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A taxa de investimento se encontra nos últimos anos  um poouco abaixo de 20% do PIB. Trata-se de uma taxa insuficiente para gerar um crescimento sustentado de 4,5% a.a que é a meta de crescimento do governo. Com essa taxa de investimento, a economia brasileira pode crescer a um ritmo pouco superior a 3% a.a sem gerar pressões inflacionárias. Para ter um crescimento sustentado  de 4,5% a.a, a taxa de investimento deve ser de 24% do PIB. Por que a economia brasileira não consegue investir o suficiente para alcançar a meta de crescimento do governo? Economistas ortodoxos argumentariam que o problema do Brasil é escassez de poupança privada, ou seja, o Brasil investe pouco porque poupa muito pouco. Como Keynesiano não acredito nessa explicação. Existem diversos mecanismos pelos quais a poupança se ajusta ao investimento desejado pelos empresários. O problema não é a escassez de poupança, mas o baixo incentivo ao investimento. O incentivo ao investimento no Brasil é baixo porque nossa economia é pouco competitiva. A baixa competitividade da economia brasileira decorre de duas razões fundamentais.

Em primeiro lugar, a tendência crônica a apreciação da taxa de câmbio que se verifica desde o final da década de 1980. A apreciação crônica da taxa real de câmbio reduz a competitividade da indústria nacional, induzindo um movimento de substituição da produção doméstica por importações, o que gera o fenômeno da desindustrialização que a economia brasileira verificou nos últimos anos. Nesse contexto, o empresário industrial, ao invés de investir para aumentar a capacidade de produção de suas plantas, transforma a sua empresa numa “maquiladora”, limitando-se a montar e embalar produtos manufaturados importados do exterior. Uma segunda causa da baixa competitividade da economia brasileira é o tamanho e a qualidade da infra-estrutura brasileira. Quando comparamos o Brasil com os países desenvolvidos, ou mesmo alguns países em desenvolvimento, notamos, a olho nu, que o Brasil tem grandes deficiencias em transportes e logística. Alem disso, a energia elétrica produzida no Brasil é muito cara para padrões internacionais. Tudo isso decorre da capacidade reduzida do Estado Brasileiro em alavancar recursos para o financiamento do investimento em infra-estrutura. Isso porque o gasto público no Brasil está excessivamente concentrado em consumo, sobrando pouco espaço para o investimento. Por fim, nos ultimos anos os salários reais tem crescido acima da produtividade do trabalho, o que levou a uma redução da margem de lucro das empresas, fazendo com que a capacidade de auto-financiamento das mesmas se reduzisse. O crescimento dos salários acima da produtividade contribuiu também para o aumento do custo unitário do trabalho em reais, diminuindo assim a competitividade da industria nacional.

Acredito que o setor privado pode desempenhar um papel importante na realização de algumas obras de infra-estrutura, necessárias para o aumento da competitividade da economia brasileira. Mas esse papel é, e sempre será, coadjuvante. Isso porque o investimento em infra-estrutura gera uma série de externalidades, as quais não são captadas pelo sistema de preços. Dessa forma, o investimento privado será sempre menor do que o socialmente ótimo, cabendo ao governo a tarefa de investir onde o retorno social seja superior ao retorno privado.

Dessa forma, para aumentar  a taxa de investimento é necessário assegurar uma taxa real de câmbio competitiva a médio e longo-prazo, aumentar de forma significativa o investimento público em infra-estrutura e induzir os sindicatos a aceitar uma política de “moderação salarial”, vinculando o aumento do salário real ao crescimento da produtividade do trabalho.   

Falta falar ainda sobre o “problema dos juros”. Não faz muito tempo se dizia que os empresários não investiam pelo fato de que as taxas de juros muito altas praticadas no Brasil remuneravam melhor o capital do que os investimentos produtivos. Com o juro real das aplicações já abaixo de 2%, será que os juros altos deixaram de ser um  obstáculo ao aumento do investimento no Brasil? 

Antes de mais nada temos que ter claro que a questão relevante que ainda não foi respondida é se essa redução do juro real é permanente ou temporária. Desde meados de 2011 o BCB vem realizando um ciclo de redução da taxa Selic, a qual levou o juro real ao seu valor mínimo nos últimos 20 anos. O problema é que essa redução foi feita num contexto de crise internacional, com queda dos preços das commodities (o que tem impacto favorável sobre a dinâmica da taxa de inflação no Brasil) e redução do ritmo de crescimento da economia brasileira. Em 2011 a economia brasileira cresceu 2,7%. Em 2012 o crescimento deverá ficar abaixo de 1%. Claramente trata-se de um ritmo muito baixo de crescimento da economia brasileira, o que abre uma avenida para a redução da taxa de juros. Mas essa redução só será permanente se tiver sido acompanhada por uma redução do juro de equilíbrio da economia brasileira. Nos últimos 18 meses a participação das LFTs na dívida pública mobiliária federal apresentou uma redução significativa, o que certamente contribui para a redução do juro de equilíbrio. Além disso, o governo da Presidente Dilma Rouseff vem se esforçando no sentido de controlar o ritmo de crescimento dos gastos de consumo e de  custeio do governo, o que certamente atua no sentido de reduzir o juro de equilíbrio. Mas ninguém sabe hoje qual é o valor do juro de equilíbrio no Brasil. Recentemente, o BCB numa pesquisa junto ao mercado financeiro concluiu que o juro de equilíbrio encontra-se em torno de 5,5% a.a. Considerando uma meta de inflação de 4,5% a.a temos uma Selic de equilíbrio de 10% a.a, ou seja, ainda na casa dos dois dígitos. Acredito, portanto, que a era dos juros altos ainda não terminou.