• Página pessoal de José Luis Oreiro
  • Página da Associação Keynesiana Brasileira
  • Blog da Associação Keynesiana Brasileira
  • Página do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro
  • Página da Associação Nacional dos Centros de Pós-Graduação em Economia
  • Página pessoal de Luiz Carlos Bresser-Pereira
  • Página do Levy Institute
  • Página da Associação Heterodoxa Internacional
  • Blog do grupo de pesquisa Macroeconomia Estruturalista do Desenvolvimento
  • Post Keynesian Economics Study Group
  • Economia e Complexidade
  • Página de José Roberto Afonso
  • Centro Celso Furtado
  • Departamento de Economia da Universidade de Brasilia
  • About José Luis Oreiro

José Luis Oreiro

~ Economia, Opinião e Atualidades

José Luis Oreiro

Arquivos Mensais: outubro 2017

O papel da indústria (O Estado de São Paulo, 30/10/2017)

30 segunda-feira out 2017

Posted by jlcoreiro in Debate macroeconômico, Estratégias de Desenvolvimento, Keynesianismo, Mídia, novo-desenvolvimentismo, Opinião, Oreiro

≈ 1 comentário

Tags

Dani Rodrik, Estratégias de Desenvolvimento, José Luis Oreiro, Samuel Pessoa

Fernando Dantas

30 Outubro 2017 | 18h04

A economia está se recuperando, mas todos concordam que se trata de uma retomada cíclica. Para iniciar um novo ciclo de crescimento sustentável, o Brasil tem vários obstáculos à frente. O mais comentado é a bomba fiscal ainda não desarmada. No campo dos neodesenvolvimentistas, entretanto, a desindustrialização é considerada um problema chave.

O debate é antigo. Economistas heterodoxos tendem a enfatizar o vigor industrial como um ingrediente indispensável para uma sólida trajetória de aumento da produtividade no médio e longo prazo.

Em recente artigo, em que faz uma interessante discussão sobre os países africanos e suas perspectivas de crescimento, o economista Dani Rodrik, de Harvard, cita as três razões clássicas pelas quais a indústria é considerada um passaporte para o desenvolvimento.

 A primeira é ser um setor que facilmente absorve tecnologia externa e cria postos de trabalho de alta produtividade. A segunda é que o trabalho na indústria não requer muita capacitação, sendo possível absorver camponeses da agricultura tradicional com apenas um pouco de treinamento. E, em terceiro lugar, a possibilidade de exportar faz com que a demanda por produtos manufaturados não seja limitada pelo consumo doméstico.

O problema, segundo Rodrik, é que o mundo está mudando rápido. A indústria está cada vez mais exigente em termos de capacitação e a globalização tornou o mercado global de manufaturas extremamente competitivo – não é fácil arrancar uma fatia dos superpoderosos países asiáticos. Assim, ele prossegue, há desindustrialização em boa parte do mundo emergente.

“É como se a escada rolante tivesse sido retirada dos países que ficaram para trás”, escreve o economista.

No caso da África, entretanto, ele nota que países como Etiópia, Costa do Marfim, Tanzânia, Senegal, Burkina Faso e Ruanda (e, na Ásia, Índia, Myanmar, Bangladesh, Laos, Camboja e Vietnã) continuam crescendo e devem ter expansão do PIB de 6% ou mais este ano.

Especialmente em relação à África, o que chama a atenção de Rodrik é que o bom desempenho continua mesmo depois do fim do boom de commodities, que empurrou muitas economias do continente. O fenômeno também se dá – o que ele considera estranho à primeira vista – sem sinais significativos de industrialização (e até pelo contrário, em alguns casos).

Em recente trabalho com colaboradores, Rodrik detectou que o êxodo rural naqueles países africanos, que continua, tem como principal destino não a indústria, mas sim os serviços. E, embora haja um salto inicial de produtividade entre a agricultura tradicional e os serviços, este último setor tem um mau desempenho de produtividade. Isso faz o economista prever que o crescimento desses países africanos pode vir a ser uma espécie de “voo de galinha”.

Uma importante causa desse padrão de mudança da estrutura produtiva, segundo Rodrik, pode ser o fato de que a demanda por detrás desse crescimento é interna, derivada dos ganhos de produtividade na agricultura, e não uma demanda externa por manufaturados. Outro fator que pode estar estimulando a demanda nesses países são transferências do exterior.

