo estático onde os recursos estão plenamente utilizados e onde a capacidade de produção não pode se expandir. O problema é que desde 2014 que a economia brasileira opera com uma enorme capacidade ociosa, a qual será ainda maior depois da Pandemia. Nesse contexto é possível aumentar os gastos com serviços públicos e o investimento em infraestrutura, sem reduzir o espaço para o aumento do gasto do setor privado. O que está impedindo isso é apenas uma restrição legal que é a EC 95.

É possível aumentar os gastos com serviços públicos e o investimento em infraestrutura, sem reduzir o espaço para o aumento do gasto do setor privado. O que está impedindo isso é apenas uma restrição legal que é a EC 95

Alguns economistas afirmam que o aumento dos investimentos em infraestrutura irá aumentar ainda mais a dívida pública, que será bastante elevada com os gastos necessários para enfrentar a pandemia. Aqui é importante chamar atenção que o valor absoluto da dívida pública não significa muita coisa, o que importa é o tamanho dela com respeito do PIB. A política de austeridade fiscal adotada no Brasil desde 2015 durante a gestão de Joaquim Levy no Ministério da Fazenda, tem impedido um crescimento mais rápido do PIB. Com efeito entre 2017 e 2019 a economia cresceu a um ritmo de 1,2% a.a, valor bastante inferior a média do período 1980-2014 que foi de 2,88%. Esse crescimento anêmico do PIB faz com que o denominador da relação dívida pública/PIB cresça muito devagar, o que contribui para manter a relação em patamares elevados. A solução para reduzir o endividamento do setor público é acelerar o crescimento da economia brasileira, e um programa bem executado de investimentos em infraestrutura tem o potencial de fazer isso. Como a economia brasileira irá manter uma elevada capacidade ociosa e alto desemprego até 2023 ou 2024, a inflação deverá seguir bem comportada de maneira que a taxa de juros poderá seguir em patamares baixos durante muitos anos. Dessa forma, a taxa de crescimento da economia poderá ser significativamente maior do que a taxa de juros da dívida pública permitindo uma redução da relação dívida pública/PIB mesmo se o governo operar com déficit primário. Supondo uma dívida pública/PIB de 95% no início de 2021, uma taxa real de juros de 1% e um crescimento de 3% do PIB para o próximo ano, se o governo operar com um déficit primário inferior a 2% a dívida pública como proporção do PIB menor do que no início do ano.

A solução para reduzir o endividamento do setor público é acelerar o crescimento da economia brasileira, e um programa bem executado de investimentos em infraestrutura tem o potencial de fazer isso

A redução da dívida pública é um processo que levará anos, mas que eu sinceramente não vejo porque deva ser visto com preocupação. A dívida pública brasileira é quase inteiramente denominada em reais e retida basicamente por residentes no país. A aceleração do crescimento irá se encarregar de, num prazo razoável, talvez até o final da década, recolocá-la no patamar pré-pandemia. Não é necessário converter a dívida pública numa espécie de cruz para castigar toda a sociedade brasileira. Os países que venceram a segunda guerra mundial, Estados Unidos e Reino Unido também saíram do conflito com uma dívida pública muito elevada. No caso do Reino Unido a dívida pública superava a marca de 220% do PIB. Mas isso não exigiu nenhum sacrifício da sociedade britânica: o nível de vida da população aumentou de forma significativa ao longo das décadas seguintes, devido ao crescimento econômico, o que reduziu a 43% do PIB em 1973. É verdade que o Reino Unido cresceu menos que a Alemanha e o Japão no pós-guerra, mas isso não tem nada que ver com o endividamento público e sim com a perda de competitividade da indústria britânica relativamente as suas concorrentes alemã e japonesa.

Se a sociedade brasileira quiser acelerar o processo de redução da dívida então uma possibilidade é por intermédio do aumento da carga tributária sobre os mais ricos. Dados da receita federal mostram que a alíquota efetiva de imposto de renda cai abruptamente a partir do 1% mais rico dos contribuintes brasileiros por uma série de razões. Em primeiro lugar, a ausência de tributação sobre lucros e dividendos distribuídos. Como a proporção de lucros e dividendos na renda é maior para os contribuintes mais ricos, segue-se que a parcela da renda  isenta de tributação é maior nos estratos superiores de renda. Em segundo lugar, os impostos sobre propriedade no Brasil, o IPTU e o ITR são ridiculamente baixos. Isso se deve a relutância dos prefeitos de aumentar a alíquota desses impostos para não desagradar seus eleitores. Eu sugiro a criação de uma alíquota federal de IPTU e ITR como forma de se contornar esse problema e aumentar a arrecadação.

Por fim, a emissão monetária, ou seja, a compra de títulos do Tesouro diretamente pelo Banco Central precisa ser autorizada na Constituição Federal, pois isso está expressamente vedado pelo artigo 164 da Constituição Federal. O Congresso Nacional deveria ter aprovado isso por ocasião da PEC do orçamento de guerra, mas não o fez. De qualquer forma eu não vejo muita diferença entre o financiar o déficit público por intermédio de emissão de moeda ou de emissão de dívida pública, até porque enquanto a taxa de juros selic for maior do que zero, o Banco Central será obrigado a retirar a liquidez em excesso no mercado por intermédio da venda de títulos públicos que estão na sua carteira, aumentando assim a dívida pública tal como ela é medida pelo BCB.

Em suma, eu não vejo com preocupação o tamanho da dívida pública no pós-pandemia. O que sim me preocupa é a capacidade de crescimento da economia brasileira. O Brasil precisa voltar a crescer de forma sustentada a taxas superiores a 3% a.a. Apenas assim será possível compatibilizar uma série de objetivos: reduzir a dívida pública como proporção do PIB, gerar emprego e renda decentes para os mais de 100 milhões de brasileiros que fazem parte da força de trabalho, criar os recursos necessários para investir em políticas públicas notadamente saúde, educação e segurança. Sem crescimento o Brasil entrará num caos semipermanente.

Qual é o plano que Guedes tem para o pós-pandemia? Exatamente o mesmo que ele tinha antes da pandemia, ou seja, a agenda privatização-ajuste fiscal-abertura comercial.

HP – Guedes insiste na decisão de vender ativos para tentar atrair investidores estrangeiros, como o senhor vê isso?

JOSÉ LUIS OREIRO – Como eu disse anteriormente a imagem internacional do Brasil está muito deteriorada. Enquanto Bolsonaro ocupar a cadeira de Presidente da República não tem clima para atrair investimento externo em grandes quantidades. Guedes pode falar e gritar o quanto quiser sobre a necessidade de vender ativos brasileiros que não vai adiantar nada. Aliás a própria imagem do Ministro da Economia é muito ruim. A aura de competência que ele tinha antes de assumir a pasta foi sendo desgastada continuamente pelas falas e atitudes do ministro. Qual é o plano que Guedes tem para o pós-pandemia? Exatamente o mesmo que ele tinha antes da pandemia, ou seja, a agenda privatização-ajuste fiscal-abertura comercial. O problema é que essa agenda não estava dando certo antes da pandemia, por que razão daria certo no mundo pós covid-19? Guedes não consegue formular um argumento minimamente consistente para defender essa agenda, ele apenas a repete como uma espécie de mantra, na esperança vã de que a custa de repetir as mesmas ideias de sempre elas, como por um passe de mágica, funcionem! Irá fracassar junto com Bolsonaro.

