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José Luis Oreiro

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Recessão: Banco Central revela que PIB brasileiro caiu em outubro (Socialismo criativo, 16/12/2021)

16 quinta-feira dez 2021

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Crise Econômica no Brasil, José Luis Oreiro, PSB

por: Michelle Portela Postado em: 16/12/2021 – 07:15 Atualizado em: 16/12/2021 – 08:58

O Banco Central divulgou que o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), considerado sinalizador do Produto Interno Bruto (PIB), teve queda de 0,40% em outubro na comparação com setembro, segundo dado dessazonalizado. O dado foi informado ao mercado nesta quarta-feira (15) e confirma o quadro de “recessão” sentido no país. 

Na comparação entre os meses de outubro de 2021 e de 2020, houve retração de 1,48% na série sem ajustes sazonais. Com isso, a série histórica registrou 137,78 pontos no décimo mês, o pior desempenho para o período desde 2017 (135,99 pontos).

E apesar das expectativas ruins, o resultado de outubro reforça a atividade fraca no quarto trimestre, após números decepcionantes divulgados recentemente sobre os setores de serviços, comércio e indústria para o mês. 

Mais ainda, ressalta a crise econômica, uma vez que, no terceiro trimestre, a economia brasileira entrou em recessão técnica ao registrar retração pela segunda vez seguida. O PIB, divulgado pelo IBGE, registrou queda de 0,1% entre julho e setembro.

Conhecido como uma espécie de “prévia do BC para o PIB”, o IBC-Br serve mais precisamente como parâmetro para avaliar o ritmo da economia brasileira ao longo dos meses. De acordo com o professor do departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB), José Luis Oreiro, embora se trate de prévia do PIB, os dados do IBC-Br revelam a queda da economia brasileira.

Foto: Professor José Luis Oreiro

“A economia brasileira se encontra em recessão. O que os dados de hoje mostram é que teremos novas contrações do PIB em 2021, o que levaria a economia brasileira a uma recessão de verdade”. José Luis Oreiro

Nesse cenário, o mercado de trabalho está ainda mais ameaçado. “As implicações são graves para o mercado de trabalho em 2022. Para que haja alguma esperança de criação dos postos de trabalho, a economia precisa crescer.

Com isso, o mercado de trabalho e a segurança financeira dos brasileiros está ainda mais ameaçada. “As implicações são graves para o mercado de trabalho em 2022. Para que haja alguma esperança de criação de renda e emprego, a economia precisa crescer. Com a recessão, não apenas não iremos criar novos postos de trabalho como vamos ter aumento das demissões”, explica o professor.

Ainda de acordo com o professor, pelos dados do Banco Central, a continuidade do processo da elevação da taxa de juros impacta o poder de compra dos trabalhadores. “Mais ainda, também contração da massa salarial que vai impactar as empresas, que deverão optar por novas demissões. Tudo indica que o primeiro semestre de 2022 vai ser muito ruim, com o aumento do desemprego, da miséria e da fome”, analisa.

“Já faz algum tempo que a gente não consegue crescer”, acrescenta o professor William Baghdassarian professor do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec). “Atualmente, temos um agravante que é o poder Executivo, que traz incertezas para o mercado. Os investidores estão inseguros para realizar novos investimentos, desde os grandes até os pequenos”, finaliza.

Projeção

A projeção atual do Banco Central para a atividade doméstica em 2021 é de crescimento de 4,7%, segundo o Relatório Trimestral de Inflação (RTI) de setembro. O próximo RTI será divulgado nesta quinta-feira (16). Até outubro, o IBC-Br acumulou alta de 4,99% em 2021 até outubro, informou a autoridade monetária. 

Na comparação entre os meses de outubro de 2021 e de 2020, houve retração de 1,48% na série sem ajustes sazonais. Com isso, a série histórica registrou 137,78 pontos no décimo mês, o pior desempenho para o período desde 2017 (135,99 pontos).

Leia também: PIB do terceiro trimestre cai e Brasil entra em recessão

E apesar das expectativas ruins, o resultado de outubro reforça a atividade fraca no quarto trimestre, após números decepcionantes divulgados recentemente sobre os setores de serviços, comércio e indústria para o mês. 

Mais ainda, ressalta a crise econômica, uma vez que, no terceiro trimestre, a economia brasileira entrou em recessão técnica ao registrar retração pela segunda vez seguida. O PIB, divulgado pelo IBGE, registrou queda de 0,1% entre julho e setembro.

Conhecido como uma espécie de “prévia do BC para o PIB”, o IBC-Br serve mais precisamente como parâmetro para avaliar o ritmo da economia brasileira ao longo dos meses. 

A projeção atual do Banco Central para a atividade doméstica em 2021 é de crescimento de 4,7%, segundo o Relatório Trimestral de Inflação (RTI) de setembro. O próximo RTI será divulgado nesta quinta-feira (16). Até outubro, o IBC-Br acumulou alta de 4,99% em 2021 até outubro, informou a autoridade monetária. 

Link: https://www.socialismocriativo.com.br/recessao-banco-central-revela-que-pib-brasileiro-caiu-em-outubro/

Governo anuncia segundo aumento do mês enquanto gasolina já supera os 7 reais (El País, 25/10/2021)

26 terça-feira out 2021

Posted by jlcoreiro in Crise da Democracia Brasileira, Crise do Governo Bolsonaro, Crise Econômica no Brasil, José Luis Oreiro, Os erros de Paulo Guedes, preço dos combustíveis

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Crise Econômica no Brasil, Desastre da Gestão Paulo Guedes, José Luis Oreiro, preço dos combustíveis

Aumento será de 7% para a gasolina e 9,5% para o diesel. Caminhoneiros ameaçam greve e Bolsonaro promete “uma ajuda”, que é vista como “piada” por representante da categoria

MARINA ROSSI

São Paulo – 25 OCT 2021 – 12:04 BRT

Eram 10h20 da manhã quando Romão Edson, 42, saía de um posto de gasolina na região central de São Paulo. “Não enchi o tanque, não”, respondeu, ao ser perguntado pela reportagem. “Coloquei só o básico para sobreviver”. O motorista de aplicativo levava no rosto o sinal do cansaço. Estava trabalhando desde as 16h do dia anterior, sem parar. Na carteira, o sinal da crise. “Em um dia bom, eu faço 450 reais com as corridas. Mas disso, eu tiro 150 reais para a gasolina”. Descontando ainda o que gasta com a manutenção do carro, sobra pouco no final do mês. Por isso, enquanto abastecia, assistia a uma aula online pelo celular, de um curso para formação técnica em enfermagem. “Não compensa mais ser motorista de aplicativo”, diz ele, que atua há três anos na área. “Estou estudando para mudar de profissão”.

A realidade de Romão Edson é a mesma que a de milhões de brasileiros que estão sentindo na pele e no bolso o avanço da inflação. Nesta segunda-feira, a Petrobras anunciou um novo reajuste nos preços da gasolina e do diesel: 7% e 9,5%, respectivamente, valendo já a partir desta terça-feira. O último aumento da gasolina havia ocorrido no dia 8 de outubro, e do diesel, no dia 27 de setembro. Desde o início do mês, o gás de cozinha ultrapassa o valor de 100 reais o botijão em 19 estados, e o custo do litro da gasolina já supera os 7 reais em boa parte do país,. Na sexta-feira, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) já havia afirmado que o combustível subiria de novo. “Nós sabemos que, aumentando o preço do petróleo lá fora e o dólar aqui dentro, o reajuste em poucos dias ou semanas, tem que ser cumprido na ponta da linha pela Petrobras”, afirmou ele, em entrevista coletiva com o ministro da Economia Paulo Guedes.

