Dani Rodrik on the future of globalization after the COVID crisis
04 segunda-feira maio 2020
Posted Crise do Coronavírus, Dani Rodrik
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in21 terça-feira nov 2017
Ao que tudo indica a economia brasileira deverá fechar o ano de 2017 com um crescimento abaixo de 1%, resultante dos efeitos combinados da liberação dos depósitos inativos do FGTS, da redução da taxa de juros e do forte crescimento das exportações, tanto de produtos básicos como de manufaturados, em função da aceleração do crescimento da economia mundial. Considerando a queda acumulada de quase 9% do PIB real no período 2014-2016 trata-se de uma recuperação anêmica, ainda que bem vinda.
A pergunta que se coloca a partir desse momento é qual o ritmo de crescimento que a economia brasileira pode sustentar no médio e no longo-prazo? Essa pergunta é fundamental tanto para a formulação de projeções sobre a trajetória das contas públicas, como também para o desenho de políticas que permitam lidar com os problemas estruturais da sociedade brasileira nas áreas de educação, saúde e infraestrutura.
A teoria econômica indica que o crescimento potencial de uma economia no longo-prazo é igual a soma entre a taxa de crescimento da força de trabalho e a taxa de crescimento da produtividade. A taxa de crescimento da força de trabalho depende da taxa de crescimento da população e do crescimento da taxa de participação, ou seja, do aumento da razão entre a força de trabalho e a população. Em função da queda tendencial da taxa de fecundidade (filhos por mulher) derivada do processo acelerado de urbanização da economia brasileira nos últimos 50 anos, a taxa de crescimento da população vem se reduzindo progressivamente, situando-se hoje em torno de 0,8% a.a. Na década passada a força de trabalho cresceu a um ritmo superior ao crescimento da população devido ao aumento da taxa de participação, induzida pela expansão do nível de emprego possibilitada pelas políticas de expansão da demanda agregada adotadas pelos governos Lula e Dilma. Embora a recessão de 2014 à 2016 tenha aumentado a taxa de desemprego, não podemos mais contar com um aumento significativo da taxa de participação nos próximos 15 anos, dado que a mesma já se encontra num patamar elevado. Dessa forma, o crescimento da força de trabalho deve contribuir com, no máximo, 1 p.p para o crescimento do PIB nos próximos anos.
E o que dizer da taxa de crescimento da produtividade? Os economistas ortodoxos (http://www1.folha.uol.com.br/colunas/samuelpessoa/2017/10/1929109-profundezas-da-improdutividade.shtml) acreditam que o crescimento da produtividade do trabalho é algo que não tem nada que ver com a acumulação de capital ou com a composição intersetorial da produção e do emprego, sendo dependente apenas das instituições) (grau de abertura da economia e grau de observância ao império da lei) e do estoque de capital humano. Dessa forma, a receita ortodoxa para acelerar o crescimento da produtividade é fazer a abertura indiscriminada e unilateral da economia para obrigar as firmas a serem mais eficientes, ao mesmo tempo em que se aumenta o investimento em educação básica e fundamental.
Em artigo publicado em 2013, o economista Dani Rodrik, da Universidade de Harvard, mostrou que a estratégia de desenvolvimento baseada na melhoria de instituições e da acumulação de capital humano é relativamente pouco eficaz como fonte de aumento da produtividade. Os países que experimentaram surtos de crescimento econômico acelerado foram precisamente aqueles que conseguiram transferir mais rapidamente mão-de-obra dos setores tradicionais para a indústria de transformação. Isso porque a indústria de transformação é o setor que se beneficia mais intensamente dos efeitos de transbordamento positivos da fronteira tecnológica, razão pela qual se observa uma convergência incondicional entre os níveis de produtividade dos setores manufatureiros ao redor do mundo; ou seja, a produtividade do trabalho na indústria de transformação tende a crescer mais rapidamente nos países que estão atrás da fronteira tecnológica (Rodrik, 2012), fazendo com que a produtividade do trabalho na manufatura desses países possa convergir rapidamente para a produtividade do trabalho da manufatura nos países que estão na dita fronteira.
A intensidade e a duração da fase a la Lewis (1954) de transferência de mão-de-obra dos setores tradicionais para a manufatura irá depender, contudo, dos limites existentes a participação da mão de obra industrial na força de trabalho. Rodrik (2013) mostra que a participação do emprego industrial no emprego total é limitada por dois fatores fundamentais, a saber: (i) a participação dos produtos manufaturados na demanda agregada doméstica (ii) o saldo da balança comercial de produtos manufaturados. Em função da “lei de Engel”, a participação dos manufaturados na demanda doméstica tende a cair com o processo de desenvolvimento econômico, o que tende a diminuir a participação do emprego industrial no emprego total, levando assim a um processo de desindustrialização e, consequentemente, a redução do ritmo de crescimento da produtividade do trabalho. Para retardar ou até mesmo reverter esse processo é necessário aumentar o saldo da balança comercial de manufaturados, o que exige, entre outras coisas, manter a taxa de câmbio num patamar competitivo. Dessa forma, a estratégia de desenvolvimento por intermédio da industrialização deve estar baseada na conquista de mercados externos, ao invés da substituição de importações.
