Live do realizada no dia 19 de outubro de 2020, em que o economista José Luis Oreiro comenta os principais acontecimentos no noticário econômico do Brasil.
Link no Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=NKPbmqb6Fz4&t=336s
20 terça-feira out 2020
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inLive do realizada no dia 19 de outubro de 2020, em que o economista José Luis Oreiro comenta os principais acontecimentos no noticário econômico do Brasil.
Link no Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=NKPbmqb6Fz4&t=336s
19 segunda-feira out 2020
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inAdam Tooze é professor de História na Columbia University (Shelby Cullon Davis Chair of History) e Diretor do European Institute. Em 2019 a Foreing Policy Magazine o classificou como um dos 10 mais influentes pensadores do mundo na década. Autor de vários livros, entre os quais The Wages of Destruction (O preço de destruição) sobre a economia de guerra da Alemanha Nazista. No dia 17 de outubro de 2020 ele publicou na sua conta no Twitter um gráfico (acima) mostrando a evolução da taxa de juros dos títulos públicos de 10 anos da Itália desde 1310. Para lidar com o fato de que a Itália só surgiria como nação soberana em 1861, ele tomou uma média das taxas de juros pagas pelos governos dos diversos Reinos e Cidades Estado anteriores a unificação italiana. Pois bem, o gráfico mostra que atualmente o governo da Itália – apesar de ter uma relação dívida pública/PIB superior a 150%, está pagando a taxa de juros mais baixa sobre os títulos da dívida de 10 anos de prazo de maturidade desde 1310 ! Por que a taxa de juros está tão baixa apesar do aparente descontrole fiscal? Pela simples razão de que a taxa de juros é um fenômeno estritamente monetário, dependente, portanto, da política monetária do BCE. Como a autoridade monetária do Euro está injetando liquidez de forma colossal nos mercados financeiros, o resultado é a redução da taxa de juros. Não existe nenhuma relação direta entre situação fiscal (déficit ou dívida) e o espectro de taxas de juros como já argumentei de forma clara e didática no meu post https://jlcoreiro.wordpress.com/2020/09/19/o-desequilibrio-fiscal-pode-levar-a-um-aumento-da-taxa-de-juros/
No Brasil, contudo, os profetas do apocalipse continuam afirmando que se o Brasil não voltar para a disciplina fiscal em 2021 então teremos a volta da inflação. Nenhum país relevante do mundo civilizado está discutindo medidas de consolidação fiscal para o próximo ano, só o Brasil. Os economistas ortodoxos devem pensar que o mundo inteiro está errado, apenas eles que estão certos. Isso me faz lembrar uma manchete de um jornal Britânico no início do século XX que noticiou a ocorrência de uma tempestade que havia bloqueado a comunicação marítima entre as ilhas Britânicas e o continente europeu. A matéria dizia “Pobre Europa está isolada da Inglaterra”.
28 quinta-feira out 2021
No primeiro semestre de 2021, face a aceleração da inflação, não foram poucos os economistas “heterodoxos” que defenderam uma elevação da taxa de juros Selic, que se encontrava em 2% a.a em termos nominais até fevereiro de 2021. Os argumentos propostos foram de que (i) A selic muito baixa (com respeito a algum valor de referência, quem sabe a taxa natural de juros) estava produzindo um aumento da inclinação da estrutura a termo da taxa de juros, pois o mercado financeiro acreditava que o BCB teria que aumentar a selic no futuro próximo, o que aumentava a taxa de juros de longo-prazo; (ii) A redução da taxa selic ocorrida ao longo do ano de 2020 produziu uma forte depreciação da taxa de câmbio R$/US$, resultando numa aceleração da inflação a partir do último trimestre de 2020, com impacto fortemente negativo sobre o rendimento real da população, especialmente os mais pobres. Nesse contexto, uma normalização da política monetária (leia-se aumento da selic) produziria automaticamente (a) uma redução da taxa de juros de longo-prazo e (ii) uma apreciação da taxa de câmbio com a correspondente redução das pressões inflacionárias.
Na reunião de ontem do COPOM, a taxa Selic foi aumentada em 150 b.p para 7,75% a.a. Desde março do corrente ano a taxa selic já aumentou em 575 b.p. Isso deveria ter produzido, com base no raciocínio exposto acima, uma forte valorização da taxa de câmbio, bem como uma redução da taxa de juros de longo-prazo. Infelizmente, “sua majestade” o fato mostrou que o resultado esperado pelos “neo-rentistas” não foi realizado.
