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José Luis Oreiro

~ Economia, Opinião e Atualidades

José Luis Oreiro

Arquivos da Tag: Estratégia Neo-atrasista

PIB baixo reforça esgotamento de modelo de crescimento (Correio Braziliense, 02/06/2014)

03 terça-feira jun 2014

Posted by jlcoreiro in Mídia, Opinião

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Crítica ao governo Dilma Rouseff, Estratégia Neo-atrasista

O fraco desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre de 2014, principalmente por conta do enfraquecimento do consumo das famílias – que recuou pela primeira vez desde 2011 –, comprova o esgotamento do modelo do crescimento baseado apenas na demanda, alertam os economistas. O cidadão comum, no entanto, ainda não tem a mesma percepção, porque quando ele olha para trás, percebe que melhorou de vida e está ganhando mais.

Essa diferença entre a percepção do PIB dos economistas e do povo é discussão e, com certeza, voltará à tona nos debates econômicos durante a campanha eleitoral deste ano. Não à toa, a presidente Dilma Rousseff chamou o ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência, Marcelo Neri, economista e um estudioso sobre a evolução da classe média brasileira, para dar ênfase no crescimento da renda e minimizar o fraco PIB durante uma palestra no Palácio do Planalto aos integrantes do primeiro escalão do governo. Dessa forma, o discurso da equipe de Dilma está afinado sobre os avanços na área social, o principal trunfo que será usado contra a oposição, que vai aproveitar para atacar os quatro anos de PIB fraco de seu governo.

Em seus estudos com base na Pesquisa Anual por Amostra de Domicílio (Pnad), Neri compara a evolução da renda média do Brasil com o crescimento do PIB. Pelos seus cálculos, entre 2003 e 2012, o PIB cresceu 28%. Já a renda média do brasileiro avançou 52% no mesmo período. “O rendimento dos 10% mais pobres foi ainda maior, de 106%, ou seja, mais do que dobrou. Acho que as pessoas não percebem o que está mudando”, destaca.

Para o pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) Samuel Pessoa, esse tipo de comparação é perigoso. “O PIB do povo cresce com velocidade diferente porque o país está aumentando o déficit externo”, explica. Ele lembra que esse saldo que era positivo em 1,78% em 2004, atualmente está encostando em 4% do PIB. “Diante desse quadro, o país terá dificuldade para se financiar”, avisa. A Argentina, que está em uma situação financeira pior que a do Brasil, mas tem reservas menores, tem um déficit em conta-corrente de 0,9% do PIB, conforme um levantamento feito pela Capital Economics.

Ameaça:  O PIB mede todas as riquezas produzidas pela nação. Logo, ele é um só e a sensação de que a situação não é tão ruim quanto parece é que a renda do brasileiro continua aumentando apesar de o país crescer pouco. “Não existem dois PIBs. O problema é que, quando a economia cresce pouco, o governo arrecada menos e fica mais difícil dar continuidade às políticas sociais. As mudanças ocorridas na última década não podem ser sustentadas indefinidamente com um crescimento medíocre do PIB”, explica o economista e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro José Luís Oreiro. Ele alerta que o salário do brasileiro não deverá crescer como antes daqui para frente, porque a economia está fraca. “O país poderia estar melhorando a renda de todo mundo se a economia estivesse crescendo mais rápido”, completa.

O déficit externo vem aumentando porque a produção nacional não é suficiente para atender a demanda interna, dado o enfraquecimento da economia. Com isso, os riscos da perda do poder aquisitivo do brasileiro conquistado na última década crescem a longo prazo à medida que as importações aumentam. “Para o cidadão que ascendeu de classe social, o aumento da renda é positivo, só que esse é um padrão insustentável”, alerta o economista.
Problema

O saldo em conta-corrente está negativo em US$ 80 bilhões, ainda abaixo do nível de reservas do país, de US$ 379 bilhões, mas ele pode crescer ou sair do controle, na avaliação do economista José Luís Oreiro. “O problema é que não se pode contar com as reservas, apenas. É preciso fazer um ajuste fiscal, e bem feito, para que o impacto no emprego seja o menor possível. Seria oportuno que os macroeconomistas do governo se debruçassem sobre o problemão de arrumar a casa, que é reduzir o déficit externo sem fazer com que o PIB do povo ande muito aquém do PIB dos economistas”, arremata.

 

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Brasil perde fatia da riqueza mundial (Correio Braziliense, 06/05/2015)

09 sexta-feira maio 2014

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Crítica ao governo Dilma Rouseff, Estratégia Neo-atrasista

ROSANA HESSEL

Levantamento feito com base em dados do FMI mostra que a participação do país na produção e na renda globais está diminuindo, enquanto a de outras nações avança. Para economistas, o motivo são os erros da política econômica da atual gestão

A realidade não confirma o discurso da equipe econômica e da presidente Dilma Rousseff de que são externas, e não internas, as razões do baixo crescimento do Brasil. O fraco ritmo de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) nos últimos anos e o desempenho modesto previsto daqui para frente pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) vão condenar o país a ficar entre os latino-americanos que mais perdem participação na soma de riquezas gerada em todo o planeta. Enquanto isso, boa parte das nações vizinhas vem conquistando uma fatia cada vez maior do bolo mundial, revela levantamento feito pelo economista e consultor Roberto Luis Troster para o Correio.

