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José Luis Oreiro

~ Economia, Opinião e Atualidades

José Luis Oreiro

Arquivos da Tag: Desindusitralização

Condições para ciclo de crescimento: convergências e (algumas) divergências com Samuel Pessoa

18 domingo jul 2021

Posted by jlcoreiro in CasaBlanca, Debate Macroeconômico, Resposta a Samuel Pessoa

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CasaBlanca, Desindusitralização, Resposta a Samuel Pessoa

No artigo de sua coluna dominical na Folha de São Paulo, meu colega Samuel Pessoa finalmente se rendeu a tese novo-desenvolvimentista de que o ajuste da taxa real de câmbio é condição necessária – embora não suficiente – para a retomada do crescimento da economia brasileira, tese sobre a qual existe ampla literatura empírica disponível (Rodrik, 2008; Fabricio et al 2015; Gabriel et al 2020). Ele aparentemente também endossa a tese de que o crescimento deve ser financiado com poupança doméstica, pois enfatiza o papel importante desempenhado pelo forte ajuste do déficit corrente do balanço de pagamentos no período 1997-2004, no qual a economia brasileira passa de um déficit em conta corrente de 3% do PIB para um superávit em conta corrente de 4% do PIB. Além disso, como todo período de aceleração do crescimento exige um aumento da taxa de investimento, então a substituição de poupança externa por poupança doméstica deve ser superior a 100%; o que demanda a realização de um ajuste fiscal que permita que pelo menos parte do aumento requerido da poupança doméstica seja atendida por intermédio da poupança do governo. Nesses três pontos estou totalmente de acordo com ele.

Outro ponto com o qual concordo com Samuel Pessoa refere-se ao papel desempenhado pela queda da taxa de lucro das empresas não-financeiras na estagnação e subsequente crise da economia brasileira no período 2011-2016, conforme argumentei em artigo publicado em 2017 na Revista Estudos Avançados da USP (Oreiro, 2017). Ao contrário do que pensa parte da heterodoxia brasileira, viciada nos modelos de crescimento e distribuição de renda de matriz neo-kaleckiana, a grande recessão de 2014-2016 teve como fator detonador o esmagamento da taxa de lucro (profit-squeeze) ocorrido entre 2010 e 2014, o qual levou ao colapso a formação bruta de capital fixo entre o segundo e o quarto trimestre de 2014. Está claro que a política fiscal contracionista , junto com a elevação brutal da taxa Selic e o “tarifaço” adotados por Joaquim Levy em 2015 ajudaram a transformar o que seria uma recessão leve na maior recessão da economia brasileira desde 1981, devido aos seus efeitos amplificadores sobre o choque inicial ocorrido nos gastos de investimento. Mas o “triggering event”, para usar o termo cunhado por Hyman Minsky, foi o colapso do investimento em decorrência do esmagamento de lucros.

Em termos macroeconômicos, a taxa de lucro é o produto entre o grau de utilização da capacidade produtiva, a participação dos lucros na renda e a produtividade do capital. Nos modelos neo-kaleckianos de crescimento, via de regra, assume-se um regime de demanda do tipo wage-led: um aumento (redução) da participação dos salários (dos lucros) na renda irá induzir um aumento de tal magnitude no grau de utilização da capacidade produtiva que (i) a taxa de lucro poderá se manter constante ou até mesmo aumentar e (ii) as firmas deverão aumentar os gastos de investimento devido ao conhecido mecanismo do acelerador do investimento de Harrod. Não tenho dúvida de que a política econômica do governo do PT desde 2007 foi pautada por esse tipo de modelo de desenvolvimento, o qual tem também algumas semelhanças com a ideia Furtadiana de que o desenvolvimento de um mercado de consumo de massas era condição necessária para dar dinamismo a demanda agregada e assim viabilizar o processo de desenvolvimento econômico.

Existe um grande debate entre os economistas heterodoxos sobre se o regime de demanda é wage-led ou profit-led, com as evidências empíricas dando suporte misto para ambas as hipóteses. No caso brasileiro, contudo, o comportamento das vendas no varejo ampliado em comparação com o comportamento da produção física da indústria de transformação no período 2011-2014 não deixam margem para dúvidas de que ocorreu no Brasil um enorme vazamento de demanda doméstica para importações: o crescimento das vendas do comércio ampliado sinalizando um forte crescimento da demanda agregada que não foi atendido pelo crescimento da produção manufatureira, mas por importações. Em outras palavras, no período em consideração ocorreu uma substituição de produção doméstica por importações, resultante do processo de desindustrialização da economia brasileira. Se aumento da a participação dos salários na renda induziu um aumento da demanda, esta não teve como contrapartida um aumento da utilização da capacidade produtiva da indústria e, dessa forma, não impediu a queda da taxa de lucro e também não serviu para induzir um aumento do investimento.

Quais as causas desse processo? Em artigo que publiquei recentemente na PSL Quarterly Review com Paulo Gala (FGV/SP) e Luciano D´Agostini (IFPR) mostramos que a desindustrialização da economia brasileira desde 2005 pode ser atribuída a perda da competitividade preço e da competitividade extra-preço da economia brasileira. Nossas estimativas mostram que 40% da queda da participação da indústria de transformação no PIB decorre da sobrevalorização da taxa de câmbio no período (relativamente a nossa estimativa da taxa de câmbio de equilíbrio industrial); ao passo que 60% pode ser atribuída a queda da competitividade extra-preço (elevação da taxa de câmbio de equilíbrio industrial devido ao aumento do hiato tecnológico da indústria brasileira).

