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José Luis Oreiro

~ Economia, Opinião e Atualidades

José Luis Oreiro

Arquivos da Tag: controles de capitais

Artigos 28 e 29 da Lei 4131/1962

07 quinta-feira maio 2020

Posted by jlcoreiro in controles de capitais

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controles de capitais

 Art. 28. Sempre que ocorrer grave desequilíbrio no balanço de pagamento ou houver sérias razões para prever a iminência de tal situação, poderá o Conselho da Superintendência da Moeda e do Crédito impor restrições, por prazo limitado à importação e às remessas de rendimentos dos capitais estrangeiros e para êste fim outorgar ao Banco do Brasil monopólio total ou parcial das operações de câmbio.                    (Redação dada pela Lei nº 4.390, de 29.8.1964)

        § 1º No caso previsto neste artigo, ficam vedadas as remessas a título de retôrno de capitais e limitada a remessa de seus lucros, até 10% (dez por cento) ao ano, sôbre o capital e reinvestimentos registrados na moeda do país de origem nos têrmos dos artigos 3º e 4º desta lei.                          (Redação dada pela Lei nº 4.390, de 29.8.1964)

        § 2º Os rendimentos que excederem a percentagem fixada pelo Conselho da Superintendência da Moeda e do Crédito, de acôrdo com o parágrafo anterior, deverão ser comunicados a esta Superintendência, a qual, na hipótese de se prolongar por mais de um exercício a restrição a que se refere êste artigo poderá autorizar a remessa, no exercício seguinte, das quantias relativas ao excesso, quando os lucros nêle auferidos não atingirem aquêle limite.                     (Redação dada pela Lei nº 4.390, de 29.8.1964)

        § 3º Nos mesmos casos dêste artigo, poderá o Conselho da Superintendência da Moeda e do Crédito limitar a remessa de quantias a título de pagamento de royalties e assistência técnica, administrativa ou semelhante até o limite máximo cumulativo anual de 5% (cinco por cento) da receita bruta da emprêsa.                           (Redação dada pela Lei nº 4.390, de 29.8.1964)

        § 4º Ainda nos casos dêste artigo fica o Conselho da SUMOC autorizado a baixar instruções, limitando as despesas cambiais com “Viagens Internacionais.                    (Redação dada pela Lei nº 4.390, de 29.8.1964)

        § 5º Não haverá, porém, restrições para as remessas de juros e quotas de amortização, constantes de contrato de empréstimo, devidamente registrados.                    (Redação dada pela Lei nº 4.390, de 29.8.1964)

Art. 29. Sempre que se tornar aconselhável economizar a utilização das reservas de câmbio, é o Poder Executivo autorizado a exigir temporariamente, mediante instrução do Conselho da Superintendência da Moeda e do Crédito, um encargo financeiro, de caráter estritamente monetário, que recairá sobre as transferências financeiras, até o máximo de 10% (dez por cento) sobre o valor dos produtos importados e até 50% (cinqüenta por cento) sobre o valor de qualquer transferência financeira, inclusive para despesas com “Viagens Internacionais.

Como Administrar o Câmbio? (Jornal do Brasil, 06 de maio de 2018)

06 domingo maio 2018

Posted by jlcoreiro in Crise Econômica no Brasil, critica ao governo Dilma, Debate macroeconômico, Desindustrialização, Estratégias de Desenvolvimento, José Luis Oreiro

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Administração da taxa de câmbio, controles de capitais, imposto sobre exportação de commodities, José Luis Oreiro