Conforme os dados apurados pelo ex-economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) nos registros do FMI, na América Latina, o Brasil terá a terceira maior redução da fatia que detém do PIB global, entre 2013 e 2019, passando de 2,78% para 2,65%. Em termos percentuais, a queda será de 4,7% no período, ficando atrás apenas da Argentina e da Venezuela, que atravessam crises graves e devem recuar 12,3% e 17,9%, respectivamente. Equador e Uruguai completam a lista dos cinco países da região que perderão espaço, segundo o estudo de Troster. Os demais avançam. “Em valor, no entanto, o Brasil será a economia que sofrerá a maior perda: 0,133 ponto percentual do PIB global”, destacou o economista.

No entanto, a perda de participação do Brasil no PIB global poderá ser ainda maior. O FMI prevê expansão de 1,8% na economia brasileira este ano, metade da velocidade de avanço do resto do mundo: 3,6%. As projeções do mercado, no entanto, são mais pessimistas. As estimativas coletadas pelo Relatório Focus, do Banco Central, apontam para 1,63%.

Um levantamento feito pelo economista-chefe da Austin Ratings, Alex Agostini, indica que o Brasil deverá perder a 7ª posição do ranking das 10 maiores economias globais em 2018, dando lugar à Índia, que atualmente se encontra no 10º lugar. “A Índia é o país que mais deverá subir posições na lista até 2019, superando Brasil, Itália e Rússia. Entre os desenvolvidos, a única mudança deverá ocorrer com o Reino Unido que vai superar a França em 2016 para ocupar o 5º posto”, afirmou. Ele destaca que as 10 maiores economias do planeta representam 65% do PIB mundial, estimado em US$ 76,8 trilhões neste ano, podendo chegar a US$ 100,8 trilhões em 2019.

Falhas internas
De acordo com o levantamento de Troster, o Peru registrará o maior avanço em termos percentuais, dando salto de 12%, passando de 0,396% para 0,444% do PIB global. O Paraguai terá a fatia ampliada em 5,6%, e o Chile, em 2,8%. “Isso mostra que as políticas brasileiras não são tão boas como as dos países que estão crescendo mais. Elas são menos eficientes. Não adianta culpar o resto do mundo pelo fraco desempenho porque o problema é interno”, destacou Troster. A opinião é compartilhada pelo economista Clodoir Vieira, consultor da Compliance Comunicação. “Apesar da expansão do PIB nos anos anteriores ao governo Dilma, o Brasil vem há tempos figurando a rabeira do crescimento global. Isso é resultado da falta de uma política de longo prazo nas gestões petistas”, criticou.

Na avaliação de Vieira, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do qual Dilma é considerada “mãe”, virou uma peça de ficção porque a maioria das obras não saiu do papel. Com isso, a taxa de investimento em relação ao PIB caiu de 20,3%, em 2010, para os atuais 18%, e dificilmente avançará, devido às elevadas taxas de juros. No início do mandato, a presidente prometia 25%.

“O investidor precisa de garantias de que o governo não vai intervir nos mercados para que ele possa aplicar no país, mas está sem perspectiva porque não existe uma política de longo prazo. O PAC e o programa de concessão em infraestrutura são medidas pontuais. O empresário que pretende investir no setor elétrico, por exemplo, fica com medo quando vê que uma medida provisória pode mudar toda a rentabilidade planejada”, explicou ele. “Os juros altos inibem os projetos de concessão em infraestrutura porque hoje, o rendimento de uma aplicação financeira é maior do que a taxa de retorno dos projetos”, emendou.

“O país só voltará a crescer se houver aumento do investimento. Por isso, é preciso controlar a inflação para que os juros caiam, e as taxas de retorno dos projetos voltem a ser competitivas. Na atual conjuntura, isso é impossível”, explicou Ernesto Lozardo, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV). Pelas contas do economista, os investimentos do setor privado já programados e os previstos na área de infraestrutura e logística ajudariam o PIB do país a crescer acima de 3,5% ao ano até 2020. “Com isso, a taxa de investimento aumentaria para 20,5% e chegaria em 25% em 2024”, disse.

O fraco desempenho do PIB brasileiro é resultado de um diagnóstico errado da equipe econômica, reforça o economista José Luis Oreiro, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e seguidor do pensamento keneysiano que norteia a concepção de economia de Dilma. “O país cresce pouco porque esse é o potencial atual da economia brasileira. Para acelerar a expansão do PIB, é preciso melhorar a competitividade da indústria,”, explicou. “O potencial de expansão da economia está em apenas 2%, e a tendência é de que caia ainda mais em 2015”, disse ele, lembrando que, quando assumiu o governo, a chefe do Executivo herdou um potencial de 3% a 3,5%.

A geometria de Dilma é pré-euclidiana

11 sexta-feira abr 2014

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Crítica ao governo Dilma Rouseff, Estratégia Neo-atrasista

José Serra* – O Estado de S.Paulo

“Grande erro da natureza é a incompetência não doer” – Millôr Fernandes.

“A menor distância entre dois pontos é uma linha reta? Euclides de Alexandria, 300 anos antes de Cristo, demonstrou que sim. Mas o grande problema do Brasil atual é que o governo Dilma é pré-euclidiano, ou seja, nas suas concepções, estratégias e ações a menor distância entre dois pontos não é uma linha reta, mas uma curva espiralada e tridimensional. Por isso mesmo, tudo o que pretende fazer de bom ou ruim custa muito mais tempo e recursos. Perde-se no caminho das espirais e, com frequência, não chega ao ponto almejado.”