Diante dessa alta nos preços, caminhoneiros, que em 2018 realizaram uma grande greve em todo o país, agora ameaçam parar novamente. “Se o Governo não der nenhum sinal para nós até dia 31 de outubro, no dia 1 de novembro, a categoria vai cruzar os braços”, promete Wallace Landim, conhecido como Chorão, presidente da Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores (Abrava). “A situação que a gente está passando hoje é pior que a de 2018″, diz ele. “As leis que conquistamos não estão sendo cumpridas, como o preço mínimo do frete. Não há fiscalização pela ANP”, diz. O piso do frete, uma da principais conquistas da greve de 2018, tem sua constitucionalidade questionada até hoje e não é cumprido pelas empresas. “Mas sem dúvida, a situação pior hoje é a do combustível. O valor do frete não acompanha”, afirma Chorão.

Na semana passada, Bolsonaro havia tentado sinalizar à categoria. Em um evento em Pernambuco, afirmou que “em torno de 750.000 caminhoneiros receberão uma ajuda para compensar o aumento do diesel”. Mas não especificou de quanto seria o auxílio e nem como ele seria financiado. Por isso, a categoria não vê como um sinal. “Ele não deixou claro, não foi oficializado”, afirma Chorão. “Mas se for essa proposta que ele está querendo colocar para todos, a gente entende que são os 400 reais [do auxílio emergencial]. Se for isso, os caminhoneiros não querem esmola. Eu vi como uma piada”.

“Custo Bolsonaro”

José Luis Oreiro, professor do departamento de economia da Universidade de Brasília (UNB), explica que a alta dos preços se dá pela combinação de dois fatores: o aumento do valor do petróleo no mercado internacional, e a alta do dólar. “Fundamentalmente, a redução da produção de petróleo da OPEP [Organização dos Países Exportadores de Petróleo], juntamente com a retomada da atividade econômica nos Estados Unidos e China agora no primeiro semestre de 2021, elevaram o preço do barril de petróleo para mais de 80 dólares”, explica. “Isso atrelado ao que chamamos de custo Bolsonaro, reforçado pelo completo isolamento do Brasil devido à política ambiental desastrosa do Governo, e as frequentes crises políticas que o presidente causa, geram o aumento das incertezas e levam à fuga de capital”, diz. “Se não fosse essa péssima imagem que o Brasil tem no exterior, certamente o dólar estaria abaixo de 5 reais”.

Todos esses fatores nacionais e internacionais vão parar no preço final. “Quando chega o valor com aumento, temos que repassar para o consumidor, não tem outro jeito”, afirma Ana Paula Nardine, proprietária de uma rede de cinco postos em São Paulo. “E sabemos que esse valor ainda não se estabilizou. Pode subir ainda mais”, diz. O entregador Antônio Marcos de Sena Santos, 37, diz que ainda faz entregas com a moto “porque é melhor que fazer nada”, mas o combustível tem pesado cada vez mais na conta. “Muita gente deixou de fazer entrega porque não está compensando mais”, diz.

Oreiro explica que além dos fatores econômicos externos está a redução da capacidade de refino da Petrobras. Graças a uma política de enxugamento das refinarias, iniciada em 2017, hoje o Brasil exporta mais petróleo bruto e importa mais gasolina. “A nossa dependência da gasolina importada já foi menor”, ele explica. “Porque antes a Petrobras maximizava as refinarias. Agora, como temos que importar mais gasolina, a Petrobras mantém a paridade com o preço internacional”.

ICMS

Com a pressão exercida especialmente pelos caminhoneiros que ameaçam nova greve, e na tentativa de reverter os impactos dos aumentos dos preços em sua popularidade, Bolsonaro recorreu ao seu aliado, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL). E conseguiu uma vitória. Na semana passada, a Câmara aprovou projeto de lei que altera as regras de cobrança do ICMS. O imposto estadual incide sobre a gasolina e tem sido apontado erroneamente pelo Governo federal como a principal causa do aumento dos preços. A proposta, que seguirá para aprovação no Senado, muda a forma do cálculo do imposto.

Hoje, o ICMS é calculado pela média dos últimos 15 dias do preço do combustível nas distribuidoras. Se aprovada no Senado, a proposta faz com que o cálculo seja pela média dos últimos dois anos. “Como essa média é bem mais baixa, é evidente que o preço final para o consumidor vai ser mais baixo”, explica Oreiro. A conta, no entanto, não é tão simples. Hoje, o ICMS representa uma parte muito importante da arrecadação dos estados, podendo chegar a até 30% dos impostos arrecadados.

O economista explica que, se o cálculo do ICMS mudar, será preciso arrecadar em outra frente. “Hoje há diversos estados com problemas fiscais, como o Rio de Janeiro, por exemplo. Se tirar a arrecadação de impostos desses estados, vai ter que haver uma compensação pela União, e, no final das contas, o consumidor vai ter que pagar mais em forma de impostos”, diz. “Sem contar que assim, o Governo estará subsidiando o consumo de combustíveis fósseis, o que vai totalmente na contramão do que está sendo feito no mundo inteiro”.

Sabendo que o Senado também é favorável à mudança, governadores se articulam. No final da semana, representantes do Fórum Nacional de Governadores se reuniram por videoconferência com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), para tratar do assunto. “É consenso entre os governadores e o presidente do Senado que a alteração no preço dos combustíveis não pode ser colocada como por conta do ICMS”, afirmou Wellington Dias, governador do Piauí e coordenador do Fórum Nacional de Governadores. “Sempre tivemos o ICMS na mesma alíquota, há vários anos, não teve alteração”. De acordo com ele, ficou acertado convocar a Petrobras para conversar e montar um grupo de trabalho com uma representação dos estados, com um governador de cada região.

Em São Paulo, o governador João Doria (PSDB) chegou a dizer que o alto custo do combustível é culpa da “incompetência do Governo”. Em sua conta no Twitter, o governador tucano ainda disse que o Governo federal “fala muito e faz pouco. A cutucada de Doria rendeu uma reposta de Lira, que rebateu dizendo que que trata-se de uma questão de “sensibilidade social”, e culpou o preço do barril de petróleo. “O barril quase triplicou. Em um momento de retomada econômica, todo o incentivo é bem vindo. Não seria o caso de pensar no cidadão e não nos cofres do Estado?”, respondeu o presidente da Câmara, também no Twitter.

Seja como for, as negociações sobre o ICMS ainda devem colocar sobre a mesa a reforma tributária, de acordo com Dias. “Essa agenda deve acontecer já na próxima semana”, afirmou. “Se tiver que ter uma alternativa intermediária, estamos abertos ao diálogo, e ainda, a garantia de que vamos nos voltar com prioridade para o projeto da reforma tributária”.