Este é um debate relevante para o Brasil, que, embora com um nível de desenvolvimento bem superior ao dos países africanos mencionados, tem o seu crescimento comprometido pela pífia performance da produtividade – e a expansão do emprego nos serviços não sofisticados, em vez de na indústria, é apontada como uma causa importante por uma corrente de economistas.

O economista José Luiz Oreiro, da UnB, diz que “o artigo do Rodrik vai bem na linha do que os novo-desenvolvimentistas defendem”. Para ele, “a transição de uma economia de renda baixa para uma de renda alta só é possível por intermédio da industrialização”.

Nessa visão, o aumento da fatia dos postos de trabalho da indústria no emprego total e a ampliação do valor adicionado da manufatura no PIB geram os ganhos de produtividade que levam a economia para níveis mais elevados de renda per capita.

“Melhorias na infraestrutura e na produtividade agrícola podem gerar ganhos temporários de crescimento, mas é a industrialização que atua como motor de crescimento de longo prazo”, explica Oreiro.

Ele considera que Rodrik endossa a “tese keynesiano-estruturalista” de que aquilo que o país produz (não apenas o que exporta) importa para o crescimento de longo prazo.

“Os liberais brasileiros estão redondamente enganados quanto à irrelevância da estrutura produtiva”, critica o economista.

Já Samuel Pessôa, economista-chefe da gestora Reliance e pesquisador associado do Ibre/FGV, faz uma mudança no enfoque da questão proposta por Rodrik.

“O que parece escapar, quando se lembra do desenvolvimento industrial da Ásia, é que ele já é uma consequência da ótima qualidade da educação e das elevadíssimas taxas de poupança”.

Nesse foco, a escolaridade de boa qualidade é necessária aos modernos postos de trabalho na indústria. Já a elevada poupança reduz o custo de capital (e a indústria é mais intensiva em capital que os serviços) e, por estar associada à possibilidade de taxas de câmbio mais depreciadas, abre espaço para o crescimento liderado pelas exportações e os consequentes ganhos de escala.

Assim, o caminho, tanto para países africanos como para o Brasil e outras economias de renda média que lutam para não ficar atoladas na armadilha da renda média, seria melhorar a qualidade da educação e estimular – na medida do possível – a poupança doméstica.

Esse é um debate que certamente deve voltar à tona quando o Brasil apagar os incêndios, especialmente na política fiscal, que ainda ameaçam a atual retomada cíclica. (fernando.dantas@estadao.com)

Artigos publicados no Diário de Comércio e Indústria

27 sexta-feira out 2017

Posted by jlcoreiro in Crise Econômica no Brasil, Debate macroeconômico, Desindustrialização, Macroeconomia do desenvolvimento, Metas de Inflação, Oreiro

≈ Deixe um comentário

Tags

Artigos de José Luis Oreiro

Caros leitores,

Em março de 2016 comecei a publicar uma coluna mensal de opinião do jornal Diário de Comércio e Indústria. Neste mês de outubro publiquei o vigésimo artigo. Nos próximos dias estarei disponibilizando os mesmos para download no meu site pessoal http://www.joseluisoreiro.com.br/artigos_na_midia.php. Confiram a lista dos artigos publicados na tabela abaixo.

Escassez de poupança? (Diário de Comércio e Indústria, 25/10/2017)

25 quarta-feira out 2017

Posted by jlcoreiro in Debate macroeconômico, Desindustrialização, José Luis Oreiro, novo-desenvolvimentismo

≈ Deixe um comentário

Tags

Desindusitralização, Investimento e poupança, José Luis Oreiro

O senso comum no debate econômico brasileiro afirma que um dos grandes problemas de nossa economia é a escassez de poupança doméstica, a qual seria a causa fundamental do elevado nível da taxa real de juros prevalecente no Brasil. Para pequenas economias abertas com mobilidade de capitais, contudo, a escassez de poupança doméstica pode ser vista, no máximo, como a causa dos déficits em conta corrente e, portanto, da tendência à sobrevalorização crônica da taxa de câmbio. A evidência empírica disponível aponta para a inversão da relação de causalidade – o câmbio apreciado é que causa os déficits em conta corrente e a escassez de poupança doméstica.