A figura acima, extraída do portal da Blomberg, mostra que no período compreendido entre 21/09/2021 e 28/10/2021, o Real foi a segunda moeda que mais se desvalorizou no mundo, atrás apenas da Lira turca. Desde o dia 22 de setembro de 2021 o Banco Central do Brasil aumentou a selic em 250 p.b, ao passo que o Banco Central da Turquia, surpreendendo os mercados financeiros, reduziu a taxa básica de juros em 300 p.b. Enquanto na Turquia, o comportamento da taxa de câmbio seguiu o esperado pela teoria macroeconômica convencional, no Brasil o efeito foi oposto: o aumento da taxa de juros levou a uma depreciação da taxa nominal de câmbio, o que deverá aumentar, ao invés de reduzir, as pressões inflacionárias nos próximos meses.
Esse aparente paradoxo é explicado pelo que denominei de “custo Bolsonaro”: a combinação entre política ambiental desastrosa, conflitos diplomáticos frequentes com nosso principal parceiro comercial e a incerteza política causada pelos frequentes ataques do Presidente da República às instituições democráticas do país fazem com que o investidor externo fuja do país como o diabo foge da Cruz. Nesse contexto de aumento da aversão dos investidores internacionais a aplicações denominadas em Reais, o aumento da taxa de juros pode ser contraproducente ao sinalizar para os mesmos que as aplicações no Brasil são, de fato, muito arriscadas pois o Banco Central do Brasil é uma das poucas autoridades monetárias do mundo que está aumentando de forma significativa a taxa de juros básica para enfrentar um choque de oferta de caráter temporário que está ocorrendo no mundo inteiro. Com efeito, o BCE, o FED e o BOE tem mantido inalteradas suas respectivas taxas de juros num contexto de aceleração da inflação ao longo do ano de 2021. O BCB, contudo, aplica uma política monetária que destoa não apenas do praticado pelos bancos centrais dos países desenvolvidos, como também dos bancos centrais de outros países emergentes como é o caso da Turquia.
Em resumo, no Brasil tem algo errado – elevar a taxa de juros num contexto que a economia opera com enorme ociosidade dos fatores de produção – que não está dando certo, ou seja, não está produzindo os resultados esperados em termos de apreciação da taxa de câmbio e queda da taxa de juros de longo-prazo. A solução consiste em fazer o impeachment do Presidente da República e então reduzir os juros para um patamar compatível com o grau de ociosidade dos fatores de produção.
19 sábado set 2020
José Luis Oreiro
Em matéria veiculada recentemente na grande mídia um dos diretores do Banco Central do Brasil afirmou que o quadro macroeconômico de inflação baixa e juros baixos está condicionado à estabilidade do quadro fiscal. Uma deterioração adicional das contas públicas – por exemplo, devido a “flexibilização’ do teto de gastos – poderia levar a um aumento das expectativas de inflação, obrigando o BCB a abandonar a política monetária estimulativa mesmo numa situação de elevado nível de ociosidade dos fatores de produção. Outros economistas alegam, além disso, que o desequilíbrio fiscal atual da economia brasileira – manifestado na expectativa de um déficit primário superior a 10% do PIB para o ano de 2020 – já estaria tendo efeitos negativos sobre a taxa de juros de longo-prazo dos títulos públicos. O argumento é que a elevação da dívida pública para valores próximos a 100% do PIB no final de 2020 estaria produzindo um aumento do prêmio de risco sobre os papéis mais longos e, dessa forma, elevando a taxa de juros de longo prazo, mesmo num contexto de elevada ociosidade dos fatores de produção.
Mas será mesmo que a estrutura a termo da taxa de juros, ou seja, a relação entre a taxa de juros anual obtida sobre um título da dívida pública quando carregado até o seu prazo de vencimento e a maturidade do título tem alguma relação com a situação fiscal de uma economia como a do Brasil?
Se olharmos o que passa fora do Brasil, a resposta a essa pergunta parece ser negativa. Com efeito, desde a crise financeira internacional de 2008 a dívida pública como proporção do PIB nos países desenvolvidos se ampliou de forma considerável; mas esse movimento foi seguido por uma redução sem precedentes nas taxas de juros nominais dos títulos da dívida pública desses países, sendo que, em alguns casos, as taxas de juros na maturidade alcançaram valores nominais negativos.
