homenagem ao cardim 2011 (Clicar no item ao lado)
Slides da minha apresentação em homenagem ao Fernando Cardim durante o IV Encontro Internacional da AKB
16 quarta-feira maio 2018
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05 terça-feira jul 2016
E este não é um texto voltado para economistas. Se você é economista e precisa ouvir o que vou dizer, repense suas escolhas de vida. É uma discussão com os intelectuais petistas, em geral oriundos de outras ciências sociais e das humanidades –assim como eu–, e com a esquerda universitária em geral. Pois estou convencido de que o problema somos nós”, escreve Celso Rocha de Barros, doutor em Sociologia pela Universidade de Oxford, em artigo publicado por Folha de S. Paulo, 03-07-2016.
Eis o artigo.
Não é um momento bom para a discussão econômica na esquerda brasileira. A nova matriz econômica do primeiro governo Dilma claramente deu errado. Embora seja legítimo discutir o quanto da crise atual foi causada pelos erros da matriz, é indiscutível que se gastou muito por um crescimento que não veio –e quem veio foi a inflação. Quando Dilma, logo após a eleição de 2014, nomeou Joaquim Levy para a Fazenda, esperava-se uma autocrítica petista. Quando o desenvolvimentista Nelson Barbosa assumiu no lugar de Levy e propôs um ajuste muito parecido, a autocrítica parecia inevitável.
Mas a guerra do impeachment tornou secundária toda discussão que não fosse sobre quem, PT/PMDB ou PMDB/PSDB, teria o direito de distribuir as verbas e cargos do governo federal (e se meter na Lava Jato). O PT se recolheu em um discurso antiajuste militante que já sinalizava o prognóstico de que a volta para a oposição era inevitável. O quinto congresso do partido em Salvador, no ano passado, prosseguiu em total negação da necessidade de ajuste. Há muito pouca coisa nos manifestos de esquerda recentes que pareça atraente para um estudante de economia, e isso diminui a reserva de potenciais ministros da Fazenda dos futuros governos progressistas.
As circunstâncias do impeachment certamente favorecem o instinto de voltar a ser o PT dos anos 1980. A manobra parlamentar que afastou Dilma Rousseff tem mais cara de Brasil pré-89 do que qualquer coisa nos manifestos do PT. Mas isso é um motivo ruim para não discutir o fracasso da nova matriz econômica. Não só porque honestidade intelectual sempre serve para alguma coisa, mas também porque o novo governo é extremamente impopular e ainda mais exposto à Lava Jato do que o anterior. A esquerda precisa estar pronta para chegar em 2018 com um discurso para ganhar a presidência, não a eleição para o centro acadêmico. Por esse motivo, senão por todos os outros, precisa voltar a falar sério sobre economia.
Há debates interessantíssimos e intelectualmente instigantes a serem feitos sobre a economia brasileira, mas este aqui não será um deles. A autocrítica necessária é só o reconhecimento de alguns fatos básicos, como a necessidade de controle das contas públicas e contenção da inflação. É a mesma autocrítica que o PT fez quando Lula ganhou a presidência. Para além disso (e se tivermos apenas isso já ficarei bastante satisfeito), seria bom se iniciássemos negociações políticas sobre a reforma da Previdência ou do sistema tributário com a esquerda na mesa. Daí em diante, no mundo de debates sofisticados sobre câmbio e poupança, inovação e abertura comercial, há gente muito melhor do que eu para ser lida, à esquerda e à direita.
E este não é um texto voltado para economistas. Se você é economista e precisa ouvir o que vou dizer, repense suas escolhas de vida. É uma discussão com os intelectuais petistas, em geral oriundos de outras ciências sociais e das humanidades –assim como eu–, e com a esquerda universitária em geral. Pois estou convencido de que o problema somos nós.
Lado Bom
Não é inevitável que a esquerda seja ruim de economia. Nos Estados Unidos, economistas progressistas como Paul Krugman ou Joseph Stiglitz têm ganhado a maior parte dos debates contra seus equivalentes republicanos. A esquerda europeia claramente tinha razão contra quem propôs austeridade logo após a crise de 2008. Durante os trinta anos gloriosos do pós-guerra, a esquerda no mundo desenvolvido geriu o capitalismo mais ou menos tão bem (ou tão mal, dependendo do país) quanto a direita. Foi um governo trabalhista que concedeu autonomia ao Banco Central britânico. Aqui na América Latina, as esquerda chilena e uruguaia administram bem economia, como, aliás, também o faz o governo do bolivariano Evo Morales (ao menos segundo opinião recente do FMI). A gestão econômica foi adequada durante os dois governos de Lula.
Note-se que, nos exemplos acima, os economistas de esquerda não acertaram apenas quando o que precisava ser feito era aumentar a intervenção do Estado na economia (como no dia seguinte ao da crise de 2008), mas também quando era necessário conter gastos ou tornar a gestão econômica mais previsível. Não há nada intrínseco ao esquerdismo que exija que seus defensores desequilibrem o orçamento público ou deixem a inflação sair de controle.
No que se refere a temas como equilíbrio fiscal, aliás, a esquerda deveria ser mais atenta do que a direita: quem depende de um Estado forte para atingir seus objetivos são os progressistas. Um Estado falido serve tanto à esquerda quanto um mercado inteiramente montado em cima de hipotecas “subprime” (segunda linha) e de produtos financeiros correspondentes serviu ao liberalismo.