A sobrevalorização da taxa de câmbio certamente contribui para a queda da taxa de lucro por intermédio de um aumento artificial, pois insustentável no longo-prazo, dos salários na renda nacional. Segue-se, portanto, que a eliminação desse desequilíbrio macroeconômico passa obrigatoriamente, não por um suposto desejo malévolo dos novo-desenvolvimentistas, pela redução da participação dos salários na renda; a não ser que seja possível aumentar a produtividade do capital. Essa ressalva não tem sido devidamente explorada pela literatura novo-desenvolvimentista que tem se baseado nos “fatos estilizados” de Kaldor, segundo o qual a produtividade do capital seria estável no longo-prazo. O problema é que a produtividade do capital na economia brasileira vem apresentando uma tendência a queda no período 1957-2003, segundo dados apresentados em Marquetti et al (2010). Os dados para o período 2003-2016 ainda não foram publicados, mas as evidências preliminares apontam para uma continuidade ou pelo menos não-reversão desse processo. Aqui nos deparamos com um puzzle. Numa economia em processo de desindustrialização a produtividade do capital deveria aumentar, pois as atividades manufatureiras são altamente intensivas em capital, ao passo que os serviços não. Dessa forma, a queda da participação da indústria no PIB e o consequente aumento da participação dos serviços no PIB deveria levar a uma queda da relação capital-produto, ou seja, a um aumento da produtividade do capital, o que atenuaria o processo de queda da taxa de lucro. Uma tentativa de explicação desse puzzle pode ser obtida em Ros (2013, capítulo 10) onde se mostra que numa pequena economia aberta que opera com uma função de produção Cobb-Douglas e na qual as firmas domésticas produzem um único bem transacionável, mas se defrontam com condições competitivas diferentes nos mercados doméstico e internacional, sendo price-takers no mercado internacional, e price-makers no mercado doméstico; então a produtividade do capital é uma função positiva da taxa real de câmbio. Daqui se segue que parte, talvez até mesmo a totalidade, do ajuste da taxa de lucro permitida pela desvalorização da taxa real de câmbio pode ser feita por intermédio do aumento da produtividade do capital, com uma redução mínima da participação dos salários na renda.

Voltando ao artigo de Samuel. Ele afirma que o ajuste fiscal é necessário para impedir que a desvalorização da taxa de câmbio ocorrida nos últimos 18 meses seja perdida por um aumento da taxa de inflação. Aqui tenho duas divergências. No período 2003-2006 a taxa real de câmbio voltou a se apreciar fortemente no Brasil, não por uma elevação da taxa de inflação, mas por uma fortíssima apreciação do câmbio nominal, resultado tanto da valorização dos termos de troca como da imensa entrada de capitais especulativos decorrente do diferencial entre as taxas de juros doméstica e internacional existente no período. Um menor diferencial de juros somado a medidas mais duras de controles a entrada de capitais certamente teriam reduzido o ritmo de apreciação cambial ocorrido no período e, dessa forma, mantido a competitividade preço da indústria brasileira. Sendo assim, nada adianta ter uma inflação baixa, se a política econômica permite, ou até mesmo incentiva, a apreciação da taxa de câmbio. Em segundo lugar, uma elevação persistente da taxa de inflação face a uma desvalorização do câmbio nominal só é possível se os trabalhadores não aceitarem a redução do salário real decorrente da mesma. A “resistência do salário real” (real wage resistance) tende a ocorrer em economias onde o mercado de trabalho esteja bastante aquecido, o que certamente não será o caso da economia brasileira pelos próximos 2 ou 3 anos, para dizer o mínimo. Sendo assim, o ajuste fiscal ou consolidação fiscal é uma medida necessária para o médio e longo-prazo, não para as atuais circunstâncias da economia brasileira. No curto-prazo é necessário um amplo programa de investimentos públicos para tirar a economia brasileira na estagnação que se encontra desde 2017 (mas vamos falar isso bem baixinho para o Bolsonaro não escutar e tentar se reeleger). Uma vez atingido o “pleno-emprego” dos fatores de produção, a magnitude do efeito pass-through vai depender da resposta da produtividade do capital a desvalorização do câmbio. Se a produtividade do capital aumentar, então a queda requerida do salário real será pequena e, dessa forma, as demandas dos trabalhadores por recomposição salarial também serão. Nesse contexto, uma pequena acomodação da meta de inflação, com o centro da meta sendo elevado para 4% a.a será suficiente para permitir o ajuste permanente da taxa real de câmbio sem detonar um novo ciclo de elevação da selic, o que traria consigo a possibilidade de apreciação do câmbio nominal por intermédio da volta das entradas de capital especulativo.

Em suma, o artigo de hoje de Samuel Pessoa na FSP finalmente desinterdita o debate entre a ortodoxia e a parte ilustrada da heterodoxia brasileira. Como disse o inspetor francês no filme Casablanca, Capitain Renault, espero que seja o começo de uma bonita amizade.

Pós-Escrito

Um leitor do meu blog me chamou, corretamente, a atenção para o fato de que parte relevante do desequilíbrio fiscal atual deve-se ao hiato do produto prevalecente na economia brasileira, o qual deve rodar em torno de 3% do PIB. Nesse caso, a simples eliminação do hiato do produto geraria uma melhoria no resultado primário de 1 p.p do PIB. Isso significa que o déficit primário estrutural prevalecente hoje no Brasil deve ser, no máximo, 2% do PIB, algo que pode ser facilmente obtido por uma reforma tributária digna de nome

Referências

Gabriel L.F., Ribeiro L.C.S., Jayme Jr F.G. and Oreiro J.L. (2020), “Manufacturing, economic growth, and real exchange
rate: empirical evidence in panel date and input-output multipliers”, PSL Quarterly Review, 73 (292), pp. 51-75

Marquetti, A; Maldonado Filho, E. Lauterti, v. (2010). “The Profit Rate in Brazil,1953-2003”. Review of Radical Political Economics, 42(4), pp. 485-504.

Missio F., Jayme Jr F.G., Brito G. and Oreiro J.L. (2015), “Real Exchange Rate and Economic Growth: New Empirical
Evidence”, Metroeconomica, 66 (4), pp. 686-714.