É fato, porém, que a poupança doméstica no Brasil é muito baixa, e que a retomada do crescimento sustentável exige um aumento da taxa de poupança, do contrário o Brasil continuará dependente de poupança externa e, portanto, refém dos humores dos mercados financeiros internacionais.

Uma das preocupações da Teoria Clássica do Desenvolvimento Econômico foi precisamente explicar como os países que passam por um rápido processo de industrialização conseguem aumentar sua taxa de poupança de 4-5% do PIB para níveis superiores a 15% do PIB num espaço de poucos anos. A explicação encontrada foi que nas fases iniciais do processo de industrialização, a existência de mão-de-obra excedente no setor de subsistência ou tradicional permite que o emprego no setor moderno ou industrial se expanda a grandes velocidades com um efeito praticamente nulo sobre o preço de oferta do trabalho. Como a produtividade é maior no setor moderno do que no setor de subsistência segue-se que a transferência de mão de obra do setor de subsistência para o setor industrial irá resultar num aumento da produtividade média da economia, sem que ocorra, concomitantemente, um aumento do nível do salário real. Esse processo de mudança estrutural irá produzir, portanto, um aumento da participação dos lucros na renda. Como a propensão a poupar a partir dos lucros é maior do que a propensão a poupar a partir dos salários haverá um aumento da taxa de poupança agregada. Ao longo do processo de industrialização das economias em desenvolvimento deve-se observar uma correlação positiva entre taxa de poupança, participação dos lucros na renda e participação da indústria de transformação no PIB.

Essa conjectura é respaldada pela experiência histórica dos países em desenvolvimento onde se observa a existência de uma correlação positiva entre taxa de poupança doméstica e participação dos lucros na renda; e a existência de uma correlação positiva entre a taxa de poupança e a participação da indústria de transformação no PIB.

Quais as lições que podemos tirar para o caso brasileiro? Nos últimos 10 anos ocorreu inegável processo de desindustrialização da economia brasileira seguido, mais recentemente, por uma redução da taxa de lucro sobre o capital próprio das empresas não financeiras. A partir do raciocínio acima, essa mudança estrutural perversa deve ser seguida também por uma queda da taxa de poupança, algo que de fato vem ocorrendo de forma acentuada na última década. O problema da “escassez de poupança” no Brasil pode ser apenas o resultado da perda de importância da indústria de transformação na economia. Nesse caso, a resolução “problema da poupança” passa obrigatoriamente pela reindustrialização da economia brasileira.

E o crescimento parece que não vem

18 quarta-feira out 2017

Posted by jlcoreiro in Crise Econômica no Brasil, Debate macroeconômico

≈ 1 comentário

Tags

A Grande Crise Brasileira

Bom dia pra você que acredita nas previsões otimistas da equipe econômica do governo e de parte dos analistas econômicos para o PIB de 2017 e acorda com a notícia de que o volume de serviços caiu 1% em agosto na comparação com julho, que o IBC-BR deve cair 0,24% em agosto na comparação com julho e que as consultas por crédito no BNDES tiveram o pior setembro desde 2002 [pós escrito: o IBC-BR veio pior do que o esperado: queda de 0,38% entre agosto e julho).

Crescimento sem industrialização? Algumas observações a partir do artigo de Dani Rodrik

17 terça-feira out 2017

Posted by jlcoreiro in Debate macroeconômico, Desindustrialização, Estratégias de Desenvolvimento, Macroeconomia estruturalista do desenvolvimento, novo-desenvolvimentismo

≈ Deixe um comentário

Tags

Dani Rodrik, Efeitos da desindustrialização

Para o azar dos liberais brasileiros que insistem na tese, desprovida de base empírica, de que o desenvolvimento econômico não depende da estrutura produtiva de um país, em particular do crescimento acelerado da produção industrial; o artigo de Dani Rodrik no Valor de hoje (http://www.valor.com.br/opiniao/5157940/crescimento-sem-industrializacao) mostra que as experiências recentes de crescimento acelerado dos países da África, puxados por investimentos em infraestrutura, mas não acompanhados por um crescimento da produção industrial com vistas a exportação, “são excepcionais e podem não durar”. Ele também argumenta que a desindustrialização prematura ocorrida em várias economias em desenvolvimento tirou das mesmas a sua força propulsora. Por fim, o autor destaca que “industrialização” e “investimento em capital humano” são complementares, ao invés de substitutos, como parecem acreditar os liberais tupiniquins.