 

Tenho recorrido a essa alegoria em palestras feitas desde 2011. É claro que no governo Lula – e, em geral, o PT em suas administrações – também houve repúdio a Euclides. Mas Dilma Rousseff o levou ao paroxismo, por dois motivos. Primeiro, porque o quadro econômico é bem mais opaco e adverso. Lula faturou uma grande bonança externa decorrente da subida dos preços de nossas matérias-primas exportadas e torrou o dinheiro em consumo importado, inclusive substituindo a produção industrial doméstica pela estrangeira. E ainda deixou a taxa de câmbio insustentavelmente supervalorizada, com toda a implicação inflacionária que isso teria no futuro. Em suma, comeu o filé e a alcatra, repartiu a carne de segunda e deixou apenas lascas e ossos para a sucessora que ele próprio elegeu.

Mas há um segundo fator que aperfeiçoou o ataque à geometria: a inexperiência de Dilma na gestão de assuntos públicos, acompanhada, porém, de sua convicção íntima de que é uma excepcional gestora. Eis uma mistura explosiva para a qualidade da administração pública em qualquer lugar do mundo – pior num regime presidencialista, especialmente o brasileiro.

Um belo exemplo dessa vocação antieuclidiana é (ou foi) o trem-bala. É para melhorar o transporte terrestre de passageiros entre São Paulo e Rio? Comece-se investindo nos metrôs e trens urbanos dessas cidades, modernizando a linha de trem já existente entre elas, adicionando alguns trechos. Agora, se é para abandonar a linha reta e embarcar na espiral, deixem-se de lado os transportes dentro das cidades, implante-se um trem interestadual de altíssima velocidade, sem demanda que o justifique e ao custo de R$ 75 bilhões!

Dois outros exemplos, bastante feios, por sinal, pois suas consequências adversas já se verificam, são os casos da Eletrobrás e da Petrobrás, empresas de energia que resultaram de batalhas históricas. A primeira delas, criada pelo governo João Goulart em 1963, foi consolidada e fortalecida pelos governos militares, com seus ministros Roberto Campos, Otávio Bulhões, Delfim Netto, Reis Veloso e Mário Henrique Simonsen. Algum suspeito de esquerdista (ou de “nacional-desenvolvimentista”)? Pois bem, o governo Dilma conseguiu, com muita determinação e, aí, sim, talento, quebrá-la, desorganizando o sistema elétrico nacional. Com uma simples medida provisória, de setembro de 2012, cometeu um erro perfeito: aquele que é cometido de graça, bestamente, é difícil de corrigir e tem efeitos desastrosos.

A Petrobrás, monopólio estatal de petróleo criado graças a um líder parlamentar (relator da Lei 2.004) da União Democrática Nacional, a UDN, considerada entreguista e golpista, e resultado de tantas lutas nacionalistas e estudantis, foi simplesmente quebrada e desmoralizada pelo PT nas gestões de Dilma Rousseff no Ministério de Minas e Energia, na Casa Civil e na Presidência da República.

Do ponto de vista dos costumes, já se sabe bastante e se vai saber muito mais: trata-se, dados os custos e efeitos morais, do maior escândalo de corrupção e inépcia de nossa História de nação independente. Desses que nos causam vergonha íntima. Faz do Brasil pré-64 uma era de ingenuidade; do regime militar, um sucessor de Esparta; do governo Collor, um amador no ramo. Do ponto de vista da estratégia da empresa, tem-se a incompetência suicida na construção de refinarias e a implantação do método da partilha no caso do petróleo do pré-sal. Havia um modelo de concessões que funcionava bem, mas foi deixado de lado em troca de outro que obriga a Petrobrás a pôr pelo menos 30% do dinheiro de cada novo campo explorado, recursos que ela não tem. Junto à compressão de seus preços, isso elevou brutalmente suas dívidas e desvalorizou seu patrimônio.

Numa palestra em agosto de 2013 analisei as características do que chamei o estilo lulista de crescimento e sua fase de esgotamento. Mostrei a falta ou ineficácia de políticas que deveriam deter a desaceleração econômica e reabrir, nem que fosse no médio prazo, um ciclo de expansão sustentado. Enunciei as razões do pessimismo dos agentes econômicos quanto à economia, que tenderia a aprofundar-se e representar ele mesmo um fator adverso para a recuperação, na base da profecia que se autorrealiza. Foi inevitável a pergunta leninista do público: “O que fazer?”.

Respondi: “A presidente Dilma ir para a TV e anunciar: ‘Em 2014 não serei candidata à reeleição. A situação nacional exige que formemos um governo acima das paixões eleitorais, dedicado cem por cento à identificação e ao encaminhamento das soluções de cada um dos nossos principais problemas. É o que farei. Chamarei os melhores quadros do País para colaborar'”. Imagine-se o alívio geral.

Explico-me: não disse aquilo porque achasse factível Dilma tomar essa atitude de estadista. A ideia foi mostrar que a principal causa do pessimismo era, como é, a possibilidade de tê-la mais quatro anos à frente do governo. De lá para cá, essa ansiedade se espalhou de tal maneira que hoje atinge o próprio PT.

E que fique claro: a presidente da República é, pessoalmente, um fator agravante da crise, mas não é a crise ela mesma. Esta, de fato, é de modelo, é de paradigma. Lula fez algumas poucas escolhas certas em circunstâncias que não dependiam dele e fez outras muito erradas quando tinha alternativas. É contra a natureza achar que um político não vai pensar na sua popularidade. Mas um homem de Estado precisa ir além do aplauso e da vaia – e já sabemos que ele não resiste à ovação. O País pagou o pato. Assistimos à gangrena de um modelo: vai apodrecendo, mas ainda está vivo.

*José Serra é ex-prefeito e ex-governador de São Paulo.

