Engenheira Magda Chambriard, que foi responsável pela ANP sob Dilma, assumirá presidência da companhia 14.mai.2024 às 22h52A troca de comando na Petrobras, após a demissão de Jean Paul Prates pelo presidente Lula (PT), foi vista com preocupação por economistas. Para o posto de Prates, o presidente indicou a engenheira Magda Chambriard, que comandou a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis) no governo Dilma Rousseff (PT). Na avaliação do economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, a Petrobras segue sofrendo ingerências preocupantes por parte do governo, a política de precificação não está pacificada e há defasagens acumuladas de preços que terão que ser revistas. “Fica um cheiro no ar de gestão ao estilo de Dilma, algo que vai ser importante acompanhar nos próximos meses. Não foi um bom sinal, considerando o que parecem ser as motivações para a troca de Prates”, diz. Segundo o economista, o governo está criando ruídos excessivos em várias áreas nos últimos meses: fiscal, monetária e, agora, na Petrobras. “Não se sabe também qual caminho de investimentos será seguido, mas parece se tratar de uma aposta para acelerar plantas de refino, o que justamente não deu certo nas últimas décadas”, acrescenta Vale.
“Há duas possibilidades e a que parece mais provável é a disputa de espaço dentro do governo, a partir da tensão entre Prates e o ministro de Minas e Energia, que acabou ganhando essa briga. Nesse cenário, não haveria uma grande mudança na empresa”, diz o professor da UnB (Universidade de Brasília) José Luis Oreiro.
Uma segunda interpretação seria ter uma briga interna em torno da política de preços da petroleira. Prates pregava uma suavização dos preços e existe uma defasagem ante o mercado externo, completa o economista. “As pessoas estavam acostumadas a ver a empresa como uma ‘vaca leiteira’, que saía distribuindo lucros. Durante os governos Michel Temer e Jair Bolsonaro, a Petrobras fez desinvestimentos, sendo que ela precisa diversificar seus investimentos para incluir as energias renováveis. Nesse sentido, Prates fez uma boa gestão.” Sobre a reação da Bolsa, Oreiro diz que as oscilações de curto prazo são normais. “Se o governo se pautar por isso, vai ficar perdido, o mercado vive disso e assim ganha dinheiro. Basear mudanças no humor do mercado seria uma falta de sentido completo”, diz. “A impressão que se tem é que a decisão do presidente Lula foi no sentido de forçar a Petrobras rumo ao investimento, o que ele tem todo o direito de fazer, mas inevitavelmente o efeito de curto prazo é a perspectiva de que o preço corrente das ações deve ser descontado”, diz o economista André Perfeito. Prates vinha sendo alvo de um processo de fritura nos últimos meses, depois de receber críticas do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, à sua abstenção em votação de proposta do governo para reter dividendos extraordinários referentes ao resultado de 2024, medida que havia sido negociada com Lula. Em nota, Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, lembra que já era evidente um desgaste significativo no âmbito político envolvendo Jean Paul Prates e os demais ministros. Segundo ele, embora Prates tenha sido nomeado presidente da Petrobras com a expectativa de promover mudanças substanciais na gestão e no foco estratégico da empresa, “observa-se trimestre após trimestre que tais expectativas não se concretizaram”. Também em nota, a Ativa Investimentos classificou a mudança como negativa, uma vez que Prates vinha desempenhando o que a casa classificava como um “bom papel na companhia, equilibrando os interesses econômicos e políticos da empresa com sabedoria”. “Hoje, nos resultados do primeiro trimestre de 2024, quando participou apenas via vídeo, Prates ressaltou seu compromisso com a remuneração do investidor e o investimento em ativos de petróleo, o que voltará a ficar sob reavaliação após a nova mudança de gestão.”
Tenho observado uma grande lacuna na formação dos alunos do curso de pós-graduação em economia, não só na Universidade de Brasília como também em outros programas de pós-graduação, no que diz respeito ao conhecimento dos artigos e livros seminais da Economia do Desenvolvimento Econômico. A maioria dos discentes nunca teve contato com os textos originais dos fundadores da disciplina de Desenvolvimento Econômico como Rostow, Lewis, Rosenstein-Rodan, Hirschman, Polanyi, Gershenskron, Prebisch, entre outros. Isso sem contar autores mais recentes como Amsden e Reinert que atualizaram a Teoria do Desenvolvimento Econômico para o contexto atual da globalização e da experiência bem sucedida dos Estados Desenvolvimentistas do Leste da Ásia.
No final do ano passado reuni um grupo de alunos da pós-graduação em economia da UnB para dar início a um grupo de estudos sobre o tema, mas infelizmente a ideia não foi adiante por falta de tempo de ambas as parte.
Dessa forma, decidi ofertar no primeiro semestre de 2024 uma disciplina extra na pós-graduação em economia da Universidade de Brasília para tratar dessa temática. Como não havia prazo hábil para criar uma nova disciplina, a solução de curto-prazo foi ofertar o conteúdo da disciplina de “leituras em desenvolvimento econômico” com o nome de “Tópicos Especiais em Desenvolvimento Econômico”, a qual já constava na lista de disciplinas optativas do programa de pós-graduação.
Aqueles e aquelas que desejarem se inscrever na disciplina como alunos regulares ou especiais, o programa do curso podem ser obtido em http://www.joseluisoreiro.com.br/ver_cursos_graduacao.php?curso=63. Caso algum aluno do programa de pós-graduação em economia da UnB tenha feito essa disciplina, mas com outro conteúdo, eu já pedi para a secretaria do programa de pós-graduação a matrícula numa disciplina com código diferente.
Stages of Economic Development and Tokyo Consensus: A Critical Review of Koo´s Pursued Economy (2022)
José Luis Oreiro
Associate Professor at Economic Department of University of Brasilia and of the Graduate Program in Economic Integration of the University of Basque Country (Bilbao-Spain), Level I Researcher at National Council for Scientific and Technological Development and Coordinator of the Structuralist Development Macroeconomics Research Group
At the beginning of 2024 I have been dedicating, among other activities, to reading the book “Pursued economy: understanding and overcoming the challeging new realities for advanced economies” authored by Richar Koo (https://en.wikipedia.org/wiki/Richard_Koo), currently chief economist at the Nomura Research Institute in the city of Tokyo, Japan.
The aim of the book is to analyze the problem of the secular stagnation of high-income economies (Japan, Western Europe and the United States) in the last 30 years, resulting from the bursting of the Japanese real estate bubble in 1991 and the international financial crisis in 2008. This theme had already been addressed in his 2008 book entitled “The holy grail of macroeconomics: lesson ́s from Japan ́s great recession” where the author presented the concept of “balance sheet recession”. In his new book, Koo extends the analysis made in the 2008 book by incorporating a theory of the stages of economic development, largely based on Lewis (1954) and Rostow (1960), to his macroeconomic framework based on Keynes (1936) and Minsky (1982), as well as some ideas from the theory of functional finance (although none of these influences are acknowledged by the author).
