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José Luis Oreiro

~ Economia, Opinião e Atualidades

José Luis Oreiro

Arquivos Mensais: janeiro 2012

Só austeridade não basta para solucionar a crise da Europa

31 terça-feira jan 2012

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Banco Central Europeu, Crise do Euro, Quantitative Easing

Ontem na reunião de cúpula dos países da União Européia foi aprovado um novo pacto fiscal que prevê sanções quase automáticas aos países que superarem o limite de 3% do déficit público anual. Se o limite for excedido durante um momento de recessão, o déficit estrutural, ou seja, aquele que prevaleceria caso a economia estivesse operando com pleno-emprego, não pode superar 0,5% do PIB. Foi estabelecido um prazo de cinco anos para os países da União Européia (com excessão do Reino Unido e da República Theca, os quais não assinaram o acordo) incorporarem esse dispositivo em suas constituições.

A lógica por trás da adoção desse novo pacto fiscal é que o mesmo irá sinalizar de forma críval para os mercados o compromisso dos governos dos países europeus com a estabilização – e eventual redução – do endividamento do setor público com respeito ao PIB, o que deveria levar – segundo a lógica desse argumento – ao aumento da confiança dos investidores, produzindo assim uma queda pronunciada das taxas de juros sobre os bonos soberanos dos países da área do Euro.

O problema com esse argumento é que o mesmo desconsidera duas questões fundamentais. A primeira é que o elevado nível de endividamento do setor privado da União Européia (Bancos e Famílias) pôs em marcha um processo de desalavancagem de famílias e bancos, o qual gerou uma forte contração dos gastos de investimento e de consumo, o qual foi o responsável pela estagnação do nível de atividade econômica nos países europeus. É a estagnação do nível de atividade econômica resultante desse processo de desalavancagem que produziu a enorme deterioração fiscal dos países da área do Euro após a crise financeira de 2007/08.  O pacote fiscal aprovado ontem transforma o efeito (a deterioração fiscal) em causa da crise.

A segunda questão está relacionada com os efeitos do pacote fiscal. Se todos os países da União Européia coordenarem esforços no sentido de uma consolidação fiscal neste momento, o resultado será uma queda generalizada da demanda doméstica na Europa e, por conseguinte, um aprofundamento do quadro recessivo. Isso irá reduzir ainda mais as receitas tributárias dos países europeus fazendo com que, no final do processo, o déficit fiscal seja maior, ao invés de menor, do que era no início. Provavelmente os mercados irão se antecipar a esses desdobramentos, exigindo prêmios de risco ainda mais elevados para a rolagem das dívidas públicas de países como Espanha e Itália; o que irá levar o Banco Central Europeu a ter que adotar novas rodadas de quantitative easing para evitar o colapso da área do Euro …

A solução para a crise da Área do Euro passa necessariamente pelo retorno ao crescimento. Enquanto isso não acontecer os mercados continuarão duvidando da capacidade dos governos soberanos desses países em honrar seus compromissos. Está claro que uma maior austeridade fiscal, no bojo de um processo de desalavancagem maciço do setor privado, em nada contribui para restaurar o crescimento, sendo, na verdade, contra-producente. Por outro lado, a maior parte dos países da área do Euro, com excessão da Alemanha, não tem espaço para a realização de políticas fiscais anti-cíclicas. Dessa forma, o retorno ao crescimento exige um aumento robusto da demanda externa. Isso só pode ser conseguido por intermédio de uma desvalorização da taxa real de câmbio. Mantido o compromisso com a continuidade da moeda única, uma desvalorização da taxa real de câmbio só pode ser obtida através de uma redução coordenada de preços e salários nominais no âmbito da área do Euro.

Daqui se segue, portanto, que o caminho para a solução da crise na Europa é a realização de uma grande política de rendas, onde os governos nacionais consigam negociar com trabalhadores e empresas um plano de redução de preços e salários nominais.

A Economia Pós-Keynesiana e o Mundo Pós-Crise Financeira de 2008

28 sábado jan 2012

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Associação Keynesiana Brasileira, Economia Pós-Keynesiana, frank hahn, john maynard keynes, Oreiro

Entrevista concedida a Revista Multiface (a ser publicada no Vol. 5. N.2)

A Revista Multiface é uma publicação científica para alunos de graduação
produzida pelos alunos do Programa de Ensino Tutorial (PET) da Faculdade
de  Ciências Econômicas da UFMG.

