Dados do segundo trimestre mostram a economia em recuperação anêmica
Duas semanas atrás o IBGE anunciou o resultado do PIB do segundo semestre de 2017. Na comparação com o primeiro trimestre de 2017 (com ajuste sazonal), o PIB brasileiro apresentou um crescimento de 0,2%. É o segundo trimestre consecutivo de avanço do PIB, o que, na avaliação da equipe econômica do governo, significa que a economia brasileira finalmente saiu da grande recessão iniciada no segundo trimestre de 2014.
Acredito que essa avaliação é precipitada. Quando olhamos para a composição desse crescimento, observamos que, pelo lado da demanda, o crescimento foi puxado pelo aumento dos gastos de consumo das famílias, os quais cresceram 1,4% na comparação com o primeiro trimestre de 2017.
Boa parte desse aumento de consumo foi induzido pelos saques das contas inativas do FGTS, haja vista que o comércio apresentou um crescimento de 0,9%. Como se trata de um evento que não irá se repetir nos próximos trimestres então o consumo das famílias deve apresentar uma desaceleração no seu ritmo de crescimento até o final do ano.
Também chama atenção na decomposição do crescimento pelo lado da demanda o fato de os gastos de investimento recuarem 0,7% na comparação com o primeiro trimestre. Segundo o IBGE, o comportamento do investimento deveu-se à queda da importação de bens de capital e ao desempenho negativo da construção civil.
Quanto à importação de bens de capital, a queda indica que os empresários, confrontados com uma enorme capacidade ociosa, não estão animados para gastar com ampliação e modernização do parque produtivo, sem os quais é impossível aumentar a produtividade do trabalho e, com ela, a competitividade da indústria.
Sem aumentar a produtividade é impossível ter um ciclo sustentado de crescimento econômico. Já o desempenho negativo da construção civil reflete o efeito da política de contingenciamento dos gastos públicos no início de 2017 pelo governo para cumprir a meta de resultado primário, dada a frustração de receitas advinda da economia fraca. O ajuste fiscal via corte de investimento público continua cobrando um preço alto em termos de redução do potencial de avanço econômico.
Pelo lado da composição da oferta, observamos que a indústria brasileira continua em crise, apresentando uma queda de 0,5% com respeito ao primeiro trimestre de 2017. Ao olhar o comportamento dos diversos setores da indústria, constatamos que a queda da atividade industrial decorre da queda da construção civil e utilidades públicas; já a indústria de transformação se manteve estável, com avanço de 0,1%. O setor que puxou o crescimento pelo lado da oferta foi o de serviços, notadamente o comércio. Como a produtividade é muito mais baixa no comércio do que na indústria, a mudança na composição setorial da oferta veio acompanhada de queda da produtividade média da economia. Produtividade média mais baixa significa lucros menores no agregado – a não ser que os salários caiam de forma mais do que proporcional – o que desestimula ainda mais o investimento em ampliação e modernização da capacidade produtiva.
Em suma, os dados do segundo trimestre mostram uma economia que apresenta uma recuperação anêmica.
O espírito animal dos empresários continua adormecido e, mais importante, não há sinal de recuperação consistente da indústria de transformação. É a volta do Pibinho.
joreirocosta@yahoo.com.br
Professor da UNB e pesquisador do CNPq
José Luis da Costa Oreiro