Pessoas acostumadas a fazer compras de produtos básicos foram surpreendidas com o aumento desde agosto
Por Thiago Quint
A alta dos preços de alimentos conhecidos da mesa dos brasileiros também foi sentida pelos moradores do Distrito Federal. Divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Índice de Preços para o Consumidor Amplo (IPCA) no DF teve crescimento de 0,95% para alimentos e bebidas, encarecimento maior que o índice do Brasil, de 0,78%. Dentro dessa perspectiva e considerando os mercados da capital nacional, os destaques da categoria são os valores do tomate, do óleo de soja, do arroz e das carnes, que registraram um crescimento de 24,39%, 13,98%, 6,31% e 4,54% respectivamente.

Diante dessa realidade, Rosina Martins, dona de casa e diarista, se mostra compreensiva, apesar de alegar dificuldades com relação ao alto custo dos mantimentos. Ela acredita que os preços subiram por conta do prejuízo que a pandemia trouxe consigo. “Infelizmente, em algum momento isso acabaria refletindo para nós, os consumidores, que precisamos arcar com a alimentação diária. Está difícil”, comentou.
Um dos motivos para a alta no preço desses produtos é a desvalorização do real frente ao dólar, explica José Luís Oreiro, professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB). Segundo ele, isso faz com que a exportação se torne mais vantajosa para os produtores de commodities no Brasil, o que reduz a oferta para o mercado doméstico, pressionando os preços dentro do país.
Atrelado a isso, disse Oreiro, está a política de redução dos estoques reguladores de alimentos adotada pelo governo desde 2016 como uma das causas. “Se tivéssemos os estoques reguladores em grande quantidade, o governo poderia vender parte desses estoques e, consequentemente, diminuir o ímpeto de elevação do preço dos commodities no mercado interno”, comentou.
Por outro ponto de vista, Marina Rossi, professora de macroeconomia da UnB, menciona o auxílio emergencial como agente. Para ela, a ajuda de custo é um componente que aquece a demanda dos brasileiros por alimentos básicos e, dessa forma, faz com que os preços de produtos agrícolas populares subam naturalmente, baseado na lei da oferta e procura.
Na comparação do IPCA de alimentos e bebidas de Brasília (0,95%) com o de outras capitais do Centro-oeste, como Campo Grande/MS (2,31%) e Goiânia/GO (1,46%), Rossi explica que cada região metropolitana possui uma cesta de bens, que depende das características, perfil e gosto da população, o que provoca diferença entre as cidades.
“Campo Grande, por exemplo, está mais próximo dos produtores de carne e o custo pode ser mais do produtor do que da logística em si. Apesar disso, esses números a médio e a longo prazo irão convergir e ficarão mais próximos”, esclareceu.
Como forma da população tentar contornar o cenário negativo da alta, ela recomenda a substituição de alguns pratos do cardápio por opções mais em conta. Entretanto, ressalta a dificuldade da população em encontrar um substituto para o arroz por exemplo, isso porque o alimento é essencial no cotidiano da culinária brasileira.
Oreiro defende o emprego de uma estratégia de segurança alimentar como solução. A ideia giraria em torno de estabelecer cotas de exportação de certos produtos e procurar recompor os estoques reguladores com o objetivo de reduzir a onda de altos valores nos mercados.
Quanto às expectativas para o decorrer do ano, os entrevistados esperam uma queda no preço dos alimentos nos próximos meses. “A boa notícia é que essa inflação é um fenômeno temporário, não significa que vai voltar a hiperinflação ou ter um descontrole inflacionário. Lembrando que estamos na entressafra. Nos próximos meses, essa situação deve ser revertida, por volta do começo do ano que vem”, disse Oreiro.
Embora a situação se mostre tensa no momento e a população procure referências inflacionárias em outras situações recentes, o historiador Frederico Tomé recorre a um período bem distante do qual vivemos. “O panorama se assemelha aos fenômenos de fome que o Brasil enfrentou no século 18 em algumas cidades litorâneas, que eram obrigadas a preencher, por lei, os navios portugueses que partiam nas carreiras das Índias”, expôs.
“Os estoques pequenos dessas cidades eram afetados por essa imposição que Portugal tinha sobre o Brasil, que, na época, ainda era uma colônia”, completou Tomé.