But let’s get to the point. The idea of a balance sheet recession is quite simple. During the expansion phase of a speculative bubble, firms and/or households are increasing their degree of leverage by borrowing to buy assets whose spot market price increases cumulatively due to the combination of bank credit expansion and short-term inelasticity of the supply of these assets. In general, the object of the speculative bubble is real assets such as real estate (commercial and residential), whose elasticity of supply is low in the short term. As long as demand for real estate grows faster than supply, prices will rise, fueling the bubble and, in this way, the leverage of private sector players. The increase in the price of real estate in the spot market will stimulate the production of new units, thereby increasing gross fixed capital formation due to increased residential investment. The increase in investment stimulates the creation of income and employment, causing the economy to enter a period of accelerated growth, as we can see in the Spanish case presented in figure 1 below.
Source: World Bank Economic Indicators. Author’s elaboration.
When the bubble bursts, as occurred in Spain and other high-income economies after the bankruptcy of Lehman Brothers on September 15, 2008, asset prices suffer a sudden and violent fall, thus reducing the net worth of companies and households, thus increasing their degree of indebtedness. In this context the private sector, in Koo’s words, will change its behaviour, instead of seeking profit maximization, private sector decision-makers will pursue debt minimization, thus reducing investment and consumption spending. The fall in private sector spending will lead to a contraction in the level of output and employment, which will be cushioned by the government’s countercyclical policy. In this way, the private sector as a whole will be able to move from a deficit financial position to a financial surplus position, which will allow it to gradually reduce its leverage. The necessary counterpart to this process, however, is an increase in the government’s financial deficit (G-T) and/or an increase in the deficit of the rest of the world with the economy under consideration.
In the Spanish case, as we can see in the figure below, extracted from Koo (2022, p. 37), the private sector went from a deficit position of approximately 9% of GDP in 2007 to a surplus position of almost 11% of GDP in 2013. This colossal reversal in the financial position of the private sector was followed by a deterioration in the financial position of the central government, which went from a surplus of almost 3% of GDP in 2007 to a deficit close to 12% of GDP in 2010. Even more striking was the reversal in Spain’s current account balance, which went from a deficit of 9% of GDP in 2007 to a surplus of 3% of GDP in 2013.
Figure 2 Financial Surplus or Deficit by sector in Spain as % GDP (1996-2021).
Private sector consumer and investment demand will remain weak for the period of time needed to fully realize its deleveraging process. In this period, the traditional monetary policy, i.e., the reduction of the interest rate, will have zero or negligible effect on consumption and investment spending, i.e., the private sector will maintain its surplus position even with very low interest rate levels. In other words, in a balance sheet recession monetary policy is ineffective. Economic activity can only be stimulated through fiscal expansion or through an increase in net exports. In the case of Spain, the formidable reversal of the current account balance from a deficit of 9% of GDP in 2007 to a surplus of 2% of GDP in 2013 proved to be of fundamental importance for Spain to resume economic growth in the period 2014-2019, although at a pace clearly lower than that observed in the period (1996-2007) [ See Figure 1].
The point made by Koo in his new book is that the balance sheet recession is the symptom of a deeper problem hitting high-income economies. It is an exhaustion of lucrative investment opportunities in the expansion and modernization of the capital stock of the private sector – notably in the manufacturing sector – due to the reduction in the profit squeeze caused by increased international competition in the markets for manufactured goods due to the rise of developing economies in East Asia. notably China. This depletion of investment opportunities is the cause of the secular stagnation of high-income economies after the 2008 international financial crisis, since under these conditions the private sector becomes a net saver, unwilling to increase its spending even in a situation where interest rates are close to zero.
In chapter 3 of his book, Koo develops his theory of the stages of economic development to present the genesis of the problem of secular stagnation of high-income economies. According to Koo, economic development is a three-stage process. In the first stage, which Rostow (1960) called take-off, the country undergoes a process of structural change induced by the investments required for its industrialization. At this stage there is a large reserve of labour in the subsistence sector, usually in agriculture, which is gradually transferred to urban centres where it will be employed in the modern or capitalist sectors, whether in the manufacturing industry or in services. This structural excess of labour force means that real wages remain stable while local entrepreneurs introduce the technologies already existing in the most advanced economies to offer domestic consumers products like those imported, but cheaper, due to lower wages and/or the existence of high import tariffs.
Industrialization during this phase can be driven by both import substitution (the case of Latin America) and export promotion (the case of East Asia). Historically, the export promotion model has been shown to be more efficient than the import substitution model in maintaining the pace of capital accumulation and allowing industrializing economies to reach the so-called “Lewis’s point,” where the entire labour force has been transferred to the modern sector of the economy.
Once Lewis’s point is reached, the economy enters a new phase of economic development, which Rostow (1960) called the “age of mass consumption,” a phase in which the engine of economic growth is no longer investment for export or import substitution, but consumption. This is possible because once the Lewis point is reached, the continuation of capital accumulation will now result in a rise in real wages, given the inelasticity of the labour supply. The continuous rise in real wages has two effects. On the demand side, the increase in the standard of living of the working classes will allow an increase in consumer demand, stimulating companies to invest in expanding their productive capacity (investment accelerator effect). On the supply side, rising labor costs will spur firms to develop new technologies that allow them to increase labor productivity in ways that defend their profit margins from steady wage growth. In this context, companies will invest in the modernization of their production capacity to be able to produce the same goods more efficiently. Rising consumer incomes will also lead to a diversification of consumption, creating a demand for new products. In this way, companies will also increase their investments in research and development with the aim of creating new products that stimulate consumers’ desire to purchase different goods. This stage of the economic development process corresponds to the “Golden Years” of capitalism (1950-1975) [See Marglin and Schor, 1990, chapter 1] in which high-income economies enjoyed accelerated economic growth, low unemployment, rising real wages, and reduced social inequalities. During this phase of the economic development process, even workers with little formal education can find good jobs in the manufacturing industry and thus enjoy a materially comfortable standard of living.
The third phase of economic development is a result of globalization. As more and more countries are integrated into the international flow of trade and investment, firms in high-income countries realize that they can achieve a higher rate of return by moving some of their manufacturing activities to countries where wages are lower. In this way, high-income economies are once again faced with an elastic supply of labour because their companies can invest abroad to sell to their markets, rather than produce locally. In this context, the opportunities for profitable investment in high-income economies are dramatically reduced, leading to a fall in the investment rate. In addition, increased international competition will generate a demand for restraint in wage growth in high-income countries. Historically, this containment occurred in the early 1980s when, through a combination of contractionary fiscal and monetary policies, the unemployment rate in high-income countries increased dramatically relative to the trend observed in the post-World War II period. High unemployment has led to the weakening of trade unions and labour market reforms aimed at “flexibilization”. The result of this process has been a stagnation of real wages in high-income countries for a period of more than thirty years, together with an increase in levels of social inequality.