Quando olhamos para a história recente do Brasil, a grande recessão de 2014 a 2016 deixou como legado a taxa de juros de curto-prazo, a taxa Selic, no seu valor mais baixo da história, mesmo antes de começarem os efeitos da Pandemia do Covid-19. Deve-se observar também que entre 2017 e 2019 o Brasil não obteve nenhum avanço significativo no resultado primário das contas públicas, o qual permaneceu deficitário durante todo esse período. Ocorreu sim uma redução significativa do déficit nominal do setor público, resultado do processo “lento, gradual e seguro” de redução da taxa Selic iniciada pelo BCB no final de 2016.
Os economistas ortodoxos dirão que essa redução só foi possível pela (sic) aprovação da EC 95 do “Teto de Gastos” a qual mudou as expectativas do mercado financeiro sobre a “solvência intertemporal” das contas públicas. Não concordo com essa visão. Com efeito, a redução da Selic ocorrida desde 2016 foi possível devido a persistência de um elevado grau de ociosidade dos fatores de produção – ou, na linguagem dos economistas, um elevado hiato do produto – o qual fez com que a inflação média no período 2017-2019 ficasse muito abaixo da meta de inflação para o mesmo período.
Mas retornemos a questão inicial: como a estrutura a termo das taxas de juros é determinada? A taxa de juros de curto-prazo é determinada pelo Banco Central por intermédio das operações de mercado aberto. Como o Banco Central tem o monopólio legal da emissão de meio circulante, segue-se que ele pode fixar o preço do dinheiro no patamar que ele achar mais conveniente. Esse patamar será determinado pelos objetivos da política monetária – que no caso Brasileiro é manter a inflação dentro das metas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional – mas o regime de metas de inflação confere um grau razoável de discricionariedade na fixação desse valor. Em outras palavras, o atendimento da meta de inflação pode ser compatível com valores diversos da taxa Selic, a depender das preferências dos membros do Copom. O comportamento da inflação entre 2017 e 2019 nos sugere que o Banco Central adotou uma política monetária menos estimulativa do que a situação macroeconômica exigia.
E a taxa de juros de longo-prazo? O Banco Central pode atuar para reduzir a taxa de juros dos títulos de longo-prazo? Para responder a essa pergunta temos que entender como essa taxa é determinada. A teoria mais aceita sobre os determinantes da taxa de juros de longo-prazo é a teoria das expectativas da estrutura a termo da taxa de juros. Segundo essa teoria, a taxa de juros na maturidade de um título longo, por exemplo, um título com vencimento em 2030, será igual a média (geométrica) do valor da taxa de juros de curto-prazo (a Selic) em 2020 e das expectativas formadas em 2020 a respeito dos valores da taxa Selic de 2021 até o vencimento do título em 2030. Sendo assim, a taxa de juros de longo-prazo reflete apenas as expectativas que o mercado financeiro tem a respeito do comportamento do Banco Central entre 2020 e 2030. Se o Banco Central sinalizar para o mercado financeiro uma preocupação menor com a inflação no médio prazo e uma maior preocupação com o nível de atividade econômica; então é provável que as expectativas sobre o valor futuro da taxa de juros de curto-prazo sejam revistas para baixo, reduzindo assim a taxa de juros de longo-prazo. Já se a sinalização do Banco Central for no sentido de uma preocupação maior com a inflação teremos o resultado oposto.
E onde entre o fator risco na determinação da taxa de juros longa? Para responder a essa pergunta temos que ter clareza sobre que tipo de risco estamos falando. Quando um governo emite dívida na sua própria moeda não existe, por definição, risco de inadimplência ou de default. Isso porque o Tesouro e o Banco Central são instituições que pertencem ao Governo Central e, em última instância, o Banco Central pode emitir base monetária para comprar os títulos da dívida emitidos pelo Tesouro Nacional. O risco que importa no caso da determinação da taxa de juros de longo-prazo é o risco de perda de capital caso o agente seja forçado a vender o título antes de seu prazo de maturidade. Esse risco é, na verdade, um risco de iliquidez, ou seja, de se ver forçado a uma realização antecipada do ativo, convertendo-o em meio de pagamento.