Oreiro, J.L. (2017). “A grande recessão brasileira: diagnóstico e uma agenda de política econômica”. Estudos Avançados, Vol. 31, N. 89.

Oreiro J.L., Manarin D’Agostini L.L., Gala P. (2020), ”Deindustrialization, economic complexity and exchange rate overvaluation: the case of Brazil(1998-2017)”, PSL Quarterly Review, 73 (295):313-341

Rodrik D. (2008), “The Real Exchange Rate and Economic Growth”, Brookings Papers on Economic Activity, 39 (2),
pp. 365-415.

Ros, J. (2013). Rethinking Economic Development, Growth and Institutions. Oxford Economic Press: Oxford.


A desindustrialização está diretamente ligada à ascensão de Bolsonaro, explica o professor José Luis Oreiro (Brasill 247, 24/01/2021)

24 domingo jan 2021

Posted by jlcoreiro in Crise Econômica no Brasil, Debate macroeconômico, Desindustrialização

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Desindusitralização

À TV 247, o professor da UnB disse que quando as fábricas fecham, quem perde o emprego são os integrantes da classe média, setor responsável por dar estabilidade ao país e evitar radicalismos. “Foram os trabalhadores ‘uberizados’ que votaram no Bolsonaro em 2018”, explica.

Professor da Universidade de Brasília (UnB) formado em ciências econômicas, José Luis Oreiro, em entrevista à TV 247, explicou a razão pela qual a desindustrialização do Brasil está diretamente ligada à ascensão de Jair Bolsonaro ao Palácio do Planalto.

Oreiro, primeiramente, esclareceu que os melhores postos de trabalho com os melhores salários para a classe média brasileira, com nível de escolarização razoável, se encontram exatamente na indústria. Quando as fábricas fecham, são integrantes da classe média que perdem o emprego. “Os melhores salários para pessoas com um nível médio de escolarização são pagos precisamente na indústria de transformação. Essas pessoas que vão ser demitidas da 3M ou da Ford. Se elas não conseguirem vagas em outras fábricas, elas vão terminar no setor de serviços. Uns vão virar motoristas de Uber, que precisam trabalhar 12 ou 14 horas por dia para tirar dois ou três mil reais por mês. Não vão ter direito a férias, a décimo terceiro salário, não vão ter contribuição previdenciária. Vão se esfolar de trabalhar para ganhar um salário menor. Ou seja, os bons empregos para as pessoas que têm um nível intermediário de educação estão na indústria. Então quando você destrói empregos da indústria você está reduzindo a renda desses trabalhadores, mesmo que eles consigam um emprego formal no setor de serviços. Você vai ter um progressivo empobrecimento da chamada classe média brasileira”. 

Segundo o professor, o fato de a classe média estar insatisfeita com sua situação econômica e com a precariedade de seu trabalho abala a vida política do país. Isto porque é este setor da sociedade, ainda de acordo com Oreiro, que confere estabilidade ao país e evita os radicalismos, como o de Jair Bolsonaro, por exemplo. “A classe média brasileira são essas pessoas que têm uma renda de três, quatro, cinco mil reais. São essas pessoas que estão sendo demitidas quando as fábricas fecham. Isso é terrível para o país e também do ponto de vista político, porque as grandes democracias pressupõem uma grande classe média. A classe média é que dá estabilidade, ela não gosta de radicalismos, nem de direita e nem de esquerda. Quando você destrói essa classe média, o resultado pode ser o radicalismo de esquerda e de direita. Nos últimos anos a gente observou o radicalismo de direita. Foram os trabalhadores ‘uberizados’ que votaram no Bolsonaro em 2018. Essa classe média que está se sentido excluída, que está vendo seu poder de compra reduzido, sua qualidade de vida reduzida, que não tem perspectiva. Então acabam votando em um Bolsonaro da vida, seja como voto de protesto ou por desespero mesmo. Se o perfil da força de trabalho no Brasil em 2018 fosse a dos anos 1970, quando o Lula fundou o Partido dos Trabalhadores, Bolsonaro não teria nenhuma chance”.

Oreiro: saída da Ford é fruto, também, do “clima de conflito perpétuo produzido por Bolsonaro” (Hora do Povo, 14/01/2021)

15 sexta-feira jan 2021

Posted by jlcoreiro in Desenvolvimento econômico, Desindustrialização, Empobrerismo-entreguista, Erros de Paulo Guedes, Ford sai do Brasil

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Desindusitralização, Erros de Paulo Guedes, Saída da ford do Brasil

“Eu acho que mais do que a falta de credibilidade do governo, o que está assustando os investidores é o clima de conflito perpétuo produzido pelo presidente”, declarou o economista e professor da Universidade de Brasília (UnB) José Luis Oreiro ao HP, sobre a decisão da Ford de fechar as fábricas no Brasil.

“Quem olha de fora, e eu compartilho dessa percepção, acha que o Brasil pode entrar numa guerra civil. O presidente Bolsonaro aposta no caos. Ele é contra a vacina, enfim, ele quer que quanto mais gente morra melhor. Quer dizer, essa pelo menos tem sido a atitude dele, não sei se é a intenção, que eu não posso julgar, mas as atitudes dele são no sentido que quanto pior melhor”, frisou.

Ao ser questionado se a saída da Ford é mais um sintoma do agravamento da desindustrialização no País?, Oreiro disse que “é um símbolo”.

“A Ford está enfrentando problemas no mundo inteiro, não é só no Brasil. Não se pode atribuir a saída da Ford apenas à desindustrialização da economia brasileira. Ao que tudo indica, houve também uma decisão estratégica da Ford de reduzir a escala de operações da América Latina e concentrar na Argentina. A razão pela qual ela resolveu concentrar na Argentina é que nos deve deixar preocupados. O mercado interno brasileiro é muito maior que o mercado da Argentina”, avaliou o economista.