The reduction in lucrative investment opportunities has been accompanied by a reduction in the investment rate and growth in consumer spending, as well as an intense process of deindustrialization of high-income economies. At this stage of the economic development process, high-income economies are faced with a chronic problem of insufficient effective demand, which is initially solved by the process of financial liberalization (initiated in the mid-1970s in the United States and in the 1980s in European countries and Japan), which allows the emergence and spread of speculative bubbles. These bubbles have the effect of stimulating, albeit temporarily and artificially, private sector consumer spending and investment, thus making it possible to maintain a certain level of economic growth.
Dialectically, however, the maintenance, albeit at lower levels, of the growth of the high-income economies accelerates the growth of the countries of East Asia, which are still in the first phase of the economic development process and, therefore, are making extensive investments in the manufacturing sector with a view to exporting to the high-income countries. While high-income economies were being “hunted” by the developing economies of East Asia, they continued to provide the means to make their predators stronger over time.
In chapter 5 of his book, Koo presents his proposal for high-income countries to address the problems that afflict them in this third phase of economic development. His proposal can be understood as a proposal for a new political and economic consensus, which in the absence of any other name I will call the Tokyo Consensus, as a counterpoint, albeit partial to the Washington Consensus.
At the end of chapter 5, Koo writes that “Political parties must adjust their stances to remain relevant in the new environment. Conservatives will have to drop their insistence on balanced budgets when the private sector is a net saver, and progressives will have to abandon their focus on organized labour and their opposition to to supply-side reforms if they hope to attract investments. Making the labour market more flexible also means a better social safety net will have to be provided for workers who might need it” (2022, p.226).
In short, Koo advocates a compromise solution between conservatives (liberals) and progressives (Keynesian developmentalists) to restore economic prosperity to high-income countries and prevent the rise of far-right parties.
What does this commitment consist of? On the one hand, Koo argues, it makes no sense to insist on fiscal austerity policies in countries where the private sector as a whole (businesses and households) is a net saver. In these circumstances, the government must necessarily be the agent that incurs a financial deficit, otherwise the economy will enter a spiral of contraction in the level of income and employment, which will make it impossible for the government to adjust its accounts. In addition, periods in which interest rates are exceptionally low are times when the cost of carrying public debt is also very low, so that the fiscal imbalance does not have major consequences. Last but not least, the government, by spending on infrastructure or research and development of new technologies, will be contributing positively to the increase of the rate of profit in high-income economies, which should stimulate private investment and the repositioning of these economies in an international scenario characterized by greater competition in both trade and capital flows. Fiscal policy must therefore return to its role as a stabilizer of the level of aggregate demand.
The other side of the compromise is the adoption of a microeconomic agenda of deregulation, tax cuts, and increased spending on education. This last element does not present major problems for the progressive agenda, except for the fact that Koo considers that increasing spending on education should be seen as the only possible alternative, in the context of this phase of development, for workers to be able to defend their standard of living in a context of stagnant wages and job insecurity. Koo argues that increased regulation of labor markets and the power of trade unions, a traditional slogan of progressive parties, will only reinforce the trend toward shrinking lucrative investment opportunities in high-income countries, accentuating rather than solving problems related to stagnant wages and worsening income distribution. At this stage of the economic development process, workers in high-income countries need to acquire skills that will enable them to take up jobs in “knowledge-based” sectors, which require higher levels of formal education.
The reduction of taxes, notably inheritance taxes, is aimed, in Koo’s view, to reduce inefficiency in the allocation of resources in high-income societies because a lot of time, effort and money are dedicated to tax evasion instead of making investments in technological innovation.
Deregulation is the point least developed by Koo. On this, he only argues that it is necessary for the government to encourage the emergence of innovative entrepreneurs, and excessive regulation can prevent or hinder this.
After reading the first five chapters of Hoo’s book, I was left with the distinct impression that the author, after all, is proposing to sacrifice economic orthodoxy to save liberalism. Economic orthodoxy argues strongly for governments to maintain balanced budgets to ensure macroeconomic stability, without which growth would not be possible. Koo says that’s a lot of nonsense. There is nothing wrong with running fiscal deficits in a context where the private sector as a whole is in surplus, even more so at the current stage of development in high-income economies where there is a chronic shortage of investment opportunities for the private sector. Under these conditions, government spending does not crowd-out private investment, but it can even stimulate it. Nor does it make sense to worry about the increase in public debt, since it is only the necessary counterpart to the deleveraging of the private sector. However, it is necessary to preserve and increase the rate of profit in high-income countries. This requires a program of microeconomic reforms such as flexibilization of labour markets, deregulation, and the reduction of the tax burden. The focus of the economic policy of governments in high-income countries should therefore be on economic growth, not on reducing social inequalities (Koo, 2022, pp.198-199). In fact, the author defends the thesis that the statistics of social inequality in high-income countries should be interpreted more carefully, as they reflect more the emergence of successful innovative entrepreneurs (wealth creation) rather than the plundering of existing wealth by the more favoured classes, as is common in predominantly agricultural societies.
I don’t particularly agree with Koo’s idea. While the United States has successful innovative entrepreneurs on the list of the country’s wealthiest people, one should not underestimate the fact that most extremely wealthy individuals are a long way from being Schumpeterian entrepreneurs. The super-rich are a heterogeneous class of individuals made up of heirs, financial market agents, lobbyists, landowners and real estate owners, rentiers, and… some innovative entrepreneurs like Elon Musk, Bill Gates, Bezos etc. The immense fortune these individuals have amassed cannot be attributed to their innovation efforts alone, or for the most part.
Moreover, as Robert Skidelsky and Edward Skidelsky argue in their book “How Much Is Enough? Money and the good life” (2012), the relationship between happiness and the accumulation of material goods is non-linear: An increase in the material standard of living is associated with an increase in happiness up to a certain level of income, after which it becomes innocuous. Elon Musk has a lot more money than he would be able to spend by the end of his life if he retired today. Clearly, it is not material well-being that motivates him to continue running his business, but the sense of power and uniqueness that his position in the social pyramid gives him. I don’t see why that kind of motivation should be rewarded with a fortune of hundreds of billions of dollars. Finally, as Koo himself writes in his book, the United States government was responsible for most of the investment in research and development of new technologies in the period between 1953 and 1979 (Koo, 2022, p.212).