Esquerda e direita discordarão sobre o quanto deve ser taxado, sobre como o dinheiro arrecadado deve ser gasto, mas não sobre o fato de que o quanto você consegue arrecadar impõe algum limite sobre o quanto você pode gastar.
Não se trata de discutir ortodoxia contra heterodoxia. As escolas de economia têm visões diferentes sobre o papel do câmbio desvalorizado como indutor do desenvolvimento, ou sobre o quanto do investimento deve ser direcionado pelo Estado. Esses debates são legítimos, intelectualmente instigantes, e de enorme importância prática, mas defendo que a esquerda seja agnóstica sobre todos eles. O que funcionar, funcionou, e o crucial é manter o foco sobre a redistribuição de renda e oportunidades.
Isso significaria não ter uma posição “oficial” da esquerda sobre toda uma gama de assuntos. Não há por que esperar que todos os que defendem a redistribuição de renda tenham a mesma opinião sobre o nível ideal da taxa de câmbio, por exemplo. Da mesma forma, a relação entre investimento estatal direto e privatização/concessões é um debate sobre fronteiras muitas vezes fluidas. Deixem de lado no momento (e, no que depender de mim, para sempre) os que propõem a estatização completa ou a privatização completa da economia (quase ninguém pertence a esses extremos). Os defensores de mais intervenção estatal direta estão falando sobre empreendimentos estatais que incluirão diversas camadas de subcontratação, financiamento privado e permanente risco de captura regulatória; os defensores da privatização discutem empresas privadas atuando sob diversas camadas de regulação estatal em mercados com competição ridiculamente imperfeita, e, novamente, permanente risco de captura regulatória. A diferença é muito menos radical do que parece.
A escolha entre as alternativas não parece diretamente relacionada a convicções sobre igualdade, e, aliás, é inteiramente dentro do reino do possível que situações diferentes sejam mais bem resolvidas com arranjos diferentes. Não é razoável marcar a diferença entre esquerda e direita primariamente pela tomada de posição em nenhum desses debates econômicos.
A prioridade da esquerda deve ser redistribuir renda e construir um Estado de bem-estar social, duas discussões em que os economistas (enquanto tais) só têm direito de aparecer para dizer como fazer melhor o que a política e a moral já tiverem decidido fazer.
Uma vez estabelecido esse princípio geral, é também necessário reconhecer que, historicamente, houve uma afinidade eletiva entre a esquerda e escolas de economia mais propensas a recomendar a intervenção do Estado na economia. A esquerda, afinal, já defende a intervenção do Estado na redistribuição de bens e oportunidades. Há um grau de ceticismo comum em relação aos resultados do funcionamento do livre-mercado que aproxima os defensores da redistribuição aos defensores da intervenção estatal.
Casamento
Defendo, contudo, que esse seja um casamento aberto: os keynesianos e heterodoxos devem se sentir livres para recomendar, por exemplo, cortes em programas sociais, ou menores aumentos para o salário mínimo, quando essa for a recomendação de seus modelos. E a esquerda deve ser livre para recusar propostas heterodoxas que, por algum motivo (digamos, por aumentar a inflação, ou comprometer a capacidade fiscal do Estado) prejudiquem os mais pobres ou levem a aumentos da desigualdade de renda.
Eu, por exemplo, preferia que o governo Dilma tivesse sido um governo de ajuste econômico que enfrentasse a questão tributária que Lula não enfrentou. Teria sido melhor fazer o ajuste e, partindo de uma posição de força, comprar as brigas por redistribuição no Congresso. Isto é, eu preferia que o governo do PT tivesse sido mais à esquerda na questão tributária e mais ortodoxo em economia.
Mas também acho inteiramente possível que um governo heterodoxo menos comprometido com a esquerda –digamos, o de José Serra, rival de Dilma em 2010– tivesse obtido resultados melhores do que esses que os heterodoxos de esquerda obtiveram. Há economistas razoáveis, que não podem ser rotulados como pessoas ruins ou antipobres, e que acham que os salários subiram rápido demais durante o governo Dilma. Talvez a mesma coisa não tivesse acontecido em um governo heterodoxo de Serra. O mesmo pode ser dito sobre a questão fiscal: quando Nelson Barbosa deixou o governo Dilma por discordar (corretamente) da política fiscal, o heterodoxo José Luis Oreiro, ex-presidente da Associação Keynesiana Brasileira, escreveu em seu blog que isso era um sinal de que ele tinha acertado ao votar em José Serra em 2010.
Também não se trata de discutir keynesianismo ou “austericídio“. Quando a crise brasileira se agravou, o economista liberal norte-americano Tyler Cowen escreveu em seu blog (o Marginal Revolution, um dos melhores do mundo) que gostaria de saber o que os críticos da austeridade teriam a dizer sobre isso. Afinal, o Brasil foi um país que se saiu excepcionalmente bem nos anos da crise em função de políticas de intervenção estatal. O fracasso brasileiro não seria prova de que os austeros estavam certos? Essa crítica é o exato reflexo da visão, muito comum na esquerda brasileira, de que o ajuste promovido por Joaquim Levy e Nelson Barbosa (ou agora, imagino, por Henrique Meirelles) seria a versão local do austericídio europeu.
As duas visões são falsas. As respostas à crise aqui foram diametralmente opostas às europeias, e, de fato, nos saímos melhor nos anos seguintes à crise do que os europeus. Mas as políticas de estímulo deveriam ter sido progressivamente desarmadas. O problema não foi ter sido Paul Krugman em 2009-10, foi não ter sido Tyler Cowen em 2011-12. A propósito, convém suspeitar da turma que defende política anticíclica, mas até hoje não foi vista defendendo ajuste em momento algum. Estamos sempre no mesmo momento do ciclo?
