Recebi de um leitor do meu blog o seguinte comentário
“Vergonhosa e antidemocraticas a situação privilegiada dos barnabés em relação aos cidadãos sem vínculo com o estado.
No Brasil há dois tipos de cidadãos: os de primeira categoria, os barnabés; os de segunda categoria, os sem vínculo com o estado. Os segundo sustentam os primeiros e esses gozam dos salários mais altos do que a média de mercado e de aposentadorias integrais…”
Segue abaixo a minha resposta:
“
Fábio,
Você reproduz os preconceitos da mídia e dos analistas do mercado financeiro contra os servidores públicos. Vamos aos fatos:
(i) A Presidente Dilma Rousseff regulamentou a reforma da previdência dos funcionários (civis) da União feita pelo governo Lula em novembro de 2003, no ano de 2003. A partir dessa data, os novos funcionários civis da União se aposentam pelo teto do INSS.
(ii) Os funcionários civis da União que tem direito a aposentadoria integral são apenas os que, como eu, ingressaram no serviço público antes de novembro de 2003. Quero ressaltar, contudo, que, ao contrário dos servidores que ingressaram após 2013, os servidores que tem direito a aposentadoria integral pagam contribuição previdenciária sobre o total dos seus vencimentos, não apenas sobre o valor referente ao teto do INSS. Minha alíquota efetiva de contribuição previdenciária é de cerca de 14% do meu salário bruto.
(iii) Não é verdade que os servidores públicos ganhem mais do que trabalhadores com qualificação equivalente aos do setor privado. O setor público federal concentra os trabalhadores mais bem qualificados do país em termos de grau de escolariedade. Também exercem funções que não tem paralelo no setor privado (por exemplo, fiscal da receita federal, Juiz, promotor, técnico do Banco Central, etc). Além disso, em função da pejotização os trabalhadores mais bem remunerados do setor privado – por exemplo, a turma do mercado financeiro, professores de instituições de ensino como a FGV, advogados, engenheiros, etc – recebem “lucros”, não salários. Dessa forma, quando se tira a média dos rendimentos SALARIAIS do setor privado, cria-se um viés para baixo nos mesmos, dando a impressão que apenas no setor público que se tem elevadas remunerações.
(iv) A maior remuneração do setor público se encontra no poder judiciário. Em tese, existe um teto remuneratório de 40 mil reais para Juiz do Supremo Tribunal Federal. Infelizmente esse teto não é cumprido no poder judiciário por uma série de mecanismos. No poder executivo é IMPOSSÍVEL ganhar acima do teto.
(v) Por fim, salários “altos” no setor público sempre e em qualquer lugar foram a forma de se atrair para o ESTADO os profissionais mais qualificados e, dessa forma, prestar serviços públicos de qualidade. Se a qualidade do serviço público federal tem caído nos últimos anos isso se deve a “política de austeridade fiscal” que tem restringido as novas contratações de servidores públicos, muitas vezes impedindo ou retardando a reposição dos servidores que se aposentam.
Espero que com esses esclarecimentos voce pare de repetir as bobagens ditas pelos economistas do mercado financeiro que querem fazer o ajuste fiscal encima dos servidores públicos – destruindo assim o Estado Brasileiro – ao invés de pagarem mais imposto de renda. Esses são os verdadeiros “barnabés”.
Att”
Este senhor, não só pelo termo mas também pelo estágio de conhecimento sobre a Administração Pública, denuncia por si só em sua fala recheada de ignorância e preconceitos o seu grau de civilização e de atualização sobre o Estado brasileiro e suas particularidades.
“aposentadorias integrais”…humpf!
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Já vi, professor, o comentário do seu leitor em mais de um tópico que publiquei, nos últimos meses, de modo que resolvi escrever um breve artigo a respeito: http://isosendacz.org/2021/11/17/economia-de-uma-nota-so/
Nele, comparo a despesa com juros – a que os alunos do Instituto Milleniun consideram intocável e justa de se fazer – com a parte pública da previdência (a que excede a administração das cotas patronais e dos empregados) e a folha de milhões de servidores.
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Prezado José Luis Oreiro, que surpresa positiva ver um comentarista de economia falar a verdade à população, que é normalmente enganada e manipulada para odiar os servidores públicos. Certamente para destruir o Estado brasileiro mais rápido e deixar o povo ainda mais à mercê da exploração.
Que satisfação, ainda mais como servidor público, saber que há jornalistas como você. Isso nos dá esperança que, talvez um dia, o povo abra os olhos para enxergar esse tipo de manipulação para que os cidadãos atuem contra seus próprios interesses!
Parabéns e alvíssaras! Que possamos, todos juntos, construirmos um país menos desigual e mais próspero para todos! 👏🏼👏🏼👏🏼
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Republicou isso em Iso Sendacz – Brasile comentado:
A queixa recebida pelo professor de Economia da UNB não é nova nas redes sociais, e parece encontrar especial eco entre aqueles que, sem declinar motivo, defendem a intocabilidade da remuneração financeira ante o cumprimento dos deveres constitucionais do Estado, seja junto à população, seja para com os servidores que atendem a sociedade, com vista à universalização dos serviços.
Ano passado, trouxemos um comparativo da renda do trabalho, por setor, com base em dados da Receita Federal de 2018.
Já na recente Economia de uma Nota Só tecemos algumas considerações que julgamos pertinentes, agora enriquecidas por Oreiro que, de resto, desmistifica respeitosamente ao cidadão as falácias que reproduziu. Como compete aos verdadeiros barnabés.
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Sandro,
Uma retificação. Eu não sou jornalista. Sou economista de formação, com graduação, mestrado e doutorado em economia.
Abs
Oreiro
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