Link: https://brasil.elpais.com/brasil/2021-10-25/governo-anuncia-segundo-aumento-do-mes-enquanto-gasolina-ja-supera-os-7-reais.html

As profundas cicatrizes da pandemia da COVID-19 no mercado de trabalho (Correio Braziliense, 18/10/2021) 

19 terça-feira out 2021

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Covid-19, Crise Econômica no Brasil, José Luis Oreiro

Além da perda de mais de 600 mil brasileiros, o baque nas atividades econômicas fará com que a taxa de desemprego fique em dois dígitos por muito tempo

Rosana Hessel – Correio Braziliense

18/10/2021 08:00 – atualizado 17/10/2021 21:58

Apesar do avanço da vacinação contra a COVID-19 no país, com 101,3 milhões de brasileiros totalmente imunizados – conforme dados do Ministério da Saúde –, a atividade econômica patina em meio às incertezas conjunturais e a pandemia vai deixando suas cicatrizes, que devem ser profundas. Além das perdas de pouco mais de 600 mil brasileiros e das inevitáveis sequelas nos recuperados, o mercado de trabalho também sofre um baque forte com a COVID-19 e a taxa de desemprego deve demorar para ficar abaixo de dois dígitos, alertam os especialistas ortodoxos e heterodoxos.
Analistas avaliam que, mesmo após o recuo recente para 13,7% na média do trimestre móvel encerrado em julho, quando o país atingiu 14,1 milhões de desocupados, a tendência é que a taxa de desemprego ainda deve subir e não deverá ficar abaixo de 10% nesta década. Eles reforçam que a pandemia agravou um quadro que já era ruim e, portanto, os futuros candidatos à presidência em 2022 precisarão olhar para essa questão com cuidado e elaborar um bom plano de governo, caso contrário, o país não mudará a realidade que é continuar com o desemprego elevado até o fim desta década.
O emprego só vai crescer se a atividade econômica voltar a se aquecer, de acordo com os especialistas. Mas as recentes estimativas do mercado não são nada animadoras, porque estão em queda e mostram que, devido às suas mazelas da volta da inflação e às incertezas em relação à política, o PIB não tem fôlego para crescer de forma robusta, ou seja, acima do seu potencial, que encolheu e hoje está abaixo de 2%. As novas estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI) para o PIB brasileiro, por exemplo, prevendo expansão do PIB de 1,5% em 2022 em vez de 1,9%, são criticadas pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, que disse que o FMI “vai continuar errando as projeções”.

PIB BAIXO

O cenário previsto por especialistas brasileiros, no entanto, é pior do que o estimado pelo organismo multilateral, pois já há estimativas para o PIB abaixo de 0,5% e muitos não descartam um cenário de estagflação – o pior dos mundos na teoria econômica, porque não há crescimento e o custo de vida continua elevado, corroendo ainda mais a renda da população. O Fundo, por exemplo, prevê o desemprego abaixo de 10% em 2026, cenário improvável, de acordo com especialistas.
Um exercício matemático feito por economistas do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre) revela que, se o PIB do país crescer 3,5% entre 2023 e 2026, o desemprego ficará em 10,1% no fim do período, em uma projeção sem ajuste sazonal. Na série ajustada sazonalmente, a taxa passaria para 9,8%, considerando essa mesma expansão. Mas, se o PIB avançar 1,5% nos próximos cinco anos, o desemprego chegaria a 11,6% em 2026.
“A taxa de desemprego já vinha subindo desde 2014, com a primeira recessão da última década e estava em dois dígitos antes da COVID-19 e piorou com a pandemia. Apesar de o país já ter voltado a criar emprego, o ritmo não é suficiente para fazer a taxa de desocupação voltar a um dígito tão cedo. Isso já era difícil antes, e, agora, será bastante desafiador”, afirma o economista e pesquisador do Ibre Fernando de Holanda Barbosa Filho, um dos responsáveis pelo levantamento. Para ele, a queda na taxa de desemprego será lenta e gradual, porque um crescimento de 3,5% no país nos próximos anos é pouco provável na atual conjuntura.“Esse foi apenas um exercício que fizemos para mostrar o como o combate ao desemprego será desafiador para quem estiver no próximo governo”, explica.
Vale lembrar que 2021 é um ponto fora da curva na trajetória do PIB brasileiro. As previsões de avanço do PIB, em torno de 5%, após o tombo de 4,1%, em 2020, precisam de um desconto do carregamento estatístico do ano anterior – que varia de 3,6% a 4,9% –, dependendo do cálculo utilizado. Isso só confirma a tendência de baixo crescimento do país, o que faz analistas não apostarem em uma taxa de desemprego de um dígito tão cedo.
“O desemprego não deverá ficar abaixo de 10% nesta década. A não ser que tenha um milagre, o PIB não vai conseguir crescer 3,5% nos próximos anos e isso significa que o desemprego vai continuar muito alto e a massa salarial não retoma o valor real de 2014”, frisa o economista Simão Silber, professor da Universidade de São Paulo (USP). Ele lembra que o desemprego deu um salto entre 2015 e 2016 e a média atual dos últimos sete anos é ascendente e, sem um crescimento robusto da atividade, o desemprego não tem como diminuir.
Alessandra Ribeiro, sócia da Tendência Consultoria, reforça o raciocínio de Silber. “Por mais que a economia esteja se recuperando, a taxa de desemprego ainda está elevada e, provavelmente, o país deverá recuperar a taxa de ocupação no nível pré-pandemia em maio do próximo ano. Mas o desemprego vai persistir em dois dígitos em um horizonte mais longo”, afirma.  Ela lembra que a informalidade no país – de 40,8% da população ocupada, conforme os dados do Instituto Brasileiro de Economia (IBGE) – é elevada e a retomada do setor de serviços ajuda a melhorar as perspectivas para o mercado de trabalho, apesar de grande parte das vagas nesse segmento serem na informalidade. “As pessoas devem começar a voltar a procurar trabalho, mas o volume de vagas geradas não deverá ser suficiente para absorver o contingente que começa a procurar trabalho de novo.

POBRE PAGA O PATO

Na avaliação do professor da USP, o país caminha para mais uma década perdida do ponto de vista do poder de compra do assalariado. “Em poucas palavras, uma das cicatrizes da pandemia é a piora na distribuição da renda, porque quem vai pagar o pato será o mais pobre. Primeiro, porque perdeu renda com o desemprego e, segundo, porque a inflação triplicou. Isso significa que temos hoje 20 milhões de pessoas com nível de acesso à calorias típico de campos de concentração nazistas”, lamenta Silber.


O economista José Luis Oreiro, professor da Universidade de Brasília (UnB), é um dos analistas que não descartam o cenário de estagflação para a economia em 2022. Ele ressalta que, sem investimento público, não há como o PIB crescer de forma mais robusta. “O crescimento de 1,5% previsto pelo FMI seria o teto. Mas, com essa política de destruição do investimento público e com a incerteza gerada pelo governo, não vejo como recuperar, no curto prazo, o desemprego”, afirma.
Para Oreiro, com a inflação atual, também acima de dois dígitos (10,25% até setembro) corroendo o poder de compra do brasileiro, o salário real não para de encolher, o que compromete outro motor do PIB: o consumo. “Não tem como o consumo puxar o crescimento a curto prazo. O país tem uma crise energética contratada e precisa investir pesado em infraestrutura, mobilidade urbana e em uma economia descarbonizada, como os países desenvolvidos estão fazendo”, destaca.

RISCO DE HISTERESE

O professor da UnB também alerta para o risco de a crise da COVID-19 provocar uma histerese no mercado de trabalho, como na física, criando a tendência de o sistema não conseguir mudar a forma adquirida. Oreiro explica que os danos da pandemia nesse segmento podem ser definitivos sem uma boa política industrial, porque, como uma barra de ferro que, aquecida, entorta e não volta mais à sua forma normal, o mercado de trabalho pode seguir o mesmo rumo.
“O risco da pandemia é o desemprego de longa duração tornar permanente e, com isso, a taxa de desocupação não volta mais ao patamar inicial. E há vários mecanismos que explicam essa histerese. O primeiro é o sucateamento do capital, porque quando a economia entra em recessão, as empresas deixam de investir na modernização do estoque e o nível de emprego diminui por conta do sucateamento. O segundo fator é a desqualificação, quando os trabalhadores ficam muito tempo sem emprego e ocorre uma depreciação nas habilidades”, frisa.