José Luis da Costa Oreiro é professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília, Pesquisador Nível IB do CNPq e Lider do Grupo de Pesquisa “Macroeconomia Estruturalista do Desenvolvimento”, cadastrado no CNPq. É autor do livro “Macroeconomia do Desenvolvimento: uma perspectiva Keynesiana”, LTC: Rio de Janeiro (2016) 

ANTONIO ROSA

 

 

 

 

FGV: PIB de 2020 já estava fraco antes da chegada da covid-19 (Blog do Vicente, 29/06/2020)

30 terça-feira jun 2020

Posted by jlcoreiro in Crise do Coronavírus, Crise Econômica no Brasil, Erros de Paulo Guedes

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A crise da economia brasileira, Crise do Coronavírus, José Luis Oreiro, Os erros de Paulo Guedes

ROSANA HESSEL

 

O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil já estava fraco antes mesmo da chegada do coronavírus ao país e a chegada da pandemia de covid-19 ajudou o país entrar em recessão logo no primeiro trimestre. Essa é uma das constatações do estudo divulgado nesta segunda-feira (29/06) pelo Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (Codace), da Fundação Getulio Vargas (FGV).

 

De acordo com dados do Codace, o pico no ciclo de crescimento da economia brasileira ocorreu no quarto trimestre de 2019, sinalizando que, “a partir de primeiro trimestre de 2020”, o país dava sinais entrou em nova recessão econômica antes mesmo de o novo coronavírus chegar ao país, que gerou impactos negativos na atividade a partir da segunda metade de março.

 

Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o PIB brasileiro encolheu 1,5% no primeiro trimestre de 2020. Uma economia entra em recessão quando registra dois trimestres consecutivos de queda e as projeções do mercado para o segundo trimestre não são nada animadoras, apontando tombo de até 15%.

 

O grupo de economistas do Codace, que esteve reunido no último dia 26, identificou a ocorrência de um pico no ciclo de negócios brasileiro no quarto trimestre de 2019, informou a nota do órgão divulgada hoje. “O pico representa o fim de uma expansão econômica que durou 12 trimestres — entre o primeiro trimestre de 2017 e o quarto de 2019 — e sinaliza a entrada do país em uma recessão a partir do primeiro trimestre de 2020”, destacou o documento.

 

Um dos integrantes do Codace, o economista Marco Bonomo, professor do Insper, demonstrou preocupação com os dados levantados pelo Comitê. “Essa recessão é muito preocupante. É muito profunda. Tem potencial de ser a maior da história”, afirmou Bonomo ao Blog. Segundo ele, a economia brasileira vinha crescendo muito pouco no primeiro trimestre. “O choque devido à pandemia em meados de março foi suficiente para a economia registrar recessão logo no primeiro trimestre”, comentou.

 

Para Bonomo, a recessão não começou em janeiro, mas o PIB vinha apresentando um desempenho fraco nos primeiros meses do ano. “Se a economia estivesse registrando um crescimento forte, não ia ser o choque na segunda metade de março (devido à covid-19) que iria fazer o PIB cair no primeiro trimestre”, destacou. Segundo ele, por enquanto,  o Comitê se eximiu de dizer quando no primeiro trimestre começou a recessão.

 

O Codace também realizou a datação mensal da recessão de 2014 a 2016 ao identificar um pico em março de 2014 e um vale em dezembro de 2016. “Isso significa que a recessão teria durado 33 meses, entre abril de 2014 e dezembro de 2016” destacou o documento. Essa taxa está acima da média de 17,7 meses computada nas crises anteriores estudadas pelo Comitê. Na década perdida, de 1980, a recessão chegou a durar 28 meses, entre o pico de outubro de 1980 até o vale de fevereiro de 1983.

 

“A recessão que durou mais tempo foi a última, de 2014 a 2016, que durou 33 meses. Mas a mais profunda será a da covid-19, mas ainda temos apenas os primeiros dados sobre ela. Ainda não dá para prever a duração porque estamos no meio dessa recessão”, destacou ao Blog, a economista Marcelle Chauvet, professora da Universidade da Califórnia. “A economia estava se recuperando muito lentamente desde 2017. Alguns setores estavam bem fracos antes da covid-19, outros, em expansão”, adicionou.

 

Além de Bonomo e de Chauvet, integram o Codace os economistas Affonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco Central e coordenador e diretor da AC Pastore & Associados; Edmar Bacha, um dos pais do Plano Real e diretor do Iepe-Casa das Garças; João Victor Issler professor da Escola Brasileira de Economia e Finanças (EPGE) da FGV-RJ; Paulo Picchetti, professor da Escola de Economia de São Paulo (EESP) da FGV-SP, e Pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV, Fernando Veloso, professor da EPGE-FGV e pesquisador do Ibre-FGV e Vagner Ardeo, vice-diretor do Ibre-FGV.

 

Veja abaixo o gráfico que mostra o tamanho das últimas recessões levantadas pelo Codace e destacadas nos períodos em cinza:

Discurso equivocado

 

Os dados do Codace confirmando que o PIB de 2020 já estava fraco no começo do ano contradizem o discurso do ministro da Economia, Paulo Guedes, que sempre fala em suas apresentações ao mercado de que a economia brasileira estava “decolando” neste ano, mas o “avião foi abatido” pela crise provocada pela covid-19.

 

“O ministro tem errado todas as previsões que ele tem feito para o mercado e o estudo do Codace, confirma o fato de que Guedes não acerta uma”, destacou o economista José Luis Oreiro, professor da Universidade de Brasília (UnB). Ele citou vários equívocos da equipe econômica que viraram piada no meio acadêmico e do mercado ao tentarem reinventar a roda da macroeconomia, como tentar separar o PIB público do PIB privado e, recentemente, incluir o deficit fiscal na conta de carga tributária.

 

Vale ressaltar que a pandemia de covid-19, denominada de “gripezinha” pelo presidente Jair Bolsonaro (que ainda insiste em rebater visões científicas sobre o tema), está colocando o mundo na maior recessão da história e já matou mais de 57 mil brasileiros e mais de 500 mil pessoas no mundo. Especialistas não cansam de alertar para os riscos do afrouxamento precipitado na maioria das cidades do país e as consequências na economia.

 

Diante do agravamento das consequências da covid-19 pelo mundo, as novas projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI), estima que o PIB global deverá encolher 4,9% neste ano, e o tombo do PIB brasileiro será quase o dobro: 9,1%. Na semana passada, o Banco Central alterou de estabilidade para queda de 6,4% a previsão de queda do PIB brasileiro em 2020.

 

Em março, o professor da UnB previa queda de 10% no PIB. “Essa era o percentual que os economistas da Espanha estavam prevendo para o país europeu e, como aquela economia é parecida com a brasileira, porque é baseada em serviços, não havia como não prever uma queda brusca desse tamanho”, disse Oreiro.

 

Com efeito da pandemia, PIB do 1º trimestre recua 1,5%, primeira queda desde 2017 (O Estado de São Paulo, 29/05/2020)

29 sexta-feira maio 2020

Posted by jlcoreiro in Crise do Coronavírus, Opinião, Oreiro

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Crise do Coronavírus, José Luis Oreiro, Os erros de Paulo Guedes

Fechamento de indústrias e comércio após a adoção de medidas de isolamento social, a partir da segunda metade de março, afetou tanto a produção quanto o consumo das famílias
RIO – A pandemia de covid-19 atingiu em cheio a economia brasileira apenas nos últimos 15 dias do primeiro trimestre, a partir de meados de março, mas foi o suficiente para o Produto Interno Bruto (PIB) encolher 1,5% na comparação com o quarto trimestre de 2019, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira, 29. Foi a primeira retração desde que a economia brasileira saiu da recessão, no início de 2017.Já esperada por analistas – que também projetavam um recuo de 1,5%, conforme pesquisa do Projeções Broadcast -, a queda deve ter sido apenas o primeiro passo do novo ciclo recessivo , já que o levantamento apontava, antes de o dado do primeiro trimestre ser conhecido, para um tombo de 11% neste segundo trimestre, levando o PIB de 2020 encerrar 6,05% abaixo do de 2019, na maior queda anual da história.