In short, I have some agreement and some disagreement with the Tokyo consensus. In any case, this is a significant step forward with respect to the Washington consensus.
References
Lewis, A. (1954). “Economic Development with Unlimited Supplies of Labour”. TheManchester School of Economic and Social Studies, Vol. 28.
Keynes, J.M. (1936). The General Theory of Employment, Interest and Money. Cambridge University Press: Cambridge.
Koo, R. (2022). Pursued Economy: Understanding and overcoming the challenging new realities for advanced economies. Willey: West Sussex.
Marglin, S; Schor, J.B. (1990). The Golden Age of Capitalism: Reinterpreting the Post War Experience. Clarendon Press: Oxford.
Minsky, H.(. (1982). Can “It” happen aggain? Essays on Instability and Finance. M.E. Sharpe: Armonk.
Rostow, W.W (1960). The Stages of Economic Growth. Cambridge University Press: Cambridge.
Skidelsky, R. Skidelsky, E. (2012). How Much is enough? Money and Good Life. Other Books.
22/08/2023 – 02H00 (ATUALIZADO EM 22/08/2023 – 09H34)
Ao menos quatro projetos de lei em andamento na Câmara dos Deputados querem acabar com a circulação de dinheiro em espécie no Brasil. As propostas sugerem o uso exclusivo dos meios eletrônicos para transações financeiras. A ideia une deputados de diversos campos ideológicos — dois projetos são de autoria de parlamentares do governo e dois, de nomes da oposição.
Desde 2020, quando o Pix entrou em vigor, a impressão de novas cédulas pelo Banco Central caiu 38%. No ano passado, houve 1,181 bilhão de emissões, número próximo ao de 2016, quando 1,161 bilhão de novas notas foram impressas.
O primeiro projeto de lei, do deputado Gilberto Nascimento (PSD-SP), é de 2016 e está na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) desde dezembro do ano passado. O texto sugere o fim da “utilização, circulação, emissão e uso de moedas em espécie física de qualquer natureza e estabelece que toda e qualquer transação financeira seja realizada pelos sistemas virtuais”.
A segunda proposta, de 2020, além da extinção imediata das notas de R$ 50, R$ 100 e R$ 200, sugere o fim da emissão e circulação de todas as cédulas dois anos depois da vigência da lei. A matéria, de autoria do ex-deputado Paulo Ramos (PDT-RJ), está na Comissão de Finanças e Tributação desde 2021.
A terceira proposta, também de 2020, está na Comissão de Desenvolvimento Econômico desde março deste ano. O projeto, do deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), “estipula prazo para a extinção da produção, circulação e uso do dinheiro em espécie e determina que as transações financeiras se realizem apenas através do sistema digital”.
O último projeto, apresentado em 2021, seria analisado pela Comissão de Defesa do Consumidor na quarta-feira (16), mas a deliberação não ocorreu por ausência do relator, deputado Vinicius Carvalho (Republicanos-SP), cujo relatório é pela rejeição da proposta, de autoria de Kim Kataguiri (União Brasil-SP).
Motivos
Embora a queda na emissão de cédulas coincida com o lançamento do Pix, o Banco Central não atribui a diminuição ao novo meio de pagamento. A autoridade monetária afirma que os impactos do modelo ainda não foram analisados tecnicamente.
A aquisição de cédulas e moedas visa atender à variação prevista do dinheiro em circulação, substituir as desgastadas pelo uso e manter estoques preventivos de segurança. A variação nas quantidades adquiridas entre um ano e outro se deve a variações nesses componentes. Apesar do surgimento de novos meios de pagamento, como o Pix, para apresentar impactos sobre os hábitos de uso dos meios de pagamento anteriormente existentes, será necessário algum tempo para que a evolução desses impactos possa ser claramente mapeada.
BANCO CENTRAL, EM NOTA AO R7
Apesar do posicionamento do Banco Central, o economista José Luis Oreiro, professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília, atribui a queda ao uso dos meios digitais de pagamento. “Não há necessidade de cédulas. Hoje em dia, a maior parte das transações é feita eletronicamente, seja por intermédio de cartões de débito e crédito ou pelo Pix. Imagino que a redução do volume de cédulas tenha sido por conta do Pix, que é uma transferência eletrônica”, analisa.
Para o especialista, a tendência é que a emissão de novas cédulas caia ainda mais com o lançamento do Drex, a primeira moeda digital do país, anunciada pelo Banco Central no início do mês. O Drex funcionará como uma versão virtual do dinheiro — vai ser uma representação digital das notas emitidas pelo BC. A moeda virtual oficial ainda está em fase de testes, e a expectativa é que seja lançada no fim de 2024.
Em matéria publicada no Valor Econômico no dia 02/03/2023 intitulada “Expectativas cruzam limiar que pode acelerar a inflação” (veja em
https://valor.globo.com/brasil/noticia/2023/03/02/expectativas-cruzam-limiar-que-pode-acelerar-inflacao.ghtml) apresenta-se um estudo realizado por uma equipe de economistas ortodoxos composta por Carlos Viana de Carvalho, ex-diretor de política econômica do Banco Central, ex-economista do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) e atual sócio da Kapitalo Investimentos, Silvia Matos, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre), e Marco Bonomo, do Insper, na qual se lê que (sic) ” O cenário é sugerido a partir de um estudo feito por um grupo de economistas, que comprova de forma robusta, pela primeira vez, que as expectativas de inflação estão relacionadas com as decisões que as empresas tomam para fixar os preços de seus produtos. Quando as expectativas de longo prazo estão desancoradas, os reajustes são mais pronunciados“. Na matéria lê-se ainda que “As conclusões desse estudo têm implicações no debate atual de política monetária no Brasil, confrontando a tese de alguns economistas de que seria possível um corte acelerado de juros sem que a inflação saia de controle. Também desaconselham uma eventual mudança nas metas de inflação já definidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). O risco, nesses casos, é justamente a desancoragem das expectativas e seus efeitos perversos na fixação de preços da economia e na própria inflação, argumentam os responsáveis pelo trabalho”
Em suma, os autores do suposto estudo teriam obtido provas conclusivas e contendentes, a partir de micro-dados, de que quando a inflação esperada pelas instituições financeiras (a Faria Lima no Brasil ou a Wall Street nos EUA) se afasta da meta de inflação definida pelo Conselho Monetário Nacional então os formadores de preços do mundo real (a main streat) atuam no sentido de fazer com que o rapasse da desvalorização cambial para os preços seja mais forte, de maneira que os pesquisadores, com base no suposto estudo, afirmam categoricamente ser equivocado o debate sobre o aumento da meta de inflação no Brasil pois isso poderia levar, dado a desancoragem das expectativas, a uma aceleração da inflação.