Gasto
Não é questão de heterodoxia, não é questão de keynesianismo: é muito mais básico. Não há nenhuma escola de economia que defenda que você pode gastar o quanto quiser. E esse parece ter sido o pressuposto indiscutível de tudo que a esquerda brasileira disse sobre economia desde que Joaquim Levy virou ministro da Fazenda. Quando um economista heterodoxo como Nelson Barbosa criticou a política fiscal em 2013, ou quando propôs a reforma da Previdência em 2015, a esquerda fingiu que não ouviu. Economistas heterodoxos como Bresser-Pereira e José Luis Oreiro foram citados pela esquerda sempre que se tratava de criticar juros altos, mas muito raramente quando defendiam ajuste nas contas públicas. Os economistas heterodoxos subiram ou desceram na bolsa de valores intelectual da esquerda conforme disseram o que ela queria ouvir.
É nessa submissão da discussão econômica à política que devemos procurar a raiz do problema. E a formação intelectual do PT –que foi a minha– favoreceu esse erro.
O PT foi formado quando o ambiente intelectual na esquerda mundial era marcado por uma forte reação ao marxismo soviético. A simples presença de trotskistas e católicos em posições de influência dentro do partido garantia o distanciamento do marxismo canônico, já em franca decadência no começo da década de 1980. Os intelectuais petistas da época liam com entusiasmo autores que criticavam o marxismo ortodoxo, de Gramsci e Foucault a Lefort e Castoriadis, passando por Negri e Deleuze. Grande parte desses autores, a propósito, criticavam o marxismo pela esquerda, de pontos de vista que talvez despertassem mais entusiasmo nos anarquistas e em outras esquerdas dissidentes do que nos comunistas.
Um dos traços distintivos desse pensamento era seu antieconomicismo. O marxismo soviético era baseado na ideia de que o desenvolvimento econômico determina a evolução das estruturas políticas e ideológicas. A reação a esse dogma, seja por pós-marxistas, seja por marxistas “ocidentais”, tomou a forma de diversas reafirmações da importância do político, da cultura e do imaginário, do corpo, enfim, de tudo que havia sido excluído da estreita visão de mundo dos manuais de marxismo.
Entre os intelectuais de esquerda, essa reação foi indiscutivelmente saudável, produzindo toda uma leva de trabalhos historiográficos sobre escravidão no Brasil que fugia dos determinismos economicistas. A reflexão sobre gênero foi decisivamente impulsionada pela incorporação de demandas não econômicas ao programa de esquerda em pé de igualdade com as reivindicações econômicas usuais. Experiências como o orçamento participativo de Porto Alegre colocavam em questão os limites da gestão tecnocrática.
Mas essa trajetória intelectual criou na esquerda pós-marxista um seríssimo deficit econômico. Confrontados com um raciocínio econômico, o reflexo de nossa esquerda (o meu, inclusive) é procurar uma forma de reduzi-lo a um problema político, pois o arsenal teórico da esquerda pós-marxista é muito melhor na discussão de questões de poder do que nas relativas às regularidades características das instituições de mercado.
Uma injeção de ceticismo sobre o quão científicas são as discussões econômicas, aliás, pode ser bastante saudável para os economistas: isto é, para quem já parte do princípio de que existem regularidades econômicas identificáveis e está familiarizado com seus padrões básicos. Meu objetivo aqui é criticar quem usa a objeção “a economia também é um campo de luta” para se dispensar de conhecer essas regularidades, ou para evitar levá-las a sério como condicionantes da ação governamental.
Para citar um exemplo escolhido por ser mais sofisticado que os outros, tomemos a discussão de André Singer sobre o fracasso da nova matriz econômica, publicado em 2015 na edição 102 da revista “Novos Estudos“, do Cebrap. Singer lê o episódio inteiro como uma luta política entre uma coalizão produtivista (trabalhadores e empresários) e uma coalizão rentista liderada pelo mercado financeiro. O experimento desenvolvimentista de Dilma teria sido uma ofensiva da coalizão produtivista, que, entretanto, sob forte pressão política e de mídia, foi derrotada quando o Banco Central, em 2013, capitulou e voltou a subir os juros.
Não se trata de negar que existam conflitos políticos envolvidos na confecção da política econômica, e, aliás, os melhores economistas não o negam. Nenhum economista sério negará que existam grupos de pressão, captura regulatória, “rent-seeking“, diferenças evidentes de poder entre os vários agentes etc.
Mas a economia não é só isso. Não é possível analisar o abandono da nova matriz econômica sem levar em conta que seus resultados foram muito ruins: apesar de tudo que foi gasto com subsídios e isenções no primeiro mandato de Dilma, o crescimento econômico se desacelerou, e a inflação subiu. Quando o BC sobe os juros em 2013, já se sabia que os resultados de 2012 haviam sido péssimos. E 2012 foi, segundo Singer, o ano-chave do “experimento desenvolvimentista”.
Admitamos, para facilitar a discussão, que houve o choque de coalizões descrito por Singer. Se o PIB em 2012 tivesse crescido 6% (e não 1,8%), é certo que o governo Dilma teria dobrado a aposta na nova matriz. Não haveria campanha de mídia capaz de derrubar a popularidade de um governo que atingisse essa taxa de crescimento. Um crescimento nesse ritmo traria inclusive apoio de parte importante do empresariado ao governo. E todos sabemos como os aliados políticos vão e vêm conforme a popularidade desce ou sobe. Perguntem a Dilma Rousseff.