Com a adoção das primeiras medidas de isolamento social a partir da segunda-feira, 16 de março, um cenário de shopping centers e restaurantes fechados, aeroportos vazios, grandes cidades sem engarrafamentos e cinemas às moscas apontava para uma economia parada , numa crise sem precedentes. Desde então, economistas vêm explicando que a crise é inédita porque derruba, em todo o mundo ao mesmo tempo, e com efeitos em cadeia, tanto a oferta de trabalho, afetando a produção, quanto a demanda, ou seja, a capacidade das famílias para consumir.

Essa derrubada simultânea da oferta e da demanda foi vista nos dados do PIB do primeiro trimestre. Pela ótica da oferta, a indústria caiu 1,4% em relação ao quarto trimestre, enquanto o setor de serviços, que responde por 74% da economia, encolheu 1,6%. A alta de 0,6% no PIB da agropecuária, que pesa pouco no total, foi insuficiente para fazer a atividade econômica como um todo avançar.

“A agropecuária parece inerte à pandemia até agora, considerando também o segundo trimestre, com demanda forte da China”, afirma o economista Vitor Vidal, da XP Investimentos.

No lado da demanda, o consumo das famílias, componente de maior peso no PIB, encolheu 2% em relação ao quarto trimestre de 2019. De um lado, o isolamento social impediu, imediatamente, as pessoas de saírem para consumir. Por outro lado, o movimento tende a perdurar, à medida que empresas que viram seu faturamento tombar demitam mais e mais. Apenas no acumulado de março e abril, foram fechadas 1,1 milhão de empregos formais . Quando se considera também o trabalho informal, 5 milhões já perderam o emprego até abril .

“É uma recessão muito forte, com queda de 7% no PIB (do ano) e desemprego de 16% a 18% (no fim do ano). Parou a economia, não tem jeito”, afirmou José Márcio Camargo, economista da Genial Investimentos e professor da PUC-Rio.

Para mitigar os efeitos da recessão, desde o aprofundamento da crise, em março, economistas vêm concordando que o governo federal tem que gastar mais em medidas de apoio à renda das famílias, de ampliação do crédito e de apoio às empresas , pelo menos temporariamente.

As divergências estão em torno da necessidade, ou não, de se ajustar o modelo de política econômica do ministro da Economia , Paulo Guedes . Muitos são contra a ideia, especialmente os economistas que não veem espaço para ampliar os investimentos públicos, posição predominante no mercado financeiro.

Para Camargo, da Genial, a elevação de gastos para enfrentar a covid-19 deve ser temporária, ainda que a recuperação da economia após a retração no primeiro semestre seja lenta. Por causa da burocracia e dos controles do Tribunal de Contas da União (TCU) , levaria pelo menos dois anos para investimentos públicos saírem do papel e não há espaço para isso no Orçamento .

Por isso, passado o pior da pandemia, é preciso voltar à agenda de reformas e de corte das despesas públicas, com manutenção do teto. Segundo Camargo, com reformas como a administrativa do Estado e a tributária, além de mudanças regulatórias na infraestrutura, como a aprovação do novo marco do saneamento básico, os investimentos privados virão. “Ainda tem dinheiro sobrando no mundo. Tem mais ainda com a crise. Se tiver oportunidades (no Brasil), vai ter investimento (estrangeiro)”, afirmou Camargo.

O abandono da agenda de reformas e a elevação de gastos, mesmo com investimentos, faria o crescimento do endividamento público seja visto como “insustentável”, o que aumentaria a desconfiança de investidores do mercado, elevando as taxas de juros cobradas nos títulos da dívida, deixando o dólar ainda mais caro e trazendo inflação, o que tenderia a estender a recessão, disse Camargo.

Na mesma linha, Alberto Ramos, diretor de pesquisas para a América Latina do banco Goldman Sachs, vê os temores em relação à dinâmica de gastos públicos e endividamento como um dos motivos para investidores estrangeiros ficarem de fora do País.

“Vemos o País numa situação muito complicada, com uma queda do PIB de 7% a 8% neste ano. E há bastante preocupação com a parte fiscal, que já estava numa situação muito frágil. Foi perdido muito tempo e não foram aprovadas as reformas”, afirmou Ramos, em entrevista ao Estadão/Broadcast.

Por outro lado, há economistas defendendo o aumento dos investimentos públicos . Para Raul Velloso, consultor econômico especializado em finanças públicas, a crise imporá ao governo Jair Bolsonaro uma mudança no modelo de Guedes – “pró-redução” da dívida pública e “anti-investimento público”, baseado na redução do peso do Estado e na atração de capital privado, especialmente o externo, para fazer investimentos. “É hora de mudar o modelo, ponto. Se antes já havia razões para isso, agora tem mais”, diz o consultor.

Professor da Universidade de Brasília (UnB), o economista José Luís Oreiro também não vê saída para enfrentar a recessão fora do aumento dos investimentos públicos. Com comércio internacional em baixa por causa da covid-19 e a imagem do País arranhada por crises políticas e pelo enfrentamento errático da pandemia, não haverá impulso das exportações nem de investimentos estrangeiros. Com falência generalizada de empresas e o endividamento das que sobreviverem, tampouco haverá investimento privado, enquanto o desemprego elevado deverá seguir inibindo o consumo.

“Por exclusão, só nos resta o investimento público. Ou é isso ou nada. Vamos passar uma década estagnados”, afirmou Oreiro.

Os fetiches de Bolsonaro (*)

17 sexta-feira abr 2020

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(*) Escrito por Guilherme Antonio Fernandes para o Blog de José Luis Oreiro

A saída do Ministro Mandetta em meio à batalha contra o coronavírus é, sem dúvida, uma perda considerável para o Brasil. É uma perda não por conta do Ministro em si, sua figura, mas sim por conta do trabalho que vinha realizando junto à sua equipe em combater, na medida do possível, dada a fragilidade de meios e recursos, o vírus com ciência e responsabilidade. Contudo, a saída de Mandetta também foi uma perda para Bolsonaro. Nesse momento o leitor pode sentir-se supreso; afinal, como poderia ser a saída do Ministro Mandetta uma perda para o presidente?

Bolsonaro, ao insistir na retórica de que a economia precisa ser salva e o isolamento tem que ser afrouxado, continua a cometer um erro típico do populismo com ingredientes fortemente narcisísticos. Ou seja, Bolsonaro quer vencer à força o vírus e dobrá-lo a qualquer custo. Bolsonaro, semelhantemente a Donald Trump, ainda não entendeu que no mundo atual quem dá as cartas é o coronavírus e não qualquer governante de um Estado no qual ainda exista liberdade e, mesmo que com problemas, democracia. Claro que em qualquer ditadura o vírus também é quem dá as cartas, mas no caso de um regime ditatorial, o ditador pode sentir-se confortável em simplesmente não dar a mínima para a vida de seus súditos. Já numa democracia, com alternância de poder, o gestor, por mais que se considere acima do bem e do mal, ou, nas palavras do próprio, “um patriota” (e quem não concordar com ele ou é comunista, ou é inimigo do Brasil), não pode deixar de lado o custo que lhe trará as vidas perdidas dos cidadãos por conta do vírus. Deste modo, Bolsonaro, erra ao demitir Mandeta em relação à própria subsistência de seu próprio governo, pois agora absolveu para sempre o ex-Ministro pela triste tragédia que se desenha nos dias que virão com o afrouxamento do isolamento. Ao fazer isso, condena o próprio governo e a si mesmo, assumindo os erros que, na realidade, tenta desesperadamente transferir para governadores e prefeitos. Assim, além de todo o Brasil, o governo Bolsonaro perde, e muito, com a saída do Ministro Mandetta.