No entender do economista Ecio Costa, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o cenário não é tão desolador para falar em estagflação, mas ele reconhece que o desemprego no país permanecerá elevado por um período prolongado. Para ele, sem mudanças estruturais na economia, como a reforma tributária e a administrativa, não há como o desemprego voltar para menos de um dígito no país. “Houve poucos avanços em plena pandemia e a reforma tributária, que poderia ajudar o emprego industrial, não vai avançar e o país vai continuar crescendo no mesmo ritmo pré-pandemia, de 1%”, lamenta.
Costa critica a reforma do Imposto de Renda, que é a escolhida pelo governo, que fatiou a reforma tributária, porque “não vai ajudar nesse sentido de melhorar o crescimento do país e do PIB per capita, passada a pandemia”. “Para reduzir o desemprego, o governo precisará avançar com medidas que melhorem as regras tributárias e a burocracia, ainda muito engessada, o que é fundamental para um crescimento maior da atividade, que continua muito travada”, afirma.

Economistas temem que série de crises provocadas por Bolsonaro alimente recessão em 2022(Folha de São Paulo, 12/09/2021) 

12 domingo set 2021

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Crise Econômica no Brasil, Crise Política no Brasil, Fim do Bolsonarismo, José Luis Oreiro

Alta da inflação, baixa dos reservatórios de hidrelétricas, real desvalorizado, desemprego resistente. Se o cenário econômico do Brasil neste segundo semestre já seria desafiador para qualquer governante, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) conseguiu deixá-lo ainda mais incerto.

Desde seus discursos com ameaças golpistas, no dia 7 de setembro, aumentou o temor entre os analistas de que a recuperação possa ser mais fraca do que se imaginava e com risco de uma nova recessão. O recuo do presidente nesta quinta-feira (9), em carta na qual diz que não teve intenção de agredir Poderes, trouxe alívio momentâneo ao mercado, que passou para uma posição de maior desconfiança na sexta. Entre economistas, o ceticismo quanto às promessas feitas por Bolsonaro também é expressivo.

“Até quando vamos ter de acreditar nesses recuos? Ele já passou do ponto e depois recuou várias vezes”, diz o professor da UnB (Universidade de Brasília) José Luis Oreiro.

Oreiro diz que pode haver uma desaceleração do crescimento neste ano, que já era esperada devido à alta da inflação, e uma nova recessão em 2022. E afirma que tensão política colocou trouxe novo ingrediente no cenário econômico, já conturbado.

Foto: José Luis Oreiro, Professor Associado do Departamento de Economia da Universidade de Brasília.

“Crise política sempre gera aumento da percepção da incerteza e afeta contratações de trabalhadores e investimento”, diz. “Tudo que Bolsonaro não poderia ter feito era agitar as águas institucionais, mas também mostra que ele não tem preocupação com o Brasil e nem projeto para o país.”

“Os sinais de que a economia brasileira sente o impacto da crise institucional são claros. O humor do mercado é apenas uma parte do abalo causado pela piora do ambiente político-institucional”, resume o ex-ministro da Fazenda e atual secretário da Fazenda e Planejamento do Estado de São Paulo, Henrique Meirelles

Ele diz que, se o governo persistir em novas crises políticas, vai sair ainda mais caro para o país, e isso já aparece nas perspectivas para o ano que vem. “As projeções de crescimento para 2022 vêm sendo reduzidas a cada semana. Basta ver o Boletim Focus, do Banco Central, que esta semana projeta crescimento pela primeira vez abaixo de 2%”.

Os analistas econômicos ouvidos pelo Focus revisaram nesta semana as perspectivas para o PIB (Produto Interno Bruto) de 2022 para 1,93% —há um mês, a previsão era de 2,05% e de 2,5% em janeiro.

O Citi Brasil ajustou as projeções para o PIB do ano que vem de 1,8% para 1,5%; o Itaú já havia ajustado para 1,5%; a MB Associados também havia reduzido suas projeções, para 1,4%, e não descarta novos cortes.

“É unânime entre os analistas que o crescimento deve ficar abaixo de 2%. Já vemos a possibilidade de ficar até abaixo de 1%”, resume o economista da MB Associados e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, José Roberto Mendonça de Barros.

Uma fonte crescente de preocupação entre as famílias brasileiras é a inflação. Nesta quinta-feira, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou que a inflação pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) atingiu 0,87% em agosto, puxada pela gasolina. A taxa é a maior para o mês desde 2000, quando o indicador alcançou 1,31%.

O índice chegou perto de dois dígitos no acumulado de 12 meses, alcançando a marca de 9,68% —bem longe do teto da meta, de 5,25%.

A alta de preços é ainda mais cruel com as famílias de menor renda e também pesa sobre elas o maior percentual de desemprego.

Um estudo divulgado pela FGV Social aponta que a taxa de desemprego da metade mais pobre dos brasileiros subiu quase dez pontos durante a pandemia, de 26,55% para 35,98%.

O fim do ano já seria fraco por conta da inflação, dos juros, da crise hídrica e das incertezas fiscais ligadas ao Orçamento. As últimas ações do presidente jogaram ainda mais incerteza neste cenário, avalia Mendonça de Barros.

“A confluência de crises e a situação econômica difícil trazem uma piora nas perspectivas, caminhando-se para haver no fim deste ano e no começo do ano que vem uma pequena recessão”, diz.

Com a crise armada pelo presidente nos últimos dias, caminhoneiros chegaram a bloquear estradas em diversos estados ao longo dia.

No fim da tarde desta quinta-feira (9), Bolsonaro divulgou uma nota em que recuava após as ameaças golpistas e dizia não ter tido a intenção de ameaçar outros Poderes.

O mercado financeiro reagiu quase que instantaneamente à declaração do presidente, com o dólar terminando o dia em queda de 1,84%, cotado a R$ 5,2270, e a Bolsa subindo 1,72% na quinta-feira, aos 115.360 pontos. Mas voltou a cair na sexta (10), acumulando perdas de 2,26% na semana.

Embora o mais novo giro no discurso do presidente traga alívio aos analistas, eles dizem que a chance de avanço na discussão de reformas robustas diminuiu significativamente, já que os movimentos de Bolsonro acabaram por antecipar o cenário eleitoral do ano que vem.

Os analistas lembram que a crise institucional também torna a questão orçamentária mais incerta, dado que o governo tentava negociar o não pagamento da totalidade dos precatórios (dívidas do governo reconhecidas pela Justiça) no ano que vem.

Mendonça de Barros avalia que o recuo do presidente certamente alivia a tensão no curto prazo, mas a imensa maioria sabe que isso é temporário. “Ele já fez isso antes e depois radicalizou novamente. A carta não necessariamente abre caminho, por exemplo, para a negociação dos precatórios.”

Ele completa que a incerteza se mantém na economia e que decisões importantes de investidores serão postergadas para mais adiante. “A inflação mais uma vez foi além do que o mercado esperava, o que reforça a percepção de desaceleração.”

“Começa a entrar no radar um crescimento bem menor para o ano que vem, próximo de zero. Os juros devem subir bem mais que o esperado”, diz o economista Guilherme Tinoco, especialista em contas públicas.

Ele também diz que a questão fiscal deve ser um problema de difícil solução para o governo em 2022, mesmo que a questão dos precatórios seja resolvida.

“O teto vai crescer, mas a despesa fora do teto vai ser menor. O acirramento das questões políticas deve ser maior no ano que vem e a crise de energia é grave. O único vetor positivo seria a reabertura de alguns setores após a pandemia.”

O movimento do presidente tira um pouco da pressão, mas os problemas e desafios econômicos continuam iguais, afirmaTinoco, assessor especial do governo paulista. “Não significa que o ambiente político ficou mais estável, ele continua tensionado e podemos ver novos avanços e recuos.”

Além disso, as incertezas vão fazer com que os prêmios de risco subam ainda mais, o que afetaria o crédito, prejudicando empréstimos e investimentos.

“Concretamente, os prêmios de risco, tanto no dólar quanto na curva de juros, já subiram”, diz o consultor e ex-diretor do Banco Central Alexandre Schwartsman.