De modo que, mesmo admitindo a narrativa de Singer, é preciso admitir que a coalizão apoiada pela esquerda apresentou um programa ruim, que produziu resultados ruins. O motivo pelo qual esses resultados foram ruins devem ser buscados em mecanismos internos à economia. O aumento de juros de 2013, por exemplo, não teve nada a ver com a aceleração da inflação?
Diga-se o que quiser de Karl Marx, dessa vez a culpa não é dele. O estudo das relações entre as categorias da economia de mercado, seja em “O Capital“, seja nos manuais usados no departamento de economia de Chicago, claramente supõe que algumas coisas (certamente não todas) acontecem por motivos estritamente econômicos. Toda a análise da esquerda sobre o capitalismo supõe justamente que as instituições de mercado geram certos incentivos e agregam as ações tomadas sob estes incentivos de uma certa forma. Se você convencesse o velho Karl de que os economistas petistas descobriram que sempre é possível, em uma economia capitalista, sob a direção política certa, crescer aceleradamente, distribuir renda, garantir pleno emprego e evitar inteiramente as oscilações de mercado, tudo isso sem nunca sacrificar a classe trabalhadora, ele largaria a biblioteca do museu britânico e iria para a praia.
Os economistas continuarão discutindo as melhores maneiras de aumentar a taxa de poupança ou de promover a inovação tecnológica, e cada um de nós concordará com uma das partes no debate, mas tudo que este texto pede aos intelectuais da esquerda brasileira é que não criem dentro dos partidos e movimentos progressistas um ambiente em que as ideias econômicas sejam julgadas apenas pela conformidade com a postura política geral do movimento. Foi assim que o partido republicano norte-americano morreu.
É preciso defender a autonomia do econômico diante das correntes intelectuais hegemônicas na esquerda desde 1968, como antes foi necessário defender a autonomia do político diante do marxismo ortodoxo. É preciso reconhecer a soberania do pensamento econômico sobre o território intelectual que lhe é de direito, ainda que continue sendo legítimo e necessário combatê-lo em seus momentos imperialistas. Quando perceberem em seus alunos o reflexo de chamar todo ajuste fiscal de “fiscalismo” ou todo aumento de juros de “rendição ao rentismo”, matem essas ideias no berço.
20 sábado fev 2016
Com previsões controversas, Felipe Miranda, sócio da casa de análises Empiricus, provoca o mercado financeiro e cutuca o governo brasileiro. Acreditar nele, ou não, pode trazer prejuízo ou lucro
A Empiricus, umas das maiores casas independentes de análise financeira do País, anda na contramão das previsões do mercado. Seus relatórios, assinados pelo sócio-fundador Felipe Miranda, têm o poder de cair como uma bomba na mesa dos investidores. Na terça-feira 16, a mais recente projeção da equipe da Empiricus fez a espinha de muitos gelar: “O calote – o Brasil está tecnicamente quebrado”. Para corroborar essa tese, no dia seguinte a agência de classificação de risco Standard & Poor’s, que já havia retirado o grau de investimento do Brasil, em setembro, rebaixou novamente a nota soberana, agora com perspectiva negativa. (leia reportagem aqui).
Aos 31 anos, Miranda incorpora o mito grego da Cassandra, aquela que tem o dom da profecia, mas vive sob dilema. Se erra, é desmoralizada. E, se acerta as previsões, é chamada de agourenta. “Não sou psicólogo, meu trabalho não é deixar as pessoas bem-humoradas”, diz Miranda. “Meu trabalho é fazer as pessoas ganharem dinheiro.” Miranda é um especialista em mexer com o imaginário dos leitores. De segunda a sexta-feira, ele se fecha às 7h40 em sua mesa, no 4º andar de um edifício no Itaim Bibi, zona sul de São Paulo, e fica cerca de duas horas analisando o mercado financeiro e buscando a frase impactante de seu próximo livro ou relatórios sobre a situação econômica brasileira.
A força da Empiricus está, justamente, no poder do título, muito mais catastrofista e chamativo que o conteúdo de seus trabalhos. Nesse último relatório, para justificar que o Brasil está quebrado, Miranda e sua equipe mostram que a relação dívida-PIB caminha rapidamente para superar o patamar de 80% – hoje está em 66% – depois de 2018. Mas, com a ressalva: “Mais uma vez, não se trata de uma conta exclusiva da Empiricus”, diz o texto. E, diferentemente da agressividade do título de seu produto, Miranda não acredita veemente em um default.
“Antes de dar o calote, como última consequência, o governo tem a prerrogativa de imprimir dinheiro para honrar seus compromissos”, diz ele. “Mas pagar a dívida com inflação é um calote disfarçado.” O segredo da empresa está nessa fama de polemista adquirida nos últimos anos, principalmente após a publicação do relatório O Fim do Brasil, em 2014. Ser considerado agourento rende, também, fortuna. Os seguidores da Empiricus aumentam na mesma proporção que a popularidade de seus relatórios chamativos.
Atualmente, são 1,6 milhão de assinantes do conteúdo gratuito e 115 mil pagantes, que desembolsam entre R$ 9,90 a R$ 600 por mês para ter acesso ao material exclusivo. O resultados da empresa é mantido em sigilo. A história recente da economia mostra outros personagens conhecidos como Cassandra. O economista americano Nouriel Roubini, chamado de doutor Catástrofe, deu início a uma série de previsões pessimistas sobre a economia mundial no início dos anos 2000. Quando acertou a previsão de quebra do mercado imobiliário americano, passou a ser o sábio a quem ninguém deu ouvidos.