 

 

Sobre Complexidade Econômica e Capital Humano: desfazendo alguns equivocos

15 domingo out 2017

Posted by jlcoreiro in Debate macroeconômico, Macroeconomia estruturalista do desenvolvimento, Oreiro, Ortodoxia versus heterodoxia

≈ 1 comentário

Tags

Debate Macroeconômico, José Luis Oreiro

Prezados leitores,

Em função das informações equivocadas divulgadas recentemente na grande mídia, quero informá-los que:

(i) Nunca afirmei ou escrevi que o capital humano não influencia a complexidade econômica, pelo contrário, no post “https://jlcoreiro.wordpress.com/2017/09/28/o-mito-de-que-a-estrutura-produtiva-nao-importa-uma-analise-dos-dados/” escrevi que “Segundo Hidalgo (2015, cap.10), o conhecimento técnico e científico está embutido nas pessoas (capital humano), nas máquinas e equipamentos (capital físico), na capacidade das pessoas em se conectarem e assim trocar informações (capital social). Dessa forma, aquilo que uma economia produz e exporta revela a sofisticação ou complexidade das suas capacitações produtivas. Além disso, Hidalgo (2015, pp.145-146) define a complexidade econômica como a combinação entre a diversidade e a sofisticação das atividades produtivas, a qual se origina do conhecimento técnico (knowhow) e científico (knowledge) acumulado ao nível da economia como um todo”.

(ii) A frase a Austrália é a exceção que confirma a regra, não foi dita ou escrita por mim.

(iii) Eu nunca defendi as políticas industriais dos governos Lula e Dilma. Aliás nunca defendi subsídio a indústria de transformação. Como novo-desenvolvimentista eu sempre defendi que a melhor política industrial é ter uma taxa de câmbio competitiva. Subsídios só devem ser concedidos a indústria nascente, nunca a indústrias longamente estabelecidas no país.

(iv) A complexidade econômica tem correlação positiva sobre a renda per-capita mesmo ao se controlar para uma série de variáveis (como, por exemplo,  o hiato tecnológico e o capital humano), como argumentei recentemente em artigo escrito em co-autoria com Luciano Gabriel e publicado em https://macrododesenvolvimento.wordpress.com/2017/10/11/o-papel-da-complexidade-economica-no-processo-de-desenvolvimento-teoria-e-evidencia-empirica/

(v) Uma análise empírica mais robusta a respeito da relação entre indústria  e crescimento de longo-prazo pode ser obtida no artigo “Manufaturing, economic growth and real exchange rate: empirical evidence in panel data” escrito em co-autoria com Luciano Gabriel e Frederigo Gonzaga Jayme Jr e aceito para o encontro da ANPEC de 2017. O mesmo pode ser baixado gratuitamente em https://www.anpec.org.br/encontro/2017/submissao/files_I/i6-0d8a2cbfe866186855adafd4a40853b7.pdf.

 

 

Poupança, lucros e indústria

14 sábado out 2017

Posted by jlcoreiro in Debate macroeconômico, Macrodinâmica Pós-Keynesiana, Macroeconomia do desenvolvimento

≈ 1 comentário

Tags

Investimento e poupança, Oreiro

O senso comum no debate econômico brasileiro afirma que um dos grandes problemas de nossa economia é a escassez de poupança doméstica, a qual seria a causa fundamental do elevado nível da taxa real de juros prevalecente no Brasil. Para pequenas economias abertas com mobilidade de capitais, contudo, a escassez de poupança doméstica pode ser vista no máximo como a causa dos déficits em conta-corrente e, portanto, da tendência a sobrevalorização crônica da taxa de câmbio. Ainda nesse caso, a evidência empírica disponível parece apontar para a inversão da relação de causalidade, ou seja, o câmbio apreciado é que causa os déficits em conta-corrente e, dessa forma, a escassez de poupança doméstica (a esse respeito ver http://joseluisoreiro.com.br/site/link/ff76f63b013442d0aac4da3684c92c15507e32d7.pdf).