“Na verdade eles vão produzir os EcoSport que já produzem e vão exportar para o mercado brasileiro. E por que eles fizeram isso? Primeiro, no caso brasileiro, a indústria automobilística brasileira tem uma capacidade de produção de aproximadamente 5 milhões de automóveis, que foram resultantes dos investimentos feitos entre 2000 e 2010. Mas devido à crise 2014/2016, e agora a crise da Covid-19 e a fraquíssima recuperação que a economia teve entre 2017 e 2019, o fato é que o Brasil não está produzindo nem 3 milhões de automóveis, então tem muita capacidade ociosa”.

“No caso da Ford, além do movimento de desindustrialização – que ocorre no Brasil desde 2005 – há também a continuidade da recessão de 2014/2016, agora novamente em 2020. A indústria automobilística é uma indústria que precisa de escala para ser competitiva, e com uma capacidade de produção de 5 milhões de automóveis, na indústria automobilística do Brasil inteiro, você não consegue produzir 3 milhões, aí realmente fica muito difícil”, declarou o professor da UnB.

DebateEmCasa: “O Papel da Indústria no Desenvolvimento” (12/08/2020)

12 quarta-feira ago 2020

Posted by jlcoreiro in Desindustrialização, Oreiro

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Desindusitralização, José Luis Oreiro

A atual crise causada pelo coronavírus reforçou o enfraquecimento que o setor industrial brasileiro vem sofrendo nos últimos anos. A indústria brasileira sofreu forte processo de desindustrialização nas últimas décadas e, quando ensaiava uma retomada, veio a pandemia para acabar com os planos dos industriais nacionais. Os desafios que vinhamos enfrentando, como se inserir na chamada indústria 4.0 e na economia industrial mundial, se torna mais complicados com o pós coronavírus. Nesse contexto, o debate a respeito da industrialização se potencializa. Se, há algumas décadas, o novo consenso econômico convergiu à crença de que a industrialização não é premissa para o desenvolvimento, hoje, existe também quem pense diferente. É por conta disso, que temos o prazer de apresentar o nosso último debate do nosso ciclo, que será: “O Papel da Indústria no Desenvolvimento”. Para participar da mesa, receberemos os professores Armando Castelar, José Oreiro e Julia Torracca.

Vejam em https://www.youtube.com/watch?v=qkX5VCIf1hY&fbclid=IwAR1SyoDyjYDDnmLbHtLdLvQ6sfWMKnrmr-oJm0s-Qr1fEQRn-VW5-i_D_pA

“O problema do baixo crescimento econômico é estrutural”, afirma economista (Correio Braziliense, 01/07/2019)

02 terça-feira jul 2019

Posted by jlcoreiro in 25 anos do Plano Real, Desindustrialização, Oreiro

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25 anos do Plano Real, Desindusitralização, José Luis Oreiro

Segundo José Luis Oreiro, o plano Real não conseguiu eliminar inteiramente a indexação na economia e tornar o real uma unidade de conta de fato, em que todos os contratos, preços e salários fossem expressos

Ingrid Soares

postado em 01/07/2019 19:31 / atualizado em 01/07/2019 20:05

Durante o evento do Correio Debate, “25 anos do real: Os desafios para o Brasil”, ocorrido nesta segunda-feira (1/7), o professor adjunto do departamento de economia da Universidade de Brasília (UnB), José Luis Oreiro, ressaltou que o problema de baixo crescimento da economia brasileira é estrutural e que a causa da crise de 2014 se baseia no colapso no investimento público com o privado em 2014, pela redução da taxa de lucro, motivada pelo superaquecimento da economia.

“O governo Dilma achava que o diagnóstico errado sobre a questão do baixo crescimento econômico brasileiro era de escassez de demanda agregado, quando na verdade, era um problema estrutural, relacionado com a mudança na composição da estrutura produtiva na economia brasileira, o diagnóstico foi errado, logo, foram utilizados instrumentos equivocados”.

Segundo ele, o plano Real não conseguiu eliminar inteiramente a indexação na economia e tornar o real uma unidade de conta de fato, em que todos os contratos, preços e salários fossem expressos. “Isso não foi feito. Continuamos com economia indexada, com contratos indexados e a unidades que não são unidades de conta da economia brasileira Portanto, nesse sentido, temos uma estabilização inacabada, que gera maior dificuldade do Banco Central baixar os juros, aumenta os juros pontual e acaba tornando a gestão macroeconômica mais difícil”, aponta.
Oreiro apontou ainda que o problema cíclico de desemprego em que o país tem se afundado. “Não temos apenas um grande número de pessoas desempregadas, como o desemprego de longo prazo, por mais de dois anos, já soma quase 3 milhões e meio de brasileiros. Temos risco de, nos próximos anos, sair da renda média e cair na pobreza. Longos prazos são uma sucessão de pequenos prazos. Se continuar assim, num curto prazo, talvez não tenhamos longos prazos para a economia brasileira”, avaliou.
Para o economista, o que explica a redução do crescimento da economia brasileira a partir dos ano 80, foi a queda sensível do esforço de acumulação de capital.
“Enquanto que nos anos 50, 60, 70 crescia em 9%, 10%, a partir de 80, 90, 2000 passou a crescer 2,5% ao ano, ou seja, o Brasil investiu uma fração muito pequena do PIB na expansão da capacidade produtiva, em máquinas, instalações, infraestrutura e isso reduziu brutalmente a taxa de crescimento. Por outro lado, não é possível ter desenvolvimento de longo prazo se não tiver produtividade”.
Ele explica ainda que o aumento da produtividade está diretamente relacionado ao crescimento estoque de capital físico por trabalhador.
“A redução do ritmo de crescimento da economia brasileira e do crescimento da produtividade brasileira está umbilicalmente relacionado com a redução de esforço de acumulação de capital tanto do setor privado, quanto do setor público. O salto que a economia deveria ter dado era aumentar a participação no mercado [mundial] de manufaturados. O que podemos dizer é que os momentos em que a taxa de crescimento do PIB per capita cai, são momentos em que há contração da participação da indústria”, destaca.
Ele ainda elencou que problemas no grau de utilização de capacidade produtiva (efeito acelerador); a participação dos lucros na renda (efeito lucratividade); a taxa real de câmbio (efeito competitividade externa e a taxa real de juros (efeito custo do capital) foram motivos que levaram à queda da taxa de investimento.