A desmoralização da Cassandra acontece por aqueles que lembram de projeções falhas ou do longo período para a concretização de uma previsão. Quando Miranda falava que a cotação do dólar chegaria a R$ 4, a moeda americana estava sendo negociada a R$ 2,90 e chegou a cair antes de iniciar uma trajetória de alta. Em janeiro, Miranda disse que as ações da Petrobras estavam condenadas a cair, por isso era preciso vender e não comprar papéis da estatal. Em poucos dias, a Petrobras alcançou uma valorização de mais de 20%.
A bolsa de valores causou o mesmo efeito, porém contrário, que a S&P sobre seu último relatório. Especialistas ouvidos pela DINHEIRO acreditam que a intenção de Miranda é assustar para gerar mais volatilidade no mercado financeiro e, assim, mais demanda para sua consultoria. “O Brasil não vai dar um calote, não teremos crise de abastecimento e muito menos hiperinflação”, diz José Oreiro, professor do Instituto de Economia da UFRJ e da Associação Keynesiana Brasileira.
“Nossas instituições são sólidas o suficiente para que medidas drásticas como essas se concretizem.” As críticas fazem parte da história da Empiricus. No final de 2011, a casa de análise publicou uma carta aberta aos clientes e à imprensa detalhando o que considerava inconsistente no balanço do frigorífico Marfrig. A empresa entrou com uma notificação na Comissão de Valores Mobiliários e, em novembro de 2012, venceu o caso.
A Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais avaliou como inadequada a conduta de analistas da Empiricus, que estavam abusando de agressividade nos relatórios. Marcos Eduardo Elias, responsável pelos textos, recebeu a suspensão do credenciamento por um ano. Rodolfo Amstalden e Roberto Altenhofen pagaram multa de R$ 2 mil. “Para se firmar no mercado financeiro é preciso cultivar a chamada teimosia saudável e não ter medo de errar”, afirma Miranda. “Vamos errar, isso é certo, mas temos que errar pequeno para perder menos. Esse é nosso objetivo.”
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O que dizem os relatórios escritos por Felipe Miranda, analista e sócio-fundador da casa independente de finanças Empiricus
Previsões em 2014:
• “Combinado o repasse integral das tarifas públicas represadas e a desvalorização esperada do câmbio, a inflação brasileira pode chegar a 12% ao ano, para uma meta de 4,5%”
A inflação fechou 2014 a 6,41% e em 2015 a 10,7%
• “O Banco Central norte-americano deve começar a subir a taxa de juro em 2015. Neste momento, vai faltar dólar no Brasil. Teremos uma disparada da taxa de câmbio”
O Fed elevou os juros em dezembro de 2015, a primeira alta desde junho de 2006
• “A poupança de milhões de pessoas será dizimada. A mudança vai afetar seus negócios e empregos”
A nova regra da poupança passou a valer em maio de 2012, mas o saldo só começou a cair no ano passado, com a alta da inflação e a recessão da economia. O total depositado está em R$ 648,6 bilhões
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Previsões em 2016:
• “As duas únicas alternativas possíveis para a dívida brasileira: pagá-la gerando inflação ou renegociá-la com os credores, com risco de moratória”
O total da dívida pública brasileira chegou a R$ 2,79 trilhões no ano passado, ou seja, 66% do PIB brasileiro
• “Problemas de abastecimento e falta de produtos não são distantes da realidade do brasileiro. O que estamos fazendo para evitar a volta do fantasma do passado?”
O agronegócio aumentou sua participação na economia, com uma fatia de 23% do PIB em 2015 ante 21,4% em 2014, segundo a CNA
21 quinta-feira jan 2016
Em Brasília, a sede do Banco Central (BC) está localizada a pouco mais de um quilômetro do Ministério da Fazenda, um trajeto que pode ser percorrido em pouco mais de 20 minutos a pé. Mas levando-se em conta as recentes decisões tomadas e medidas adotadas, seria esperado que as duas instituições estivessem situadas lado a lado, talvez até dividindo o mesmo prédio na Esplanada. Nesta quarta-feira, um dia depois de o Fundo Monetário Internacional (FMI) projetar o aprofundamento da recessão na economia brasileira nos próximos dois anos, o BC decidiu manter a taxa básica de juro (Selic) em 14,25% ao ano.
Na mesma semana, o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, sinalizou um programa para estimular o crédito para empresas. O Planalto mostra que, assim como ocorreu no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, entre 2011 e 2014, a bússola do governo voltou a apontar para o crescimento econômico mesmo às custas do controle da inflação. As apostas pela manutenção do juro cresceram após o presidente do BC, Alexandre Tombini, ter emitido nota na terça-feira avaliando como ¿significativas¿ as revisões das projeções de Produto Interno Bruto (PIB) para o Brasil em 2016 – queda de 3,5% – e 2017 – zero.
Ex-diretores do BC se dizem perplexos com nota de Tombini em véspera de Copom
Para analistas de mercado, foi uma indicação que o juro iria permanecer no mesmo patamar que está desde julho passado. Na última reunião de 2015, o colegiado deixou a Selic em 14,25%, com placar dividido – seis votos pela manutenção e dois pelo aumento para 14,75%.