Quando um governo atrapalha o País (O Estado de São Paulo, 13/03/2014)

14 sexta-feira mar 2014

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Crítica ao governo Dilma Rouseff, Estratégia Neo-atrasista, José Serra

Quando um governo atrapalha o País

13 de março de 2014 | 2h 08
JOSÉ SERRA – O Estado de S.Paulo

Poucas vezes a condução governamental atrapalhou tanto os rumos da economia brasileira como nos dias atuais. O Brasil não está à beira da insolvência fiscal ou de balanço de pagamentos, nem sob o risco de dar calote nos credores nacionais e externos, por mais que algumas agências internacionais de risco, em geral energúmenas, estejam prestes a sugeri-lo. São as mesmas agências que agravaram a crise financeira do Sudeste Asiático nos anos 1990 e provocaram o estouro do subprime nos EUA em 2008/2009.

 

Tampouco o Brasil está à beira de algum colapso inflacionário. É certo que a inflação está reprimida e que a economia deveria e poderia crescer mais. No entanto, a produção e o emprego não estão desabando: 2,3% de expansão do PIB no ano passado é um número baixo, mas bem acima da taxa de crescimento demográfico, de 0,8%.

A dívida líquida do setor público em relação ao PIB situa-se em torno de 35%, proporção bastante moderada no contexto internacional. Em 2002 era da ordem de 60%. Como lembrou Francisco Lopes, mesmo a dívida bruta, em geral apontada como em situação crítica, não é assustadora. Se dela excluirmos o equivalente às reservas de divisas, a proporção cai para 40% do PIB. Um quarto disso decorre das operações de crédito subsidiado do BNDES, um número alto, mas não apocalíptico, até porque nem tudo virará mico nas mãos do banco e do Tesouro.

Por que, então, as expectativas dos agentes econômicos são tão pessimistas? Essencialmente, em razão da insegurança que o governo Dilma provoca e do pesadelo de que ele possa prolongar-se por mais quatro anos. Esta é a questão essencial: não houvesse a possibilidade constitucional da reeleição, tais agentes estariam muito mais tranquilos, mesmo que o PT fosse o favorito.

A insegurança despertada pelo governo vem da incrível inépcia para acelerar os investimentos em infraestrutura – que deveriam ter sido o motor de um novo ciclo expansivo de produção e produtividade da economia -, seja diretamente, pelo investimento governamental, seja mediante parcerias com a área privada. Vem dos erros cometidos a céu aberto, como no caso da intervenção nos preços da energia elétrica, à custa de incertezas para o setor e de imensos subsídios fiscais, que aumentarão no futuro próximo. Vem das desonerações tributárias improvisadas, que acabaram agravando o déficit público. Vem da situação pré-falimentar da Petrobrás e da mediocridade da gestão da empresa, que gerou altos déficits comerciais na área de combustíveis. Vem da absoluta falta de uma política comercial externa e da estultice das amarras do Mercosul, que este governo não inventou, mas consagrou.

Vem também da percepção de ruindade geral, não só em relação à economia: vale, por exemplo, no caso da educação – talvez a área mais fraca do governo Lula, que sua sucessora fez questão de piorar, por incompetência e opção preferencial pelas farsas. Vem da fraqueza exposta da equipe governamental, com gente que não estaria habilitada a administrar um município de tamanho médio. Vem da percepção de amadorismo político, em face da incapacidade de ministrar alianças partidárias. Vem da incrível fragilidade para lidar com as expectativas – tanto na forma como no conteúdo.

A fragilidade não está apenas na presidente, que raramente consegue falar durante cinco minutos algo que faça sentido, tenha começo, meio e fim, com conteúdo e coerência. Há um nivelamento por baixo que se espraia em todas as áreas da administração. Não me lembro de nenhum governo, desde Juscelino Kubitschek até hoje, passando pelos militares, que se tenha dedicado a rebater um editorial de jornal – no caso, o britânico Financial Times – por intermédio de um ministro de Estado. E pior: o governo o fez com argumentos de botequim, na linha “você fala mal de nossa economia e nós falamos mal da economia do seu país”.

A economia brasileira não está à beira do precipício, mas está presa numa camisa de força. Perdeu-se raio de manobra em matéria fiscal, de inflação e de balanço de pagamentos. É fato também que o governo Dilma não é a origem de todos os males, algumas das principais travas vêm do governo Lula – por exemplo, em relação à Petrobrás, vítima de grandes erros estratégicos na década passada, como o método de partilha no pré-sal e a forma como foi implementado.

Mais ainda, veio também do governo Lula a herança do desperdício dos recursos provenientes da bonança externa e da abundância de capitais internacionais. Esse dinheiro foi torrado em consumo e serviu à desindustrialização do País, problema que está na origem do lento crescimento, do desequilíbrio crescente do balanço de pagamentos e do freio aos investimentos privados. Aliás, foi em relação ao período Lula que outra publicação britânica, a revista The Economist, fez uma das capas mais equivocadas de sua história, no fim de 2009: mostrava um Cristo Redentor turbinado a jato, rumo ao céu da prosperidade econômica. Uma análise econômica algo cuidadosa mostraria que o querosene do jato não duraria muito além das eleições do ano seguinte.

Infelizmente para as expectativas econômicas, a presidente pretende disputar as eleições porque, apesar de sua administração não ser bem avaliada, as pesquisas de intenção de voto não são desanimadoras para ela. É um quadro compatível com a presença diária do governo na TV, o investimento maciço em propaganda e uma oposição tímida. Creio que as intenções de voto em Dilma tenderão a murchar na sequência da fragilidade do seu desempenho, mas isso ocorrerá bem mais adiante. Nesse caso, imaginem os leitores o volume dos novos tropeços verbais e não verbais que nos espera. Curiosamente, no entanto, a possibilidade de alternância de governo poderá ao menos impedir que as expectativas se deteriorem. O Brasil precisa tanto de oposição que a simples possibilidade de que ela venha a fortalecer-se já melhora o ânimo dos agentes econômicos.