 

A Doença Holandesa, não o grau de abertura comercial, é a causa da baixa competitividade da indústria brasileira

19 sábado maio 2018

Posted by jlcoreiro in Crítica ao programa de governo de Gerlado Alckimin, Debate macroeconômico, doença holandesa, Estratégias de Desenvolvimento

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Desindusitralização, doença holandesa, Geraldo Alckimin

Nesta semana o pré-candidato a Presidência da República Geraldo Ackimin divulgou novos nomes da sua equipe econômica. Ao fazer o anuncio o Presidenciável do PSDB afirmou que “Se não abrir a economia, o país não vai dar o salto que precisa” (Valor Econômico, “Alckimin promete aumentar o comércio exterior em 50%”, 18 de maio de 2018).

A fala de Alckimin reflete uma visão bastante difundida entre os economistas brasileiros de que o baixo crescimento da produtividade no Brasil deve-se as ineficiências alocativas geradas a partir da proteção tarifária a indústria nacional. No contexto de uma economia fechada ao comércio exterior, a indústria nacional não precisa se esforçar para ser eficiente e, por essa razão, a produtividade na indústria apresenta um baixo dinamismo. Esse baixo dinamismo, por sua vez, faz com que a indústria brasileira não seja capaz de competir no exterior, o que resulta, por um lado, num baixo crescimento das exportações de manufaturados e, por outro, numa demanda crescente por mais proteção – na forma de tarifas de importação, requisitos de conteúdo local ou juros subsidiados pelo BNDES. A solução para esse problema passaria, portanto, por um choque de abertura comercial para forçar as empresas brasileiras a se tornar eficientes. Implícito nesse argumento está a tese de que a produtividade média da indústria brasileira será elevada por intermédio da eliminação (falência) das empresas menos eficientes, efeito esse decorrente da exposição dessas empresas a concorrência internacional.

Não vou questionar o fato de que a economia brasileira é bastante fechada na comparação internacional, embora não seja necessariamente uma economia com elevada proteção tarifária, como recentemente foi argumentado pelo meu colega André Nassif (Nassif, A. “O Brasil é um país fechado ou protegido? Valor Econômico, 03/05/2018). Meu ponto é de outra natureza. Irei argumentar nas linhas abaixo que a baixa competitividade da indústria brasileira é resultado da sobrevalorização cambial decorrente da doença holandesa. Nesse contexto, a indústria brasileira não consegue competir nos mercados internacionais, apresentando assim um baixo coeficiente de exportação. Além disso, a sobrevalorização cambial torna impossível a indústria brasileira competir no próprio mercado doméstico se não for amparada por um elevado nível de proteção comercial. Dessa forma, a proteção comercial e o viés pró-mercado interno da indústria nacional são ambos resultados dos efeitos da doença holandesa sobre a taxa de câmbio.

O ponto de partida de minha argumentação é uma constatação empírica: o nível da produtividade do trabalho difere significativamente entre países. Consideremos o exemplo dado por Diamand (1972): a produtividade do trabalho é relativamente baixa na Coreia (no início dos anos 1970),  apresenta um nível intermediário na Itália e é elevada nos Estados Unidos. Contudo, os preços internacionais (em dólares americanos) dos produtos exportados por esses países são aproximadamente iguais (descontando-se os custos de transporte). Isso porque no caso de bens transacionáveis, a “lei do preço único”, base da Teoria da Paridade do Poder de Compra, impõe que a taxa de câmbio nominal deve se ajustar (no longo prazo) de forma a equalizar os preços dos bens transacionáveis no mercado internacional. Dessa forma, as diferenças de produtividade entre os países são compensadas por variações proporcionais na taxa de câmbio nominal, de maneira a equalizar os preços em dólares dos produtos exportados. Essa equalização permite que países onde a produtividade do trabalho é mais baixa, como a Coréia, possam competir nos mercados internacionais de produtos manufaturados com países onde a produtividade do trabalho é mais alta como os Estados Unidos e a Itália.

O problema é que esse mecanismo não funciona da mesma maneira em países que são ricos em recursos naturais como, por exemplo, o Brasil e a Argentina. Nesses países, a produtividade das atividades relacionadas a produção e exportação de bens primários é mais alta do que a produtividade da indústria de transformação. Isso significa que o custo unitário do trabalho nas atividades relacionadas ao setor primário tende a ser mais baixo do que o custo unitário do trabalho no setor manufatureiro. Dessa forma, o nível da taxa nominal de câmbio que equaliza os preços internacionais dos bens primários é muito menor do que o nível da taxa nominal de câmbio que equaliza os preços internacionais dos produtos manufaturados. Como a taxa de câmbio deve assumir um valor único num contexto de regime de câmbio livre e flutuante; segue-se que no caso dos países ricos em recursos naturais a taxa de câmbio irá assumir uma valor intermediário entre o nível para o qual os preços internacionais dos produtos primários são equalizados e o nível para o qual os preços dos produtos manufaturados são equalizados.