José Luis Oreiro*

O erro fatal cometido pelas sucessivas administrações petistas a nível do governo federal foi o de ter permitido uma valorização expressiva e persistente da taxa de câmbio a partir de janeiro de 2003. Apesar da retórica petista acerca de uma suposta “herança maldita” recebida do Presidente Fernando Henrique Cardoso; a taxa de câmbio prevalecente no início do governo do Presidente Lula se apresentava num patamar suficientemente desvalorizado para permitir um aumento significativo das exportações de produtos manufaturados pelos dois anos seguintes. O crescimento das exportações deu o impulso inicial para a aceleração do crescimento da economia brasileira observada até meados de 2008, quando a erupção da crise financeira internacional, após a falência do Lehman Brothers, interrompe esse processo. A retomada do crescimento no segundo semestre de 2009 viria por intermédio, não da expansão das exportações, mas do aumento dos gastos do governo e do crédito dos bancos públicos; num contexto no qual a taxa de câmbio se encontrava significativamente sobrevalorizada. Após uma forte recuperação em 2010, quando a economia apresentou um crescimento próximo de 8% a.a, o crescimento do PIB brasileiro apresenta uma forte desaceleração devido ao vazamento da demanda doméstica para o exterior, decorrente dos efeitos do câmbio sobrevalorizado sobre a competitividade da indústria brasileira.

O que deve ser feito para impedir uma valorização excessiva da taxa de câmbio? Para responder a essa pergunta temos que ter duas coisas em mente. Em primeiro lugar, o Brasil é um país que possui vantagens competitivas naturais para a produção de commodities como o minério de ferro e a soja. Isso significa que a produtividade do trabalho na produção e extração dessas commodities é mais alta do que em outros países. Em segundo lugar, a indústria brasileira se encontra atrás da fronteira tecnológica mundial, o que significa que a produtividade do trabalho na indústria brasileira é, na média, inferior à verificada nos países desenvolvidos. Nessas condições, a taxa de câmbio que proporciona uma taxa de lucro satisfatória para as atividades de produção e extração de commodities é mais baixa (mais valorizada) do que aquela que permite as empresas domésticas serem competitivas nos mercados internacionais. Como uma parte expressiva da pauta de exportações brasileira é composta por commodities segue-se que o comportamento da taxa de câmbio fica umbilicalmente ligado aos preços de exportação desses produtos. Quando o preço das commodities sobe no mercado internacional, como ocorreu durante os governos petistas, a taxa de câmbio se aprecia e a indústria brasileira perde competitividade. Dessa forma, a produção e extração de commodities acabam tendo um efeito de transbordamento negativo sobre a indústria de transformação; configurando assim a existência de uma falha de mercado o que justifica a intervenção governamental no mercado de câmbio.

Esse problema pode ser resolvido de duas maneiras. A primeira, adotada no Brasil nas décadas de 1950 e 1960, consiste na adoção de um sistema de taxas múltiplas de câmbio, onde a taxa de câmbio para as commodities é significativamente mais apreciada do que a dos demais produtos de exportação. Dada a sofisticação do sistema financeiro brasileiro, contudo, a implantação desse sistema não seria mais viável hoje em dia, pois daria ensejo a monumentais ganhos de arbitragem no mercado de câmbio. A segunda seria a adoção de um imposto de exportação de commodities, com alíquota variável a depender do preço internacional da commodity de referência. A introdução do imposto de exportação teria o efeito de diminuir a distância entre o valor da taxa de câmbio que torna lucrativa a produção e exploração de commodities e o valor da taxa de câmbio que torna as empresas industriais brasileiras competitivas no mercado internacional.

Mas a abundância de recursos naturais não é a única causa da apreciação cambial. O Brasil possui, desde o início da década de 1990, uma conta de capitais aberta. Isso significa que residentes no exterior podem adquirir, de forma razoavelmente livre, ativos reais e financeiros emitidos no Brasil. Nesse contexto, o câmbio pode ser apreciar de forma bastante expressiva em função da entrada de capitais externos, a qual depende de dois fatores. Em primeiro lugar, do diferencial (ajustado pelos prêmios de risco relevantes) entre a taxa de juros interna e a externa. Em segundo lugar, da expectativa de ganhos de capital nos ativos domésticos.

Daqui se segue que, ao contrário do afirmado por alguns, a redução da taxa básica de juros para um patamar compatível (dados os prêmios de risco) com a taxa de juros internacional não é condição suficiente para evitar uma apreciação significativa da taxa de câmbio. Isso porque se os mercados financeiros internacionais acreditarem numa valorização futura da taxa de câmbio Real/Dólar (porque, por exemplo, apostam num aumento futuro dos preços das commodities); então os mesmos irão antecipar um ganho de capital na aquisição de ativos denominados em Reais. Como resultado disso, haverá um forte fluxo de entrada de capitais, com a consequente valorização da taxa de câmbio. Para impedir ou limitar a valorização cambial oriunda desse mecanismo é fundamental introduzir controles abrangentes a entrada de capitais no Brasil.