Sem dúvida de que o resultado que foi propagandeado em prosa e verso pelos autores do suposto estudo seria uma enorme descoberta no campo da macroeconomia. Desde o final dos anos 1960 os economistas debatem o papel das expectativas de inflação na determinação da inflação correte. A assim chamada versão aceleracionista da curva de Phillips desenvolvida por Milton Friedman na década de 1960 postula que a inflação corrente depende das expectativas de inflação dos formadores de preços (firmas e sindicatos) e do estado do mercado de trabalho, expresso pela diferença entre a taxa de desemprego efetiva e a taxa de desemprego de equilíbrio (a taxa natural de desemprego). A questão central, contudo, é saber como as expectativas de inflação são formadas. No mundo mágico das expectativas racionais, onde se supõe que a economia já alcançou um estado estacionário onde os agentes já aprenderam tudo o que tinham pra aprender, as expectativas de inflação são dadas pela média ponderada entre a meta de inflação que o banco central deve alcançar (multiplicada pelo grau de independência do Banco Central) e a inflação discricionária, dada pela maximização da função de perda social da autoridade monetária (multiplicada por um menos o grau de independência do Banco Central) [ Ver Franceze Jr, 2004, p. 110]. Nesse contexto, a meta de inflação e o grau de autonomia do banco central teriam um papel fundamental para determinar a inflação corrente: quanto menor a meta de inflação e maior a autonomia do Banco Central menor será, tudo o mais mantido constante, a inflação corrente.
O grande problema com essa hipótese é que nunca se demonstrou a existência de um elo entre as expectativas de inflação medidas pelas instituições financeiras e o comportamento de reajuste de preços por parte dos agentes que tem, de fato, poder de formação de preços, ou seja, as firmas e os sindicatos. O suposto ineditismo do estudo dos economistas brasileiros supracitados é que pela primeira vez na história da macroeconomia a nível mundial teria sido demonstrado de “forma robusta” a existência desse elo.
Movido pela natural curiosidade científica que todo pesquisador tem, fui procurar o artigo que fundamentaria as prescrições de política econômica propostas pelo “estudo”. Com base nas informações divulgadas na matéria do Valor cheguei ao site: https://sites.google.com/view/stefano-eusepi/working-papers onde o paper que deu base a matéria do Valor, cujo título é “Price Setting When Expectations are Unanchored” simplesmente não está disponível!!!!! No site le-se que “Draft available soon, in preparation for the JME-SNB-SCG conference on inflation: Expectations & Dynamics”, ou seja, a versão PRELIMINAR do artigo ainda está em elaboração para SER APRESENTADA numa conferência que ainda não ocorreu!
Resumindo: os autores do estudo sequer tem uma versão preliminar do mesmo, não discutiram o trabalho com seus pares, o trabalho não foi avaliado por ninguém da comunidade científica de economia e os autores divulgam que (sic) o estudo apresenta evidências conclusivas sobre a relação entre as expectativas de inflação e a formação de preços e ainda querem dar pitaco na formulação de política econômica no Brasil !!!! Sério isso?
O fato é que sem ter sequer a versão preliminar do estudo dos economistas citados na matéria do Valor é IMPOSSÍVEL saber se as conclusões que eles alegam obter podem ser, de fato, obtidas. O pior de tudo é que com base num estudo cuja versão preliminar sequer foi publicada, esses economistas se arrogam ao direito de discutir propostas de política econômica para o Brasil, as quais, se forem equivocadas, trarão sofrimento para milhões de cidadãos do Brasil.
Um pouco mais de responsabilidade e compromisso com o protocolo científico é de bom tom para quem quiser se meter no debate sobre política econômica.
Referências:
Franceze Jr, R.J. (2004). “Institutional and Sectoral Interactions in Monetary Policy and Wage/Price-Bargaining” In: Hall, P.A; Soskice, D. (orgs,). Varieties of Capitalism: the institutional foundations of camparative advantage. Oxford University Press: Oxford.
Eu não assisti a entrevista de ontem com o Campos Neto no Roda Viva, mas alguns economistas com quem conversei hoje tiveram as seguintes impressões:
Economista 1 : Com respeito à entrevista do presidente do BCB, ontem, no Roda Viva. Começou nervoso, mas conseguiu defender relativamente a tese de autonomia da instituição, sempre usando o argumento teórico da credibilidade. Mas, não conseguiu em nenhum momento (tergiversou, deu voltas, mas não respondeu) por que o Brasil tem a mais alta taxa real de juros do mundo. Esse é o ponto central.
Economista 2: Na minha opinião ele não usou argumentos teóricos de credibilidade para defender somente a autonomia do Bacen. Ele se colocou por trás desses argumentos para encobrir sua insegurança. Trata-se de um mero tecnocrata, sem jogo de cintura político. Caberia como uma luva em uma assessoria técnica, não como presidente do BC.
Economista 3: Nervoso e inseguro (o papel na mão condena). Cresceu como vítima e defensor do tal SOCIAL do BC ao longo da entrevista!
Nas últimas semanas o debate sobre conjuntura econômica no Brasil finalmente saiu da mesmice sobre o sacrossanto “Teto de Gastos” (cuja missa de réquiem está marcada para o dia 31/08/2023) e passou para a autonomia do Banco Central do Brasil. A questão de fundo é o patamar elevado da taxa Selic, tanto em termos nominais como em termos reais, o que parece ser inconsistente com o cenário macroeconômico internacional caracterizado por inflação elevada nos países desenvolvidos, devido ao choque de oferta decorrente da política de covid zero na China e da guerra da Ucrânia, e taxas de juros reais ainda em campo negativo. O presidente Lula tem reiteradas vezes mostrado seu descontentamento com esse situação a qual, no seu julgamento, poderia comprometer a performance macroeconômica do seu governo. Caso a autonomia do Banco Central não tivesse sido aprovada em lei durante o governo Bolsonaro, o Presidente Lula teria a liberdade para nomear o presidente e a diretoria do Banco Central como ocorreu com todos os presidentes eleitos no Brasil desde a nova república desde Fernando Henrique Cardoso em 1995, passando por Lula em 2003, Dilma em 2011, Temer em 2016 e Bolsonaro em 2019. A aprovação da lei de autonomia do Banco Central se deu apenas após a elegibilidade do Presidente Lula em 25 de fevereiro de 2021. As circunstâncias apontam para uma lei feita sob medida para tirar poder do Presidente Lula se eleito fosse em 2022, fato que acabou ocorrendo.
Acontece que 11 em cada 10 economistas ligados direta ou indiretamente ao mercado financeiro dirão que “a mulher de César é honesta mesmo que não pareça ser”, ou seja, que não existe nenhuma relação entre o ciclo político e as decisões sobre a taxa de juros, as quais são um problema eminentemente técnico.