A taxa de juros de longo-prazo, portanto, é determinada pela média (geométrica) do valor da taxa de juros de curto-prazo (a Selic) no momento atual e das expectativas formadas hoje a respeito dos valores da taxa Selic de 2021 até o vencimento do título, acrescida do prêmio de liquidez exigido pelos compradores de títulos públicos para manter títulos longos ao invés de títulos curtos na sua carteira. Sendo assim, o Banco Central pode reduzir a taxa de juros de longo-prazo de duas formas. Em primeiro lugar, sinalizando para o mercado financeiro uma preocupação maior com o nível de atividade econômica do que com a inflação num cenário em que a economia brasileira deverá operar, por vários anos com um elevado nível de ociosidade dos fatores de produção. Esse é o instrumento chamado de forward guidance. Em segundo lugar, o Banco Central pode intervir diretamente na estrutura a termo da taxa de juros comprando títulos de longo-prazo no mercado secundário e financiando essa compra com a venda de títulos de curto-prazo, mantendo assim a liquidez total da economia inalterada (e assim a taxa de juros Selic), mas diminuindo a oferta de títulos de longo-prazo relativamente aos títulos de curto-prazo. Como títulos curtos e títulos longos são substitutos imperfeitos entre si, tal operação, denominada de operação twist, deverá reduzir a taxa de juros de longo-prazo relativamente a taxa de juros de curto-prazo. Deve-se observar também que esse expediente foi explicitamente permitido pela EC do orçamento de guerra.
Se a curva de juros da economia brasileira tem “imbicado” para cima nas últimas semanas, isso não se deve a pressão do desequilíbrio fiscal sobre a estrutura a termo das taxas de juros; mas a inoperância do Banco Central do Brasil que não tem atuado, com todos os instrumentos que dispõe, para resolver um problema que é, basicamente, de liquidez no mercado de títulos da dívida pública. Resta saber porque o BCB tem sido omisso nessa questão. Dada a composição da atual diretoria do BCB não é possível descartar a hipótese que a omissão seja motivada por razões de ordem puramente ideológica: uma intervenção na ponta longa da curva de juros, ao reduzir rapidamente as taxas de juros de títulos de maior prazo de maturidade, revelaria que o “desequilíbrio fiscal” atual pode ser perfeitamente administrado e até mesmo ampliado, dada a enorme ociosidade no uso dos fatores de produção existente na economia brasileira. Nesse caso, Milton Friedman teria que dar lugar a John Maynard Keynes como fonte de inspiração para a condução da política econômica no Brasil.
30 domingo jun 2019
A inflação sob controle e a necessidade de encontrar alternativas para reaquecer a economia transformaram a queda dos juros básicos em um novo “mantra” entre os economistas. A taxa Selic está em seu patamar mais baixo, de 6,5% ao ano – mas, para analistas ouvidos pelo jornal O Estado de São Paulo, há espaço para cortar ao menos um ponto porcentual. E, ainda que o ciclo de corte dos juros não seja suficiente para tirar o País da letargia, pode ajudar.
No Brasil, a Selic tem sido o maior mecanismo de controle da inflação. Segundo o último Boletim Focus, do Banco Central, no entanto, a perspectiva é de que a inflação pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fique este ano em 3,82%, bem abaixo da meta de 4,25%. As previsões também são de inflação abaixo da meta no ano que vem (4%).
Esse cenário de preços controlados reforça os argumentos para a queda maior dos juros.
Na visão do ex-diretor do Banco Central Alexandre Schwartsman, as incertezas quanto à melhora da situação fiscal do País têm reduzido a potência da política monetária. “Por isso, o BC sublinhou em seus comunicados que um novo ciclo de quedas de juros é esperado só após o andamento das reformas, sobretudo a da Previdência.”
Ele avalia que o aparente conservadorismo no corte de juros é compreensível. “Os juros podem encerrar o ano em 5,5%, o que não resolve as incertezas econômicas, mas ajuda.”
Já o professor da Universidade de Brasília (UnB) José Luís Oreiro considera que o BC tem sido conservador demais. “Deve ser o terceiro ano seguido em que a inflação fica abaixo da meta. Isso quer dizer que há muito tempo tem espaço para corte.”