É fato, no entanto, que a poupança doméstica no Brasil é muito baixa, e que a retomada do crescimento em bases mais sustentáveis exige um aumento da taxa de poupança, do contrário o Brasil continuará dependente de poupança externa e, portanto, refém dos humores dos mercados financeiros internacionais.

O que deve ser feito para aumentar a taxa de poupança? Para os economistas neoclássicos, a taxa agregada de poupança é resultado das decisões racionais dos agentes econômicos. Nesse contexto, uma taxa de poupança baixa seria o resultado agregado de preferências individuais fortemente orientadas para o consumo presente em detrimento do consumo futuro. Em termos mais técnicos, uma baixa taxa de poupança é o resultado de uma elevada taxa de impaciência intertemporal. Sendo assim, os países que apresentam uma elevada taxa de poupança são aqueles países em que, por questões culturais, as preferências individuais se orientam para o atendimento do consumo futuro, ou seja, são países onde a cultura atua no sentido de reduzir a taxa de impaciência intertemporal. Esse seria o caso dos países do Sudeste Asiático. Já em países latinos a cultura é mais voltada para a “boa vida” o que implica numa elevada taxa de impaciência intertemporal, o que termina por gerar uma baixa taxa de poupança. Considerando que mudanças culturais são difíceis, pra não dizer quase impossíveis, de ocorrer, os países latinos estão condenados a ser dependentes de poupança externa para o seu desenvolvimento, ao passo que os países asiáticos serão naturalmente “exportadores de capital”.

A (boa) macroeconomia foi construída a partir da refutação por J.M. Keynes da falácia da composição, ou seja, da ideia de que o todo é sempre e em todo lugar igual a soma das partes. Com efeito, a existência de agentes heterogêneos faz com que o comportamento dos agregados possa divergir, em muito. do comportamento do agente médio ou representativo. Se assim for, então a simples mudança na composição dos agentes (poupadores ou gastadores) na população total pode fazer com que a taxa agregada de poupança se modifique sem que seja necessário nenhum agente individualmente mudar as suas preferências e atitudes com relação ao consumo e poupança.

Uma das preocupações da Teoria Clássica do Desenvolvimento Econômico foi precisamente explicar como os países que passam por um rápido processo de industrialização conseguem aumentar sua taxa de poupança de 4-5% do PIB para níveis superiores a 15% do PIB num espaço de poucos anos (Lewis, 1954). A explicação encontrada foi que nas fases iniciais do processo de industrialização, a existência de mão-de-obra excedente no setor de subsistência ou tradicional permite que o emprego no setor moderno ou industrial se expanda a grandes velocidades com um efeito praticamente nulo sobre o preço de oferta do trabalho. Em outras palavras, o setor moderno se defronta com uma oferta de trabalho infinitamente elástica ao nível do preço de oferta do trabalho (igual ao salário de subsistência acrescido de um prêmio salarial para compensar os trabalhadores pelo incomodo da vida urbana). Como a produtividade é maior no setor moderno do que no setor de subsistência – pelo fato de que a produção no primeiro é intensiva em capital ao passo que a produção no segundo é intensiva em trabalho – segue-se que a transferência de mao de obra do setor de subsistência para o setor industrial irá resultar num aumento da produtividade média da economia, sem que ocorra, concomitantemente, um aumento do nível do salário real. Esse processo de mudança estrutural irá produzir, portanto, um aumento da participação dos lucros na renda. Como a propensão a poupar a partir dos lucros é maior do que a propensão a poupar a partir dos salários (Kaldor, 1956) haverá um aumento da taxa de poupança agregada. Em suma, ao longo do processo de industrialização das economias em desenvolvimento deve-se observar uma correlação positiva entre taxa de poupança, participação dos lucros na renda e participação da industria de transformação no PIB.

Essa conjectura pode ser confirmada com base numa amostra de 30 países em desenvolvimento para o período 1988-1992 (Ros, 2001). As figuras 1 e 2 abaixo mostram (i) a existência de uma correlação positiva entre taxa de poupança doméstica e participação dos lucros na renda ; (ii) a existência de uma correlação positiva entre a taxa de poupança e a participação da indústria de transformação no PIB.