* Professor Associado do Departamento de Economia da Universidade de Brasília. E-mail: joreiro@unb.br.

A Hora e a Vez dos Controles de Capitais

25 domingo jan 2015

Posted by jlcoreiro in Debate macroeconômico, Macroeconomia estruturalista do desenvolvimento, Opinião

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controles de capitais, Desequilíbrio externo, política monetária

Após atingir uma máxima de R$ 2,71 no dia 05 de janeiro, a taxa de câmbio dólar-real vem apresentando nos últimos dias uma nova tendência a valorização, tendo alcançado o patamar de R$ 2,62 no dia 19 de janeiro, o que representa uma apreciação de cerca de 3,32%. Paradoxalmente, na sexta-feira, dia 23 de janeiro, o Banco Central anunciou que o déficit em conta corrente foi o maior já registrado desde 1947, tendo alcançado US$ 90,9 bilhões, o equivalente a 4,17% do PIB.

Face ao número divulgado nesta ultima sexta-feira é possível que na abertura dos mercados na semana que vem, a taxa de câmbio apresente uma nova depreciação. Contudo, acredito que esse movimento terá fôlego bastante curto. Isso porque, apesar da situação dramática das contas externas brasileiras, o diferencial entre a taxa de juros doméstica e a taxa de juros internacional vem aumentando de forma contínua nos últimos meses. E ao que tudo indica esse diferencial deverá continuar aumentando, seja porque o Banco Central do Brasil deverá continuar o processo de elevação da taxa Selic – atualmente em 12,25% a.a – seja porque o Banco Central Europeu iniciará em março desde ano o seu programa de afrouxamento quantitativo, adquirindo 60 bilhões de euros por mês em títulos públicos e privados, o que terá como consequência uma redução da taxa de juros de longo-prazo dos títulos denominados em Euro. O resultado combinado desses movimentos será uma tendência a apreciação do Real, tanto frente ao dólar como frente ao Euro.

Uma nova rodada de apreciação da taxa de câmbio é tudo o que a economia brasileira não precisa neste momento, pelo contrário, a situação das contas externas e a estagnação da produção industrial exigem uma desvalorização forte – ainda que não necessariamente súbita – da taxa de câmbio. O comportamento da taxa de câmbio, contudo, tende a ser determinado pelos fatores financeiros, ao menos no curto-prazo, de forma que o mercado deverá impor uma nova rodada de apreciação cambial, contribuindo assim para agravar o desequilíbrio externo e a perda de competitividade da indústria.

O que pode ser feito para evitar que isso ocorra? A saída mais óbvia seria reverter o processo de ajustamento monetário em curso na economia brasileira, iniciando uma redução da taxa nominal de juros. Infelizmente essa opção não está disponível em função do comportamento da taxa de inflação. Um afrouxamento monetário nas circunstâncias atuais da economia brasileira poderia levar a uma perda total na credibilidade da autoridade monetária, produzindo um aumento súbito das expectativas de inflação. Com a inflação no acumulado dos últimos 12 meses próxima de 7%, essa não é uma boa opção, ao menos para aqueles que estão sinceramente, e não apenas de boca, preocupados com a manutenção da inflação abaixo dos dois dígitos ao ano.

Mas existe uma outra saída para esse problema. Se o problema é o diferencial de juros, então podemos reduzir o efeito do mesmo sobre a taxa de câmbio por intermédio da reintrodução dos controles a entrada de capitais. A aplicação de uma alíquota de IOF de, digamos, 10% sobre todas as entradas de capitais externos, inclusive investimento externo direto, seria uma forma de desestimular as operações de cary-trade e assim produzir o ajustamento requerido da taxa de câmbio.