Recentemente, a pressão sobre a instituição cresceu frente ao fraco ritmo da economia. A dúvida que divide economistas agora é se os preços, alimentados pela alta do câmbio, começarão a ceder nos próximos meses de maneira natural ou se será preciso novo aperto monetário para segurar a inflação. Por enquanto, o mercado avalia que nova alta será necessária – o relatório Focus aponta projeção de Selic a 15,25% no final do ano.
Juros de cartões atingem 399,84% ao ano, diz Anefac
Para José Luiz da Costa Oreiro, professor de Economia da UFRJ e ex-presidente da Associação Keynesiana Brasileira, a decisão tomada faz sentido.
– A inflação está neste patamar alto em parte pelo reajuste dos preços administrados ano passado, como gasolina e energia elétrica, e pela disparada do dólar. Não tem a ver com excesso de demanda. Ou seja, aumentar mais o juro não funciona, só aprofunda mais a recessão – explica.
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Na avaliação do economista, aumentar a Selic agora só traria mais impactos para a dívida pública:
– O governo perdeu a única oportunidade real de segurar a inflação quando optou por reajustar o salário mínimo acima da inflação. Impedir o aumento seria a melhor maneira de evitar uma inflação no setor de serviços.
O trabalhador perderia de um lado, mas ganharia em outro, quando a inflação cedesse. Roberto Ellery, professor de Economia da Universidade de Brasília (UnB), concorda que o dólar tem empurrado os preços para cima, mas avalia que o BC errou ao não subir o juro.
– O câmbio é a faísca, e a inflação, o incêndio. Cabe ao BC mostrar ao mercado que o fogo vai ser controlado. Se a população entender que controle dos preços não será prioridade a partir de agora, começa a reajustar os valores dos produtos por conta, baseado apenas na expectativa futura – afirma Elerry, pontuando que é obrigação do BC impedir que isso aconteça.
23 domingo ago 2015
Para ler no original clique aqui ao lado Revista Economistas 17 – Agosto de 2015
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No capítulo 24 da Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda (doravante Teoria Geral), John Maynard Keynes afirmou que as duas principais falhas do sistema econômico da sua época (as quais certamente continuam sendo as falhas dos sistemas econômicos modernos) eram a sua incapacidade de proporcionar o pleno-emprego para os fatores de produção – notadamente o trabalho – e a extrema desigualdade na distribuição de renda e de riqueza. Essa desigualdade, por sua vez, não é apenas um problema ético ou moral do capitalismo, mas pode atuar também como um dos fatores que reforçam a tendência intrínseca do sistema ao equilíbrio com desemprego da força de trabalho. Dessa forma, políticas econômicas que visem a redução da desigualdade da distribuição de renda também poderiam atuar no sentido de elevar o nível de emprego e de utilização dos recursos produtivos da economia.
A principal inovação trazida por Keynes na sua Teoria Geral foi o Princípio da Demanda Efetiva segundo o qual o nível de emprego da economia como um todo é determinado no ponto em que a curva de demanda agregada – que relaciona as receitas que os empresários esperam obter com a venda no mercado da produção resultante do nível de emprego por eles oferecido – se intercepta com a curva de oferta agregada – que relaciona o nível de emprego com a receita mínima que os empresários desejam obter com a venda no mercado da produção correspondente ao mesmo. Esse ponto de intercessão foi denominado por Keynes de ponto de demanda efetiva. Supondo que as expectativas dos empresários sejam realizadas, ou seja, que os empresários acertam o ponto de demanda efetiva, então o nível de emprego terá sido determinado pelo volume efetivamente realizado de vendas, as quais correspondem – numa economia fechada e sem governo – a soma entre consumo e investimento.
Para Keynes os gastos de consumo obedecem a uma “lei psicológica fundamental” segundo a qual à medida que a renda aumenta, o consumo aumenta, mas em menor proporção. Essa relação entre consumo e renda for denominada por Keynes de “propensão a consumir”. Essa, por sua vez, depende de uma série de fatores objetivos (distribuição de renda, taxa de juros, variações imprevistas na riqueza dos agentes, estrutura tributária, etc.) e subjetivos (impaciência intertemporal, precaução contra imprevistos, deixar heranças para os filhos, etc.). O investimento, por sua vez, depende do “estado de expectativas de longo-período”, as quais definem a escala de eficiência marginal do capital – a qual é definida como a taxa de desconto que iguala o fluxo de caixa esperada de um projeto de investimento com o preço de oferta do equipamento de capital recentemente produzido – e da taxa de juros. A taxa de juros, por sua vez, depende da preferência pela liquidez dos agentes econômicos – a qual reflete o grau de desconfiança que os mesmos têm com relação as suas próprias previsões, fruto da incerteza que circunda o processo de tomada de decisão numa economia capitalista – e da política monetária, a qual define a quantidade de moeda existente na economia num dado ponto do tempo.
O argumento de Keynes a respeito da tendência das economias capitalistas a operar com desemprego involuntário da força de trabalho se baseia na ideia de que dados os parâmetros do modelo de determinação do nível de emprego da economia como um todo, ou seja, dados a propensão a consumir, o estado de expectativas de longo-período, a preferência pela liquidez e a política monetária – não há nenhuma razão pela qual se deva esperar que a curva de demanda agregada se intercepte com a curva de oferta agregada exatamente no ponto que corresponde ao pleno-emprego da força de trabalho. Dessa forma, o pleno-emprego será apenas uma posição de equilíbrio entre muitas possíveis, todas as demais n-1 posições de equilíbrio serão caracterizadas pelo desemprego (involuntário) da força de trabalho.