“O primeiro põe mais lenha na fogueira inflacionária; o segundo deprime atividade. Talvez, por si só, isso não jogue o país em uma recessão, mas já colabora para a desaceleração.”

Schwartsman complementa que, caso haja uma nova guinada e a crise provocada pelo presidente se agrave, levando à fuga de capitais, o risco recessivo aumentará. “Não é o cenário que vejo hoje, mas é uma possibilidade bastante concreta.”

Douglas Gavras / Folha de São Paulo

Entenda como Brasil ficou para trás na recuperação da economia no segundo trimestre (Folha de São Paulo, 01/09/2021)

03 sexta-feira set 2021

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DOUGLAS GAVRAS

Quarta-feira, 1 de setembro de 2021 8:09 PM·4 minuto de leitura

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil no segundo trimestre teria avançado como na Europa ou em Israel se a vacinação tivesse começado antes, segundo avaliação de economistas.

Nesta quarta-feira (1°), o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontou uma queda de 0,1% no PIB do segundo trimestre, frustrando as expectativas do Ministério da Economia. Analistas consultados pela agência Bloomberg estimavam crescimento de 0,2% ante o trimestre anterior.

Segundo dados divulgados pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), países em que o ritmo de vacinação é mais forte -e onde pôde ser feita uma flexibilização maior do comércio e dos serviços no período- também registraram um ritmo de recuperação mais forte.

Em Israel, por exemplo, o PIB avançou 3,6% no segundo trimestre ante o trimestre anterior. O país tem, hoje, 60,6% da população totalmente vacinada. Em Portugal, com 73,1%, o aumento no PIB foi de 4,9%. No Reino Unido, 4,8%, com mais de 64,4% da população imunizada.

No Brasil, 29,3% da população está totalmente vacinada, segundo dados da última terça-feira (31).

Em sua conta no Twitter, o secretário de Política Econômica do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida rebateu a comparação feita pelo jornal Folha de S.Paulo com os resultados do Brasil em relação a outros países, como Portugal e Reino Unido, no segundo trimestre.

“Dado que a pandemia afetou os países em trimestres diferentes, creio que a análise mais adequada deveria levar em conta o espaço de quatro trimestres”, escreveu.

Para Armando Castelar Pinheiro, coordenador de Economia Aplicada do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas), o desempenho do Brasil em relação aos outros países no segundo trimestre foi diretamente impactado pela demora na vacinação.

“A vacinação entra na conta dos números da pandemia, pois as vacinas reduzem o número de casos graves e fazem com que a economia consiga reabrir mais rapidamente. O primeiro trimestre foi de retração na Europa, enquanto o segundo trimestre lá foi bom”, diz.

Castelar compara que, no segundo trimestre, os países que foram mais bem-sucedidos na vacinação reabriram muitos serviços, as pessoas estavam mais confiantes e tinham mais liberdade para gastar.

“Se a vacinação no Brasil tivesse começado antes, a economia teria melhorado mais cedo, sem dúvida. Da mesma forma, a situação da pandemia se agravou agora na Coreia do Sul e na China e o terceiro trimestre deve ser ruim na Ásia, já que os governos vão impor mais restrições e as pessoas ficam mais receosas também.”

Para o economista, o terceiro e o quatro trimestres no Brasil ainda preocupam. Agora que os números da pandemia retrocederam, é possível esperar uma recuperação mais consistente dos setores que tinham ficado para trás, como turismo, restaurantes ou transporte público.

“A gente pode viver, embora não com a mesma força, o que a Europa viveu no segundo trimestre. É como se estivéssemos vendo um filme parecido, mas que estreou no Brasil com um trimestre de atraso”, diz.

O economista da UnB (Universidade de Brasília) José Luis Oreiro acrescenta que a aceleração da inflação, com a alta de juros antecipada para tentar conter o aumento de preços, também coloca a economia brasileira em um encruzilhada complexa no segundo semestre.

Professor José Luis Oreiro, do departamento de Economia da Universidade de Brasília.

“Os economistas do mercado financeiro têm uma narrativa de que a economia vai voltar a crescer por mágica, com a reedição das reformas. Essa ideologia vai na contramão de tudo que está sendo feito no mundo desenvolvido.”

Ele também coloca na conta da desconfiança dos agentes econômicos a incerteza elevada pelo risco político, com os ataques do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) aos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e ao sistema democrático.

Para o coordenador do Monitor do PIB da FGV, Claudio Considera, o cenário atual é mais preocupante do que a maior parte dos economistas imaginava anteriormente.

Ele também diz acreditar que os resultados do segundo trimestre devem levar a uma revisão das previsões de crescimento da economia para este ano. “Não tem como ficar otimista este ano. Vamos crescer o suficiente para recuperar o ano passado, mas mesmo assim podemos ter problemas.”

Quem achava que a economia iria crescer 5% em 2021 ainda não tinha colocado a crise hídrica na conta, avalia Considera.

“E ainda tem as provocações de conflitos diários do presidente. Não é de vez em quando, mas todo dia ele causa um dano político que eleva as incertezas e prejudica o funcionamento da economia. Não tem empresário que vai investir assim.”

O APARENTE PARADOXO DAS MANIFESTAÇÕES AO REDOR DO MUNDO (Portal Brasil Debate, 24/06/2019)

25 terça-feira jun 2019

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Helder Lara Ferreira Filho[1]

José Luis da Costa Oreiro[2]

Link da matéria: http://brasildebate.com.br/o-aparente-paradoxo-das-manifestacoes-ao-redor-do-mundo/

Este artigo busca discorrer sobre algumas das manifestações ao redor do mundo, particularmente a francesa e a brasileira. Veremos que há alguns paralelos que podem ser traçados, tanto nas causas como nos possíveis tratamentos para essas insurreições. O economista francês vencedor do prêmio Nobel, Jean Tirole, escreveu recente artigo sobre a turbulência ocorrida em seu país sob a tutela de Emmanuel Macron (Tirole, 2019). Em resposta à Revolta dos “Coletes Amarelos” (“Yellow Vest” Revolt), o presidente resolveu promover um grande debate nacional acerca de alguns tópicos, notadamente: política ambiental, democracia e identidade, tributação e organização do Estado.

Na visão de Tirole, no entanto, os planos de Macron esbarrariam em alguns obstáculos. Para começar, os “Coletes Amarelos” querem a redução da tributação e, também, a ampliação dos serviços públicos. Para o economista, algo que não seria possível num país que possui uma despesa pública de 57% do PIB e uma dívida pública próxima de 100% do PIB. Além disso, os “Coletes Amarelos” reclamam da desigualdade, focando na eliminação recente do imposto sobre riqueza – que representava cerca de cinco bilhões de euros anuais ao governo. Para Tirole, isso seria irrelevante perto dos 188 bilhões de euros arrecadados com o Imposto de Valor Adicionado (IVA) francês, e se comparado a outros fatores explicativos da desigualdade (educação e acesso ao mercado de trabalho, para ele). Adicionalmente, Tirole alega que há uma percepção equivocada da opinião pública sob alguns assuntos econômicos, como por exemplo, que a tributação privilegia os mais ricos. Por fim, o autor considera que parte da solução deveria ser avaliar o propósito de cada serviço público, sua relação custo-benefício e se há melhores alternativas – o que os canadenses ou os escandinavos teriam feito nos anos 1990, quando enfrentavam elevação da dívida pública e alto desemprego.