Dessa forma, os mecanismos de mercado terminarão por gerar uma taxa de câmbio que é extremamente competitiva para as atividades ligadas a produção e exportação de produtos primários (gerando assim uma taxa de lucro acima da média dos demais setores de atividade); mas sobrevalorizada do ponto de vista da produção e exportação de produtos manufaturados. Essa diferença entre as taxas de câmbio que garantem a “paridade de poder de compra” para produtos primários e manufaturados é a definição mais geral de “Doença Holandesa”, a qual tem sua origem, portanto, no desequilíbrio na estrutura de produtividades relativas. Em função desse desequilíbrio temos que as exportações de produtos manufaturados não serão competitivas, ao passo que a produção para o atendimento do mercado doméstico irá exigir a introdução de barreiras a entrada de produtos estrangeiros. Nessas condições, segue-se que a demanda da indústria nacional por medidas protecionistas é consequência inexorável da doença holandesa.

A abertura comercial irrestrita proposta pelo pré-candidato do PSDB não só não tem nenhum efeito sobre a causa estrutural da baixa competitividade da indústria nacional; como ainda irá atuar no sentido de acelerar o processo de desindustrialização da economia brasileira. Aqui nos deparamos com um paradoxo: o pré-candidato a Presidência da República que é paulista e que foi várias vezes governador do Estado de São Paulo, o qual é precisamente o estado mais industrializado do país, está colocando como um dos pontos centrais de seu programa de governo medidas que irão destruir, num prazo bastante curto, a principal atividade econômica do estado que, supostamente, é a base para a sua candidatura a Presidência da República !!!!! 

Voltando a questão da doença holandesa, que ou quais medidas poderiam ser pensadas no sentido de eliminar a sobrevalorização cambial decorrente do desequilíbrio entre as produtividades relativas do setor primário e do setor manufatureiro? Uma alternativa possível é a introdução de um imposto sobre a exportação de produtos primários. Esse imposto teria o efeito de aumentar o preço em moeda doméstica dos produtos primários, aumentando, portanto, a taxa de câmbio nominal que equaliza os preços dos produtos primários nos mercados internacionais. A alíquota do imposto deve ser suficientemente alta para eliminar a diferença entre as taxas de câmbio de paridade de poder de compra dos produtos primários e dos produtos manufaturados. Uma vez eliminada a doença holandesa por esse mecanismo, deve-se proceder a imediata redução das tarifas comerciais, haja vista que as mesmas terão se tornado desnecessárias. Daqui se segue, portanto, que a abertura comercial será a consequência “natural” de uma adequada neutralização da doença holandesa.

Referências

Diamand, M. (1972). “La Estructura Produtiva Desequilibrada Argentina y el Tipo de Cambio”. Desarollo Económico, Vol. 12, N.42.

 

 

 

 

Lisboa, Oreiro e Fragelli sobre a Desindustrialização no Brasil (O Globo, 05/03/2018)

05 segunda-feira mar 2018

Posted by jlcoreiro in Debate macroeconômico, Desindustrialização, José Luis Oreiro

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Desindusitralização, José Luis Oreiro, Marcos Lisboa, Renato Fragelli

Palavra de especialistas

O Globo – 05/03/2018

Marcos Lisboa – Economista e presidente do INSPER

O Brasil optou, em diversos setores, por fazer no país a maior parte da produção, com regras de conteúdo nacional, tentando ter a cadeia inteira aqui. Isso vai na contramão do que o mundo faz, que é identificar áreas em que se é muito eficiente. Nas demais, compra-se de quem faz melhor no mundo. Além disso, o conceito de indústria mudou muito. Hoje, as atividades são muito mais fluidas. A Apple é indústria ou serviço? A parte que gera imenso valor de mercado não tem fábrica. A montagem (na China) vale poucos dólares. O grande valor está na concepção. Sobre política industrial, tivemos uma concepção equivocada. Os problemas fundamentais que prejudicam a produção no Brasil fora da fábrica não foram enfrentados. Nossa estrutura tributária é muito mal desenhada, muito complexa e gera muito litígio. E, no entanto, essa é uma agenda que as lideranças empresariais não adotaram. As lideranças pedem crédito subsidiado e menos impostos. Criamos uma agenda muito equivocada.

*

José Luís Oreiro – Professor do Departamento de Economia da UNB

Acho que já não se coloca mais a questão se há desindustrialização ou não. Esse processo se acentuou a partir de 2008. Os defensores de que havia ganharam o debate. A desindustrialização não só está ocorrendo, como reduz as perspectivas de crescimento da economia brasileira. Portanto, fora a retomada cíclica do nível de atividade, que já está posta, é preciso enfrentar essa questão para que o Brasil possa crescer a uma taxa mais robusta e sustentada. Em relação às políticas industriais, se não houver taxas de câmbio e de juros competitivas, é enxugar gelo. Nenhuma das três que tivemos obteve sucesso no que se refere a reverter esse processo, porque foram colocadas num cenário em que os preços macroeconômicos estavam sistematicamente fora do lugar. O segundo ponto é que foram políticas que não tinham desenhados dentro delas mecanismos de contrapartida. O BNDES assumiu um gigantismo em 2008, em função principalmente da crise financeira internacional, quando desapareceram as linhas internacionais de crédito. Só que, depois, durante o governo Dilma, isso passou da conta.

*

Renato Fragelli – Professor da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas/FGV

Vivemos no país dos lobbies. O servidor diz que tem direito, o empresário diz que tem direito… Cada um puxando a sardinha para o seu lado. Essa discussão da pseudo desindustrialização é simplesmente um evento desses lobbies. Temos uma indústria no Brasil que vem diminuindo sua participação no PIB, mas esse fenômeno não é só brasileiro. Existe um ciclo regular. Um país passa por um período de industrialização, em que a população sai do interior, vai trabalhar na indústria, o país enriquece. Chega uma certa hora em que o país atinge uma determinada renda e começa uma migração natural para o setor de serviços. Essa queda da indústria no PIB era previsível. É observada em vários países. A indústria brasileira hoje sofre mais que os outros setores. O de serviços é naturalmente muito protegido, precisa ser prestado no próprio local. A agricultura é particularmente produtiva. O setor ruim no Brasil é a indústria, porque é muito intensiva em mão de obra qualificada. O Brasil, quando resolveu se industrializar, não deu prioridade à educação.