Para ele, se os juros básicos estivessem em 5% há um ano, a atividade econômica hoje estaria respondendo mais fortemente. “Se isso não é sinal de uma política monetária conservadora demais, não sei o que seria. São três anos. O BC não está seguindo o protocolo do regime de metas de inflação.”
Mesmo com a Selic em seu menor patamar histórico, os juros reais do Brasil (já considerada a inflação) estão entre os dez maiores dentre 40 economias.
Segundo a Infinity Asset Management, os juros reais no Brasil eram de 2,31% ao ano. Ao mesmo tempo, as maiores economias do mundo experimentam juros reais negativos. Nos Estados Unidos, eles estão em -0,58%; no Japão, -0,75%; nos países da União Europeia, variam de -1,2% (Portugal) a -2,87% (Hungria).
“Se tiver espaço para cortar, sem prejudicar a inflação, não tem motivo para não fazer”, diz José Júlio Senna, responsável pelo Centro de Estudos Monetários do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV). “Mas a atividade econômica não depende só dos juros, como mostra o exemplo internacional.”
Ele diz que os problemas de crescimento do País precisam ser atacados no médio e longo prazos. “Tem de melhorar a infraestrutura, reduzir a burocracia e a complexidade do sistema tributário.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
22 quinta-feira fev 2018
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Apreciação do câmbio, Coordenação entre a política monetária e fiscal, hiato do produto, Instituição Fiscal Independente, Problema dos juros no Brasil
Recentemente a Instituição Fiscal Independente (IFI) divulgou estudo especial sobre o comportamento do hiato do produto para a economia brasileira no período compreendido entre dezembro de 1996 e junho de 2017. O hiato do produto é definido como o percentual no qual o PIB se encontra acima ou abaixo do produto potencial. Um hiato positivo significa que a economia opera acima da sua capacidade de produção, o que sinaliza a existência de pressões inflacionárias latentes, as quais poderão se materializar em termos de aceleração da inflação. Já um hiato negativo sinaliza que a economia opera com um nível de produção abaixo do potencial, de forma que existem pressões desinflacionarias em curso.
Estimativas sobre o produto potencial, fundamentais para o cálculo do hiato do produto, são bastante controversas. A metodologia mais usada consiste numa técnica econométrica conhecida com filtro HP, a qual procura inferir a tendência de longo-prazo de uma série de tempo de dados macroeconômicos.
O problema com essa técnica é que ela sofre do chamado “viés de fim de amostra”, ou seja, o fato de que a estimativa do produto potencial é muito influenciada pelos valores mais recentes da série. Dessa forma, se nos últimos dois ou três anos a economia apresentou crescimento baixo ou negativo, devido a fatores ligados ao ciclo econômico; esses dados irão “puxar para baixo” a estimativa de produto potencial, levando assim a conclusões potencialmente enganosas sobre o hiato do produto. O estudo da IFI, no entanto, utiliza outra metodologia: o uso de uma função de produção macroeconômica a qual permite estimar as contribuições da acumulação de capital físico, da expansão da força de trabalho e do progresso tecnológico para o crescimento do PIB. Essa metodologia também tem problemas, mas é mais confiável para a estimação do hiato do produto que o filtro HP.
Um resultado interessante do estudo da IFI é que no período 2003-2013 a economia brasileira operou, em geral, com um hiato do produto positivo; ou seja, com um nível de produção superior ao potencial. Esse resultado explica porque, apesar da taxa Selic-over ter permanecido em 6,25% a.a em termos reais na média de 2003-2016 (cerca de 250 p.b acima do juro neutro), a inflação média medida pelo IPCA foi de 6,71% a.a, cerca de 200 p.b acima do centro da meta de inflação de 4,5% a.a.
Mas se a política monetária foi contracionista (juro acima do neutro), porque a economia operou sistematicamente acima do potencial para esse período? A resposta é que a política fiscal foi expansionista durante esse período. Com efeito, cálculos feitos pela Secretaria de Política Econômica mostram que, no período 2003-2015, o impulso fiscal médio foi de 0,26% do PIB. Dessa forma, uma politica monetária sistematicamente contracionista foi a contrapartida de uma política fiscal sistematicamente expansionista.