Os economistas liberais gostam de propagar a ideia de que a economia é uma ciência dura (hard science) como a física. Dessa forma, pode-se dissimular as paixões e os interesses dos economistas, principalmente quando eles estão em posições nas quais a sua remuneração presente ou futura depende de serem capazes de não enxergar certos problemas. Aqui quero fazer uma ressalva. Eu não estou afirmando que eu como economista não tenha paixões ou interesses, mas apenas o fato inegável que minha situação financeira presente ou futura não é impactada pelas análises que faço como economista. Posso errar como qualquer mortal, mas meus erros, se e quando ocorrem, não são devidos a ignorância premeditada ou miopia consentida.
Mas vamos aos argumentos. Quais as razões que fundamentam a tese da “autonomia” do Banco Central, ou seja, a ideia de que a autoridade monetária tem que estar protegida contra a ameaça de demissão arbitrária na forma de mandatos fixos e não coincidentes (com o mandato do Presidente da República) para a diretoria dessa instituição?
A tese da autonomia ou independência do Banco Central tem sua origem nas décadas de 1980 e 1990 no bojo do debate entre regras versus comportamento discricionário da política monetária. A tese apresentada então era que se a autoridade monetária atuasse de forma discricionária, ou seja, escolhendo a melhor resposta em termos de juros e oferta de moeda ao estado da economia (inflação e desemprego) a cada momento, o resultado seria a criação de um “viés inflacionário”, ou seja, de uma inflação mais alta do que a inflação ótima do ponto de vista social (por simplicidade suposta ser igual a zero). No modelo utilizado para fundamentar esse resultado se supõe que (i) a existência de rigidez nominal e real faz com que a autoridade monetária tenha incentivo para criar surpresa inflacionária e (ii) o setor privado, no entanto, está ciente desses incentivos e incorporam as suas consequências inflacionárias no processo de fixação de preços e salários. Daqui se segue que no equilíbrio com expectativas racionais, as autoridades monetárias são incapazes de surpreender os agentes do setor privado, de forma que a inflação inesperada é igual a zero, e os salários reais e a taxa de desemprego são iguais aos seus níveis naturais de mercado. O único resultado é uma taxa de inflação mais alta do que a socialmente ótima (Franceze, 2004, p.106).
Para resolver esse problema a solução proposta foi a institucionalização de um Banco Central conservador, ou seja, com um grau de aversão a inflação maior do que o da sociedade como um todo, com relativa autonomia com relação aos políticos para conquistar credibilidade, entendida como o compromisso com uma taxa de inflação baixa e estável, de preferência próxima de zero.
Uma hipótese explicita desses modelos é que a autoridade monetária tem controle completo sobre a taxa de inflação, a qual é uma variável que está sob sua discrição. Nesse contexto, a inflação discricionária, ou seja, a taxa de inflação que maximiza a função objetivo do Banco Central é dada por:
Onde: A é o coeficiente de aversão a inflação na função objetivo do Banco Central (o qual mede o seu grau de conservadorismo), alpha mede a sensibilidade do emprego à surpresa inflacionária, N* é o emprego socialmente ótimo e Nn é o emprego natural, ou seja, aquele nível de emprego para o qual a surpresa inflacionária é igual a zero.
O argumento pró autonomia do Banco Central é que quanto menor for o coeficiente A menor será a taxa de inflação discricionária e, portanto, maior o bem-estar social. A política monetária é tida como neutra sobre o nível de emprego pois não é capaz de afetar nem a taxa de emprego socialmente ótima ou a taxa de emprego natural. A única função da política monetária é entregar uma taxa de inflação o mais baixo quanto possível e para tanto maior deve ser o seu conservadorismo, o qual só será crível por intermédio da autonomia do Banco Central.
O modelo apresentado tem, no entanto, uma série de limitações. A que mais salta aos olhos é hipótese de que o Banco Central tem controle absoluto sobre a taxa de inflação. Tal hipótese assume implicitamente que os preços e os salários nominais de toda a economia são fixados de maneira absolutamente coordenada pelo setor privado, o qual toma suas decisões de formação de preços e salários levando em conta apenas o comportamento do Banco Central. No mundo real os salários são fixados com graus variados de coordenação a depender das instituições que regulam as negociações salariais entre firmas e sindicatos. As firmas também fixam preços em intervalos distintos de tempo de maneira que podem surgir situações mais ou menos persistentes de desequilíbrio de preços relativos entre as empresas, as quais darão ensejo a aumentos de preço de maneira descoordenada.
Devemos ressaltar que no modelo que fundamenta a tese de autonomia do Banco Central não existe espaço para inflação causada por choques de oferta: a inflação é sempre e em todo lugar um problema monetário. Embora a teoria econômica tradicional tenha a muito tempo abandonado o monetarismo e a teoria quantitativa da moeda, o status teórico do problema inflacionário continua o mesmo. A inflação é o resultado de uma política monetária permissiva, voltada para a obtenção de uma taxa de emprego maior do que a que é compatível com o equilíbrio entre oferta e demanda em todos os mercados. Não há espaço para inflação de custos pois o equilíbrio de mercado garante que os agentes econômicos, sejam firmas ou sindicatos, estarão sempre satisfeitos com os preços que recebem de seus produtos ou serviços. A inflação só pode ter sua origem “fora” do setor privado, ou seja, no Banco Central e no governo.
Mas a crítica mais geral a tese de autonomia do Banco Central é que ela não é a única solução para o problema da inflação discricionária. Conforme podemos visualizar na equação acima qualquer política que reduza o valor de A, ou a sensibilidade da taxa de emprego a surpresa inflacionária ou diminua a diferença entre a taxa de emprego socialmente ótima e a taxa natural de emprego irão produzir o mesmo resultado (Franzese, 2004, p. 107).
Quando saímos do mundo fantástico da concorrência perfeita, a taxa de emprego de equilíbrio é aquela que equaliza o salário real que as firmas estão dispostas a pagar com o salário real que os sindicatos desejam obter nas negociações salariais com as firmas, dado o estado da economia e um conjunto de outras variáveis institucionais que afetam o poder de barganha relativo dos sindicatos na negociação coletiva como, por exemplo, o grau de sindicalização da força de trabalho, o percentual dos salários que é negociado coletivamente, o grau de centralização e coordenação das barganhas salariais (Carlin e Soskice, 2010, 2015). O desemprego atua como um mecanismo disciplinador dos sindicatos e das firmas, forçando esses agentes a entrarem num acordo a respeito do salário real prevalecente na economia.