Alguns diriam que taxar a entrada de capitais num contexto de desequilíbrio externo não é uma boa alternativa, dado que o país precisa do financiamento externo, ou melhor, precisa captar poupança externa. O problema com esse raciocínio é que ele desconsidera que a nossa necessidade de poupança externa é resultado, tão somente, da sobrevalorização cambial que o acesso ao financiamento externo viabiliza. Se a conta de capitais da economia brasileira fosse fechada ou, pelo menos, muito menos aberta do que é atualmente seria impossível sustentar um déficit em conta corrente dessa magnitude, de tal forma que o ajustamento da taxa de câmbio já teria ocorrido a muito tempo.

Em suma, a equipe econômica do governo precisa considerar, urgentemente, a possibilidade de reintrodução dos controles a entrada de capitais na economia brasileira como parte fundamental da estratégia de ajuste macroeconômico iniciada pelo Ministro Joaquim Levy. Se não o fizer então o ajuste fiscal, ora em curso, terá como efeito apenas aprofundar o quadro recessivo que se encontra a economia brasileira.

 

 

 

 

Controles de capitais, sobre-valorização cambial e termos de troca: uma análise do caso brasileiro recente (Revista do Conjuntura, Corecon/DF, Abril-2012)

17 sexta-feira ago 2012

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controles de capitais, desindustrialização, economia brasileira, Sobre-valorização cambial, termos de troca

http://corecondf.org.br/files/2012/08/CORECON_Revista-de-Conjuntura_No_48.pdf

Os controles de capitais podem prejudicar o financiamento externo da economia brasileira? (Jornal dos Economistas, Corecon-RJ, N.273, Abril de 2012)

29 domingo abr 2012

Posted by jlcoreiro in Opinião

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Administração da taxa de câmbio, controles de capitais, Equívocos da ortodoxia

José Luis Oreiro*

Um dos argumentos da sabedoria convencional contra a imposição de controles de capitais na economia brasileira – a qual tem sido feita de forma bastante tímida por parte do governo brasileiro nos anos recentes – é que os mesmos tornariam mais difícil a captação de recursos no exterior, ou seja, a captação de poupança externa. Dada a notória escassez de poupança doméstica no Brasil, a poupança externa seria então condição necessária para o financiamento do investimento produtivo da economia brasileira, atualmente em torno de 20% do PIB. Além disso, continua a sabedoria convencional, para que o governo possa aumentar a taxa de crescimento do PIB que é compatível com a estabilidade da taxa de inflação para um patamar de 5% a.a é necessário um aumento significativo da taxa de investimento (para algo próximo a 24% do PIB), o que reforça ainda mais a dependência da economia brasileira com respeito a poupança externa. Dessa forma, a política mais inteligente a ser adotada pelo governo seria remover todos os obstáculos a captação de recursos no exterior por parte de residentes no Brasil. Sendo assim, os controles de capitais ainda existentes na economia brasileira deveriam ser plenamente abolidos com a implantação da plena-conversibilidade do Real. Nessas condições, argumentam os filósofos da sabedoria convencional, a economia brasileira poderia captar com facilidade uma poupança externa entre 4 a 5% do PIB, sem maiores riscos para o equilíbrio inter-temporal do balanço de pagamentos.

Esse raciocínio da sabedoria convencional se apoia em duas hipóteses fundamentais. A primeira é que a poupança externa e a poupança doméstica são complementares, ao invés de substitutas. A segunda hipótese é que os controles de capitais não são capazes de afetar a trajetória da taxa real de câmbio e, dessa forma, o montante de financiamento externo requerido pela economia brasileira; uma vez que a taxa real de câmbio de equilíbrio depende da relação entre a taxa de investimento e a taxa de poupança doméstica numa pequena economia aberta. Sendo assim, uma desvalorização permanente da taxa real de câmbio só seria possível por intermédio de um aumento permanente da poupança doméstica. Dessa forma, variações da taxa real de câmbio seriam, em geral, precedidas por variações na poupança doméstica.

