Na apresentação de seu magnífico “Memórias da Segunda Guerra Mundial”, Sir Winston Chuchill conta que ao ser indagado por F.D.Roosevelt a respeito de como se deveria chamar a Segunda Guerra Mundial, Churchill respondeu “a Guerra Desnecessária”. Isso porque os aliados Ocidentais, Reino Unido e França, desperdiçaram inúmeras oportunidades de estancar o expansionismo nazista – com a provável derrubada de Hitller do poder – no período entre 1935 à 1938. Durante esse período os exércitos ocidentais eram suficientemente fortes para por a Alemanha de joelhos à custa de alguns milhares de baixas em batalhas que seriam realizadas, quase que integralmente, em território alemão.  Nunca na história da humanidade uma hecatombe como a que ocorreu entre 1939 à 1945 poderia ter sido evitada a um custo tão baixo. No entanto, os lideres ocidentais permaneceram na sua marcha da insensatez, fazendo concessões a Hitller, dando tempo a Alemanha equipar e expandir o que até 1933 eram minúsculas forças armadas, até se tornarem uma força de combate formidável como os franceses puderem testemunhar “ao vivo e em cores” em maio de 1940. Apesar do expansionismo e do rearmamento da Alemanha nazista – e das afirmações de Hitler no minha luta de que um de seus objetivos era esmagar a França – os aliados ocidentais praticamente não fizeram nenhum esforço de rearmamento até às vésperas da Segunda Guerra Mundial. E mesmo depois da eclosão da mesma, os preparativos dos aliados continuaram em marcha lenta … a primeira divisão de tanaques da França só foi instituída quase às vésperas da invasão alemã.

Tal como na década de 1930 o mundo testemunha uma outra “marcha da insensatez”, desta vez protaconizada pelos Estados Unidos. Faz algumas semanas que estamos assistindo ao triste espetáculo da briga política entre Republicanos e Democratas por em risco a solvência da maior economia do mundo. Se até o dia 02 de agosto de 2011 o congresso não aprovar o aumento do limite de endividamento do governo federal, os Estados Unidos serão obrigados a entrar em default no que se refere ao pagamento dos serviços da dívida pública; isso, num contexto, em que a demanda por títulos soberanos dos EUA parece ser virtualmente infinita devido aos riscos de desmoronamento financeiro da área do Euro.  

Quais as consequencias de um default soberano dos EUA?  Ninguem tem uma resposta completa e convicente para essa pergunta, pois se trata de um evento que, até poucas semanas atrás, era tido como inimaginável, ou seja, um claro exemplo de evento inesperado no sentido de Shackle. Para eventos desse tipo o cálculo de probabilidades não se aplica. Como diria Keynes, “we simply do not know”.

Quaisquer que sejam as consequencias, de uma coisa podemos estar certos, elas serão muito ruins, não só para os Estados Unidos, como para todo o mundo.  Se a falência do Lehman Brothers levou o capitalismo para a beira do precipício, então o que não podemos esperar da “falência de fato” do governo da maior economia do planeta? Um cenário como a desintegração do capitalismo e a ocorrência de revoluções socialistas nos países europeus (e também nos EUA) em função do stress social causado pelo desemprego em massa não pode ser descartado.

O curioso dessa estória é que o impasse está sendo causado pela “direita radical” do partido Republicano, associado ao assim chamado Tea Party. Seria de se esperar que, mais do que qualquer outra facção política, o Tea Party estivesse interessado na preservação do capitalismo. Pelo visto, contudo, o Tea Party está adotando o comportamento de uma criança mimada: ou eles conseguem impor aos EUA a sua versão particular de capitalismo ou então “que tudo vá pro inferno”.

O sistema político americano falhou rotundamente ao permitir que um bando de caipiras ignorantes coneguissem importância política suficiente para ameaçar a sobrevivência  do capitalismo, não só nos EUA, como no mundo. Se o impensável ocorrer, o futuro dos EUA (e do mundo) poderá ser o comunismo … justamente aquilo que a direita radical americana mais teme . Nesse cenário, as idéias de Keynes serão, mais uma vez, confirmadas pois terá sido mostrado que as expectativas dos agentes econômicos tem o poder de se tornar “profecias auto-realizáveis”.