Um dos efeitos colaterais da manutenção dos juros acima do seu patamar neutro, no contexto de uma economia com conta de capitais aberta, é a apreciação da taxa de câmbio. Entre 2003 e 2007 a taxa real de câmbio sofreu uma apreciação forte e rápida, a qual foi apenas desacelerada, mas não revertida, no período 2010-2013. O resultado disso foi o aprofundamento do processo de desindustrialização da economia brasileira, com efeitos negativos sobre o potencial de crescimento de longo-prazo.
15 quinta-feira fev 2018
Posted Desindustrialização, Opinião, Oreiro
inRecentemente um amigo me fez a seguinte provocação por e-mail: “Afinal, é o banco central, ou é o mercado que determinam a taxa de juros nos países ricos, e no Brasil?”
Elaborei uma resposta a esse amigo, a qual acredito que é relevante para dirimir dúvidas bastante comuns sobre moeda, juros e política monetária. Eis minha resposta:
Eu:
30 sexta-feira jun 2017
A redução da meta de inflação para 2019 e 2020 exigirá uma política de juros mais altos, avaliam especialistas, pontuando que a larga difusão da indexação no Brasil impede trabalhar com parâmetros de preços mais baixos.
Após 14 anos com uma meta de 4,5%, o Conselho Monetário Nacional (CMN) decidiu ontem estabelecer uma referência menor para a inflação: 4,25% para 2019 e 4,00% para 2020, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual, para mais ou para menos. Isso significa que, em 2019 por exemplo, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) poderá acumular, em 12 meses até dezembro, alta entre 2,75% e 5,75%, sem que o Banco Central (BC) descumpra a meta.
Para o professor de economia da Universidade de Brasília (UNB) José Luiz da Costa Oreiro, esta decisão é “temerosa”, pois pode produzir juros reais muito altos os quais, por sua vez, geram apreciação do câmbio (valorização do da moeda nacional frente ao dólar) e recessão.
“A experiência brasileira com o regime de metas de inflação, implementado há 18 anos, mostra que a média do IPCA entre 1999 e 2016 sempre ficou em torno de 6,5%, afirma Oreiro. “Em 18 anos de história, as únicas vezes em que a inflação fechou o ano abaixo de 4,5% foi em 2006, 2007 e 2009. Nos dois primeiros anos, por conta de uma apreciação muito forte da taxa de câmbio e, em 2009, por conta dos efeitos da crise financeira internacional”, completa o professor da UNB, destacando que a expectativa de um IPCA abaixo de 4,5% para este ano se explica pelos impactos da recessão.
Indexação
Para Oreiro, ainda é muito complicado trabalhar, no Brasil, com parâmetros de inflação menores, enquanto a indexação de preços é bastante difundida na economia. “Não só não retiramos algumas indexações, como fomos incorporando outras ao longo do tempo”, diz ele, mencionando, por exemplo, a correção do salário mínimo pela inflação do ano anterior (ele também é reajustado pelo desempenho do Produto Interno Bruto, o PIB, de dois anos atrás).
Segundo o professor, sem resolver essas questões, quando chegarmos em 2020, por exemplo, o BC terá que pressionar a taxa básica de juros para cima (Selic) para alcançar uma inflação de 4,00%. “Caso isso aconteça, será realmente bem difícil ter juros baixos no Brasil”, critica Oreiro.
O professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP (FEA-USP), Simão David Silber, acrescenta que juros reais altos implicam em um câmbio mais baixo (dólar mais barato), o qual, por sua vez, retira a competitividade da indústria nacional. Silber considerou “inadequada” a decisão do CMN, pois, na sua avaliação, as questões que o Brasil precisa resolver hoje são: retomar o crescimento econômico, reduzir o desemprego e melhorar o quadro fiscal do setor público.
“O problema do Brasil daqui para a frente não é inflação. Pelo contrário, nosso IPCA está em 3,6% em 12 meses. O grande problema do País é que ele não está crescendo. Além disso, o câmbio está baixo e os juros, muito altos. Portanto, qualquer política monetária mais dura vai nos levar para a direção errada”, afirma Silber.
“Outro imbróglio do Brasil está na área fiscal, sendo que um dos componentes dele são as despesas financeiras, pressionadas por juros altos.”
Já o professor de economia da Fundação Getulio Vargas (FGV) Mauro Rochlin considera “acertada” a decisão do CMN, pois as novas metas estão ancoradas com as expectativas de mercado. Esta ancoragem se explica, para ele, pela perspectiva de demanda mais fraca e de “câmbio comportado” nos anos à frente.