Processo de desindustrialização se acentuou a partir de 2008 (O Globo, 05/03/2018)

05 segunda-feira mar 2018

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Desindusitralização, economia brasileira, José Luis Oreiro

Segundo José Luís Oreiro, movimento reduz perspectivas de crescimento da economia
RIO – O professor do Departamento de Economia da UNB José Luís Oreiro acha que já não se coloca mais a questão se há desindustrialização ou não e que esse processo se acentuou a partir de 2008. Segundo ele, os defensores de que havia ganharam o debate.LEIA TAMBÉM : Indústria tem menor participação no PIB desde os anos 1950

LEIA MAIS: Conceito de Indústria mudou, diz economista

VEJA TAMBÉM : Perda de participação da indústria no PIB não é um fenômeno brasileiro

– A desindustrialização não só está ocorrendo, como reduz as perspectivas de crescimento da economia brasileira. Portanto, fora a retomada cíclica do nível de atividade, que já está posta, é preciso enfrentar essa questão para que o Brasil possa crescer a uma taxa mais robusta e sustentada.

Em relação às políticas industriais, Oreio afirma que, se não houver taxas de câmbio e de juros competitivas, é enxugar gelo.

– Nenhuma das três que tivemos obteve sucesso no que se refere a reverter esse processo, porque foram colocadas num cenário em que os preços macroeconômicos estavam sistematicamente fora do lugar.

O segundo ponto, registra, é que foram políticas que não tinham desenhados dentro delas mecanismos de contrapartida, e acrescenta que o BNDES assumiu um gigantismo em 2008, em função principalmente da crise financeira internacional, quando desapareceram as linhas internacionais de crédito.

– Só que, depois, durante o governo Dilma, isso passou da conta – diz.

Agenda Brasil 2018 (O Estado de São Paulo, 24/12/2017)

24 domingo dez 2017

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Agenda 2018, Debate Macroeconômico, Desequilíbrio Fiscal, Desindusitralização

José Luis Oreiro*, O Estado de S. Paulo

24 Dezembro 2017 | 05h00

Moeda
A economia brasileira possui uma série de problemas estruturas que limitam seu potencial de crescimento de longo prazo. Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Ao que tudo indica a economia brasileira deverá fechar o ano com um crescimento próximo de 1%, resultante dos efeitos combinados da liberação dos depósitos inativos do FGTS, da redução forte, ainda que tardia, da taxa de juros e do elevado crescimento das exportações, tanto de produtos básicos como de manufaturados, em razão da aceleração do crescimento da economia mundial. Considerando a queda acumulada de quase 9% do PIB real no período 2014-2016 trata-se de uma recuperação anêmica, ainda que bem-vinda.

Mesmo que a economia brasileira consiga engatar uma trajetória de crescimento a partir de 2018, existem razões para acreditar que será um crescimento medíocre, incapaz de colocar o País numa trajetória de “alcançamento” com respeito aos países desenvolvidos. Isso porque a economia brasileira possui uma série de problemas estruturais que limitam seu potencial de crescimento de longo prazo. Na sequência irei fazer uma lista dos principais problemas estruturais que limitam nosso potencial de crescimento.

A teoria econômica indica que o crescimento potencial de uma economia no longo prazo é igual à soma entre a taxa de crescimento da força de trabalho e a taxa de crescimento da produtividade. A taxa de crescimento da força de trabalho depende da taxa de crescimento da população e do crescimento da taxa de participação, ou seja, do aumento da razão entre a força de trabalho e a população. Em razão da queda tendencial da taxa de fecundidade (filhos por mulher) derivada do processo acelerado de urbanização da economia brasileira nos últimos 50 anos, a taxa de crescimento da população vem se reduzindo progressivamente, situando-se hoje em torno de 0,8% ao ano. Na década passada, a força de trabalho cresceu a um ritmo superior ao crescimento da população devido ao aumento da taxa de participação, induzida pela expansão do nível de emprego.

Embora a recessão de 2014 a 2016 tenha aumentado a taxa de desemprego, não podemos mais contar com um aumento significativo da taxa de participação nos próximos 15 anos, dado que a mesma já se encontra num patamar elevado. Dessa forma, o crescimento da força de trabalho deve contribuir com, no máximo, 1 ponto porcentual para o crescimento do PIB nos próximos anos.

E o que dizer sobre o desempenho futuro da taxa de crescimento da produtividade do trabalho? O ritmo de crescimento da produtividade do trabalho depende da taxa de acumulação de capital físico e humano por trabalhador, bem como da taxa de transferência de mão de obra dos setores com menor valor adicionado per capita para os setores com maior valor adicionado per capita, fenômeno conhecido na literatura como mudança estrutural.

O problema é que a economia brasileira vem passando nos últimos 20 anos por um processo de desindustrialização precoce, ou seja, por uma mudança estrutural negativa, a qual tem impacto deletério sobre o crescimento de longo prazo por dois canais distintos. Por um lado, a desindustrialização reduz o nível e a taxa de crescimento da produtividade do trabalho uma vez que (i) a produtividade do trabalho é, na média, mais alta na indústria de transformação do que nos demais setores; de forma que uma redução da participação daquela no PIB reduz a produtividade média da economia e (ii) a indústria é a fonte dos retornos crescentes de escala e do progresso técnico (na sua maior parte incorporado em máquinas e equipamentos) indispensáveis para o crescimento da produtividade no longo prazo.