Toda essa situação soa de alguma forma familiar? Pois é, em 2013, o Brasil também observou suas próprias manifestações populares, com múltiplas demandas por parte dos manifestantes – a não elevação da tarifa de ônibus, a realização de uma reforma política, a melhoria da qualidade e a expansão dos serviços públicos, dentre vários outros. A então presidente Dilma Rousseff, ao ser surpreendida com esses grandes movimentos populares, optou convocar um pacto nacional sob cinco aspectos (Globo, 2013): responsabilidade fiscal, reforma política, saúde, transporte e educação. Como se sabe, a estratégia de Dilma não se mostrou exitosa – o que até poderia servir de alerta para Macron, que seguiu uma estratégia similar, como salientado anteriormente. Portanto, assim como na França, parte da população brasileira também reivindicou, em última instância, a redução da carga tributária e, concomitantemente, a melhoria/ampliação dos serviços públicos. Isto pode parecer uma incongruência, como indicado por Tirole, ou dito de outra maneira, um aparente paradoxo. Mas será que o é, realmente?

Vejamos, primeiramente, o caso francês. Para Tirole, o imposto sobre riqueza que fora extinto gerava valores pouco significantes no orçamento anual francês e há outros fatores mais importantes para explicar a desigualdade. Além disso, haveria uma percepção equivocada da população que a estrutura tributária francesa privilegia os mais ricos. O primeiro argumento não justifica a extinção do tributo, por si só. O tributo sobre a riqueza tem o potencial de reduzir a desigualdade, mesmo que minimamente, principalmente se aplicado em políticas públicas com essa prioridade e enfoque. Ademais, a priori, não haveria um impeditivo de se incrementar esse tributo de forma a elevar seu peso no orçamento francês. Apenas a título de exemplificação, Saez; Zucman (2016) estimam que a implantação de um tributo sobre riqueza nos EUA poderia gerar cerca de duas centenas de bilhões de dólares anuais ao orçamento estadunidense. Ou seja, nada impediria, a princípio, um incremento na arrecadação com um tributo semelhante para algumas dezenas de bilhões de euros anuais no caso francês. Além do mais, não é porque existem outras razões geradores de determinado problema que se deva ignorar uma outra possível fonte desse problema.

Sobre a outra afirmativa de Tirole, vale observar os dados sobre as características da tributação na França, no Gráfico 1 abaixo.

De fato, houve uma modificação na estrutura tributária francesa no sentido de se elevar o peso daqueles tributos mais progressivos, ou seja, exatamente os tributos sobre renda, lucros e ganhos de capital, além daqueles sobre propriedade – passaram de uma parcela perto de 22% para cerca de 32% da receita total entre 1990 e 2016. Inversamente, aqueles tributos mais regressivos, notadamente, os tributos sobre bens e serviços, tiveram uma redução de 28% para 24%. No entanto, apesar disso, Tirole parece ignorar toda a discussão reavivada por Piketty (2014) sobre a concentração de renda e riqueza dos 1% e 0,1% mais ricos das populações de cada país, e possíveis soluções para essa questão, como tributações específicas para esses grupos. Nos EUA, por exemplo, a riqueza do 0,1% mais rico é bastante similar daquela dos 90% mais pobres (Piketty et al., 2018) – na França, apesar de a disparidade entre ricos e pobres ser menos extrema do que nos EUA, ainda é bastante relevante (France 24, 2019). Ainda assim, existem evidências de que as reformas tributárias propostas beneficiam exatamente o grupo dos 1% mais ricos na França (Financial Times, 2019).       

Mas e o Brasil, como figura nessa questão? Vejamos no Gráfico 2, abaixo.

Como é possível verificar, a tributação, no Brasil, se concentra em tributos indiretos e regressivos, como é o caso daqueles sobre bens e serviços, chegando a representar cerca de 40% do total da receita tributária brasileira. Enquanto isso, a receita com tributos sobre renda, lucros e ganhos de capital, além daqueles sobre propriedade não representavam nem 30% da receita total em 2016. Isto está na contramão do apresentado pelos países integrantes da OCDE, em que os tributos se concentram naqueles diretos e progressivos – em 2016, a média desse grupo de países apresentou 33% e 39%, respectivamente, nessas duas categorias de tributos, ou seja, quase que o inverso da situação brasileira. Além disso, o Brasil é um dos únicos países a isentar a distribuição de dividendos e praticamente não existem  tributos sobre grandes riquezas. E tem sido um dos países mais desiguais do mundo há muito tempo, o que causa essa sensação de injustiça por parte da população brasileira.

Portanto, como solucionar esse aparente paradoxo apresentado pelas manifestações ao redor do mundo, particularmente a francesa e a brasileira, abordadas aqui, em que são demandados a redução dos tributos e a ampliação dos serviços públicos? A resposta, evidentemente, é complexa e tem diversos aspectos. Claramente, é possível adotar uma das próprias indicações de Tirole, qual seja, cada país passar a avaliar mais efetivamente cada serviço público, sua relação custo-benefício, se há melhores alternativas e se há outras prioridades.

Entretanto, parte da resposta passa, ao contrário do que parece pensar o economista francês, numa reforma tributária que ganhem peso os tributos mais progressivos em lugar daqueles mais regressivos (isto particularmente para o caso brasileiro) e, adicionalmente, na estruturação de tributos focados especificamente no grupo dos 1% (e mesmo nos 0,1%) mais ricos. Com isso, a maioria da população até poderia ter uma menor tributação (pelo menos relativa) e, com a criação de tributos mais específicos para os “super-ricos”, poderiam ser gerados recursos que contribuiriam para a expansão dos serviços públicos, pelo menos atenuando o paradoxo apontado neste texto. Vale dizer que uma reforma tributária no Brasil é ainda mais importante, dada tamanha complexidade dessa matéria por aqui (horas necessárias para se pagar o imposto muito destoastes do resto do mundo), o que acaba gerando um substantivo grau de litígio, distorções alocativas – prejudicando a eficiência econômica – e cumulatividade. Contudo, uma reforma tributária preocupada com questões distributivas não foi algo que Dilma fez e, tampouco, parece algo que Macron esteja disposto a fazer, ou mesmo o atual governo brasileiro.

Referências:

Globo. Dilma propõe 5 pactos e plebiscito para constituinte da reforma política, 2013. Disponível em: <http://g1.globo.com/politica/noticia/2013/06/dilma-propoe-5-pactos-e-plebiscito-para-constituinte-da-reforma-politica.html&gt;.

Financial Times. France’s richest gain most from Emmanuel Macron’s tax reforms, 2019. Disponível em: <https://www.ft.com/content/728cc752-1e7e-11e9-b126-46fc3ad87c65&gt;.

France 24. Yellow vests: are France’s working poor being left behind?, 2019. Disponível em: <https://www.france24.com/en/20190129-yellow-vests-france-working-poor-left-behind-economic-uncertainty-income-inequality&gt;.

Piketty, T. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2014.

Piketty, T.; Saez, E.; Zucman, G. Distributional national accounts: methods and estimates for the United States. Quarterly Journal of Economics, 133, no. 2, 2018.

Saez, E.; Zucman, G. Wealth Inequality in the United States since 1913: evidence from capitalized income tax data. Quarterly Journal of Economics, 131, 2016.

Tirole, J. Macron’s Great Gamble, Janeiro de 2019. Disponível em: <https://www.project-syndicate.org/commentary/macron-yellow-vest-citizen-consultation-by-jean-tirole-2019-01&gt;.

 

 

 

 

 

 

 

 

[1] Aluno do Programa de Doutorado em Economia da Universidade de Brasília, área de concentração em Economia Política. E-mail:

[2] Professor Associado do Departamento de Economia da Universidade de Brasília, Pesquisador Nível IB do CNPq e Pesquisador Associado do Centro de Estudos do Novo-Desenvolvimentismo da FGV-SP. E-mail: joreiro@unb.br. Página Pessoal: www.joseluisoreiro.com.br.