Multiface:  O economista Robert Lucas, um dos precursores da escola das expectativas racionais, afirmou que não é mais necessário ler a Teoria Geral do Emprego, do Juros e da Moeda, de John Maynard Keynes. Como o senhor avalia a importância da obra de Keynes para o entendimento das condições econômicas atuais?

Oreiro: Não concordo com o Lucas. A Teoria Geral de Keynes é uma obra fundamental para aqueles que desejam entender o funcionamento de uma economia capitalista moderna. Os modelos usados por Lucas e pelos novos-clássicos são relativamente sofisticados do ponto de vista matemático, mas representam economias extremamente primitivas. Os modelos de equilíbrio geral dinâmico usados pelos novos-clássicos representam economias onde (i) nenhuma transação pode ocorrer a “falsos preços”, ou seja, preços para os quais a oferta e a demanda de cada mercadoria não são iguais, (ii) a decisão de contratação de insumos e a venda da produção acabada no mercado são simultâneas de maneira que as empresas não necessitam financiar a atividade de produção e (iii) os mercados são completos no sentido Arrow-Debreu. Nesse tipo de economia não existe nenhum espaço para a moeda e o sistema financeiro. Os novos-clássicos só conseguem incluir moeda nos seus modelos por intermédio de “short-cuts” como as hipóteses de “cash-in-advance” ou a inclusão, a força, da moeda na função utilidade dos agentes. Sem essas hipóteses, indivíduos racionais não demandariam moeda, nem como meio de pagamento, no mundo suposto pelos novos-clássicos. Isso porque nesse tipo de economia, parafraseando Frank Hahn, “existe um preço cotado hoje, para um guarda-chuva a ser entregue em Cambridge, no Natal de 2112, se chover”. Em outras palavras, os mercados são completos de maneira que todas as transações podem ser efetuadas e liquidadas em t=0. Como não existem transações a serem realizadas depois de t=0, apenas entrega de mercadorias, também não há espaço para a moeda como meio de pagamento, e menos ainda como reserva de valor. Também não há espaço para o sistema financeiro, particularmente para bancos. Daqui se segue que a economia suposta por Lucas e pelos Novos-Clássicos é, no fundo, uma barter economy. Se isso é verdade então com que autoridade Lucas afirma que a leitura da Teoria Geral é desnecessária? Acaso ele quer afirmar que a análise de uma economia não-monetária, onde o sistema financeiro é inexistente, é mais relevante para o entendimento sobre o funcionamento de uma economia capitalista moderna do que a Teoria Geral de Keynes, a qual foi escrita para dar conta da análise de uma Economia Monetária de Produção? O problema é que esse pessoal do mainstream americano confunde formalismo com relevância. 

 Multiface:  Atualmente existe uma grupo de economistas considerados novos keynesianos. Qual a principal diferença entre esse grupo de economistas e aqueles que adotam o paradigma pós keynesiano? O senhor os consideraria como economistas realmente keynesianos?

Oreiro:    Os Novos-Keynesianos podem ser classificados em primeira e segunda geração. Nos trabalhos da primeira geração de novos-keynesianos (Stiglitz, Romer e Mankiw) o objetivo eram simplesmente mostrar a compatibilidade entre o suposto tradicional neoclássico de comportamento racional e os resultados da “velha” macroeconomia Keynesiana. Mais especificamente tratava-se de responder o porque agentes econômicos racionais mantinham preços e salários nominais rígidos face a uma queda da demanda agregada, quando essa rigidez era a responsável pela queda da produção e do emprego, a qual afetava de maneira adversa aos agentes econômicos em seu conjunto. A resposta dessa primeira geração de novos-keynesianos foi mostrar que num contexto no qual existem custo de ajustamento de preços e onde as imperfeições no processo de seleção e monitoramento dos trabalhadores pode dar origem a rigidez de salário real, pode ser do interesse privado das empresas manter os preços dos seus produtos inalterados face a uma queda da demanda agregada.