“Nos próximos anos, ainda que ocorra uma recuperação da demanda, a indústria ainda será capaz de atendê-la, dada a sua alta capacidade ociosa”, diz ele. “Por outro lado, nossas reservas internacionais e balança comercial devem permitir uma estabilidade cambial.”
O CMN também definiu que as metas de inflação serão definidas com três anos de antecedência, e não mais nos dois anos anteriores. Para o presidente do BC, Ilan Goldfajn, isso trará diversos benefícios. O primeiro, segundo ele, está ligado ao planejamento da sociedade. “Alongar o horizonte permite balizar as expectativas de inflação em prazos mais longos”, disse Ilan. “Segundo, com expectativas ancoradas, a economia pode almejar ter juros de longo prazo mais baixos”, afirmou Goldfajn.
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, acrescentou que a equipe econômica trabalha com “o cenário colocado e não com hipóteses”. “Estamos cumprindo o nosso mandato, trabalhando com foco e vamos continuar a fazê-lo. Cabe ao presidente da República a nomeação dos seus ministros e, estando no cargo, todos estão fazendo o seu trabalho.”
04 quarta-feira maio 2016
Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) divulgados recentemente mostram um quadro alarmante. A taxa de desemprego atingiu o patamar de 10,2% da força de trabalho. Em abril de 2015 a taxa de desemprego era muito menor, 7,4%. Se nada for feito a taxa de desemprego continuará sua trajetória de elevação, podendo alcançar 14% no médio prazo. Isso significaria um conjunto de 14 milhões de pessoas sem trabalho.
De que forma o (provável) novo governo pode atuar no sentido de reduzir essa taxa para um padrão mais próximo do observado no início de 2015?
A teoria macroeconômica aceita pela maioria dos economistas aponta para dois instrumentos a disposição do formulador de política econômica. O primeiro é a política fiscal, ou seja, o conjunto formado pelos gastos discricionários do governo (basicamente investimento público) e tributação. Num quadro em que a taxa de desemprego está muito acima de qualquer medida plausível a respeito do seu nível “natural” o governo pode e deve estimular a demanda agregada, e uma das formas de fazer isso é por intermédio de um aumento dos gastos de investimento e/ou redução de impostos. O problema é que essa opção não está disponível no caso brasileiro. A irresponsabilidade fiscal praticada pela equipe econômica do governo durante o primeiro mandato da Presidente Dilma Rouseff transformou um superávit primário de pouco menos de 3% do PIB em 2012 num déficit primário de 0.7% do PIB no final de 2014. A evaporação do superávit primário colocou a dívida pública/PIB numa trajetória ascendente, a qual foi reforçada pelo aprofundamento da recessão ao longo de 2015. Em função desses desdobramentos, o setor público no Brasil deverá fechar o ano de 2016 com um déficit primário próximo de 2% do PIB e com uma relação dívida pública/PIB próximo de 75%. Nessas condições uma “flexibilização” da política fiscal não é possível, sob pena de se induzir uma fuga de capitais da economia brasileira em função da expectativa de default soberano por parte do governo brasileiro.
O segundo instrumento é a política monetária, ou seja, o valor da taxa Selic fixada a cada reunião do COPOM. Atualmente a meta da taxa Selic é 14,25% a.a. Considerando uma inflação esperada de 7% para 2016, isso significa uma taxa real de juros de 6,7% a.a.
Esse valor é alto ou baixo? A resposta a essa pergunta depende do comportamento da inflação e do nível de atividade econômica. Se a inflação estivesse se acelerando e o PIB estivesse crescendo, então poderíamos afirmar que se trata de um valor baixo para a situação corrente da economia brasileira. Mas sabemos que não é esse o caso. A inflação está se desacelerando com relação ao ano de 2015 e o PIB deverá apresentar uma queda de 4% em 2016, após uma queda de quase 4% no ano passado. Nessas condições podemos afirmar que a taxa de juros está absurdamente alta, não havendo justificativa econômica para mantê-la nesse patamar. Reduzir os juros para um patamar que seja condizente com a retomada do crescimento da economia brasileira deve ser a prioridade número um do governo de Michel Temer.