Esse arcabouço teórico nos permite entender as razões para o sucesso econômico da Alemanha e do fracasso do Brasil nos últimos 15 anos. Conforme aponta Flassbeck (2017), desde 1998 a Alemanha vem adotando uma política de “desvalorização interna” da taxa de câmbio por intermédio de medidas que levaram a um crescimento dos salários reais a um ritmo inferior ao da produtividade do trabalho. Como resultado dessa política, o custo unitário do trabalho na Alemanha se reduziu relativamente ao dos demais países da Área do Euro, permitindo assim que a Alemanha acumulasse crescentes superávits em conta-corrente como proporção do PIB. Dessa forma, a participação do emprego industrial no emprego total na economia alemã pode ser mantida, evitando-se assim a “desindustrialização” com a transferência de mão-de-0bra da indústria para o setor de serviços. Já no Brasil a taxa real de câmbio tem apresentado uma tendência crônica a sobrevalorização desde 1994, a qual foi revertida de forma pontual e temporária no período (2000-2004). O resultado dessa sobrevalorização cambial foi a redução gradual do superávit comercial da indústria de transformação até 2007, momento a partir do qual se passa a observar déficits comerciais crescentes nesse setor. Esse movimento foi acompanhado de uma transferência de mão-de-obra e recursos da indústria de transformação para o setor de serviços, sendo esta uma das razões fundamentais para a estagnação do crescimento da produtividade do trabalho no Brasil.
Isso posto, para que seja possível acelerar o ritmo de crescimento do trabalho na economia brasileira será necessário reverter o processo de desindustrialização por intermédio de medidas que visem manter a taxa real de câmbio num patamar competitivo no médio prazo. Isso significa obter um patamar para a taxa de câmbio que seja alto o suficiente para reverter, de forma persistente, o déficit comercial da indústria de transformação. Dado que o Brasil é um grande exportador de produtos básicos, a reversão do saldo comercial da indústria de transformação terminará por fazer com que o Brasil apresente um superávit estrutural no saldo em conta-corrente do balanço de pagamentos. Dessa forma, a obtenção de um modesto superávit em conta-corrente, na ordem de 1% do PIB, deve ser visto como condição necessária para a aceleração sustentável do crescimento da economia brasileira.
Alguns economistas podem fazer objeções a essa política dizendo que o Brasil tem escassez de poupança doméstica e que, portanto, não é viável ou desejável a obtenção de superávits em conta-corrente do balanço de pagamentos. Conforme já argumentei em outro post (https://jlcoreiro.wordpress.com/2017/10/14/poupanca-lucros-e-industria/), a taxa de poupança doméstica está positivamente correlacionada com a participação da indústria de transformação no PIB, uma vez que (i) a fonte principal de poupança doméstica consiste nos lucros corporativos; (ii) os produtos manufaturados, por serem mais intensivos em capital, são precisamente aqueles que possuem maior participação dos lucros no valor adicionado. Dessa forma, a reindustrialização do Brasil, se bem sucedida, também deverá eliminar o problema estrutural de escassez de poupança no Brasil.
Referências
Flassbeck, H. (2017). “Germany´s Trade Surplus”. American Affairs, Vol. I, N.3.
Lewis, A. (1954). “Economic Development with Unlimited Supplies of Labor”. Manchester School of Economics and Social Studies, 28: 139-191.
Rodrik, D. (2013). “The Past, Present and Future of Economic Growth”. The Global Citizem Foundation, Working Paper 1.
Rodrik, D. (2012). “Unconditional Convergence in Manufacturing”. Quarterly Journal of Economics, pp.165-204.
30 segunda-feira out 2017
Fernando Dantas
30 Outubro 2017 | 18h04
A economia está se recuperando, mas todos concordam que se trata de uma retomada cíclica. Para iniciar um novo ciclo de crescimento sustentável, o Brasil tem vários obstáculos à frente. O mais comentado é a bomba fiscal ainda não desarmada. No campo dos neodesenvolvimentistas, entretanto, a desindustrialização é considerada um problema chave.
O debate é antigo. Economistas heterodoxos tendem a enfatizar o vigor industrial como um ingrediente indispensável para uma sólida trajetória de aumento da produtividade no médio e longo prazo.
Em recente artigo, em que faz uma interessante discussão sobre os países africanos e suas perspectivas de crescimento, o economista Dani Rodrik, de Harvard, cita as três razões clássicas pelas quais a indústria é considerada um passaporte para o desenvolvimento.
O problema, segundo Rodrik, é que o mundo está mudando rápido. A indústria está cada vez mais exigente em termos de capacitação e a globalização tornou o mercado global de manufaturas extremamente competitivo – não é fácil arrancar uma fatia dos superpoderosos países asiáticos. Assim, ele prossegue, há desindustrialização em boa parte do mundo emergente.
“É como se a escada rolante tivesse sido retirada dos países que ficaram para trás”, escreve o economista.