Os novos-keynesianos de segunda geração (Woodford e Galí) foram muito além disso. Eles resolveram replicar a mesma metodologia de construção de modelos dos novos-clássicos e adotaram o assim chamado “modelo de equilíbrio geral estocástico dinâmico”, ou seja, a versão inter-temporal do modelo de equilíbrio geral Arrow-Debreu para uma economia sujeita a “incerteza”, ou seja, na qual o resultado das decisões dos agentes econômicos é condicional ao “estado da natureza”. Foi a rendição final dos novos-keynesianos a hipótese de expectativas racionais. A diferença dos modelos DSGE dos novos-keynesianos com respeito ao dos novos-clássicos é que nos primeiros se impõe, de forma puramente ad-hoc, a existência de rigidez de preços. A justificativa para esse procedimento é que os modelos DSGE são a forma “correta” para se analisar os efeitos dinâmicos das políticas econômicas. Dessa forma, deve-se sacrificar a relevância no altar do formalismo.

 Eu tenho alguma simpatia pelos novos-keynesianos de primeira geração, mas acho um completo non-sense o trabalho feito pelos novos-keynesianos de segunda geração. Particularmente acho que o velho e antiquado modelo IS-LM-BP (ou sua versão remasterizada, o modelo IS-RM-BP) muito mais relevante para o entendimento a respeito do funcionamento de uma economia capitalista moderna do que o modelo DSGE.

 Quanto a considerar os novos-keynesianos como “realmente keynesianos” está claro que não considero. Não se trata de ter uma visão “fundamentalista” da obra de Keynes. Longe disso. Mas qualquer pessoa que tenha minimamente lido a Teoria Geral sabe que a economia ali apresentada não guarda nenhuma relação com a economia representada pelos modelos DSGE. Trata-se de uma apropriação indébita do nome de Keynes.

 Multiface: A zona do euro está passando por um período de crise em que alguns países têm enfrentado grande dificuldade para pagar as dívidas contraídas anteriormente. Em reposta a essa situação várias medidas de austeridade foram adotadas com apoio do Fundo Monetário Internacional e do Banco Central Europeu. Como o senhor avalia essas medidas?

Oreiro:  Acho que essas medidas não vão funcionar. A crise atual da área do Euro não está relacionada com governos gastadores que se endividaram em excesso, mas com o fato de que os países que compõe a área do Euro perderam a capacidade de imprimir sua própria moeda, de tal forma que os mercados de títulos soberanos estão sujeitos ao que eu denomino de “corrida para liquidez”, algo que é muito próximo em essência a uma corrida bancária. Considere que os detentores de títulos de um país como a Itália, por exemplo, passem a desconfiar, a partir de um determinado momento, da capacidade desse país em honrar as suas obrigações financeiras. Nesse caso, cada investidor tomando individualmente pode até não acreditar num default soberano, mas pode ficar incerto a respeito do comportamento dos demais investidores. Nesse contexto, se houver uma corrida para a liquidez, ou seja, se todos os demais n-1 investidores (ou uma fração significativa dos mesmos) resolverem liquidar suas posições em títulos da Itália, o preço de mercado desses títulos irá despencar, gerando uma grande perda de capital para o investidor que mantiver sua posição em títulos do governo desse país. Daqui se segue que cada investidor individual terá um forte incentivo a se desfazer de suas posições antes que todos os demais o façam. Como todos tem o mesmo incentivo o resultado é uma corrida para a liquidez, onde o preço dos títulos soberanos despenca e, consequentemente, a taxa de juros aumenta muito. A depender da extensão da elevação da taxa de juros, a dívida pública pode se tornar insustentável, o que realiza as profecias pessimistas dos investidores. A única forma de se evitar esse “equilíbrio ruim” é por intermédio do compromisso (que pode ser implícito) da autoridade monetária com a monetização da dívida pública em casos de “corrida para a liquidez”. Se o compromisso for crível então a corrida para a liquidez não irá ocorrer e a autoridade monetária não será obrigada a comprar os títulos soberanos.