A saída, claramente justificada pelo ciúme do presidente e pela insistência em dar prioridade à recuperação econômica, deixa para Bolsonaro toda a futura responsabilidade pelas vidas que, tristemente estão e serão perdidas, por conta dos descaminhos e erros que o governo federal vem cometendo. Ao invés de unir e comandar a nação e a federação, Bolsonaro consegue protagonizar, dia a dia, o noticiário, vencendo, apenas nesse sentido, o coronavírus em termos de repercussão. Parece que Bolsonaro tem ciúme até do coronavírus. Afinal, como pode qualquer coisa ser mais popular que ele nesse Brasil? Mandetta sofreria o natural desgaste da dura batalha contra a pandemia com o acréscimo de vítimas do vírus. Dependendo de seu posicionamento, sua popularidade poderia aos poucos também se desgastar e com isso equilibrar a conta com seu ex-chefe em termos de quem é o mais popular. Mas, como já dito, Bolsonaro resolveu “presentear” Mandetta, querendo na verdade punir, mas dando uma absolvição histórica para o competente Ministro. Mandetta saiu do governo muito maior do que quando entrou. Não há a menor dúvida disso. Agora, inclusive, poderá pensar em vôos políticos maiores.

De qualquer maneira, Bolsonaro também conseguiu a proeza de fabricar mais um inimigo. Aliás, isso parece ser um fetiche do presidente, que clama, necessita, precisa de inimigos o tempo todo para satisfazer a sua típica necessidade de dividir tudo entre nós e eles. O mundo simplista e binário de Bolsonaro precisa se alimentar de personagens que integrem o seu extenso leque de inimigos e vilões. Como nas histórias em quadrinhos, o mito patriota precisa de seus arquinimigos, que vão sendo criados para que ele possa continuar a existir com novas histórias de embate, ao invés de oferecer algum projeto para o país. Afinal, parece que é só isso que tem a oferecer. Se ontem era o ex-presidente Lula, agora é o governador de São Paulo João Dória e o seu ex-Ministro Mandetta, que já é vítima do exército digital bolsonarista, cujo objetivo maior é desconstruir reputações nocivas ao mito. Aliás, diga-se de passagem, ao final do dia em que a saída de Mandetta foi o centro das notícias, Bolsonaro ainda teve tempo de atacar o seu escolhido “Lex Luthor”, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia.

No meio de todo esse cenário apareceu o oncologista Nelson Teich, médico respeitado e de currículo denso que aceitou assumir o Ministério da Saúde em um momento extremamente grave. Ao tomar posse, o médico apontado como técnico e fora do meio político, assumiu um discurso eminentemente político. Disse muito, mas não disse nada. Afinal, tudo que falou pairou circundar o óbvio. Além disso, insistiu naquilo que Mandetta jamais se colocou contra; isto é, a necessidade de realizar testes de maneira massiva para, futuramente, discutir, com embasamento e consistência, qualquer afrouxamento no isolamento e distanciamento social. Ou seja, Teich não inovou em absolutamente nada em relação ao que já vinha sendo feito, o que demonstrou, claramente, que a demissão de Mandetta não foi por qualquer questão realmente técnica.

Nesse sentido, Teich assumiu, de maneira a causar inveja a qualquer político de carreira, um discurso típico do métier político de baixa qualidade: falar, falar e falar muito, mas não dizer nada concretamente. Não somente, também falar o que todo mundo já sabe, todavia com tom de ineditismo. Apesar disso, é importante que se diga que qualquer um que assumisse o lugar de Mandetta nessas condições teria tarefa difícil em ajustar o discurso com os fetiches do chefe. Afinal, teria que não ignorar a ciência e, ao mesmo tempo, agradar à teimosia completa de achismo de Bolsonaro. Portanto, melhor deixar o benefício da dúvida ao Ministro Teich, desejando a ele sorte, porque o azar dele nos custará mais caro do que já se apresenta nessa triste conta.

Por fim, Bolsonaro parece não ceder ao seu fetiche maior: a insistência em colocar a economia na frente da saúde, porque o que mais preza é sua popularidade e desejo de reeleição. Bolsonaro faz suas contas eleitorais com a necessidade de ter sucesso na economia. Parece incapaz de ler o contexto que se apresenta aos seus olhos, ignorando que o mundo já parou economicamente e que seu projeto extremamente liberal já não tem mais espaço ou possibilidade. A reconstrução do Brasil terá que ser feita com um auxílio de gastos do Estado brasileiro. O fetiche de Bolsonaro pelo projeto de Paulo Guedes o torna cego  e ainda mais incapaz de entender o contexto no qual estamos, perdendo uma preciosa oportunidade de comandar o país como poderia.

Por mais que Teich tenha dito em seu discurso de posse que é um erro misturar a economia com a saúde e disso fazer uma contraposição, ele mesmo constrói indiretamente essa contraposição. Pois, para atender o desejo do seu novo chefe ele precisa transitar entre a saúde e a economia, mas fingir que dá prioridade a ambas, dando prioridade à economia nas entrelinhas. Afinal, se o problema está em não se colocar como complementares a economia e a saúde e disso construir uma falsa contraposição, porque, então, a troca foi feita no Ministério da Saúde e não no da Economia também? Se o ministério da economia é imutável e Paulo Guedes indemissível é porque hoje a saúde não vence a economia na retórica do governo de Bolsonaro. Paulo Guedes tem batido a cabeça e demorado a apresentar respostas consistentes para a crise econômica que toma o Brasil e ainda piorará conforme a recessão global se consume.

Apesar do discurso de Bolsonaro, a economia é sim mais importante para ele do que o combate ao coronavírus com ciência e responsabilidade. Bolsonaro não larga seu fetiche maior. Paulo Guedes sempre foi mais importante que Mandetta e será mais importante que Teich. Entre Paulo Guedes e Teich, Teich cairá.

Guilherme Antonio Fernandes é Doutor em Direito pela USP. Mestre em Integração da América Latina pela USP. Bacharel em Direito pela USP. Professor e advogado.

O liquidacionismo de Guedes aprofunda a crise (Valor Econômico, 31/03/2020)

31 terça-feira mar 2020

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José Luis Oreiro [1] e Luiz Fernando de Paula [2]

 

Antes mesmo da crise mundial recente, a divulgação do crescimento do PIB real de 2019 decepcionou: um crescimento de 1,1% a.a., contra a previsão do Focus de 2,5% no início de 2019. Este resultado evidenciou que estamos desde 2017  com uma economia estagnada (crescimento da renda per capita entre 03,% a 04% a.a.), um fenômeno sem precedentes nas últimas décadas.

No Brasil o contágio da crise ganha contornos dramáticos ao se levar em conta a lenta recuperação econômica em curso e o fato de que esta, combinada com a reforma trabalhista de 2017, resultou em uma acentuada precarização do trabalho, com aumento de trabalhadores sem carteira de trabalho (mais de 40% da mão-de-obra). Como o governo está respondendo a esse “tsumani”?

Segundo declarações iniciais do Presidente e seu Ministro da Economia estaríamos perante uma “marolinha”. Em 9/3/2020, o Ministro da Economia afirmou que “temos de manter absoluta serenidade e a melhor resposta à crise são as reformas. Vamos mandar a reforma administrativa, o pacto federativo já está lá, vamos mandar a reforma tributária. (…) Se fizermos as coisas certas, o Brasil reacelera. Se fizermos as coisas erradas, o Brasil piora”.