De que forma a desigualdade na distribuição de renda pode atuar no sentido de aumentar a propensão do sistema a operar com desemprego da força de trabalho? Para responder a essa pergunta temos que analisar mais detalhadamente os determinantes da propensão a consumir.
Segundo Keynes a distribuição de renda e de riqueza afeta a magnitude da propensão a consumir, uma vez que as famílias com maior renda tenderiam a gastar uma proporção menor de qualquer acréscimo de renda do que as famílias com renda mais baixa. Dessa forma, se a renda estiver muito concentrada nas mãos dos indivíduos e das famílias mais ricos, a propensão a consumir será mais baixa comparativamente a uma situação onde a renda estivesse menos concentrada. Daqui se segue, portanto, que quanto maior for a desigualdade na distribuição de renda, menor será, ceteris paribus, a propensão a consumir, fazendo com que a intercessão entre as curvas de demanda e de oferta agregada se dê num nível de emprego mais baixo do que poderia ocorrer caso a renda fosse melhor distribuída.
Aqui cabe uma observação importante a respeito do tipo de desigualdade na distribuição de renda que preocupava o autor da Teoria Geral. Para Keynes, a distribuição funcional da renda entre salários e lucros não era particularmente relevante para a determinação da magnitude da propensão a consumir (Carvalho, 1991). Em outras palavras, não é a fonte de renda (se salários ou lucros), mas a sua magnitude, que influencia a propensão a consumir. Daqui se segue, portanto, que o foco de atenção deve ser a distribuição pessoal da renda.
Face a essas considerações qual deve ser a política que o governo deve adotar para proporcionar o pleno-emprego da força de trabalho? A partir do modelo teórico apresentado na Teoria Geral, podemos observar as políticas de estímulo ao aumento do nível de emprego podem ser divididas em duas categorias, a saber: (i) políticas que visam o aumento da propensão a consumir; (ii) políticas que visem o aumento do incentivo a investir.
O aumento da propensão a consumir pode ser obtido por intermédio de mudanças na distribuição de renda que sejam induzidas por intermédio da taxação direta, particularmente pelo imposto de renda (progressivo) e pelo imposto sobre heranças. Mas esse não era o curso de ação preferido por Keynes. Num artigo escrito em 1934, Keynes afirma que o ajuste da propensão a consumir por intermédio da taxação direta sobre as classes mais abastadas deve ser feito apenas após o esgotamento de todas as oportunidades lucrativas de investimento em capital físico decorrentes da redução da taxa de juros para patamares muito baixos. Nas suas palavras:
“Se a taxa de juros cair a um nível muito baixo e permanecer nesse patamar por um período suficientemente longo de tal forma que não seja mais lucrativa qualquer construção de equipamento de capital, mesmo a taxas de juros muito baixas; então eu direi que os fatos apontam para a necessidade de mudanças sociais drásticas direcionadas ao aumento do consumo. Pois nesse caso ficará claro que teremos o maior estoque de capital que poderemos empregar de forma útil” (1934, p.491) [Tradução nossa].
A política de estímulo a geração de demanda efetiva e criação de empregos preferida por Keynes era, portanto, a redução da taxa de juros até o assim chamado nível neutro, ou seja, o nível da taxa de juros que, dada a propensão a consumir, seria compatível com o pleno-emprego da força de trabalho. Keynes acreditava que em função da incerteza inerente ao processo de tomada de decisão numa economia capitalista, a preferência pela liquidez dos agentes econômicos definiria um valor para a taxa de juros que seria mais alto do que aquele compatível com o pleno-emprego. Nas suas palavras:
“Qualquer taxa de juros aceita com suficiente convicção como provavelmente duradoura será duradoura; sujeita, naturalmente, em uma sociedade em mudança a flutuações originadas por diversos motivos, em torno do nível normal esperado. Em particular, quando M1 aumenta mais depressa que M, a taxa de juros subirá e vice-versa. Mas pode flutuar durante décadas ao redor de um nível cronicamente elevado demais para permitir o pleno emprego“(Keynes, 1936, p.204) [Tradução nossa].
Keynes acreditava que a redução da taxa de juros até o nível neutro não apenas poderia manter a economia funcionando num estado bastante próximo ao pleno-emprego ao longo do tempo como ainda poderia levar a “eutanásia do rentista” no longo-prazo. Com efeito, o capital proporciona uma remuneração positiva para os seus donos unicamente por ser “escasso”, ou seja, por existir em quantidade insuficiente com respeito ao tamanho do mercado. Á medida que o estoque de capital aumenta em função dos efeitos cumulativos dos investimentos em capital fixo, ocorre uma redução gradual das margens de lucro em função da saturação crescente da demanda pela produção resultante desse equipamento de capital. Isso produz uma redução paulatina da eficiência marginal do capital, fazendo com que o número de projetos de investimento cuja rentabilidade esperada é maior do que a taxa de juros seja cada vez menor. Eventualmente, todos os projetos de investimento cuja rentabilidade esperada seja igual ou superior ao valor neutro da taxa de juros irão se esgotar, fazendo com que a manutenção do pleno-emprego só seja possível, a partir desse ponto, por intermédio do aumento da propensão a consumir.