Austeridade não é substituto para a função de emprestador de última instância. Isso porque a austeridade num momento de recessão atua apenas no sentido de aprofundar a queda do nível de renda e de emprego, reduzindo assim a arrecadação de impostos e, portanto, a capacidade dos governos de fazer frente aos seus compromissos financeiros.

 Multiface: A interpretação pós keynesiana trata como possível que uma economia mantenha sistematicamente uma taxa de juros maior do aquela considerada neutra – isto é, aquela que proporciona plena utilização da capacidade produtiva da economia. Podemos considerar que a economia brasileira tem uma taxa de juros muito acima da taxa neutra? Por quais razões isso ocorre?

 Oreiro: O Brasil possui uma taxa de juros sistematicamente elevada para os padrões internacionais, mesmo quando comparamos com outros países em desenvolvimento. Os economistas brasileiros, das mais diversas tendências, tem apresentado diversas explicações para o fenômeno, mas não existe um consenso na literatura brasileira sobre qual seja a causa dos juros elevados no Brasil. Eu acredito que uma explicação possível para esse fenômeno seja o fato de que o passado de alta inflação experimentado no Brasil, ao expandir enormemente o sistema financeiro e a demanda por substitutos próximos da moeda correte, criou uma “cultura rentista” em nosso país, na qual os indivíduos, das mais diversas classes sociais, ficaram viciados em juros elevados sobre aplicações com liquidez diária e risco praticamente zero. Essa cultura rentista pode ter gerado uma taxa de juros convencional muito alta, o que cria um piso abaixo do qual o Banco Central não consegue colocar a taxa de juros sob risco de perder totalmente a credibilidade por parte do público. Nesse contexto, a redução da taxa de juros torna-se um processo extremamente lento, realizado ao longo de vários ciclos de taxa de juros, onde a cada ciclo a taxa de juros média é ligeiramente mais baixa do que no ciclo anterior. Dessa forma, o público lentamente revê suas convenções sobre o valor “normal” da taxa de juros, permitindo assim ao Banco Central prosseguir no processo de redução de juros sem por em risco a credibilidade da política monetária.

 Multiface:  A formação da taxa de juros e as causas da inflação são explicadas de maneira diferente pelo teoria pós keynesiana. Como seria a gestão da política monetária sob uma perspectiva pós keynesiana e no que ela difere da gestão ortodoxa? Quais seriam os objetivos e  os mecanismos de ajuste adotados pela autoridade monetária?

 Oreiro: Deve-se observar que não existe um consenso entre os economistas pós-keynesianos sobre qual a forma ideal de condução da política monetária. Podemos identificar pelo menos duas posições sobre o tema. A primeira posição atribui um papel fundamental para a política salarial no processo de controle da inflação (vejam o livro de Hansjorg Herr e Milka Kasandziska, Macroeconomic Policy Regimes in Western Industrial Countries, publicado em 2011 pela Routledge). A ideia aqui é que, no longo-prazo, existe uma forte correlação entre a inflação salarial e a evolução do deflator implícito do PIB, de tal maneira que o controle do primeiro implica no controle do segundo. Nesse contexto, a política salarial deve seguir uma regra segundo a qual a taxa de variação dos salários nominais deve ser igual ao crescimento da produtividade do trabalho acrescido da meta de inflação. Os salários não podem ser corrigidos pela inflação passada em nenhuma circunstância, mas apenas pela meta de inflação perseguida pela autoridade monetária. Essa regra de reajuste dos salários nominais facilita a convergência da taxa de inflação com respeito a meta, fazendo com que o Banco Central possa manter a estabilidade da taxa de inflação com uma dosagem menor de taxa de juros. Nesta abordagem, a taxa de juros é um instrumento meramente auxiliar, embora fundamental, no controle da taxa de inflação. Sua função é impedir que a inflação apresente grandes desvios, ainda que temporários, com respeito a meta de médio e longo-prazo, em decorrência de pressões de demanda que induzam ao aumento das margens de lucro por parte das empresas. Isso por sua vez atua no sentido de conferir aos sindicatos a segurança de que reajustes de salário nominal com base na meta de inflação, ao invés de baseados na inflação passada, não irão proporcionar perdas salariais para seus filiados. Em resumo, nessa abordagem, o controle da taxa de inflação é conseguido por intermédio da coordenação entre as políticas monetária e salarial.