Figura 1

Figura 2

Quais as lições que podemos tirar para o caso brasileiro? Nos últimos 10 anos tem ocorrido um inegável processo de desindustrialização da economia brasileira seguido, mais recentemente, por uma redução da taxa de lucro sobre o capital próprio das empresas não financeiras. A partir do raciocínio acima exposto essa mudança estrutural perversa deve ser seguida também por uma redução da taxa de poupança, algo que de fato vem ocorrendo de forma acentuada na ultima década. Sendo assim, o problema da “escassez de poupança” no Brasil pode não ser cultural, mas apenas o resultado da perda de importância da indústria de transformação na economia brasileira. Nesse caso, o resolução “problema da poupança”  passa obrigatoriamente pela reindustrialização da economia brasileira

Referências

Lewis, A> (1954). “Economic Development with Unlimited Supplies of Labor”. Manchester School of Economics and Social Studies, 28: 139-191.

Kaldor, N. (1956) “Alternative Theories of Distribution”, Review of Economic Studies, vol. 23, p. 83-100.

Ros, J. (2001). Development Theory and the Economics of Growth. Michigan University Press: Michegan.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

MANUFACTURING, ECONOMIC GROWTH AND REAL EXCHANGE RATE: EMPIRICAL EVIDENCES IN PANEL DATA

14 sábado out 2017

Posted by jlcoreiro in Debate macroeconômico, Estratégias de Desenvolvimento, Macroeconomia do desenvolvimento, novo-desenvolvimentismo, Ortodoxia versus heterodoxia, Seminários acadêmicos de economia

≈ Deixe um comentário

Tags

Câmbio e crescimento

Vejam em https://www.anpec.org.br/encontro/2017/submissao/files_I/i6-0d8a2cbfe866186855adafd4a40853b7.pdf

Posts

outubro 2017
S T Q Q S S D
 1
2345678
9101112131415
16171819202122
23242526272829
3031  
« set   nov »

Arquivos do Blog

Blogs que sigo

  • Paulo Gala / Economia & Finanças
  • Reação Nacional
  • amandagrdeassis
  • PROFESSOR WILIAM RANGEL
  • O Barômetro - A Economia sob Pressão
  • O Meio e o Si
  • Sidewalk Essays
  • José Luis Oreiro
  • WordPress.com

Minha página no Facebook

Minha página no Facebook

Estatísticas do Site

  • 924.067 hits

Blogroll

  • Associação Nacional dos Centros de Pós-Graduação em Economia – ANPEC
  • Association for Heterodox Economics
  • Blog do Desemprego Zero
  • Blog do Grupo de Pesquisa "Macroeconomia Estruturalista do Desenvolvimento"
  • Blog do Thomas Palley
  • CEPAL
  • Departamento de Economia da UMKC
  • Fundação konrad Adenauer
  • Globalidades
  • Grupo de Estudos de Dinâmica Econômica Evolucionária
  • Grupo de Estudos de Economia e Complexidade
  • Grupo de Estudos de Moeda e Sistema Financeiro
  • Instituto de Economia da Universidade de Campinas
  • Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro
  • Instituto para Estudos do Desenvolvimento Industrial (IEDI
  • Nobel Laureates in Economics
  • Página da Metroeconomica
  • Página da Revista de Economia Contemporânea
  • Página da Revista de Economia Política
  • Página da Revista Economia e Sociedade (Unicamp)
  • Página da Revista Nova Economia
  • Página da Sociedade Brasileira de Economia Política
  • Página de Anthony Thirwall
  • Página de Jan Kregel
  • Página de Joseph Stiglitz – Prêmio Nobel de Economia
  • Página de Lance Taylor
  • Página de Luigi Pasinetti
  • Página de Paul Davidson
  • Página do Boletim Economia & Tecnologia – UFPR
  • Página do Cambridge Journal of Economics
  • Página do departamento de economia da Universidade de Brasília
  • Página do Journal of Post Keynesian Economics
  • Página do Levy Economics Institute
  • Página do Mark Setterfield
  • Página pessoal de Amit Bhaduri
  • Página pessoal de Amitava Dutt
  • Página pessoal de Fernando Ferrari Filho
  • Página pessoal de Gilberto Tadeu Lima
  • Página pessoal de José Luis Oreiro
  • Página pessoal de Luiz Carlos Bresser-Pereira
  • Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal de Viçosa
  • Portal Rumos do Brasil
  • Post Keynesian Economics Study Group
  • Reação Nacional
  • Real-World Economics Review Blog
  • Top Brazilian Economists – REPEC
  • Valor Econômico
  • WordPress.com