Além da necessidade de avançar na agenda de reformas, o Ministério da Economia anunciou em 16/3/2020 uma injeção de recursos na economia de R$ 147 bilhões para garantir capital de giro para as empresas; postergação por 3 meses das contribuições do FGTS, além de transferir os valores não sacados do PIS/Pasep para o FGTS; antecipação do abono salarial e da segunda parcela do 13º salário dos aposentados pelo INSS; ampliação dos beneficiários do bolsa-família; e um auxílio emergencial mensal no valor de R$ 200,00 para trabalhadores informais ou desempregados.

Em 22/3/2020, o governo editou a MP 927, que previu a suspensão contratual do trabalho por até 4 meses em comum acordo entre patrão e empregado, acabando por recuar frente a pressões. Em troca,  o Banco Central anunciou uma linha de crédito para financiar folha de pagamento de pequenas e médias empresas até dois salários mínimos.

As medidas anunciadas se mostram claramente limitadas: na realidade se trata principalmente de antecipações de gastos que seriam realizados ao longo de todo o ano de 2020, mas que serão realizados no 1º  semestre do ano.

Para os trabalhadores “uberizados”, a partir de iniciativa da Câmara dos Deputados, foi aprovado um auxilio emergencial de R$ 600,00 por 3 meses. Essa medida é necessária mas pode ser insuficiente para prover um impulso fiscal necessário para atenuar a crise econômica, que irá sofrer um duplo choque de oferta e de demanda.

Aqui duas questões se colocam.

Em 1º lugar, Guedes e sua equipe reiteram a necessidade de uma nova rodada de reformas liberalizantes para enfrentar a crise, mas não enfatizam suficientemente políticas de estimulo a demanda. A agenda econômica do governo é uma espécie de reedição do liquidacionismo de Hoover-Mellon (Secretário do Tesouro americano que pediu no início da década de 30 que o Presidente Hoover se abstivesse de intervir na economia, pois acreditava que crises expurgavam a economia), no sentido de que as medidas de estímulo a demanda agregada são vistas como contraproducentes, além da visão de que a crise brasileira é essencialmente um problema moral, resultado da “gastança” dos governos anteriores.

Em 2º lugar, há um problema de governança na política econômica, com adoção de políticas pontuais ad hoc a reboque das pressões e acontecimentos. Não há uma visão estratégica ampla de como enfrentar a crise, e tampouco uma visão de mais longo prazo de como dar sustentação ao crescimento superado o risco da pandemia.

Nossa avaliação é que a agenda do governo será pouco efetiva e poderá contribuir timidamente para atenuar a crise em curso, seja porque algumas das reformas propostas, como a PEC Emergencial, irão produzir uma contração da massa salarial dos servidores públicos, levando a ampla queda dos gastos de consumo; seja porque numa situação de profunda paralisia da atividade econômica, a única saída para enfrentar a crise é através de uma política fiscal contracíclica ativa  face a queda na demanda privada.

Que medidas devem ser tomadas para enfrentar a crise?

Sem querer esgotar as medidas anticíclicas, sugerimos o seguinte: (i) criação de uma linha de crédito emergencial pelo BNDES e BNB com taxas atrativas para capital de giro para pequenas e médias empresas para amenizar frustação de receitas; (ii) implementação de um programa de socorro financeiro aos governos estaduais e municipais (governo já sinaliza nessa direção); (iii) ampliação para as famílias do programa de refinanciamento de dívidas de pessoas de menor renda da Caixa; (v) garantia de recursos extras na saúde para ampliação de leitos e aquisição de equipamentos; e (vi) implementação de  um programa de renda universal mais ambicioso do que o proposto, com aporte de um salário mínimo para cada trabalhador que se encontre no setor informal durante o período de emergência (um cálculo simples, considerando cerca de 38 milhões de pessoas no mercado informal e o salário mínimo de R$ 1039,00, daria de cerca de R$ 120 bilhões, algo em torno de 1,6% do PIB).

Seria ainda bem-vinda a adoção de uma política com recursos do governo que garanta transitoriamente o pagamento de salários de quem ganha até três mínimos, atingindo cerca de 30 milhões de trabalhadores, tal como vendo sendo adotada em outros países, como Alemanha e Reino Unido. A vantagem desta medida em relação aos empréstimos subsidiados pelo Tesouro é que os empréstimos feitos pelas empresas terão que ser pagos daqui a 6 meses, o que poderá retardar a retomada do crescimento econômico e eventualmente aumentar a frente o desemprego.

A longo prazo, para sustentar a retomada do crescimento, a implementação de uma política de investimentos públicos em infraestrutura, inicialmente como o governo desengavetando projetos paralisados.

Dado o caráter emergencial da crise, torna-se necessária a alteração das regras fiscais vigentes, ficando ao menos momentaneamente deixadas de lado, com revisão da meta do resultado primário, extinção da regra de ouro e suspensão do Teto de Gastos por um prazo de dois anos, criando espaço legal para uma política de expansão dos gastos públicos.

Momentos de crise profunda vale a máxima de que “todos somos keynesianos”.

A inação e demora na resposta à crise cobrará um preço alto ao país.

[1] Professor do Departamento de Economia da UnB.

[2] Professor do Instituto de Economia da UFRJ e coordenador do GEEP/IESP/UERJ.

Consequencias econômicas e sociais da PEC Emergencial ou Como Guedes Criou um Plano para Destruir o Brasil

14 sábado mar 2020

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A PEC 186 ou PEC da Emergência Fiscal altera o texto permanente da Constituição e o Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, dispondo sobre medidas permanentes e emergenciais de controle do crescimento das despesas obrigatórias e de reequilíbrio fiscal no âmbito dos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social da União, e dá outras providências. A PEC 186 prevê, entre outras medidas, a redução de até 25% da jornada de trabalho e, portanto, dos vencimentos dos servidores públicos da União, Estados, Municípios e Distrito Federal caso a assim chamada “regra de ouro” das finanças publicas seja violada; ou seja, caso “No exercício para o qual seja aprovado ou realizada, com base no inciso Ill do art. 167 da Constituição Federal, volume de operações de crédito que excedam à despesa de capital”.

Justificativa da PEC 186

No texto que apresenta a justificativa para a PEC é dito que o (sic) aprofundamento das reformas iniciadas nos anos recentes as quais (sic) ampliaram o potencial de crescimento da economia brasileira, após a grande recessão ocorrida no período 2014-2016. Entre essas reformas se destaca a EC do Teto dos Gastos, a qual supostamente trouxe credibilidade para a política fiscal, permitindo assim a redução das taxas de juros para a mínima histórica. A supostamente bem sucedida âncora fiscal necessitaria, no entanto, de reforço devido ao atraso da aprovação da reforma da previdência, o que permitiu a elevação da despesa obrigatória levando a compressão do investimento público devido ao limite (auto) imposto pelo teto de gastos. Dessa forma, seria necessário adotar estratégias para o controle do gasto obrigatório. Dado que a despesa com pessoal é o segundo mais importante componente do gasto obrigatório da União e o mais importante em vários entes federativos; segue-se que a estratégia de consolidação fiscal exige a adoção de medidas que impliquem numa redução dos gastos com funcionalismo público. No caso da União a PEC 186 prevê o acionamento de mecanismos automáticos de contenção/redução das despesas obrigatórias, com foco na despesa com os vencimentos dos servidores públicos; e, em menor medida, nos gastos com isenções fiscais.

Pressupostos errados, diagnóstico equivocado

As reformas realizadas no período 2016-2019 não aumentaram o potencial de crescimento da economia brasileira; pelo contrário, a evidência empírica mostra que o crescimento potencial pode ter sido reduzido após a grande recessão. Com efeito, a taxa média de crescimento da economia brasileira no período 1980-2014 foi de 2,81% a.a; ao passo que o crescimento médio do PIB após terminada a grande recessão de 2014 a 2016 foi de apenas 1,2%, um valor quase 60% menor do que a tendência de longo-prazo. Dessa forma, podemos concluir que a agenda de reformas iniciada com a EC 95 do Teto dos Gastos e complementada pela Reforma Trabalhista e pela Reforma da Previdência, simplesmente não está funcionando no sentido de acelerar o crescimento da economia brasileira.