Link: http://www.dci.com.br/opiniao/juros-e-reducao-do-desemprego-id545478.html
11 sexta-feira mar 2016
Posted Crise Econômica no Brasil, Debate macroeconômico, Mídia, Opinião
inO Banco Central (BC) já dá sinais de que a recessão econômica e o aumento do desemprego favorecerão a queda da taxa básica de juros (Selic) no 2º semestre. A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), publicada ontem, apontou ainda que a permanência das preocupações vindas do cenário externo também implicará queda Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o que aumentará as chances de que os juros sejam reduzidos.
Apesar de sinalizar a queda dos juros, a autoridade monetária afirmou que as projeções para a inflação para este ano e para 2017 aumentaram em relação ao estimado na reunião anterior e permanecem acima da meta, de 4,5%. As estimativas só serão divulgadas no Relatório Trimestral de Inflação, que será apresentado no fim do mês.
O BC, comandado por Alexandre Tombini, ainda alertou que o governo não deve abandonar o ajuste fiscal nem deixar de fazer as reformas necessárias para reequilibrar as contas públicas, mesmo diante de uma crise política profunda. “Ressalta-se a importância de se preservar na promoção de reformas estruturais de forma a assegurar a consolidação fiscal em prazos mais longos”, informou a autoridade monetária no documento.
Para o BC, a persistência da alta de preços não decorre apenas da alta do dólar ou das tarifas públicas. “O Copom considera que o ainda elevado patamar da inflação é reflexo dos processos de ajustes de preços relativos ocorridos em 2015, bem como da recomposição de receitas tributárias observada nos níveis federal e estadual, no início deste ano, que fazem com que a inflação mostre resistência”, destacou a ata.
O economista Antônio Corrêa de Lacerda, sócio-diretor da MacroSector Consultores, avaliou que o Copom, ao mesmo tempo em que está preocupado a inflação, abriu as portas para uma redução dos juros na segunda metade do ano, ao apontar que a recessão no país e a crise internacional terão um efeito significativo sobre o processo de queda nos preços ao longo do ano.
Segundo Lacerda, a estratégia do BC é correta, já que nas demais economias os juros reais estão negativos ou próximos de zero. Nas contas dele, a inflação recuará para um patamar entre 7% e 8% em 2016, mas taxa real ainda será a maior do mundo. “Se não reduzirmos a Selic, nossa política monetária ficará ainda mais restritiva. Isso trará problemas ainda maiores para a economia brasileira”, disse.
Para o economista José Luis Oreiro, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a inflação começou a dar sinais de que entrará em trajetória de declínio, após o resultado do IPCA de fevereiro cravar alta de 0,9%. Nos últimos 12 meses, a carestia teve variação de 10,36%. Ele comentou que a expectativa do BC é de que o aumento do custo de vida deva cair para 7,5%, o que aumentará os juros reais. “A queda de juros a partir a partir do 2º semestre faz sentido nessas condições”, comentou.
Oreiro observou que esse resultado ainda ficaria acima do teto da meta, de 6,5%. Segundo ele, o Conselho Monetário Nacional (CMN) deveria redefinir o objetivo a ser perseguido para 2016, 2017 e 2018. Ele lembrou que em 2003 o colegiado tomou decisão semelhante, após a inflação do ano anterior ter forte alta. “As metas até 2005 eram irreais e foram ajustadas. Agora, isso também poderia ocorrer, e o objetivo passaria a ser 5,5%, com o mesmo intervalo de tolerância”, sugeriu.
Tarifaço menor
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) projetou para o conjunto de preços administrados aumento de 5,9% em 2016. Na ata de janeiro, a estimativa para a elevação das tarifas públicas era de 6,3%. O cálculo levou em consideração a estimativa de reajuste médio de 9,9% nas passagens de ônibus urbano e de redução de 3,5% nos preços da energia elétrica, consideradas as alterações nas bandeiras tarifárias. Para 2017, a autoridade monetária manteve a expectativa de aumento de 5% dos preços administrados.
Graduado em Economia pela FEA-USP. Mestre e Doutor em Economia pela Fundação Getúlio Vargas em São Paulo. Foi pesquisador visitante nas Universidades de Cambridge UK e Columbia NY. Foi economista chefe, gestor de fundos e CEO em instituições do mercado financeiro em São Paulo. É professor de economia na FGV-SP desde 2002. Brasil, uma economia que não aprende é seu último livro.
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