Nesse contexto, um choque de oferta decorrente, por exemplo, do aumento do preço relativo da energia irá reduzir o salário real que as firmas estão dispostas a pagar, fazendo com que a taxa de emprego que compatibiliza as demandas salariais dos sindicatos com o que as firmas estão dispostas a pagar se reduza, aumentando assim a inflação discricionária, dado o grau de “autonomia do Banco Central”. O aumento da taxa de inflação não será um fenômeno temporário, mas irá durar enquanto persistir o preço relativo mais alto da energia.
O Banco Central poderá reduzir a inflação neste caso apenas se aumentar o seu grau de conservadorismo, ou seja, se reduzir o valor do coeficiente A na equação acima. Os defensores da tese de autonomia do Banco Central implicitamente assumem que não existe nenhuma relação entre o parâmetro A e os demais parâmetros da equação que determina a inflação discricionária, particularmente o emprego de equilíbrio. Nesse contexto, um aumento do grau de conservadorismo da política monetária não teria nenhum efeito sobre o lado real da economia, particularmente sobre o mercado de trabalho.
O problema é que existem boas razões para acreditarmos que isso não é verdade. A moderna teoria econômica ja identificou pelo menos dois canais pelos quais uma redução persistente da taxa de emprego pode levar a uma redução cumulativa da taxa de emprego de equilíbrio, fenômeno esse conhecido como efeito histerese. O primeiro canal é o efeito insider-outsider e o segundo e o problema de sucateamento do capital.
Efeito Insider/Outsider
Considere que os desempregados perdem o seu status de membros do sindicato após alguns períodos de desemprego. Dessa forma, eles se tornam “outsiders” sendo incapazes de influenciar nas decisões dos sindicatos.
Considere também que os sindicatos só se preocupam com o nível de emprego e de salário real dos seus filiados. Dessa forma, quando o desemprego aumenta e permanece elevado por um certo período de tempo; os sindicatos perdem filiados e passam a demandar salários mais altos para os membros remanescentes.
Uma queda da demanda agregada irá aumentar a taxa de desemprego. Esse aumento da taxa de desemprego irá diminuir o número de insiders, levando a um aumento do salário real desejado pelos sindicatos e, portanto, a uma queda da taxa de emprego de equilíbrio.
Capital Scrapping (“sucateamento de capital”)
Uma recessão prolongada leva as firmas a “sucatear” uma parte do seu estoque de capital á medida que os gastos de investimento não são suficientes para cobrir as necessidades de reposição devido a depreciação ou mesmo a obsolescência tecnológica.
Quando a economia se recupera, as elevadas taxas de utilização da capacidade produtiva fazem com que as firmas aumentem as suas margens de lucro, reduzindo assim o salário real que estão dispostas a pagar. Com isso, ocorre uma redução da taxa de emprego.
As questões levantadas acima apontam para a possibilidade de que um Banco Central excessivamente conservador possa agravar o problema inflacionário ao invés de resolve-lo. Se uma redução do valor do parâmetro A, ou seja, um aumento do grau de aversão do Banco Central a inflação, desencadear uma redução da taxa de emprego de equilíbrio pelos mecanismos expostos acima, então a taxa de inflação discricionária pode ficar constante ou até mesmo se elevar, agravando assim o quadro inflacionário.
O que deve ser feito então para reduzir a inflação discricionária? Uma alternativa seria a adoção de políticas de rendas que aumentassem a coordenação e a centralização das negociações salariais de forma a incentivar o setor privado a moderar as demandas por reajustes de preços e salários. Outra possibilidade, bastante pertinente no caso brasileiro, é reduzir a sensibilidade do emprego a surpresa inflacionária (o coeficiente alpha), diminuindo o grau de indexação de preços e salários a inflação passada. Para tanto, o governo brasileiro deveria proceder a uma reforma monetária (Sobre essa proposta ver Oreiro e Costa Santos, 2023), decretando por intermédio de lei complementar, o fim da indexação de todos os contratos assinados em território nacional.
Isso posto, não existe nada de sacrossanto na autonomia do Banco Central. Trata-se de um arranjo institucional para a condução da política monetária que tem efeitos dúbios sobre o problema que pretende resolver. Existem outras alternativas para o controle da inflação no Brasil que não passam pela manutenção da autonomia do Banco Central. Tal como o ocorrido com o Teto de Gastos, esse é um debate urgente e necessário para o Brasil.
Referências:
Carlin, W; Soskice, D. (2015). Macroeconomics: Institutions, Instability, and the Financial System. Oxford University Press: Oxford.
Carlin, W; Soskice, D. (2010). “Teaching Intermediate Macroeconomics using a 3-Equation Model” In: Fontana, G and Setterfield, M. (Eds.). Macroeconomic Theory and Macroeconomic Pedagogy. Palgrave Macmillan: London.
Franzese, R.J. (2004). “Institutional and Sectoral Interactions in Monetary Policy and Wage/Price-Bargaining” In: Hall, P; Soskice, D (orgs.). Varieties of Capitalism: the institutional foundations of comparatice advantage. Oxford University Press: Oxford.
Oreiro, J.L; Costa Santos, J.F. (2023). ” The unfinished stabilization ot the Real Plan: an analysis of the indexation of the Brazilian economy” In Ferrari-Filho, F and De Paula, L.F. (orgs.). Central Banks and Monetary Regimes in Emerging Countries. Edaward Elgar: Aldershot.
O período que sucedeu a vitória de Luis Inácio Lula da Silva no segundo turno das eleições presidenciais foi marcado pelas controvérsias sobre o “estouro do teto de gastos” previsto pela “PEC da Transição”. Na versão aprovada pelo Senado Federal no dia 07 de dezembro de 2022, ficou estabelecido que o governo federal poderá gastar até R$ 145 bilhões “fora do Teto” para executar políticas como a manutenção do Bolsa Família em R$ 600,00 com acréscimo de R$ 150,00 por filho, recompor o orçamento do programa farmácia popular, entre outras políticas sociais e assistenciais. Muitos economistas, a maioria deles ligada direta ou indiretamente ao mercado financeiro, se opuseram publicamente a essa medida alegando que a (sic) “farra fiscal” iria produzir uma fuga de capitais do país, a interrupção do financiamento da dívida pública por parte do mercado, uma maxidesvalorização cambial e o recrudescimento da inflação ao longo do ano de 2023, o que levaria a uma queda do salário real e a um agravamento da situação de fome e pobreza no país.