A sabedoria convencional acredita que a poupança é logica e temporalmente anterior ao investimento de tal forma que um aumento deste requer um aumento prévio da taxa de poupança da economia. Nesse contexto, para que ocorra um aumento do investimento é necessário que ocorra um aumento da poupança doméstica (privada + pública) e/ou um aumento da poupança externa. Se o setor privado doméstico ou o setor público não estiverem dispostos a aumentar a sua taxa de poupança; então o investimento só poderá aumentar em função de um aumento da poupança externa, ou seja, do déficit em conta-corrente.

A introdução de controles de capitais dificultaria esse processo ao tornar menos atrativa a compra de ativos domésticos por residentes no exterior. Dessa forma, o déficit em conta-corrente requerido para o aumento do investimento produtivo não poderia ser financiado pela entrada de capitais, ou seja, o superávit da conta de capitais do balanço de pagamentos seria insuficiente para o financiamento integral do déficit em conta-corrente. Nesse caso, haveria um déficit no balanço de pagamentos, o qual resultaria ou numa redução das reservas internacionais, caso o Banco Central decida garantir a estabilidade da taxa real de câmbio, ou numa forte desvalorização da taxa real de câmbio, caso a autoridade monetária não intervenha no mercado cambial. Neste segundo cenário, a desvalorização súbita da taxa de câmbio produziria uma forte elevação da taxa de inflação, obrigando o Banco Central a fazer uma grande elevação da taxa de juros de maneira a manter a inflação dentro da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional. O efeito final da introdução dos controles de capitais seria, portanto, uma forte recessão produzida pelo ajustamento da taxa de juros resultante da aceleração inflacionária induzida pelo desequilíbrio do balanço de pagamentos.

Esse raciocínio da sabedoria convencional é falacioso. Em primeiro lugar, como já foi demonstrado por Keynes (1936) e Kaldor (1956), o investimento precede lógica e temporalmente a poupança tanto no curto como no longo-prazo[1]. Dessa forma, o investimento, sempre e em todo lugar, determina um volume equivalente de poupança agregada. A repartição do volume de poupança entre poupança doméstica e poupança externa depende, criticamente da taxa real de câmbio. Quanto mais apreciada for a taxa real de câmbio, maior será o salário real e, portanto, a participação dos trabalhadores na renda nacional. Como a propensão a poupar a partir dos lucros é maior do que a propensão a poupar a partir dos salários, a apreciação da taxa real de câmbio reduz a poupança agregada do setor privado. Supondo a validade da condição de Marhall-Lerner, a apreciação da taxa real de câmbio irá resultar numa redução das exportações líquidas a médio e longo-prazo, produzindo assim um aumento do déficit em conta-corrente, ou seja, um aumento da poupança externa. Isso posto, a apreciação da taxa real de câmbio resulta numa substituição de poupança doméstica por poupança externa (Bresser-Pereira, 2009), dando origem a necessidade de atração de capitais externos (isto é, superávit na conta capital) para o equilíbrio do balanço de pagamentos, a qual exige o relaxamento dos controles de capitais. Em outras palavras, a poupança externa e a captação de recursos no exterior só são necessários para o equilíbrio do balanço de pagamentos se a taxa real de câmbio estiver sobre-valorizada.

No que se refere a segunda hipótese do modelo da sabedoria convencional deve-se ressaltar que a mesma se apoia na inelasticidade do produto potencial com respeito a demanda agregada. Nesse contexto, um aumento da absorção doméstica – por exemplo, devido a um aumento dos gastos do governo – não pode ser atendido por um aumento do produto real no longo-prazo uma vez que o mesmo seria igual ao produto potencial, determinado pela tecnologia e pela dotação de fatores da economia em consideração. Dessa forma, o equilíbrio no mercado de bens exige uma redução da demanda externa pela produção doméstica, o que só pode ser viabilizado por intermédio de uma apreciação da taxa real de câmbio. Mutatis mutandis, uma redução da absorção doméstica – devida, por exemplo, a uma redução do consumo privado ou dos gastos públicos – irá induzir uma depreciação da taxa real de câmbio para o re-equilíbrio no mercado de bens.