Em artigos anteriores escrevi que o governo havia sumido. Pensei melhor: infelizmente, ele existe.

EX-GOVERNADOR E EX-PREFEITO

DE SÃO PAULO

Aumento do rombo nas contas externas deixa o país vulnerável (Correio Braziliense, 10/03/2014)

11 terça-feira mar 2014

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Crítica ao governo Dilma Rouseff, Estratégia Neo-atrasista

Brasília – Diante do enfraquecimento do setor produtivo nacional, que está sem fôlego para atender o consumo doméstico, o rombo nas contas externas disparou. Para cobrir o buraco, o Brasil passou a apelar ao hot money, dinheiro de especuladores que corre o mundo em busca de juros atrativos. Até o fim do ano, serão necessários pelo menos US$ 17 bilhões desse tipo de capital para financiar o déficit. No cenário mais pessimista, que leva em conta um quadro de estresse financeiro global, essa dependência chegaria a US$ 51 bilhões, conforme estimativas do mercado financeiro coletadas pelo Banco Central.

De início, o governo Dilma Rousseff levantou uma série de barreiras para conter a entrada desse dinheiro, considerado “arisco” pelo governo, que a qualquer sinal de problemas, ou de oportunidade financeira mais vantajosa, pode deixar o país. Na época, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, foi o responsável por colocar travas contra esses recursos, aumentando, por exemplo, o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre a entrada do dinheiro. Foi, segundo ele, uma reação ao “tsunami monetário” vindo dos Estados Unidos, que passaram a injetar bilhões de dólares no mercado para reanimar a economia do país, que foi ao chão após o estouro da crise de 2008/2009.

A realidade, porém, se impôs e todas as barreiras foram retiradas. Para evitar consequências mais graves nas contas externas, o país precisou se mostrar atraente ao capital especulativo. A fraqueza brasileira está no balanço de pagamentos que, no ano passado, sofreu com um déficit de US$ 81,3 bilhões, um recorde. Só não houve problemas porque o buraco foi coberto por US$ 64,7 bilhões de investimentos estrangeiros diretos (IED, recursos aplicados no setor produtivo) e US$ 34,7 bilhões de hot money. No entanto, foi a primeira vez, desde 2001, que o Brasil não conseguiu equilibrar as contas usando IED, considerado um “dinheiro de qualidade”, de longo prazo e estável. A contabilidade só foi fechada com a ajuda do capital especulativo.

Neste ano a situação deve se repetir. O pior cenário projeta um rombo nas contas externas de US$ 101 bilhões, a mediana do mercado está em US$ 75 bilhões e a previsão do Banco Central é de US$ 78 bilhões. Em nenhuma dessas situações, o IED, cujas expectativas giram ao redor de US$ 63 bilhões, será suficiente. “Não quer dizer que a gente vá ter uma crise externa amanhã. Mas a tendência, realmente, é de piora da qualidade do financiamento”, ponderou José Luis Oreiro, professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

“Os próximos anos serão de arrefecimento gradual na entrada de investimentos estrangeiros diretos. Esses influxos de capitais permanecerão financiando boa parte do déficit em conta-corrente brasileiro, porém em volume menor do que nos anos anteriores”, observou Gabriela Fernandes, economista do Itaú Unibanco. “As concessões de infraestrutura são uma grande oportunidade para a entrada de mais IED, e as novas regras que estão atraindo mais consórcios interessados pode fazer com que a redução no investimento direto seja mais gradual ao longo dos próximos anos”, disse. As projeções da instituição são de que o volume recue de 2,9% do Produto Interno Bruto (IED) em 2013 para 2,2% em 2015.

ATRAÇÃO Com o ingresso menor desses recursos de longo prazo, o país precisa atrair outros capitais para fechar as contas e o aumento dos juros cumpre a função de ímã. Hoje, o maior taxa básica real do planeta é a brasileira, 4,48% ao ano. Diante do valor tão elevado no Brasil frente a juros baixos e muitas vezes negativo no restante do mundo, os investidores estrangeiros captam recursos em seus países de origem ou em outras nações e, depois, remetem esse capital para cá. Aqui, aplicam em títulos públicos ou ativos que ofereçam retorno próximos da Selic, que atualmente está em 10,75% ao ano. Com essa operação, eles quitam o empréstimo obtido no exterior e embolsam a diferença. Essa estratégia é chamada de arbitragem.

“Ficar muito dependente de capitais de curto prazo deixa o país muito exposto”, avaliou Monica Baumgarten de Bolle, professora da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). “A gente não tem poupança interna para financiar o investimento. E aí não tem jeito, tem que ser com poupança externa. De um modo ou de outro, o capital de fora tem que vir, porque o Brasil não tem dinheiro suficiente para fazer tudo o que precisa”, explicou. Para Armando Castelar, coordenador de Economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), a deterioração das contas externas se mostra como uma tendência, mas o país ainda está no início do processo. “Pode se tornar perigoso algum dia”, disse.

Desde o ano passado, não fosse esse dinheiro, o país poderia enfrentar problemas em função do desequilíbrio nas contas externas que, na prática, podem ser vistas como um indicador do grau de fragilidade de uma economia em relação ao mundo. Três itens fazem parte delas: o balanço de pagamentos, que mede todas as transações financeiras, de bens e de serviços do Brasil com o planeta; reservas internacionais, poupança que funciona como um seguro contra crises; e dívida externa.

