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Inércia inflacionária, Indexação, José Lus Oreiro, Julio Fernando Costa Santos, Reforma Monetária
Plano Real não eliminou todos os mecanismos de indexação existentes na economia
Por Anaïs Fernandes — De São Paulo
O Plano Real, iniciado em 1994, conseguiu remover mecanismos de indexação de
curto prazo da economia brasileira, mas ainda é um processo inacabado no
combate à inércia inflacionária, cujo coeficiente roda em 0,3, estimam os professores
José Luís Oreiro, da Universidade de Brasília (UnB), e Julio Fernando Costa Santos, da
Universidade Federal de Uberlândia (UFU), em capítulo que será publicado no livro
“Central Banks and Monetary Regimes in Emerging Countries” (Edward Elgar
Publishing).


O Real, dizem os autores, ajudou a desarmar o “efeito memória” da inflação, de
modo que as taxas passaram de 2.477% em 1993 para 22,4% em 1995 e ficaram
abaixo de 10% ao ano em boa parte dos períodos seguintes. O plano, no entanto,
não eliminou todos os mecanismos de indexação existentes na economia. Além dos
salários, preços de energia, de serviços de telecomunicações e de abastecimento de
água, por exemplo, são reajustados com base em índices como o IPCA e o IGP-M. E o
financiamento público brasileiro é essencialmente via títulos de curto prazo e
indexados.
“Embora o plano tenha conseguido reduzir as taxas de inflação no Brasil para níveis
moderados nos primeiros anos após sua implementação, a inflação média de longo
prazo mostrou uma notável resistência a cair abaixo de 5% ao ano, devido à
manutenção da indexação de preços para períodos superiores a um ano”, dizem os
autores.
Eles analisaram o comportamento de quatro índices (IPCA preços livres, IPCA cheio,
IGP-M e IPA), controlados por diversas variáveis explicativas, como a taxa de câmbio
efetiva, o hiato do produto (medida para a ociosidade da economia), o IBC-Br (Índice
de Atividade Econômica do Banco Central), a taxa de juros real de curto prazo e a
expectativa de inflação no boletim Focus.
“Os resultados obtidos mostram que todos os índices de inflação possuem efeito
inercial significativo”, afirmam os autores. “Ainda não desarmamos instituições que
faziam sentido durante o período de inflação alta, mas que não fazem mais hoje.
Esses mecanismos precisam ser desmontados para que o Brasil consiga ter uma
inflação baixa. O coeficiente inflacionário para um período grande está acima de 0,3,
é muito maior do que o 0,10, 0,15 estimado em outros estudos”, aponta Oreiro.
Os autores testaram também a evolução da inércia ao longo do tempo para os
índices brasileiros e para o American Consumer Price Index (CPI), medida para a
inflação ao consumidor nos Estados Unidos. Os quatro índices de inflação brasileiros
sempre apresentam um nível superior ao da economia americana, observa o
estudo. “Depois do Plano Real, o coeficiente de inércia inflacionária caiu, mas
permaneceu significativamente acima do caso de controle, que é os EUA”, diz Oreiro.
Os autores testaram também a evolução da inércia ao longo do tempo para os
índices brasileiros e para o American Consumer Price Index (CPI), medida para a
inflação ao consumidor nos Estados Unidos. Os quatro índices de inflação brasileiros
sempre apresentam um nível superior ao da economia americana, observa o
estudo. “Depois do Plano Real, o coeficiente de inércia inflacionária caiu, mas
permaneceu significativamente acima do caso de controle, que é os EUA”, diz Oreiro.
O aumento do efeito inercial em determinados períodos não significa exatamente
um aumento no grau de indexação da economia, dizem os autores, mas o grau
ainda elevado de indexação implica uma rigidez na redução do efeito inercial.
“Dificulta muito o controle da inflação por meio da política monetária, uma vez que
exige taxas de juros de curto prazo muito altas para manter a inflação em níveis
moderados”, afirmam.