Não é a primeira vez que esse tipo de cenário apocalíptico é desenhado. Em 2020, durante a pandemia do covid-19, não foram poucos os que disseram que o Brasil caminhava para um “abismo fiscal” devido aos gastos excessivos com o auxílio emergencial, os quais levariam a relação dívida pública/PIB pra perto de 100% em 2022 e que, devido a algum mecanismo mágico, a economia brasileira entraria numa espécie de “buraco negro” com consequências catastróficas para a economia do país. Como sabemos nada disso ocorreu. Graças em larga medida ao auxílio emergencial, a economia brasileira teve uma contração modesta em 2020 (de apenas 3,3%) na comparação com os Estados Unidos e os países da União Europeia. Além disso, a relação dívida pública/PIB no Brasil deve fechar em torno de 78% em 2022, muito abaixo do cenário desenhado pelos profetas do apocalipse.
Está claro que a situação fiscal no Brasil está longe de ser confortável, mas a dívida pública brasileira (% do PIB) é similar a de países como Índia e China. Se o próximo governo for capaz de desenhar uma nova regra fiscal para por no lugar do teto de gastos, que seja capaz de conciliar o espaço fiscal necessário para o aumento do investimento público em infraestrutura e dos gastos assistenciais com a redução da dívida pública como proporção do PIB no médio prazo, para um patamar em torno de 65% do PIB, não há razão para acreditar que o crescimento econômico possa ser restrito pelo lado fiscal.
Uma ausência gritante, para não dizer escandalosa, no debate econômico brasileiro é o desequilíbrio externo. Conforme verificamos na figura 1 abaixo, a partir de maio de 2008, no acumulado em 12 meses, o Brasil começou a apresentar déficit crescente na conta de transações correntes do balanço de pagamentos, o qual atingiu a marca de 4,25% do PIB em outubro de 2015. Esse desequilíbrio externo resultou numa desvalorização da taxa real efetiva de câmbio de 17,12% entre janeiro e dezembro de 2015, contribuindo de forma decisiva para a aceleração da inflação nesse ano e para a elevação da taxa básica de juros por parte do Banco Central, amplificando a recessão que havia começado no segundo semestre de 2014.
Fonte: Ipeadata. Elaboração do autor.
Graças a forte desvalorização cambial e a queda de mais de 8% do PIB entre o segundo semestre de 2014 e o ultimo trimestre de 2016, o déficit em conta corrente se reduziu para 0,894% do PIB em março de 2018. Embora déficits em conta corrente inferiores a 1% do PIB não sejam preocupantes do ponto de vista do financiamento externo, chama atenção que, após a maior recessão dos últimos 40 anos e de uma forte desvalorização da taxa de câmbio, a economia brasileira se mostrou incapaz de voltar a gerar superávits em conta corrente como no período entre junho de 2003 e dezembro de 2007. Mais grave ainda é o fato de que uma vez passados os efeitos da grande recessão brasileira (2014-2016), o déficit em conta corrente como proporção do PIB no acumulado em 12 meses volta a se elevar atingindo 3,52% do PIB em junho de 2020, já no período da pandemia do covid-19.
Entre fevereiro de 2020 e maio de 2021 a taxa real efetiva de câmbio se desvaloriza em 30,75% e a economia se encontra em recessão. Apesar da enorme mudança de preços relativos e da queda do nível de atividade econômica, o déficit em conta corrente no acumulado em 12 meses se reduz para apenas 1,90% em agosto de 2021, apresentando desde então nova tendência a elevação.
Os dados apresentados parecem apontar para o retorno da rigidez estrutural do balanço de pagamentos, situação na qual a desvalorização cambial se mostra incapaz de resolver o desequilíbrio externo devido ao perfil da pauta de exportações. A desindustrialização precoce da economia brasileira resultou numa reprimarização da pauta de exportações, reduzindo assim a sensibilidade das exportações ao câmbio. Nesse contexto, o crescimento do PIB a um ritmo mais robusto será inevitavelmente estrangulado pelo aumento explosivo do déficit em conta corrente, que termina sempre desencadeando uma crise cambial, com maxidesvalorização do câmbio, elevação da inflação e da taxa de juros, abortando assim a retomada do crescimento.
* Professor do Departamento de Economia da UnB. E-mail: joreiro@unb.br.
Um dia após publicar na Folha de São Paulo uma carta aberta ao Presidente Lula em conjunto com os economistas Edmar Bacha e Pedro Malan na qual recomendavam ao Presidente Lula a manutenção estrita do teto de gastos para evitar uma espiral inflacionária no seu próximo governo (curioso não terem feito o mesmo alerta ao Presidente Bolsonaro, deve ter sido por falta de tempo), Arminio Fraga em matéria publicada originalmente no jornal O Globo, no dia 19 de novembro de 2022 afirmou que “estamos trilhando um caminho perigoso, o Brasil é um país muito endividado” (para quem não é assinante do Globo sugiro ver a matéria no link https://inteligenciafinanceira.com.br/saiba/economia/arminio-fraga-brasil-pais-muito-endividado/).
Ao me deparar com afirmação tão enfática (e desprovida de embasamento nos dados) fui verificar no site do Fundo Monetário Internacional como está a relação dívida pública como proporção do PIB nos diversos países que compõe este planeta azul e brilhante conhecido como Terra.
O IMF datamapper apresenta o seguinte mapa para a relação dívida pública/PIB no mundo:
Conforme podemos ver claramente no mapa com dados do ano de 2022, o Brasil é um país de endividamento médio (88,2% do PIB) com valores similares aos observados na China (76,9%) e na Índia (83,4%), mas inferior ao observado nos Estados Unidos (122,1%), Espanha (113,6%), Portugal (114,7%), França (111,8%), Itália (147,2%) e Japão (263,9%). Devo recordar ao leitor que o critério de cálculo usado pelo FMI para o endividamento do governo Geral inclui a carteira livre do Banco Central do Brasil que são título da dívida pública emitidos pelo Tesouro Nacional, mas que não estão nas mãos do setor privado, mas na carteira do Banco Central sendo assim uma espécie de dívida do governo com ele mesmo. Neste critério a DBGG se encontrava em 77,5% do PIB em agosto de 2022 (https://valor.globo.com/brasil/noticia/2022/09/30/bc-divida-bruta-do-governo-geral-cai-para-775percent-do-pib-em-agosto.ghtml)
Em suma, a afirmação feita pelo economista Armínio Fraga ao jornal O Globo é, no melhor dos casos, bastante exagerada.
Graduado em Economia pela FEA-USP. Mestre e Doutor em Economia pela Fundação Getúlio Vargas em São Paulo. Foi pesquisador visitante nas Universidades de Cambridge UK e Columbia NY. Foi economista, gestor de fundos e CEO em instituições do mercado financeiro em São Paulo. É professor de economia na FGV-SP desde 2002. Brasil, uma economia que não aprende é seu último livro. Conselheiro da FIESP e Economista-chefe do Banco Master
"A família é base da sociedade e o lugar onde as pessoas aprendem pela primeira vez os valores que lhes guiam durante toda sua vida". (Beato João Paulo II)