“Parte do desequilíbrio se chama Petrobras”, alerta Zeina Latiff, economista-chefe da XP Investimentos. Com a política de preços subsidiados de combustível, a companhia tem importado petróleo a um preço muito inferior ao vendido no mercado doméstico. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), a conta petróleo respondeu por pouco mais da metade do déficit na balança comercial do primeiro bimestre de 2014, foi responsável por perdas de US$ 3,6 bilhões.

Fraqueza da economia nos últimos três anos derruba o potencial de crescimento do país (Estado de Minas, 02/03/2014)

06 quinta-feira mar 2014

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Crítica ao governo Dilma Rouseff, Estratégia Neo-atrasista

Publicação: 02/03/2014 06:00       Atualização: 02/03/2014 07:26

Deco Bancillon

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Brasília – Alterar o quadro de baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) dos últimos três anos – a pior média anual desde o governo Fernando Collor (1990-1992) – será o maior desafio do próximo mandato presidencial, seja com a reeleição de Dilma Rousseff ou com a vitória da oposição. Para especialistas, se mantido por vários anos, o baixo desempenho da economia tende a atrofiar a capacidade de o país crescer.
Nas contas do estrategista-chefe para o Brasil do banco japonês Mizuho, Luciano Rostagno, o chamado PIB potencial do país caiu de 4,3%, em 2007, para os atuais 2,5%. A medida considera o tamanho da população e a capacidade de empresas e governos atenderem o consumo interno. “Qualquer expansão acima desse patamar impulsiona a inflação, porque começa a faltar produto e até trabalhadores qualificados para atender a demanda extra das famílias e das empresas”, explica.
Esse descompasso prejudica, sobretudo, a confiança dos empresários. “À medida que o país cresce pouco durante um longo período, as expectativas do setor privado acabam se deprimindo, afetando investimentos e, por tabela, inibe a expansão no futuro”, analisa o economista José Luis Oreiro, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “É um ciclo que se realimenta e produz um efeito perverso nas projeções. Uma vez que há uma trajetória de baixo crescimento, a chance de continuar nela é muito alta”, assinalou.
Curiosamente, nas últimas eleições presidenciais, a então candidata Dilma prometia taxas de crescimento em patamares elevados e sustentáveis. Mas essa que era uma das principais bandeiras de campanha não se confirmou. Tão logo tomou posse, em 2011, a presidente mandou o Ministério da Fazenda elaborar documento com as metas para os quatro anos de seu governo, prevendo expansão média anual de 5,9% da economia.
A projeção, no entanto, ficou distante do resultado alcançado: um desempenho médio de 2% nos três primeiros anos de sua gestão. Essa taxa pode cair ainda mais tão logo se confirme um avanço de só 1,4% do PIB neste ano, conforme prevê o mais recente relatório apresentado pela consultoria Mauá Sekular. Nesse caso, a taxa média de crescimento recuaria para 1,9% ao ano, cerca de um terço dos 5,9% imaginados pelo governo.
DESVIO DE ROTA Esse erro de planejamento pode ser explicado, em parte, pelo modelo de desenvolvimento adotado pela equipe econômica da presidente. O texto que trazia as estimativas mais favoráveis ao PIB avisava que as “medidas macroprudenciais” a serem adotadas então pelo governo, em conjunto com a consolidação fiscal, deviam permitir que a economia seguisse “em crescimento sem descompasso entre oferta e demanda”. Em outras palavras: o governo perseguiria uma linha responsável na gestão das contas públicas, intervindo no mercado apenas para evitar solavancos inesperados, como foi o aprofundamento da crise financeira global.
Não foi o que ocorreu. Em vez de consolidação fiscal, o governo ampliou gastos em ritmo três vezes superior ao aumento da receita tributária. A consequência disso foi a redução do esforço para pagar os juros da dívida pública, representado pela meta de superávit primário. O indicador encolheu sensivelmente nos últimos três anos. Passou de 3,1% do PIB, em 2011, para 1,9% no ano passado.
Modelo superado A estratégia do governo Dilma Rousseff para acelerar o crescimento do  Produto Interno Bruto (PIB) parecia simples. Ao estimular o consumo  interno, os investimentos produtivos viriam a reboque, corrigindo o  desequilíbrio entre a forte demanda das famílias e a insuficiente  capacidade das empresas em atendê-las. No entanto, a proposta, que ficou  conhecida como nova matriz econômica, falhou. A expansão da atividade  entrou em desaceleração e o custo de vida colou no limite de tolerância,  subiu para próximo de 6,5%, o teto da meta de inflação.
O  economista-chefe da Mauá Sekular, Alessandro del Drago, lembra que a  taxa de expansão do PIB, de 1,9% na comparação entre o último trimestre  do ano passado e igual período de 2012, ficou abaixo do potencial, que  seria de 2,4%. “O país tem crescido abaixo do que pode porque não  conseguiu equacionar os problemas de oferta, como gargalos logísticos e  ampliação da produtividade. Como essas medidas dependem de reformas  estruturais, que não são feitas da noite para o dia, deveremos ter a  continuidade desse baixo crescimento por algum tempo”, afirma.
Na  média dos países emergentes, o Brasil tem tido um dos piores  desempenhos. Essa fraqueza, porém, não pode ser atribuída à escassez de  demanda, como ocorreu em 2008 e, sobretudo, em 2009, observam os  economistas Affonso Celso Pastore, Marcelo Gazzano e Maria Cristina  Pinotti no estudo “A armadilha do baixo crescimento”, publicado ano  passado.
“Para o governo, a chave para a retomada dos  investimentos é a ampliação do consumo, proveniente dos estímulos  fiscais”, escreveram. Eles defendem justamente o inverso que o proposto  pelo governo. “O mercado de trabalho mostra evidências de pleno emprego,  e o consumo persiste crescendo, negando a hipótese de escassez de  demanda. Nosso baixo crescimento está ligado a um problema de oferta (de  produtos e serviços), com as taxas baixas de investimento desacelerando  o crescimento do PIB potencial”, explicam.
Mudar esse quadro e  ampliar o potencial de crescimento do país, argumenta a economista-chefe  da XP Investimentos, Zeina Latif, depende da realização de mudanças  estruturais. “O abandono da agenda de reformas econômicas se refletiu na  perda de produtividade. Essas mudanças atuariam no lado da oferta e não  no da demanda. Daí a necessidade de novos rumos na política econômica”,  comenta.
O mesmo pensa o economista do banco japonês Mizuho  Rostagno. “Precisamos retomar as reformas estruturais para o Brasil  poder voltar a crescer mais forte. O PIB potencial é um reflexo disso,  atingindo seu auge em 2007 e caindo mais forte nos últimos anos”,  lembrou. (DB)