A segunda posição, a qual poderíamos chamar de “Keynesianismo vulgar”, acredita que o grande problema das economias capitalistas é a tendência a um estado de semi-depressão devida a escassez crônica de demanda agregada (ou seja, uma situação na qual a poupança de pleno-emprego supera o investimento). Para manter a economia operando com pleno-emprego é necessário então que o governo incorra no déficit fiscal necessário para absorver o excesso de poupança de pleno-emprego. A sustentabilidade do déficit fiscal no longo-prazo exige que a política monetária seja então usada para manter a taxa real de juros ligeiramente abaixo da taxa de crescimento do produto real, de forma a impedir o aumento exponencial da relação dívida pública/PIB. O controle da taxa de inflação seria obtido, nesse contexto, pela adoção de um regime de taxa de câmbio fixo combinado com controles fortes, se não proibição total, dos fluxos de capitais internacionais de curto-prazo aos moldes do prevalecente durante o Acordo de Bretton Woods.

 Pessoalmente tenho muito mais simpatia pela primeira posição do que pela segunda. É possível que economias como a Japonesa ou mesmo a Alemã tenham um problema crônico de “excesso de poupança” de tal forma que seja necessário um grande déficit fiscal (ou um grande saldo comercial) para manter o pleno-emprego. Mas certamente não é o caso de economias como a dos Estados Unidos ou do Brasil. Além disso, controlar a inflação por intermédio da adoção de um regime de câmbio fixo só seria viável no bojo de uma ampla reforma do sistema financeiro internacional, algo que parece inviável num mundo multi-polar.

 Multiface: A crise de 2007-08 abalou a teoria econômica ortodoxa diante de sua incapacidade de lidar com os problemas que surgiram. Desde então foi possível perceber aumento no interesse pela perspectiva pós keynesiana dentro do meio acadêmico? Como o senhor avalia a situação dessa corrente teórica no Brasil?

 Oreiro: A crise de 2007-08, a qual ainda não terminou, aumentou o interesse do público em geral tanto por Keynes como por Marx. No Brasil observamos um aumento do interesse, tanto dos estudantes de economia como do público em geral, pelas ideias de Keynes e de Pós-Keynesianos. Em nosso país a escola Pós-Keynesiana é bastante forte e atuante. O pensamento Pós-Keynesiano é largamente difundido entre os cursos de graduação e pós-graduação em economia no Brasil em função da presença de professores/pesquisadores dessa corrente teórica. Atualmente os centros mais representativos do pensamento pós-keynesiano no Brasil ainda são o Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e o Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas. Mas outros centros também tem se destacado na docência e pesquisa com base nessa corrente teórica. Aqui cabe destacar a UFRGS, a UFMG e a UnB. Não posso deixar de mencionar a importância para essa corrente de pensamento da criação, em 2008, da Associação Keynesiana Brasileira. Este ano faremos em São Paulo o V Encontro Internacional da AKB. Atualmente a AKB conta com mais de 100 filiados, número que aumenta a cada ano.

 Multiface:  O senhor e outros economistas pós keynesianos tem participação ativa em alguns veículos de mídia convencional. Você acredita que os meios de comunicação tem concedido mais espaço para essa interpretação distinta da economia?

 Oreiro: Com certeza. Atualmente os economistas pós-keynesianos tem um espaço bastante considerável em jornais como o Valor Econômico. Outros veículos de mídia convencional nos contatam regularmente para saber nossa opinião sobre assuntos diversos. A ditadura do pensamento único prevalecente até 2005 terminou no Brasil.

 Multiface:  A Revista Multiface tem como um de seus objetivos principais despertar o interesse dos alunos de graduação para a pesquisa acadêmica. O senhor poderia recomendar algum livro ou artigo para aqueles que desejam iniciar seus estudos na área de economia pós keynesiana?

 Oreiro: Recomendo dois livros. O primeiro, do Marc Lavoie, introduction to post-keynesian economics, publicado em 2009 pela Palgrave Macmillan. O segundo do Thomas Palley, post keynesian economics, publicado em 1996 também pela Palgrave Macmillan.