Para que o processo descrito acima leve a “eutanásia do rentista”, contudo, não basta que a taxa de juros seja mantida por um período suficientemente longo de tempo num nível igual ao neutro. Além disso, é necessário também que o valor da taxa de juros neutra seja próximo de zero. Nessas condições, a fração da renda nacional que será apropriada na forma de juros tenderá a zero e o rentismo terá se mostrado uma fase puramente temporária no capitalismo. Para que a taxa de juros neutra seja próxima de zero, a propensão a consumir, por seu turno, deve ser razoavelmente baixa. Essa condição era quase certamente atendida na década de 1930 do século passado, em função da desigualdade existente na distribuição de renda e de riqueza. O avanço do “Estado do Bem-Estar Social” nos países desenvolvidos no pós-segunda guerra, no entanto, se encarregou de aumentar o valor da propensão a consumir, aumentando assim o valor da taxa de juros neutra. Dessa forma, a inversão do timing de adoção das políticas de estimulo a criação de emprego propostas por Keynes acabou por impedir a realização da sua profecia a respeito da “eutanásia do rentista”.
Referências Bibliográficas:
Carvalho, F.C. (1991). “Distribuição de Renda, Demanda Efetiva e Acumulação”. Revista de Economia Política, Vol. 11, N.3.
Keynes, J.M. (1934). “Poverty in Plenty: is the Economic System Self-Adjusting?” In: Moggridge, D (org). Collected Writings of John Maynard Keynes, Volume XIII. Macmilan: Londres.
Keynes, J.M. (1936). The General Theory of Employment, Interest and Money. Macmillan: Londres.
24 sexta-feira jul 2015
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19 domingo jul 2015
12 domingo jul 2015
Os artigos apresentados durante o Simpósio Desenvolvimentos Recentes da Teoria Macroeconômica foram publicados no numero 55 da Revista de Conjuntura do Corecon-DF.
Para acessa-los clique no ícone ao lado: revista corecon 2015
11 sábado jul 2015
06 segunda-feira jul 2015
Posted Associação Keynesiana Brasileira, Debate macroeconômico, Mídia, Opinião, Oreiro
inA confirmação do calote de 1,6 bilhão de euros no Fundo Monetário Internacional (FMI) mostra que a Grécia parece mais distante do que nunca de se curar da crise que a deixa acamada há pelo menos seis anos. Com uma dívida cada vez maior e índices de desemprego na faixa de 25%, a dúvida – de gregos, de troianos e do restante do mundo – é se esse agravamento na saúde das contas públicas reflete a falta de disciplina do paciente em tomar os medicamentos ou se a dose de reformas ministrada até o momento foi forte demais.
Esse é o pano de fundo para o plebiscito que ocorre a partir das 7h deste domingo (1h no horário de Brasília) na Grécia. A população vai às urnas para decidir se aceita continuar sob cuidado minucioso do Banco Central Europeu e do FMI – e concorda com mais uma dose de ajustes impopulares – ou se opta por um novo tratamento, o que pode levar o país a abandonar a zona do euro e retornar ao dracma, sua moeda anterior. A disputa promete ser acirrada.
dúvida atormenta não apenas aqueles que sentem no coração e no bolso os dissabores da crise, mas também especialistas em economia. Pensadores à direita e à esquerda adotam receituários diferentes. As instituições conhecidas como Troika (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional) e os parceiros europeus insistem que, apesar da situação atual, o país precisa de mais reformas. De outro lado, aqueles que argumentam que, para se recuperar, a economia grega precisa exatamente do contrário: o fim da austeridade e um alívio da dívida. É o que sustentam dois agraciados com o Prêmio Nobel de Economia, Paul Krugman e Joseph Stiglitz, entre outros. O argumento é de que a economia deprimida inibe investimento e aumenta o custo social do pagamento da dívida.
– A política de austeridade foi aplicada sem dar qualquer chance de o país ativar a demanda externa. Como não têm uma moeda própria, os gregos não têm como competir com a produtividade dos países do Norte. Na verdade, nenhum país do sul da Europa consegue. A Grécia precisa equilibrar as contas, mas insistir em austeridade mantendo o euro é um tiro no pé – afirma José Luis Oreiro, presidente da Associação Keynesiana brasileira e professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Ao mesmo tempo, o abandono da zona do euro, após bilhões de resgate, é avaliado como uma saída oportunista. Reginaldo Nogueira, professor do curso de relações internacionais do Ibmec, em Minas Gerais, lembra que, para ser aprovado no bloco, o governo mentiu sobre a saúde financeira do Estado.
– A entrada da Grécia gerou um boom de otimismo e queda nos juros, dificultando para o investidor a diferenciação entre as dívidas grega e alemã. Por mais de 10 anos, os diferentes governos aproveitaram para se financiar e não fizeram ajuste fiscal. O que garante que, sozinhos, conseguirão equilibrar o orçamento? – questiona.
Ex-embaixador brasileiro em Washington, Rubens Barbosa se diz espantado com a demora para que seja adotada a única medida capaz de resolver a crise: um reescalonamento da dívida grega.
– Não há outra maneira. Essas medidas de austeridade não funcionam. Com elas, corta-se o crescimento, demitem-se funcionários. Do jeito como as coisas estão postas, ficando ou saindo do bloco, vão promover uma recessão de muitos anos. Seja qual for o resultado, a odisseia econômica do povo grego deve durar bem mais do que a jornada do herói Ulisses.
Graduado em Economia pela FEA-USP. Mestre e Doutor em Economia pela Fundação Getúlio Vargas em São Paulo. Foi pesquisador visitante nas Universidades de Cambridge UK e Columbia NY. Foi economista chefe, gestor de fundos e CEO em instituições do mercado financeiro em São Paulo. É professor de economia na FGV-SP desde 2002. Brasil, uma economia que não aprende é seu último livro.
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