Venezuela, Argentina e o debate econômico no Brasil(O Estado de São Paulo, 21/02/2014)

22 sábado fev 2014

Posted by jlcoreiro in Associação Keynesiana Brasileira, Macroeconomia estruturalista do desenvolvimento, Mídia, Opinião

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Estratégia Neo-atrasista, Populismo latino-americano

A débâcle da Argentina e da Venezuela repercute no debate econômico brasileiro. Já há algumas décadas, o antagonismo entre economistas ortodoxos, de um lado, e heterodoxos e desenvolvimentistas, do outro, deu a tônica da discussão nacional. Argentina e Venezuela são dois países que, de forma explícita e até estridente, rejeitaram todas as recomendações do chamado “Consenso de Washington”, identificado com o pensamento liberal e ortodoxo, e embarcaram em políticas econômicas inteiramente diversas. Agora, com ambos os países em grandes dificuldades, em termos de inflação, câmbio e crescimento, os economistas ortodoxos podem se sentir vingados.

Mas não necessariamente, como assegura economista José Luis Oreiro, professor da UFRJ e presidente da Associação Keynesiana Brasileira. Para ele, Argentina e Venezuela são exemplos de países com políticas econômicas populistas, que, na América Latina, tanto podem vir da esquerda como da direita.

“É muito diferente do novo desenvolvimentismo que propomos”, diz Oreiro, que em junho vai lançar na Inglaterra um livro sobre o tema, escrito em conjunto com Luiz Carlos Bresser-Pereira e Nelson Marconi, outros expoentes do pensamento heterodoxo no Brasil.

Segundo Oreiro, a Argentina aproximava-se do novo desenvolvimentismo até 2005 quando, sob a batuta do então ministro das Finanças Roberto Lavagna, combinava uma política de câmbio competitivo com contas públicas razoavelmente em ordem.

Posteriormente, porém, a política econômica argentina enveredou pelo expansionismo fiscal e monetário, em que gastos públicos crescentes eram financiados pela emissão de moeda, com a consequente alta da inflação. Uma série de erros se acumulou, como a falsificação de índices de inflação e hostilidades crescentes contra as empresas privadas – primeiro as estrangeiras, e, na sequência, as nacionais.

Mas um dos erros mais graves e mais típicos do populismo latino-americano, na visão de Oreiro, foi a tentativa de controlar a inflação com a apreciação cambial, que compromete a situação externa dos países e agora os está empurrando na direção de crises de balanço de pagamentos.

Oreiro observa que mesmo a direita comete este tipo de erro populista, citando o caso do início do governo Pinochet no Chile, marcado por grave crise econômica. Ele poderia ter mencionado também, fora do espectro da esquerda típica da região, o “populismo cambial” do primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso, que terminou na desvalorização forçada de 1999.

“O novo desenvolvimentismo defende um Estado fiscalmente forte, em que pode haver déficits públicos para estimular a economia em tempos de recessão, mas em que existe equilíbrio ou quase equilíbrio intertemporalmente”, diz Oreiro. Ele defende um aumento da poupança pública brasileira, que é a receita do governo menos as despesas correntes (isto é, as despesas com investimento não reduzem a poupança pública).

Governo Federal continua preocupado com o superávit primário (Rádio Estadão, 17/01/2014)

18 sábado jan 2014

Posted by jlcoreiro in Mídia, Opinião

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Crítica ao governo Dilma Rouseff, Estratégia Neo-atrasista

Minha entrevista pro Estadão foi citada pelo Fernando Dantas hoje na Rádio Estadão. Confiram em http://radio.estadao.com.br/audios/audio.php?idGuidSelect=C3E160D0C8BE44C1916D08E2DA9E3FA2.

Manobras Contábeis garantem superávit primário

09 quinta-feira jan 2014

Posted by jlcoreiro in Opinião

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Crítica ao governo Dilma Rouseff, Estratégia Neo-atrasista

Segundo matéria publicada no Valor Econômico de ontem (Restos a pagar dobram e elevam superávit) o Tesouro Nacional aumentou os restos a pagar (processados) de R$ 26,3 Bilhões em 2012 para R$ 51, 3 bilhões em 2013. Trata-se de um aumento de R$ 25 bilhões na conta de restos a pagar processados, ou seja, despesas que foram autorizadas, executadas e liquidadas, com a apresentação de todas as notas e feita a medição das obras e serviços realizados. Sem esse aumento nos restos a pagar, o superávit primário teria sido de R$ 50 bilhões, ao invés de R$ 75 bilhões e o governo não teria alcançado a meta de superávit primário para 2013 dando razão (sic) aos nervosinhos ….