O retorno à semiestagnação (Valor Econômico, 27/01/2012)

27 sexta-feira jan 2012

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crescimento de longo prazo, desindustrialização, economia brasileira

O retorno à semiestagnação

Por José Luis Oreiro

 

Atualmente vive-se um clima de grande otimismo com as perspectivas de crescimento da economia brasileira. A crise na Europa e nos Estados Unidos, somada ao bom desempenho que a economia brasileira mostrou em 2010, tem levado várias pessoas a pensar que finalmente o gigante adormecido despertou e que o Brasil se encontra em vias de alcançar o nível de renda per capita dos países desenvolvidos, entrando assim para o seleto clube dos países do primeiro mundo. A realidade, porém, não é tão rósea como parece. Passados os efeitos da crise de 2008 sobre a economia brasileira, acumulam-se sinais preocupantes de que nosso país está voltando ao padrão de “semiestagnação” prevalecente no período 1994-2005.

O grau de dinamismo de uma economia é determinado pelas perspectivas de expansão daquele setor de atividade que for mais favorável ao crescimento de longo prazo. Esse setor é, e continuará sendo por um longo tempo, a indústria. O setor industrial é o ramo de atividade econômica responsável pela origem e difusão do progresso tecnológico para a economia como um todo, fonte de economias estáticas e dinâmicas de escala e que possui os maiores efeitos de encadeamento para frente e para trás na cadeia produtiva. Em função dessas características peculiares do setor industrial, as perspectivas de crescimento da economia como um todo dependem, em larga medida, da dinâmica da produção industrial.

No acumulado em 12 meses, taxa mensal de crescimento da indústria se reduz desde 2º semestre de 2010

No Brasil verificamos uma estreita correlação entre o crescimento do valor da produção industrial e o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Com efeito, no período compreendido entre o primeiro trimestre de 2004 e o segundo trimestre de 2010, a correlação entre o crescimento do PIB industrial e o crescimento do PIB foi igual a 0,84.

Quando nos debruçamos sobre os dados da produção física da indústria, constatamos que no acumulado dos últimos 12 meses, a taxa mensal de crescimento da produção industrial tem se reduzido continuamente desde o segundo semestre de 2010. Mais grave ainda, desde abril de 2011, a taxa de crescimento da produção física da indústria tem ficado ligeiramente acima de zero, fazendo com que a produção industrial ainda se encontre 3% abaixo do valor de pico verificado em outubro de 2008, passados mais de três anos da falência do Lehman Brothers.

Deve-se observar que a desaceleração e consequente estagnação da produção industrial se iniciam no segundo semestre de 2010, anteriormente, portanto, ao recrudescimento da crise fiscal na Europa, a qual data de meados do primeiro semestre de 2011.

A razão para a perda de dinamismo da produção industrial é de ordem interna da economia brasileira. Com efeito, a perda de dinamismo da indústria deve-se aos efeitos retardados da forte apreciação da taxa real de câmbio verificada no segundo semestre de 2009. A apreciação cambial tem gerado um forte movimento de substituição de produção doméstica por importações, fazendo com que a produção física da indústria brasileira apresente um baixo dinamismo, apesar da expansão robusta da demanda agregada doméstica.

Esses dados apontam para uma conclusão bastante preocupante. Se a perda de dinamismo da indústria brasileira está relacionada com a tendência a apreciação da taxa real de câmbio, a qual, diga-se de passagem, é uma constante na economia brasileira ao menos desde 2005; então, mesmo passados os efeitos da atual crise econômica nos países desenvolvidos, a indústria brasileira não irá recuperar o seu dinamismo.

Se a perda de dinamismo da indústria brasileira for de caráter permanente, e ao que tudo indica é, então podemos antecipar uma redução do potencial de crescimento da economia brasileira para os próximos anos. Entre o último trimestre de 2008 e o segundo semestre de 2011, o PIB industrial cresceu a uma taxa anualizada média de 4,05%, a qual é ligeiramente superior ao crescimento observado no segundo trimestre de 2011, indicando, portanto, um viés para baixo do crescimento do PIB industrial. Supondo que a correlação entre o PIB industrial e o PIB total se mantenha constante ao longo do tempo, um crescimento de 4,05% do PIB industrial aponta para uma expansão de 3,41% do PIB geral da economia brasileira nos próximos anos.

