
Adam Tooze é professor de História na Columbia University (Shelby Cullon Davis Chair of History) e Diretor do European Institute. Em 2019 a Foreing Policy Magazine o classificou como um dos 10 mais influentes pensadores do mundo na década. Autor de vários livros, entre os quais The Wages of Destruction (O preço de destruição) sobre a economia de guerra da Alemanha Nazista. No dia 17 de outubro de 2020 ele publicou na sua conta no Twitter um gráfico (acima) mostrando a evolução da taxa de juros dos títulos públicos de 10 anos da Itália desde 1310. Para lidar com o fato de que a Itália só surgiria como nação soberana em 1861, ele tomou uma média das taxas de juros pagas pelos governos dos diversos Reinos e Cidades Estado anteriores a unificação italiana. Pois bem, o gráfico mostra que atualmente o governo da Itália – apesar de ter uma relação dívida pública/PIB superior a 150%, está pagando a taxa de juros mais baixa sobre os títulos da dívida de 10 anos de prazo de maturidade desde 1310 ! Por que a taxa de juros está tão baixa apesar do aparente descontrole fiscal? Pela simples razão de que a taxa de juros é um fenômeno estritamente monetário, dependente, portanto, da política monetária do BCE. Como a autoridade monetária do Euro está injetando liquidez de forma colossal nos mercados financeiros, o resultado é a redução da taxa de juros. Não existe nenhuma relação direta entre situação fiscal (déficit ou dívida) e o espectro de taxas de juros como já argumentei de forma clara e didática no meu post https://jlcoreiro.wordpress.com/2020/09/19/o-desequilibrio-fiscal-pode-levar-a-um-aumento-da-taxa-de-juros/
No Brasil, contudo, os profetas do apocalipse continuam afirmando que se o Brasil não voltar para a disciplina fiscal em 2021 então teremos a volta da inflação. Nenhum país relevante do mundo civilizado está discutindo medidas de consolidação fiscal para o próximo ano, só o Brasil. Os economistas ortodoxos devem pensar que o mundo inteiro está errado, apenas eles que estão certos. Isso me faz lembrar uma manchete de um jornal Britânico no início do século XX que noticiou a ocorrência de uma tempestade que havia bloqueado a comunicação marítima entre as ilhas Britânicas e o continente europeu. A matéria dizia “Pobre Europa está isolada da Inglaterra”.
vou pedir vênia, mas a sua ideia está um tanto equivocada, pois parte do princípio que o mercado confia no governo italiano… na verdade o mercado confia é na UE, com a Alemanha e França fortes. a dívida italiana é emitida em euros e não na finada lira… se fosse em liras a confiança já teria ido para o beleléu… a taxa de juros básicos estão baixíssimas tanto pela liquidez, quanto pela falta de oportunidades de negócios. o dinheiro está sobrando então a taxa básica despenca.
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Quem está equivocado é você. Em 2012 a Itália e a Espanha, com dívidas como proporção do PIB muito mais baixas do que o nível prevalecente hoje, estavam sofrendo pesado ataque nos mercados de títulos da dívida pública por conta da expectativa de que ambos os países seriam obrigados a sair da área do Euro dada a crise da dívida soberana. Bastou o Presidente do Banco Central Europeu, Mario Dragui, falar para a imprensa que o BCE – note o BCE, não os tesouros da França ou da Alemanha – fariam tudo o que fosse necessário para garantir a sobrevivência do Euro que os spreads soberanos da Espanha e da Itália despencaram e se mantiveram baixos desde então. O que está mantendo a taxa de juros de longo-prazo da Itália em níveis baixos é a disposição do BCE de intervir ilimitadamente na ponta longa da curva de juros da dívida pública Italiana. A taxa de juros é sempre e em todo lugar um fenômeno monetário, no sentido de que depende crucialmente da política monetária. Por fim, numa economia de moeda escritural e, portanto, endógena não existe “sobra” ou “escassez” de dinheiro, pois a oferta de moeda é determinada pela demanda. Esse é um princípio elementar de economia monetária.
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