Em segundo lugar, o Brasil não se encontra em emergência fiscal, de nenhum tipo. É verdade que a dívida pública se encontra num patamar elevado, mas a sua taxa de crescimento está declinando, o que significa que a dívida bruta como proporção do PIB irá se estabilizar em algum momento nos próximos anos. Além disso, devemos observar que tanto a  dívida bruta do governo geral como a dívida líquida do setor público consolidado aumentaram de forma significativa desde 2014 devido aos efeitos da recessão sobre a receita de impostos e contribuições, particularmente a contribuição previdenciária; não devido a um suposto descontrole dos gastos do governo. Nesse contexto, a dinâmica das dívidas bruta e líquida no Brasil não difere da observada em outros países que passaram, recentemente, por recessão econômica.

Deve-se destacar também que em períodos de recessão o aumento da dívida pública é a contrapartida necessária da redução do endividamento do setor privado, devido a identidade básica das contas nacionais (coisa que aparentemente é desconhecida por membros da Secretária de Política Econômica do Ministério da Fazenda) que estabelece que o investimento (público e privado) é necessariamente igual a soma da poupança do setor privado, do governo e do setor externo. Para que o setor privado (firma e famílias) reduza o seu endividamento é necessário que a poupança do setor privado aumente relativamente ao investimento. A identidade contábil, portanto, exige que ou a poupança do governo diminua (o que implica num aumento do endividamento do governo) ou a poupança externa diminua (o que exige um aumento das exportações líquidas). Em momentos de recessão global é impossível um aumento simultâneo das exportações líquidas de todos os países, logo a única forma possível de realizar uma desalavancagem do setor privado é por intermédio de um aumento do endividamento do setor público. Negar isso, como fazem sistematicamente os economistas liberais brasileiros, é incorrer em terraplanismo econômico puro e simples.  Qualquer tentativa de reduzir a dívida pública e a dívida privada simultaneamente irá produzir um colapso no nível de atividade econômica, como ocorreu no Brasil no período 2014-2016.

Em tempo, não passa de Fake News a ideia de que a grande recessão foi resultado das (sic) “pedaladas fiscais” da Presidente Dilma, sugeridas pelo Arno Agustin. Manobras contábeis podem destruir a reputação dos gestores de política econômica (caso do Arno) e, eventualmente, produzir o impeachment de Presidentes da República (caso da Dilma); mas não tem efeitos macroeconômicos porque simplesmente não alteram os fluxos de renda e dispêndio de uma economia.

Em terceiro lugar, o descumprimento da regra de ouro como “gatilho” das medidas automáticas de contenção do gasto obrigatório é um non-sense pois:

(i) a regra de ouro tal como definida pela CF de 1988 é uma autentica jabuticaba brasileira, não guardando nenhuma relação com o conceito de regra de ouro definido pela literatura e pela experiência internacional. Em particular, a versão brasileira da regra de ouro não foi capaz de evitar o aumento do endividamento do setor público mesmo nos anos em que ela foi oficialmente cumprida.

(ii) Se definida de forma correta, a regra de ouro só foi cumprida em 2002 e 2008 ao longo do período 1995-2016.

(iii) O cumprimento da regra de ouro tal como definida pela literatura e experiência internacional exigiria um esforço fiscal muito maior do que o preconizado pela PEC 186, o que seria inviável do ponto de vista econômico, social e político.

A Regra de Ouro

Essa regra está definida no artigo 167 da CF, parágrafo III. De acordo com Art. 167. da CF são vedados:

“III – a realização de operações de créditos que excedam o montante das despesas de capital, ressalvadas as autorizadas mediante créditos suplementares ou especiais com finalidade precisa, aprovados pelo Poder Legislativo por maioria absoluta”.

Algumas observações sobre a regra de ouro brasileira:

A CF define de forma abrangente o conceito de despesas de capital, incluindo investimentos, inversões financeiras e amortizações da dívida pública. Segundo Pires (2019) essa definição de despesas de capital não só é uma idiossincrasia brasileira, como faz com que a adoção dessa regra fiscal não seja condição necessária ou suficiente para a estabilização da dívida pública. Sobre isso, o Tesouro Nacional (2019, p.12) afirma que:

“No caso brasileiro, o amplo conceito de despesas de capital, aliado ao elevado volume de receitas financeiras do governo, decorrentes de peculiariedades do arcabouço fiscal brasileiro, possuem o potencial de comprometer a conexão da regra com os seus objetivos de longo-prazo, uma vez que ampliam o espaço para a realização de um volume de operações de crédito em montante maior que o desejável, o que permite que a regra seja cumprida inclusive em cenários de elevação da dívida e queda do investimento”.

Daqui se segue, portanto, que a regra de ouro, tal como definida pela CF, não impede, portanto, a elevação da dívida pública; sendo uma regra fiscal inconsistente e ineficiente. 

A regra de ouro na literatura de finanças públicas

A regra de ouro na literatura de finanças públicas está relacionada com o conceito de poupança em conta-corrente do governo, a qual é definida como sendo a diferença entre o déficit nominal do setor público e o valor bruto do investimento público. Trata-se de uma medida do esforço de poupança para o financiamento dos investimentos do setor público. Nesse contexto, a regra de ouro impõe uma restrição bem clara a política fiscal, qual seja, a poupança do setor público deve sempre ser positiva.

No Brasil, no período compreendido entre 1995 e 2016 (21 anos), a União só cumpriu a regra de ouro em apenas dois: 2002 e 2008. Considerando uma previsão de déficit nominal de 5,5% do PIB para 2020 e um investimento público de 1%, a poupança pública será negativa em 4,5% do PIB. Logo, para cumprir a regra de ouro adequadamente definida seria necessário reduzir o gasto obrigatório em 4,5 p.p do PIB ao longo do ano de 2020. Um esforço fiscal desse montante é IMPOSSÍVEL de ser feito no curto e médio-prazo.

A exemplo do Reino Unido, que abandonou a regra de ouro após a crise financeira de 2008, em função da necessidade de adotar medidas draconianas para o seu cumprimento, o mais sensato é abandonar essa regra fiscal, ao invés de propor medidas para alcançar o que simplesmente não pode ser alcançado.

Impactos da PEC 186 sobre o nível de atividade econômica

As análises sobre os impactos da PEC 186 realizadas até o momento tem foco prioritário nas estimativas de economia de recursos do governo; mas pouco ou nada se discute sobre os efeitos sobre o nível de atividade econômica e emprego do corte das remunerações ou das horas de trabalho do servidores públicos. Mesmo que os cortes não sejam efetivados, devido ao alto custo político (afinal haverá uma redução na oferta de serviços públicos como saúde e educação no contexto de um país no qual há deficiência crônica de suprimento desses serviços), a incerteza gerada sobre o fluxo de rendimentos dos servidores públicos pode ter efeito negativo sobre a demanda de consumo. Com efeito, considerando o conceito de governo geral, o setor de administração pública pagou em 2018 um valor de R$ 220 bilhões de salários, o que corresponde ao 12% dos salários pagos no Brasil, valor esse que se situa entre 15 a 20%, em estados como Tocantins, Sergipe, Paraíba, Goiás e Amazonas, chegando a 34% no Distrito Federal (Domingues et al, 2020). 