Entre 2004 e 2010, a economia brasileira cresceu próximo de 5% em função da existência de capacidade ociosa na indústria, força de trabalho abundante e relativamente barata, preços das commodities elevados nos mercados internacionais e grande expansão do crédito doméstico. Essa conjugação de fatores permitiu uma forte expansão da demanda agregada e, consequentemente, do nível de produção e de emprego sem a ocorrência de estrangulamentos pelo lado da oferta agregada ou do balanço de pagamentos.

Contudo, essas condições excepcionais se esgotaram. Além disso, a sobre-valorização cambial não só está acelerando o processo de desindustrialização do país como também está atuando no sentido de desestimular o aumento do investimento em máquinas e equipamentos, sem o qual é impossível aumentar o ritmo de expansão da produtividade do trabalho. Nesse contexto, um crescimento sustentado de 5% desejado pelo governo é apenas um “delírio de grandeza”.

José Luis Oreiro é professor do departamento de economia da Universidade de Brasília e pesquisador Nível 1 do CNPq. E-mail: joreiro@unb.br.

Oportunidade de bolsa de pesquisa no IPEA

24 terça-feira jan 2012

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gov br, ipea

Vejam o edital em http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=12870&catid=117&Itemid=5

Abs,

 

Oreiro

 

Copom reduz a selic em 0,5 p.p

19 quinta-feira jan 2012

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Copom, Dilma Rouseff, Taxa de juros, taxa selic

Acabei de ver na internet que o COPOM reduziu a meta da taxa selic em 0,5 p.p, tal como esperado pela maioria dos analistas de mercado. A Selic nominal se encontra agora em 10,5% a.a. Considerando uma expectativa de inflação de 5,5% para 2012 temos uma taxa real de juros próxima de 5% ao ano, o que coloca o Brasil como um dos campeões mundiais de taxa real de juros.

O Brasil convive a décadas com juros reais extremamente elevados, o que produz uma tendência crônica a apreciação da taxa real de câmbio, causa fundamental do processo de desindustrialização pela qual passa o país nos ultimos anos. 

O ciclo recente de redução da taxa nominal de juros não só não eliminou essa “patologia” da economia brasileira, como é apenas de caráter temporário. Assim que terminar a crise na área do Euro, os países desenvolvidos deverão retornar a “normalidade” de crescimento, com o consequente término da política monetária expansionista nos Estados Unidos, Europa e Japão. Veremos então uma elevação gradual das taxas de juros nos países desenvolvidos, o que irá reverter os fluxos de capitais internacionais em direção as praças situadas no hemisfério norte. Países emergentes, como o Brasil, que possuem déficits em conta corrente, serão obrigados a elevar a taxa de juros para conter os efeitos inflacionários da desvalorização abrupta da taxa nominal de câmbio resultante do “sudden stop” dos fluxos de capitais externos. Nesse cenário a taxa real de juros deverá se elevar para um patamar de 6 a 7% ao ano, o que implica numa selic nominal entre 11,5 a 12,5% ao ano, caso a meta de inflação seja mantida em 4,5% a.a.

Ainda está bem longe o dia em que poderemos ver juros reais civilizados no Brasil. Para tanto seria necessário a realização de profundas reformas estruturais no sistema financeiro, na gestão da dívida pública e na governança da política monetária, fiscal e cambial, algo que o governo da Presidente Dilma Rouseff parece não estar disposto a fazer.

O Sinal de Mario Monti

17 terça-feira jan 2012

Posted by jlcoreiro in Opinião

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bce, crise, mario monti

Os lideres políticos costumam utilizar uma linguagem sutil para sinalizar suas intenções ou desenvolvimentos futuros que sejam relevantes para seus respectivos países. Ontem foi o caso do Primeiro Ministro da Itália, Mario Monti, recorrer a esse expediente. Numa entrevista concedida três dias após o rebaixamento do rating da Itália pela S&P, Monti afirmou que “Um BCE independente, por sua vez, vai se sentir mais a vontade, depois que o pacto fiscal esteja no papel, com 27 ou 26 assinaturas“.  O premier italiano se referia a reunião de cupula da União Européia a ser realizada no final deste mês, ocasião em que poderá ser votado um novo pacto fiscal para a União Européia.