No que se refere a hipótese de inelasticidade do produto potencial com respeito a demanda agregada, a boa teoria econômica e a evidência empírica (Oreiro et al, 2010; Libanio 2009) mostram que a mesma é igualmente falaciosa. Com efeito, tal como ressaltado por Kaldor (1988), tanto a acumulação de fatores de produção como o ritmo de progresso tecnológico dependem, no longo-prazo, do ritmo de crescimento da demanda agregada autônoma.  Isso deve-se ao fato de que (i) o investimento em capital fixo responde positivamente as expectativas de crescimento da demanda dos empresários em função do efeito acelerador; (ii) a taxa de crescimento da força de trabalho responde ao crescimento da demanda por trabalho por intermédio de mudanças nas horas trabalhadas no curto-prazo, da taxa de participação no médio-prazo e do tamanho da população no longo-prazo; (iii) o ritmo de crescimento da produtividade do trabalho responde ao crescimento da produção devido a existência de economias estáticas e dinâmicas de escala consubstanciadas na assim chamada lei de Kaldor-Verdoorn.

Sendo assim, é muito mais razoável tratar a taxa real de câmbio como uma variável exógena do ponto de vista do processo de acumulação de capital. Dessa forma, a introdução de controles de capitais torna-se uma política necessária para permitir a administração da taxa real de câmbio por parte dos formuladores de política econômica. Se a intensidade dos controles de capitais for adequada, o governo poderá administrar a taxa real de câmbio, colocando-a no valor requerido para eliminar o déficit em conta-corrente. Isso, porém, pode não ser suficiente para induzir um crescimento econômico acelerado. Se a economia sofrer de doença holandesa, a taxa real de câmbio requerida pelo setor industrial para se manter competitivo com respeito ao resto do mundo será maior (ou seja, mais depreciada) do que a taxa real de câmbio requerida para o equilíbrio em conta-corrente do balanço de pagamentos (Bresser-Pereira, 2009). Nesse caso, além dos controles de capitais, o governo deverá introduzir um imposto sobre as exportações de bens primários.

 

 

 

 

Referências Bibliográficas.

BRESSER-PEREIRA, L.C. (2009). Globalização e Competição. Campus: Rio de Janeiro.

KALDOR, N. (1956). “Alternative Theories of Distribution”. Review of Economic Studies, vol. XXIII.

—————– (1988). “The Role of Effective Demand in the Short and Long-Run Growth” In: Barrére, A. (org.). The Foundations of Keynesian Analysis. Macmillan Press: London.

KEYNES, J.M. (1936). The General Theory of Employment, Interest and Money. Macmillan Press: Londres.

Libanio, G. (2009) “Aggregate demand and the endogeneity of the natural rate of growth: evidence from Latin American Countries”. Cambridge Journal of Economics , 33.

OREIRO, J.L; NAKABASHI, L., SOUZA, G.J. (2010). “A economia brasileira puxada pela demanda agregada”. Revista de Economia Política, Vol. 30, N.4.

 

 


* Professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília, Pesquisador Nível IC do CNPq, Diretor de Relações Institucionais da Associação Keynesiana Brasileira e Líder do Grupo de Pesquisa “Macroeconomia Estruturalista do Desenvolvimento” cadastrado no CNPq. E-mail: joreiro@unb.br.

[1] No curto-prazo a poupança agregada total se ajusta ao investimento por intermédio de variações do nível de emprego e do grau de utilização da capacidade produtiva. No longo-prazo, o ajuste se dá por variações da participação dos lucros na renda nacional.

De olho no dólar e nos juros (Correio Braziliense, 04/03/2012)

05 segunda-feira mar 2012

Posted by jlcoreiro in Mídia

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câmbio administrado, controles de capitais, Taxa de juros, trindade impossível

Para tentar dissipar a onda negativa que insiste em não lhe deixar, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, vai se apegar ao máximo às boas notícias que o governo promete dar na área econômica. A primeira é a redução da taxa básica de juros (Selic), que pode recuar até 1 ponto percentual na próxima quarta-feira, dos atuais 10,50% para 9,50% ao ano — o consenso ainda é de corte de 0,5 ponto. Ele também acredita no sucesso da intervenção do governo no câmbio, para conter o derretimento do dólar frente ao real. Na quinta-feira, Mantega anunciou a extensão do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 6% nos empréstimos externos com vencimento em até três anos.