Nesse contexto, a literatura internacional define o assim chamado Efeito Poupança Precaucional (Dreze e Modigliani, 1972), segundo o qual a incerteza sobre o fluxo de rendimentos leva a uma atitude de precaução por parte das famílias, a qual se materializa em redução preventiva de consumo (isso já pode estar acontecendo no Brasil, como mostram os dados sobre atividade econômica do quarto trimestre de 2019, muito antes da erupção da crise do coronavírus).

Modelo de Equilíbrio Geral Computável do NEMEA/CEDEPLAR-UFMG

Para analisar os efeitos macroeconômicos da PEC emergencial (coisa que o Ministério da Economia não fez até agora), o Núcleo de Estudos em Modelagem Econômica e Ambiental Aplicada do CEDEPLAR/UFMG desenvolveu um modelo de equilíbrio geral computável que possui uma extensa base de dados, construída a partir das informações mais recentes das contas nacionais, da matriz de insumo-produto, da pesquisa de orçamentos familiares e das contas externas. Essa base de dados é uma fotografia detalhada das relações econômicas entre setores, famílias, governo e setor externo. Em linhas gerais, a estrutura central do modelo é composta por blocos de equações que determinam relações de oferta e demanda, comportamento dos setores produtivos e da demanda final, como famílias, investidores e governo. Além disso, vários agregados nacionais são definidos nesse bloco, como nível de emprego, saldo comercial e índices de preços. A inovação desse modelo é sua capacidade de simulação de impactos trimestrais na sua dinamica temporal.

O modelo é usado para simular os impactos sobre o nível de atividade econômica e de emprego da redução da massa de salários do setor público em três cenários: reduções de 25%, 10% e 5%. O horizonte de simulação vai do primeiro trimestre de 2020 até o terceiro trimestre de 2023. 

No caso de uma redução permanente da massa salarial dos servidores públicos os impactos de curto e médio-prazo sobre o nível de atividade econômica são os seguintes:

Redução 25% : Queda do PIB de 1,4% com relação ao cenário de referência (sem cortes) no curto-prazo e de 1% com relação ao cenário de referência no médio-prazo.

Redução de 10%: Queda de 0,6% do PIB com relação ao cenário de referência (sem cortes) no curto-prazo e de 0,4% com relação ao cenário de referência no médio prazo.

Redução de 5%: Queda de 0,3% do PIB com relação ao cenário de referência (sem cortes) no curto-prazo e de 0,2% com respeito ao cenário de referência no médio prazo.

A PEC 186 permite um espaço fiscal mínimo para a União 

O espaço fiscal que a EC 186 pode abrir no orçamento da União é mínimo pelas seguintes razões. Em primeiro lugar, temos que ter em mente que cerca de 45% do gasto com pessoal da União é composto por inativos (43%) e precatórios (2%), estando automaticamente fora do alcance da PEC. Os 55% restantes são compostos por: Defesa (16%), Área Social (37%), Segurança Pública (5%), Demais executivo (22%) e Justiça e Legislativo (20%). Considerando que Defesa e Segurança vão ficar fora da PEC, e que é politicamente impossível reduzir os serviços públicos na Área Social (Saúde e Educação), sobram apenas 42% dos 55% dos gastos com ativos; ou seja, a PEC pode atingir apenas 23,1% dos gastos com o funcionalismo da União. Como a União gasta, considerando a média dos últimos 20 anos, 4.5% do PIB com funcionalismo público; segue-se que, no melhor cenário, a União poderia reduzir o gasto com funcionalismo público em apenas 0,25% do PIB (caso fizesse uma redução de 25% dos salários e jornadas dos demais servidores do executivo e dos servidores do legislativo e do judiciário); ou seja, uma valor de R$17.5 bilhões. Se a PEC não puder incluir os salários dos servidores do Judiciário e do Legislativo, devido ao princípio constitucional de independência dos poderes, então a PEC irá atingir apenas 11% dos salários dos servidores públicos. Uma redução de 25% nos vencimentos desses servidores geraria uma economia de apenas 0,12% do PIB, ou seja, pouco mais de R$ 8 bilhões. Trata-se de um valor que responde por menos de 10% do déficit primário do setor público previsto para o ano de 2020; tendo efeito praticamente nulo sobre a evolução do desequilíbrio fiscal do setor público no Brasil.

Recomendação

A luz dessas considerações sugiro a CCJ do Senado Federal a reprovação da PEC 186, bem como a elaboração de uma nova PEC que elimine a regra de ouro da CF, haja vista que essa regra fiscal é manifestadamente inconsistente e ineficiente.

A consolidação fiscal brasileira exige uma aceleração do ritmo de crescimento da economia, o que demanda um aumento do investimento público em obras de infraestrutura. Para tanto é necessário eliminar a restrição auto-imposta pela EC 95. Uma sugestão, nesse sentido, seria tirar da EC 95 os investimento públicos ou então suspender temporariamente (por um prazo de dois anos) o teto dos gastos para não só permitir uma aceleração do crescimento econômico como ainda a adoção de medidas que permitam lidar com os efeitos econômicos da crise do coronavírus, em particular (i) a redução das receitas de royalties de petróleo por parte dos entes da federação cuja arrecadação tributária depende fortemente dos mesmos como é o caso do Estado do Rio de Janeiro; (ii) proporcionar garantia de renda e assistência social para a multidão de trabalhadores informais e por conta própria que terão seus rendimentos reduzidos a zero em função das restrições a locomoção de pessoas e a realização de eventos necessárias para impedir a propagação do vírus.

Se a PEC emergencial for aprovada nesse cenário de crise sistêmica produzida pela pandemia de coronavirus, então as consequências econômicas e socias para o Brasil serão catastróficas; coisa que o Ministro da Economia Paulo Guedes, portador de autismo crônico ou de elevado grau de sociopatia, parece não se importar.

Referências

Domingues, E.P; Cardoso, D.F; Magalhães, A.S; Simonato, T.C. (2020). “Efeitos Contracionistas da PEC Emergencial? O impacto da incerteza do pagamento de salários do setor público na economia brasileira”. Nota Técnica do NEMEA, 28 de Fevereiro.

Pires, M.C (2019). “Uma Análise da Regra de Ouro no Brasil”. Revista de Economia Política, Vol. 39, N.1, pp.39-50.

TESOURO NACIONAL (2019). “Regras Fiscais: uma proposta de arcabouço sistêmico para o caso brasileiro”. Textos para Discussão.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Nova CPMF? Por que plano de imposto sobre transações financeiras é polêmico (Época on lone, 11/09/2019)

14 sábado set 2019

Posted by jlcoreiro in Debate macroeconômico, Desigualdade de renda, Desindustrialização, Nova CPMF, Opinião, Oreiro

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desindustrialização, José Luis Oreiro, Nova CPMF, Os erros de Paulo Guedes

Apesar da resistência do próprio presidente Jair Bolsonaro , a equipe econômica comandada pelo ministro Paulo Guedes segue firme no plano de criar um imposto sobre transações financeiras similar a antiga CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira), mas com caráter permanente.

+ Reforma tributária: proposta do governo começará com unificação apenas do PIS e Cofins

+ Fim de deduções no IR, nova CPMF, imposto único nos estados: o que está em jogo na reforma tributária

Nesta terça-feira, o secretário especial adjunto da Receita Federal, Marcelo de Sousa Silva, disse que a ideia é cobrar um taxa de 0,4% sobre todos os saques e depósitos realizados no país. Durante o Fórum Nacional Tributário, realizado em Brasília, ele também detalhou que a alíquota seria a mesma em operações de débito e crédito, mas nessa caso a cobrança se daria em duas partes – 0,2% sobre quem está fazendo o pagamento e 0,2% sobre quem está recebendo.