Por outro lado, a elasticidade-renda das exportações dos produtos manufaturados é maior do que dos produtos primários, de tal forma que a desindustrialização atua no sentido de criar um desequilíbrio externo estrutural, tornando o País dependente de poupança externa e, portanto, dos humores dos mercados financeiros internacionais.

Em segundo lugar, o Brasil possui um desequilíbrio fiscal estrutural que se expressa numa nítida tendência de elevação da despesa primária como proporção do PIB nos últimos 20 anos. Soma-se a esse desequilíbrio estrutural um desequilíbrio fiscal conjuntural causado pela queda significativa da arrecadação tributária como proporção do PIB decorrente da grande recessão do período 2014-2016 e das desonerações de impostos (sem exigência de contrapartidas) feitas durante o primeiro mandato da presidente Dilma.

Sendo assim, torna-se necessário interromper (não necessariamente reverter) o processo de crescimento da despesa primária (como proporção do PIB), bem como rever as generosas desonerações dadas durante a vigência da “nova matriz macroeconômica”; de modo a viabilizar a obtenção de um superávit primário próximo de 2,5% do PIB até 2022 e impedir a ocorrência de uma crise da dívida pública com o consequente retorno do regime de alta inflação.

Por outro lado, quando olhamos para a composição da despesa primária, observamos que menos de 10% da mesma é composta por investimento público. Os restantes 90% se destinam ao pagamento de gastos previdenciários e de assistência social, dos salários do funcionalismo público e do custeio de saúde e educação. Como os investimentos públicos em infraestrutura são fundamentais para o aumento da produtividade da economia como um todo e da competitividade da indústria de transformação, segue-se que é necessário mudar a composição da despesa primária, aumentando a participação dos investimentos.

Por fim, o Brasil possui uma instabilidade macroeconômica recorrente que se expressa em inflação relativamente alta (média de 6,5% no período 1999-2015) e uma tendência à sobrevalorização da taxa de câmbio, pontuada por episódios de desvalorização súbita e expressiva. A resistência da inflação no patamar de 6% ao ano explica a manutenção da taxa de juros em patamares elevados, o que aumenta o custo do capital, desestimulando os investimentos produtivos, como ainda contribui para a valorização do câmbio ao atrair capitais externos interessados apenas em lucrar com o enorme diferencial entre os juros internos e externos.

Esses problemas estruturais precisam ser tratados, com seriedade, pelos candidatos à Presidência da República durante a campanha eleitoral de 2018. O Brasil não tem tempo para perder com disputas infantis entre “coxinhas” e “mortadelas”.

*É professor de Departamento de Economia da Universidade de Brasília

Link: http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,agenda-brasil-2018,70002129787

Escassez de poupança? (Diário de Comércio e Indústria, 25/10/2017)

25 quarta-feira out 2017

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Desindusitralização, Investimento e poupança, José Luis Oreiro

O senso comum no debate econômico brasileiro afirma que um dos grandes problemas de nossa economia é a escassez de poupança doméstica, a qual seria a causa fundamental do elevado nível da taxa real de juros prevalecente no Brasil. Para pequenas economias abertas com mobilidade de capitais, contudo, a escassez de poupança doméstica pode ser vista, no máximo, como a causa dos déficits em conta corrente e, portanto, da tendência à sobrevalorização crônica da taxa de câmbio. A evidência empírica disponível aponta para a inversão da relação de causalidade – o câmbio apreciado é que causa os déficits em conta corrente e a escassez de poupança doméstica.

É fato, porém, que a poupança doméstica no Brasil é muito baixa, e que a retomada do crescimento sustentável exige um aumento da taxa de poupança, do contrário o Brasil continuará dependente de poupança externa e, portanto, refém dos humores dos mercados financeiros internacionais.

Uma das preocupações da Teoria Clássica do Desenvolvimento Econômico foi precisamente explicar como os países que passam por um rápido processo de industrialização conseguem aumentar sua taxa de poupança de 4-5% do PIB para níveis superiores a 15% do PIB num espaço de poucos anos. A explicação encontrada foi que nas fases iniciais do processo de industrialização, a existência de mão-de-obra excedente no setor de subsistência ou tradicional permite que o emprego no setor moderno ou industrial se expanda a grandes velocidades com um efeito praticamente nulo sobre o preço de oferta do trabalho. Como a produtividade é maior no setor moderno do que no setor de subsistência segue-se que a transferência de mão de obra do setor de subsistência para o setor industrial irá resultar num aumento da produtividade média da economia, sem que ocorra, concomitantemente, um aumento do nível do salário real. Esse processo de mudança estrutural irá produzir, portanto, um aumento da participação dos lucros na renda. Como a propensão a poupar a partir dos lucros é maior do que a propensão a poupar a partir dos salários haverá um aumento da taxa de poupança agregada. Ao longo do processo de industrialização das economias em desenvolvimento deve-se observar uma correlação positiva entre taxa de poupança, participação dos lucros na renda e participação da indústria de transformação no PIB.

Essa conjectura é respaldada pela experiência histórica dos países em desenvolvimento onde se observa a existência de uma correlação positiva entre taxa de poupança doméstica e participação dos lucros na renda; e a existência de uma correlação positiva entre a taxa de poupança e a participação da indústria de transformação no PIB.

Quais as lições que podemos tirar para o caso brasileiro? Nos últimos 10 anos ocorreu inegável processo de desindustrialização da economia brasileira seguido, mais recentemente, por uma redução da taxa de lucro sobre o capital próprio das empresas não financeiras. A partir do raciocínio acima, essa mudança estrutural perversa deve ser seguida também por uma queda da taxa de poupança, algo que de fato vem ocorrendo de forma acentuada na última década. O problema da “escassez de poupança” no Brasil pode ser apenas o resultado da perda de importância da indústria de transformação na economia. Nesse caso, a resolução “problema da poupança” passa obrigatoriamente pela reindustrialização da economia brasileira.

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