Por enquanto, na avaliação dos especialistas, são esses os temas relacionados a Mantega que concentram as atenções do investidores — e não as denúncias de corrupção na Casa da Moeda e a guerra por poder no Banco do Brasil. Para o economista-chefe da Votorantim Corretora, Roberto Padovani, “o risco político sempre existe, mas o mercado não está muito preocupado com o disse me disse dentro do governo”. No seu entender, “se a economia continuar indo bem, se a Fazenda cumprir integralmente as metas fiscais e se a inflação se mantiver sob controle, a confiança no país permanecerá”.

Professor de economia da Universidade de Brasília (UnB), José Luís Oreiro acredita que Mantega deveria aproveitar o momento adverso para tomar medidas mais contundentes no sentido de evitar a supervalorização do real. A seu ver, o ideal seria o governo abolir o atual sistema de câmbio flutuante e retomar o mecanismo de taxas fixas (*) para manter a competitividade dos produtos nacionais no exterior e, assim, evitar desindustrialização do país e a destruição de empregos. “Já está claro que somente o aumento do IOF e as compras de dólares pelo Banco Central não resolverão os problemas”, afirma. “Também é preciso reduzir rapidamente as maiores taxas de juros do mundo, que têm atraído capital especulativo e derrubado o dólar”, acrescenta.

Para o professor da Trevisan Escola de Negócios, Alcides Leite, independentemente de quem estiver à frente do Ministério da Fazenda e do jogo de intrigas comuns no poder, o governo precisa adotar políticas efetivas para corrigir as distorções na economia, sobretudo as provocadas pelo câmbio. “Muito pouco se fez em inovação da política econômica. O governo Dilma tem apenas repetido a cartilha iniciada pelo governo Fernando Henrique Cardoso”, diz.

(*) Observação do administrador do BLOG: o regime cambial que eu defendo é o câmbio administrado. O sistema pode ser implantado da seguinte forma. O BC define um preço máximo e um preço mínimo para a taxa de câmbio, deixando a mesma flutuar livremente dentro dessa banda. Inicialmente o preço mínimo pode ser de R$ 1,70 e o preço máximo de R$ 1,80.  A cada 30 dias, contudo, o BC desvaloriza os preços máximo e mínimo em 2%, de forma que num prazo de cerca de 1 ano, o câmbio terá acumulado uma desvalorização próxima a 30%. Durante a fase de implantação do sistema, o BC deverá introduzir controles temporários a saída de capitais do país para evitar que os especuladores – ao anteciparem a desvalorização cambial – forcem uma fuga em massa de dólares do Brasil. Os controles de saida em conjunto com o expressivo volume de reservas internacionais do país (cerca de US$ 400 bilhões) deverão ser suficientes para administrar o câmbio e levar a taxa para um valor entre R$ 2,20 e R$ 2,40,  a qual devolverá a competitividade à industria nacional.
Deve-se ainda observar que a introdução de controles à saida de capitais permite que a administração simultânea de câmbio e juros sem violar o trindade impossível de Mundell. Para evitar uma aceleração muito forte da inflação em função da desvalorização cambial em simultâneo com redução dos juros, o governo deverá também elevar a meta de superávit primário para 5% do PIB durante o período de implantação do sistema (um ano).

Arsenal do governo inclui uso do fundo soberano (Brasil Econômico, 02/03/2012)

03 sábado mar 2012

Posted by jlcoreiro in Mídia

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controles de capitais, fundo soberano brasileiro, taxa de câmbio

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Paulo Gala / Economia & Finanças

Graduado em Economia pela FEA-USP. Mestre e Doutor em Economia pela Fundação Getúlio Vargas em São Paulo. Foi pesquisador visitante nas Universidades de Cambridge UK e Columbia NY. Foi economista, gestor de fundos e CEO em instituições do mercado financeiro em São Paulo. É professor de economia na FGV-SP desde 2002. Brasil, uma economia que não aprende é seu último livro. Conselheiro da FIESP e Economista-chefe do Banco Master

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José Luis Oreiro

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