Como se pode observar trata-se de mais uma manobra contábil do governo que, em função das críticas recebidas anteriormente, recebeu inovar na sua “contabilidade criativa”. Ao invés de inflar artificialmente a receita tributária fazendo o dinheiro “passear” entre várias empresas estatais, a lógica este ano foi empurrar despesas do ano de 2013 para o ano de 2014.

Sinceramente eu não sei quem o Ministério da Fazenda quer enganar com esse tipo de estratagema. O mercado sabe muito bem que o governo não consegue alcançar a meta de superávit que ele se propôs e precifica isso no aumento do prêmio de risco na rolagem da dívida pública. O único efeito da contabilidade criativa é reduzir cada vez mais a credibilidade do governo, sem nenhum benefício para o mesmo em termos de redução da percepção de risco.

Deve-se deixar claro que esse tipo de política não é nem keynesiana e nem desenvolvimentista, trata-se de pura e simples picaretagem de quem não tem competência para executar uma política fiscal com objetivos claros e bem definidos. Caso o governo quisesse executar uma política fiscal expansionista de cunho keynesiano então deveria anunciar de forma clara e transparente para os agentes econômicos a redução da meta de superávit primário pelo período de tempo necessário para estimular a economia. Mas não é isso que os gênios do Ministério da Fazenda fazem. O discurso é de quem está preocupado com as contas públicas e, portanto, vai executar uma política de austeridade fiscal. Já a prática é justamente o oposto.

Acho que já passou da hora da Presidente Dilma Rouseff demitir o Ministro da Fazenda. A permanência de Guido Mantega a frente de sua pasta atesta apenas que a prática da “Contabilidade Criativa” tem o apoio e o endosso da Presidência da República.

Brasil perde US$ 12,2 bi (Correio Braziliense, 09/01/2014)

09 quinta-feira jan 2014

Posted by jlcoreiro in Mídia

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Desequilíbrio externo, Estratégia Neo-atrasista, Governo Dilma

O pessimismo de investidores estrangeiros em relação à economia está fazendo estragos nas contas do Brasil. Em 2013, o fluxo cambial, que mede as saídas e as entradas de dólares no país, registrou o pior resultado em 11 anos. O saldo ficou negativo em US$ 12,26 bilhões, indicando forte fuga de recursos, diante da combinação de baixo crescimento econômico, inflação alta e contas públicas desarranjadas. A saída só não foi maior que a registrada em 2002. Naquela época, o motivo da desconfiança era a possível eleição do então candidato Lula, que, por muito tempo, pregou o calote da dívida pública brasileira, o que não ocorreu.

Os riscos agora não são de moratória, mas de uma piora da nota de crédito do país. Duas das três principais agências de classificação de riscos do mundo, a Moody”s e a Standard & Poor”s, já sinalizaram que podem reduzir a avaliação sobre a capacidade do Brasil de honrar seus compromissos. A S&P, inclusive, avisou que pode cortar a nota ainda neste ano.

A fuga de recursos também é sintoma de outro desequilíbrio. Como as políticas de estímulo ao consumo não tiveram a devida contrapartida do aumento de produção interna, as importações cresceram para atender a demanda das famílias, o que se refletiu no fluxo cambial.

Em 2013, o saldo das operações de câmbio referentes a exportações e importações foi de US$ 11,1 bilhões — bem distante dos resultados obtidos em anos anteriores, quando a conta comercial chegou a registrar ingressos superiores a US$ 40 bilhões. Já a conta financeira, que inclui itens como os gastos de brasileiros com viagens internacionais, empréstimos e operações no mercado financeiro, ficou negativa em US$ 23,3 bilhões.

A valorização do dólar diante do real, que atingiu 15,1% em 2013, também vem estimulando a saída de recursos do país. “Se acredita que o dólar vai subir ainda mais, o investidor não tem por que ficar aqui. Ele se desfaz das aplicações em reais, pega os dólares e vai para outro país”, explicou o diretor de Câmbio da Pioneer Corretora, João Medeiros.

Tensão Ontem, em mais um dia de tensão no mercado, a moeda norte-americana subiu 0,47%, fechando a R$ 2,390 para a venda. Nas contas do economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC, o dólar deverá subir para até R$ 2,50 ao longo do ano, “se não houver alguma crise econômica pelo caminho”, ele disse.

Para José Luis Oreiro, professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a alta do câmbio, apesar de ruim para a inflação, porque vai fazer com que produtos importados fiquem mais caros, é boa notícia para a indústria nacional. “A falta de competitividade do setor reflete um período de pouco ou nenhum investimentos em modernização do parque produtivo e isso, por sua vez, é consequência do câmbio sobrevalorizado”, afirmou.

Desemprego cai nos EUA

O setor privado dos Estados Unidos criou 238 mil postos de trabalho em dezembro, o aumento mais forte em 13 meses. Divulgado ontem, o número supera as expectativas. Segundo analistas, era esperada a criação média de 200 mil vagas. Além disso, a geração de oportunidades de novembro foi revisada para 229 mil, ante as 215 mil informadas antes. Os resultados confirmam a expectativa do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) em relação ao mercado de trabalho. De acordo com a ata de sua reunião de dezembro, também publicada ontem, o BC estima que o desemprego continue caindo no país, mesmo que a redução dos estímulos monetários comece a ser feita. O texto ressaltou que “a possibilidade de que a melhora (econômica) seja sustentável” indica que o corte gradual é uma decisão acertada.

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