Tags mais usados

"nova ordem" A crise da economia brasileira A Grande Crise Brasileira Ajuste fiscal Ajuste Fiscal no Brasil Ajuste fiscal possível Associação Keynesiana Brasileira Bresser-Pereira Ciro Gomes COFECON Consolidação fiscal controles de capitais Copom Corecon-DF Crise do Coronavírus Crise do Euro Crise do Governo Dilma Rouseff Crise Econômica no Brasil Crítica ao governo Dilma Rouseff crítica ao governo Temer Crítica ao social-desenvolvimentismo Câmbio sobre-valorizado Debate Macroeconômico Desenvolvimentismo inconsistente Desindusitralização desindustrialização economia brasileira Economia Pós-Keynesiana eficácia da política monetária Eleições 2018 Erros de Paulo Guedes Erros do Banco Central do Brasil Espanha Estagnação secular no Brasil Estratégia Neo-atrasista Estratégias de Desenvolvimento Fiscalismo suicida Governo Dilma Rouseff Governo Michel Temer Governo Temer Herr Bolsonaro inflação Joaquim Levy john maynard keynes José Luis Oreiro José Lus Oreiro José Serra Lançamento do livro "Macroeconomia do Desenvolvimento" Macroeconomia do desenvolvimento Macroeconomia Estruturalista do Desenvolvimento Metas de Inflação Nova recessão a vista? novo-desenvolvimentismo Oreiro Os erros de Paulo Guedes Paulo Guedes PEC 241 Política macroeconômica do governo Dilma Rouseff política monetária Política Monetária no Brasil Populismo latino-americano Problema dos juros no Brasil proposta para os pré-candidatos a Presidencia da República Reforma da Previdência Reforma de Previdência Regra de Ouro Relação entre poupança e investimento Samuel Pessoa Semi-estagnação da economia brasileira Seminários Acadêmicos de Economia Senado Federal Sobre-valorização cambial taxa de câmbio Taxa de juros Taxa real de câmbio

Crie um website ou blog gratuito no WordPress.com.

Paulo Gala / Economia & Finanças

Graduado em Economia pela FEA-USP. Mestre e Doutor em Economia pela Fundação Getúlio Vargas em São Paulo. Foi pesquisador visitante nas Universidades de Cambridge UK e Columbia NY. Foi economista chefe, gestor de fundos e CEO em instituições do mercado financeiro em São Paulo. É professor de economia na FGV-SP desde 2002. Brasil, uma economia que não aprende é seu último livro.

Reação Nacional

Uma alternativa Trabalhista Cristã

amandagrdeassis

PROFESSOR WILIAM RANGEL

"A família é base da sociedade e o lugar onde as pessoas aprendem pela primeira vez os valores que lhes guiam durante toda sua vida". (Beato João Paulo II)

O Barômetro - A Economia sob Pressão

Espaço de reflexão crítica sobre economia e política

O Meio e o Si

Seu blog de variedades, do trivial ao existencial.

Sidewalk Essays

brand new stuff, fresh ideas

José Luis Oreiro

Economia, Opinião e Atualidades

WordPress.com

WordPress.com is the best place for your personal blog or business site.

Privacidade e cookies: Esse site utiliza cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com seu uso.
Para saber mais, inclusive sobre como controlar os cookies, consulte aqui: Política de cookies
  • Seguir Seguindo
    • José Luis Oreiro
    • Junte-se a 2.860 outros seguidores
    • Já tem uma conta do WordPress.com? Faça login agora.
    • José Luis Oreiro
    • Personalizar
    • Seguir Seguindo
    • Registre-se
    • Fazer login
    • Denunciar este conteúdo
    • Visualizar site no Leitor
    • Gerenciar assinaturas
    • Esconder esta barra
 

Carregando comentários...