2017: Crescimento Zero? (Diário de Comércio e Indústria, 08/12/2016)

08 quinta-feira dez 2016

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2017 previsões, Crise Econômica no Brasil

O ano de 2016 está em vias de terminar sem nenhum sinal perceptível de recuperação do nível de atividade econômica no Brasil. A recessão atual se iniciou no segundo semestre de 2014 e já é a mais longa e profunda queda do nível de atividade econômica desde a grande depressão de 1929. Com efeito, basta olhar para os dados da produção física da indústria de transformação para que tenhamos uma medida clara da gravidade da crise. Com base na média móvel do quantum produzido pelos diversos segmentos da indústria pode-se constatar que entre janeiro de 2013 e agosto de 2016 a produção bens de consumo durável se reduziu 34%, a produção de bem intermediários caiu 12,5%, a produção de bens de capital sofreu um tombo de 33,72%, ao passo que a produção de bens de consumo semi e não duráveis se reduziu em 7,1%. Além disso, a exuberância (irracional) exibida pelos mercados financeiros no Brasil com o impeachment da Presidente Dilma Rouseff não se traduziu em recuperação da atividade industrial. De fato, no período compreendido entre maio e agosto de 2016, a atividade industrial (captada pela média móvel dos últimos 12 meses) continuou sua trajetória de queda: a produção de bens de consumo durável caiu 3,38%, a produção de bens intermediários se reduziu em 1,6% e a produção de bens de capital caiu 0,9%. O único segmento da indústria de transformação que apresentou uma relativa estabilidade – mas com viés de queda – foi a produção de bens de consumo semi e não-duráveis, com queda de apenas 0,08% no período.

A continuidade do movimento de queda da atividade industrial acabou se refletindo nas expectativas de crescimento econômico para 2017. Recentemente o Ministério da Fazenda reviu sua projeção de crescimento para o ano que vem de 1,6% para apenas 1%. Já o IBRE-FGV espera um crescimento bem mais modesto que o da equipe econômica do governo, apenas 0.5%.

Esses desdobramentos apontam para uma verdade inescapável: a tese de que bastaria uma mudança no comando político do país para restaurar a confiança dos mercados e produzir, como por mágica, o retorno do crescimento econômico não passa de conta de fadas. A recuperação do nível de atividade econômica exige expansão da demanda agregada, do contrário, as empresas não irão produzir pelo simples fato de que não terão para quem vender!  Dada a capacidade ociosa prevalecente hoje na indústria e o alto nível de endividamento das empresas do setor privado, não podemos esperar que a expansão da demanda agregada venha a partir do investimento privado. O aumento do desemprego e a contração do crédito bancário também impedem que a demanda agregada seja gerada a partir dos gastos de consumo das famílias. Por fim, a crise fiscal da União e dos demais entes federativos torna inviável o uso de política fiscal anticíclica nos próximos (muitos) anos. A única saída é incentivar as exportações de produtos manufaturados o que exige manter uma taxa de câmbio competitiva, provavelmente em torno de R$ 3,80. Para tanto é necessário que o Banco Central do Brasil acelere o processo de redução da taxa básica de juros, promovendo cortes de 0.5 ou 0.75 p.p a cada reunião do COPOM. Sem isso, o Brasil estará condenado a um crescimento próximo de zero no ano de 2017.

O que está acontecendo com o COPOM?

01 quinta-feira dez 2016

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Coordenação entre a política monetária e fiscal, Crise Econômica no Brasil, Erros do Banco Central do Brasil

Na reunião do Comitê de Política Monetária (COPOM) realizada ontem, a autoridade monetária decidiu por uma nova redução cosmética da taxa de juros de apenas 0,25 p.p, levando a taxa selic para 13,75% a.a. Considerando uma projeção de inflação (no cenário de referência do BCB em outubro de 2016) de 4,4% para o ano de 2017 o nível atual da selic significa um juro real ex-ante de incríveis 8,9% a.a, no contexto de uma economia que está em recessão a sete trimestres consecutivos e onde os dados recentemente divulgados sobre o PIB do terceiro trimestre mostram uma aceleração na margem da queda do nível de atividade econômica de -0,4% no segundo trimestre para -0.8% no terceiro trimestre.

No comunicado divulgado ontem para a imprensa, a diretoria do BCB justifica a decisão de manter o passo de cágado no processo de redução da taxa de juros com base na avaliação de que o ambiente externo – leia-se eleição de Donald Trump – torna mais incerta a condução da política monetária nos Estados Unidos, o que afeta a capacidade do PIB mais fraco em afetar mais favoravelmente a dinâmica da taxa de inflação no Brasil.

Essa “justificativa” do BCB esbarra em dois problemas. O primeiro é que o FED – ao contrário do BCB – tem independência com respeito ao poder executivo de forma que o presidente eleito dos Estados Unidos não pode simplesmente obrigar o FED a aumentar a taxa de juros, se essa não for a vontade da autoridade monetária americana. Uma elevação forte da taxa de juros nos Estados Unidos pode advir, contudo, de uma aceleração do crescimento da economia norte-americana, caso o governo Trump consiga implementar um pacote de estímulo fiscal. Não se trata, portanto, de um risco de curto-prazo, mas de médio-prazo. Mesmo nesse cenário o BCB possui instrumentos para reduzir a volatilidade da taxa de câmbio, diminuindo assim o impacto inflacionário advindo desse cenário.

O segundo problema é que de acordo com as projeções feitas pelos modelos econométricos do BCB – que baseiam o chamado cenário de referência – a inflação prevista para 2017 e 2018 já se encontra abaixo do centro da meta de 4,5% definida pelo Conselho Monetário Nacional. De fato, em outubro passado o cenário de referência apontava para uma inflação de 4,3% para 2017 e de 3,9% para 2018, sinal claro de que não só a autoridade monetária prevê a convergência para o centro da meta de inflação em 2017, como ainda espera que a inflação fique muito abaixo do centro da meta em 2018. Nesse contexto, o protocolo do regime de metas de inflação indica a necessidade de uma redução da taxa de juros para impedir um custo desnecessário em termos de queda do nível de atividade econômica.

Se os modelos econométricos do BCB indicam a necessidade de um corte (agressivo) da taxa de juros, qual a razão da relutância da diretoria do COPOM em acelerar o passo ? Uma explicação possível é que embora as projeções da equipe técnica do BCB apontem para uma inflação abaixo da meta em 2017 e 2018, as expectativas de mercado ainda se encontram (levemente) acima do centro da meta. Com efeito, em outubro o cenário de mercado apontava para uma inflação de 4,9% para 2017 e 4,7% para 2018. Havendo divergências entre as projeções da equipe técnica do BCB e as projeções do mercado, o BCB deve arbitrar sempre pelas suas próprias projeções, a não ser que ele tenha razões para desconfiar da acuidade de seus modelos de previsão. Nesse caso, o correto seria trocar os modelos – ou a equipe técnica – e comunicar o ocorrido para a sociedade.

Uma segunda explicação tem com base a economia política. A ideia é que a diretoria do BCB estaria deliberadamente retardando o ciclo de redução da taxa de juros para aprofundar a queda do nível de atividade econômica e assim criar a sensação de urgência necessária para o Congresso Nacional votar e aprovar as medidas de ajuste fiscal propostas pelo Ministério da Fazenda. Ainda segundo essa linha de interpretação, um afrouxamento monetário mais tempestivo, ao levar a uma recuperação do nível de atividade econômica, poderia produzir uma sensação de alívio entre os parlamentares, fazendo com que os mesmos perdessem o sentido de urgência, ou até mesmo o sentido de necessidade, de aprovar não apenas a PEC 241/55, como ainda a reforma da Previdência Social. Essa interpretação tem algum respaldo no trecho do comunicado divulgado ontem pelo BCB no qual lê-se que “o processo de aprovação e implementação das reformas e ajustes necessários na economia é lento e envolve incertezas”.