No caso da África, entretanto, ele nota que países como Etiópia, Costa do Marfim, Tanzânia, Senegal, Burkina Faso e Ruanda (e, na Ásia, Índia, Myanmar, Bangladesh, Laos, Camboja e Vietnã) continuam crescendo e devem ter expansão do PIB de 6% ou mais este ano.
Especialmente em relação à África, o que chama a atenção de Rodrik é que o bom desempenho continua mesmo depois do fim do boom de commodities, que empurrou muitas economias do continente. O fenômeno também se dá – o que ele considera estranho à primeira vista – sem sinais significativos de industrialização (e até pelo contrário, em alguns casos).
Em recente trabalho com colaboradores, Rodrik detectou que o êxodo rural naqueles países africanos, que continua, tem como principal destino não a indústria, mas sim os serviços. E, embora haja um salto inicial de produtividade entre a agricultura tradicional e os serviços, este último setor tem um mau desempenho de produtividade. Isso faz o economista prever que o crescimento desses países africanos pode vir a ser uma espécie de “voo de galinha”.
Uma importante causa desse padrão de mudança da estrutura produtiva, segundo Rodrik, pode ser o fato de que a demanda por detrás desse crescimento é interna, derivada dos ganhos de produtividade na agricultura, e não uma demanda externa por manufaturados. Outro fator que pode estar estimulando a demanda nesses países são transferências do exterior.
Este é um debate relevante para o Brasil, que, embora com um nível de desenvolvimento bem superior ao dos países africanos mencionados, tem o seu crescimento comprometido pela pífia performance da produtividade – e a expansão do emprego nos serviços não sofisticados, em vez de na indústria, é apontada como uma causa importante por uma corrente de economistas.
O economista José Luiz Oreiro, da UnB, diz que “o artigo do Rodrik vai bem na linha do que os novo-desenvolvimentistas defendem”. Para ele, “a transição de uma economia de renda baixa para uma de renda alta só é possível por intermédio da industrialização”.
Nessa visão, o aumento da fatia dos postos de trabalho da indústria no emprego total e a ampliação do valor adicionado da manufatura no PIB geram os ganhos de produtividade que levam a economia para níveis mais elevados de renda per capita.
“Melhorias na infraestrutura e na produtividade agrícola podem gerar ganhos temporários de crescimento, mas é a industrialização que atua como motor de crescimento de longo prazo”, explica Oreiro.
Ele considera que Rodrik endossa a “tese keynesiano-estruturalista” de que aquilo que o país produz (não apenas o que exporta) importa para o crescimento de longo prazo.
“Os liberais brasileiros estão redondamente enganados quanto à irrelevância da estrutura produtiva”, critica o economista.
Já Samuel Pessôa, economista-chefe da gestora Reliance e pesquisador associado do Ibre/FGV, faz uma mudança no enfoque da questão proposta por Rodrik.
“O que parece escapar, quando se lembra do desenvolvimento industrial da Ásia, é que ele já é uma consequência da ótima qualidade da educação e das elevadíssimas taxas de poupança”.
Nesse foco, a escolaridade de boa qualidade é necessária aos modernos postos de trabalho na indústria. Já a elevada poupança reduz o custo de capital (e a indústria é mais intensiva em capital que os serviços) e, por estar associada à possibilidade de taxas de câmbio mais depreciadas, abre espaço para o crescimento liderado pelas exportações e os consequentes ganhos de escala.
Assim, o caminho, tanto para países africanos como para o Brasil e outras economias de renda média que lutam para não ficar atoladas na armadilha da renda média, seria melhorar a qualidade da educação e estimular – na medida do possível – a poupança doméstica.
Esse é um debate que certamente deve voltar à tona quando o Brasil apagar os incêndios, especialmente na política fiscal, que ainda ameaçam a atual retomada cíclica. (fernando.dantas@estadao.com)
17 terça-feira out 2017
Para o azar dos liberais brasileiros que insistem na tese, desprovida de base empírica, de que o desenvolvimento econômico não depende da estrutura produtiva de um país, em particular do crescimento acelerado da produção industrial; o artigo de Dani Rodrik no Valor de hoje (http://www.valor.com.br/opiniao/5157940/crescimento-sem-industrializacao) mostra que as experiências recentes de crescimento acelerado dos países da África, puxados por investimentos em infraestrutura, mas não acompanhados por um crescimento da produção industrial com vistas a exportação, “são excepcionais e podem não durar”. Ele também argumenta que a desindustrialização prematura ocorrida em várias economias em desenvolvimento tirou das mesmas a sua força propulsora. Por fim, o autor destaca que “industrialização” e “investimento em capital humano” são complementares, ao invés de substitutos, como parecem acreditar os liberais tupiniquins.
Graduado em Economia pela FEA-USP. Mestre e Doutor em Economia pela Fundação Getúlio Vargas em São Paulo. Foi pesquisador visitante nas Universidades de Cambridge UK e Columbia NY. Foi economista chefe, gestor de fundos e CEO em instituições do mercado financeiro em São Paulo. É professor de economia na FGV-SP desde 2002. Brasil, uma economia que não aprende é seu último livro.
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