+ Governo fará reforma tributária para mudar cobrança de PIS/Cofins

A proposta, no entanto, ainda não foi formalizada pelo governo. Paulo Guedes, por sua vez, disse em entrevista ao jornal Valor Econômico divulgada na segunda-feira, que a nova CPMF terá alíquota de 0,2% a 1% e poderá arrecadar até R$ 150 bilhões por ano. A cobrança teria o nome de ITF (Imposto Sobre Transações Financeiras).

+ Mourão diz que objetivo principal do governo é a reforma tributária

A intenção, segundo o ministro, é que esse novo imposto compense a redução de tributos cobrados na folha de pagamento das empresas, barateando a contratação de funcionários.

Essa proposta, que contraria o que Bolsonaro prometeu durante a campanha, deve ser enviada ao Congresso pelo governo dentro de uma reforma tributária mais ampla para simplificar a cobrança de impostos no Brasil. A Câmara e o Senado, porém, já estão debatendo suas próprias propostas de simplificação tributária e têm rejeitado a ideia de uma nova CPMF.

+ Receita diz que Contribuição de Pagamentos terá alíquotas de 0,20% e 0,40%

Para economistas contrários a volta do imposto, a alíquota necessária para desonerar toda folha de pagamento seria alta e traria efeitos negativos para a economia.

+ Relator da reforma tributária afirma que CPMF não passa na Câmara

A CPMF tem muito pouco apoio entre os que conhecem da questão tributária. Não sei se esse é o melhor caminho para resolver o custo da contratação da mão-de-obra , disse nesta terça o presidente da Câmara, Rodrigo Maia.

Histórico do imposto gera antipatia

A CPMF foi criada em 1994 como um imposto provisório que iria financiar a saúde pública. A cobrança incidia sobre todas as movimentações bancárias – exceto nas negociações de ações na Bolsa, saques de aposentadorias, seguro-desemprego, salários e transferências entre contas correntes de mesma titularidade.

O tributo, porém, foi prorrogado algumas vezes e teve sua finalidade modificada. A alíquota subiu de 0,2% para 0,38% e passou a cobrir também gastos com previdência, o Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza, e foi usada até para pagar os juros da dívida. Em 2007, ela acabou sendo extinta, após ter arrecadado R$ 223 bilhões durante sua vigência.

PPara o economista e advogado tributarista Eduardo Fleury, esse histórico é o que explica a grande antipatia que a população tem com esse imposto. Em julho de 2016, pesquisa realizada pelo Ibope para a Confederação Nacional da Indústria indicou que 73% dos brasileiros são contra a volta da CPMF.

O recurso era pra saúde e acabou indo para outras áreas. Era para ser uma cobrança provisória, mas acabava sempre prorrogada. Isso criou uma percepção negativa , acredita.

Embora o governo afirme que vai compensar a volta da CPMF com redução de outros impostos, na prática o que sobressai para a população é a ideia de que haverá uma nova cobrança, inclusive porque o imposto sobre transações financeiras incide sobre um número maior de pessoas do que a cobrança sobre a folha de pagamento das empresas, nota o economista do Ipea (Insituto de Pesquisa Econômica Aplicada) Rodrigo Orair.

Há uma aversão a novos impostos. A população sente que já esta já está cheia de imposto , afirma.

Para além da percepção mais leiga da população, boa parte dos economistas se opõe à volta da CPMF por considerar que é um imposto ruim, que traz efeitos negativos para a economia e tem peso maior sobre os mais pobres.

A única vantagem do imposto, na avaliação de Orair, é que ele tem alta produtividade tributária – ou seja, é fácil de cobrar e gera uma resposta rápida em termos de arrecadação.

Ao defender a criação do ITF, Guedes disse ao jornal Valor Econômico que o imposto enquadraria a todos, incluindo sonegadores e traficantes de droga. Segundo o ministro, a proposta conterá uma cláusula para que transações só tenham validade jurídica com o recolhimento do imposto.

Traficante pegou dinheiro em espécie e pôs tudo no caminhão, foi lá e comprou apartamento em Ipanema, pagou em dinheiro. Você pode tomar o apartamento dele, porque ele não pagou imposto , defendeu.

Possíveis efeitos negativos da volta da CPMF

Economistas contrários à proposta do governo, porém, destacam que o imposto sobre transações financeiras incentiva as pessoas a aumentar as transações em dinheiro vivo, provocando desbancarização. Isso corrói a própria base de cobrança do imposto, exigindo aumento da alíquota.

Por exemplo, se eu vou fazer um churrasco com meus amigos, vou pedir que todos façam sua contribuição em dinheiro e depois vou pagar o churrasqueiro, e comprar as comidas e bebidas com dinheiro, em vez de fazer transferência bancária ou usar o cartão , exemplifica Orair.

Por isso, é uma aventura querer usar esse tipo de imposto para substituir a contribuição das empresas para a previdência (um dos tributos que incidem sobre a folha de pagamento). Os gastos com previdência, mesmo com a reforma, vão continuar crescendo no país, o que vai exigir um imposto cada vez maior , acrescenta o economista do Ipea.

Segundo simulação feita por Eduardo Fleury, que já foi servidor da Receita Federal, seria necessário uma alíquota de 0,7% para arrecadar os R$ 150 bilhões sugeridos por Guedes. Mas, com o encolhimento da base de arrecadação, depois subiria para 1%. As propostas desse governo são muito mal estudadas , critica.

Fleury lembra que os juros no país eram mais altos entre 1997 e 2007, quando a CPMF vigorou. Isso era um estímulo para manter aplicações financeiras, mesmo com o imposto. Hoje, porém, a taxa Selic está em patamar bem menor.

Para o economista José Oreiro, professor da UnB, a volta da CPMF vai incentivar as pessoas a manter em casa ou andar com quantias maiores de dinheiro vivo, aumentando a insegurança.

Outro efeito, segundo ele, ocorrerá em setores da economia com cadeia de produção mais longa, já que o tributo é cumulativo (vai sendo cobrado seguidamente sobre todas as transações). Isso incentiva as empresas a buscar mais verticalização (concentrar todas as etapas da produção dentro do mesmo grupo) em vez de contratar fornecedores externos, o que tende a gerar ineficiência.

É um imposto fatal para a indústria , afirma Oreiro.

Além disso, o custo dessas transações tende a ser repassado ao preço final cobrado de consumidores, afetando em maior proporção os grupos de menor renda. Esse efeito acontece porque pessoas mais pobres não têm capacidade de poupança, usando toda sua renda com consumo.

É um imposto regressivo (com maior peso sobre os mais pobres). Nenhum país desenvolvido tem , ressalta Rodrigo Orair, do Ipea.

Levantamento realizado por Isaías Coelho, ex-chefe das divisões de Administração e Política Tributária do Fundo Monetário Internacional (FMI) e ex-secretário-adjunto da Receita Federal, indica que hoje apenas a Venezuela tem um imposto permanente com finalidade arrecadatória, cuja alíquota está em 2%.

Já Argentina, Bolívia, Colômbia, Honduras e Hungria estão com taxas provisórias – a mais alta é a cobrada na Argentina, de 1,2%.

Falta de investimento em infraestrutura é a causa da recessão no país, segundo economista (Agenda Econômica, TV Senado, 28/06/2019)

29 sábado jun 2019

Posted by jlcoreiro in "nova ordem", Crise Econômica no Brasil, Debate macroeconômico, José Luis Oreiro, Paulo Guedes

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A crise da economia brasileira, Agenda Econômica TV Senado, Debate Macroeconômico, José Luis Oreiro, Nova recessão a vista?, Os erros de Paulo Guedes

Não é o déficit nas contas públicas que está levando o Brasil para o buraco, segundo o professor de Economia da UnB, José Luiz Oreiro. Para ele nem a reforma da Previdência nem a venda de todo o patrimônio público vão trazer investimentos privados suficientes para reerguer a economia.

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