Qualquer que seja a explicação para a relutância irracional do BCB em acelerar o processo de redução da taxa selic, a diretoria do BCB deveria refletir profundamente sobre a advertência de Luiz Carlos Mendonça de Barros feita no Valor Econômico de hoje: “Se o Banco Central não agir direito, pode transformar a recessão em depressão“.

 

 

Só a Confiança não Salva (Diário de Comércio e Indústria, 07/11/2016)

07 segunda-feira nov 2016

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Crise Econômica no Brasil, Oreiro

Nos últimos meses temos observado um aumento da confiança dos agentes econômicos na performance da economia brasileira. O índice BOVESPA está acima de 60 mil pontos, a taxa de câmbio se apreciou, ficando abaixo de R$ 3.20 e o índice de expectativas dos empresários industriais se encontra acima do valor verificado em setembro de 2014. Alguns economistas interpretam esses números como um sinal claro de que a economia brasileira está pronta para iniciar um processo de recuperação cíclica, apresentando um crescimento perto de 2% em 2017, e próximo a 4% em 2018. Esse otimismo se baseia no pressuposto de que o retorno da confiança é condição necessária para que os empresários voltem a investir. Dessa forma, a retomada do crescimento da economia brasileira seria puxada pela expansão do investimento privado em expansão da capacidade produtiva.

Esse prognóstico é excessivamente otimista, pois desconsidera que o retorno da confiança é condição necessária, mas não suficiente, para a retomada do investimento privado em expansão da capacidade. Com efeito, para que os empresários se sintam estimulados a investir, não basta que eles estejam mais otimistas, é necessário também que as empresas não estejam operando com excesso indesejado de capacidade; uma vez que o investimento em expansão da capacidade só faz sentido quando não existe mais capacidade ociosa para ser ocupada e assim atender ao crescimento esperado das vendas.

O problema é que quando olhamos para os dados de capacidade ociosa na indústria verificamos que a média móvel dos últimos 12 meses do grau de utilização da capacidade instalada tem caído continuamente à dois anos. De fato, o grau de utilização da capacidade produtiva em setembro de 2016 é 11,59% mais baixo do que o valor verificado em setembro de 2014.  Nesse contexto, é pouco provável que os empresários estejam dispostos a realizar novos investimentos, por mais otimistas que estejam. A atitude racional será esperar até que o crescimento da economia leve a um aumento das vendas e, dessa forma, a redução da capacidade ociosa.

Sendo assim, não é razoável esperar que a retomada do crescimento será puxada pelo investimento privado em expansão da capacidade produtiva. Aqui nos deparamos com um sério problema. Se não é pelo investimento privado, de onde virá a demanda necessária para reativar a economia? Certamente não virá do setor público, dada a crise fiscal que a União se encontra, a qual produziu uma retração do investimento público para 0.5% do PIB, uma queda de 0.9 p.p com respeito ao valor verificado em 2014. Também não será puxada pelo consumo dada o forte aumento da taxa de desemprego verificada nos últimos dois anos. A única alternativa seria puxar a retomada por intermédio das exportações, como a Espanha fez para escapar dos efeitos recessivos da Crise do Euro. No primeiro semestre de 2016 o Brasil vinha ensaiando essa saída para a crise em função do efeito que o câmbio desvalorizado teve sobre as exportações industriais. Contudo, a obstinação irracional do BCB em atingir o centro da meta de inflação já em 2017, retardou o ciclo de redução da taxa selic, fazendo com que boa parte do ajuste cambial feito em 2015 fosse perdido. A redução de 0,25 p.p feita na ultima reunião do COPOM foi muito pouco e muito tarde para salvar o ano de 2017. Talvez consigamos voltar a crescer em 2018.

 

Câmbio, salários e desemprego (Diário de Comércio e Indústria, 26/07/2016)

26 terça-feira jul 2016

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Crise Econômica no Brasil, José Luis Oreiro

Um aspecto importante do ajuste macroeconômico feito ao longo do ano de 2015 foi a expressiva desvalorização da taxa nominal de câmbio. Com efeito, a taxa de câmbio sofreu uma desvalorização de 46,68% entre janeiro e dezembro de 2015. Em função disso, as exportações de manufaturados começaram a apresentar os primeiros sinais de recuperação no início de 2016, reduzindo assim o ritmo de queda da produção industrial decorrente do derretimento da absorção doméstica em 2015.

Não se deve atribuir, contudo, a desvalorização do câmbio às medidas de política econômica tomadas pela presidente da República afastada, Dilma Rousseff (PT). A mudança do patamar da taxa de câmbio foi a resposta “natural” da economia a uma mudança nos “fundamentos”, em concreto, a deterioração dos termos de troca devida a redução dos preços das commodities nos mercados internacionais e ao aumento do prêmio de risco soberano devido às incertezas associadas a trajetória da dívida pública, tida como insustentável por parte dos analistas financeiros.

A política econômica, na verdade, jogou contra esse ajuste, na medida em que as operações de swap cambial realizadas pelo Banco Central do Brasil, ao funcionarem como substitutos de operações de venda de reservas no mercado à vista, acabaram por limitar o movimento de desvalorização cambial.

A partir de janeiro de 2016 se verificou um movimento de reversão, ainda que parcial, desse processo de ajuste da taxa de câmbio. Entre janeiro e junho de 2016, a taxa nominal de câmbio apresentou uma valorização de 20,60%, devolvendo assim uma parte significativa dos ganhos de competitividade que a indústria havia obtido com o ajuste do ano anterior. Certamente que a valorização observada da taxa de câmbio deve-se a uma melhoria nos “fundamentos”: os termos de troca apresentaram uma pequena valorização e a percepção de risco de insolvência fiscal diminuiu após o impeachment de Dilma.

Os economistas liberais se mostram satisfeitos com o comportamento da taxa de câmbio. Afinal de contas se o regime cambial é flutuante, a dinâmica do câmbio deve refletir as forças de oferta e demanda. Nesse caso, o nível do câmbio é necessariamente certo, pois o equilíbrio de mercado é sempre eficiente.

Um problema que os economistas liberais negligenciam no atual processo de valorização da taxa de câmbio é que se o mesmo não for revertido; então a competitividade da indústria de transformação só poderá ser restaurada (se é que o será) por intermédio de uma forte redução dos salários dos trabalhadores. Dessa forma, o custo unitário do trabalho em reais poderá se reduzir, contrabalançando a valorização da taxa de câmbio.

De que forma os salários são reduzidos? Isso ocorre por intermédio da diferença entre o salário dos admitidos e o salário dos desligados. As firmas demitem um trabalhador mais experiente, que ganha um salário mais alto, e contratam um novo trabalhador para o seu lugar, por um salário mais baixo. Para que esse processo reduza o salário médio da indústria é necessário que aquela relação diminua ao longo do tempo, ou seja, que os salários dos admitidos sejam uma proporção declinante dos salários dos desligados. Está claro que não se trata de um processo espontâneo. Para que isso ocorra é necessário um aumento significativo da taxa de desemprego.

jose.oreiro@ie.ufrj.br

Professor de Economia da UFRJ

José Luis Oreiro

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Graduado em Economia pela FEA-USP. Mestre e Doutor em Economia pela Fundação Getúlio Vargas em São Paulo. Foi pesquisador visitante nas Universidades de Cambridge UK e Columbia NY. Foi economista, gestor de fundos e CEO em instituições do mercado financeiro em São Paulo. É professor de economia na FGV-SP desde 2002. Brasil, uma economia que não aprende é seu último livro. Conselheiro da FIESP e Economista-chefe do Banco Master

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