De forma bastante sutil, o premier italiano parece estar sugerindo que a partir do momento que um novo pacto fiscal for assinado, o BCE irá atuar pesadamente como “emprestador de última instância”, comprando títulos soberanos dos países do Sul da Europa em larga escala de forma a reduzir as taxas de juros incidentes sobre esses papéis. Nesse caso, conforme já mencionamos em outras ocasiões (https://jlcoreiro.wordpress.com/2011/11/28/a-falta-que-faz-um-emprestador-de-ultima-instancia/), será o fim da crise da dívida na União Européia. Restará então a tarefa de restaurar o crescimento, o que passa necessariamente pela solução do problema da competitividade externa dos países do Sul da Europa.

A Nova Vanguarda do Atraso (Estadão, 12/01/2012)

13 sexta-feira jan 2012

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José Serra

O desempenho da economia brasileira em 2011 foi modesto: o PIB cresceu menos de 3%, a segunda pior performance desde 2004. O freio da economia foi a indústria de transformação, que permaneceu estagnada.

A produção de bens de consumo durável declinou quase 2%. Pior foi o caso dos não duráveis: no ramo têxtil, a produção caiu 15%; em calçados e artigos de couro, menos 10%; no vestuário, -3,3%. De fato, o setor industrial anda de lado, ou, dependendo de onde, para trás. Até hoje não retomou o nível de produção anterior à crise de 2008-2009.

O leitor pode perguntar-se: como é possível isso se o consumo nos últimos anos aumentou tão rápidamente? Desde 2007 as vendas a varejo cresceram perto de 40% reais; em 2011, 5% A resposta é simples: crescem vertiginosamente as importações de produtos manufaturados. O déficit da balança comercial da indústria de transformação em 2011 (janeiro /novembro) cresceu 37% em relação a 2010, chegando a 44 bilhões de dólares! Em 2006, a balança era superavitária em 30 bilhões. Assim, boa parte dos empregos gerados pela febre de consumo dos últimos anos foi para o exterior.

Há uma desindustrialização em marcha no Brasil. Além do encolhimento do setor em relação ao PIB (faz mais de uma década), há uma desintegração crescente de cadeias produtivas, tornando algumas atividades industriais parecidas às “maquiadoras” mexicanas.

Mas atenção! Os produtos manufaturados que importamos não são mais baratos, e os que exportamos mais caros, porque a indústria brasileira seja mais ineficiente do que a chinesa ou coreana, embora, pouco a pouco, num círculo vicioso, isso possa acontecer. A explicação principal é o elevado custo sistêmico da economia brasileira.

Primeiro, a carga elevada e distorcida de impostos sobre a indústria. Um exemplo simples: de cada R$1 do custo do kw de energia elétrica, R$ 0,52 vão para tributos e encargos setoriais!

Segundo, a péssima infraestrutura. O governo federal destina pouco para investir e investe pouco daquilo que destina, em razão de falta de planejamento, prioridades e capacidade executiva. O país realiza um dos menores investimentos públicos do mundo como fração do PIB. Mais ainda, devido a esses fatores, acrescidos de populismo e preconceitos, os governos do PT não conseguiram fazer parcerias amplas com o setor privado na infraestrutura.

Há uma terceira condição decisiva para a desindustrialização: a persistente sobrevalorização da moeda brasileira diante das moedas estrangeiras: cerca de 70% desde 2002, segundo estimativa de Armando Castelar. Isso aumenta fortemente os custos brasileiros de produção em dólares: dos salários à energia elétrica.

Isoladamente, a sobrevalorização é o fator mais importante que barateia nossas importações e encarece as exportações de manufaturados. Levá-la em conta ajuda a compreender por que temos o Big Mac mais caro do mundo e os nossos turistas em Nova York, embora em menor número do que os alemães e os ingleses , gastam mais do que os dois somados.

Economistas e jornalistas de fora do governo falam contra a idéia de existir uma política específica para a indústria. Opõem-se à teoria e à prática de uma política industrial, que, segundo eles, geraria distorções e injustiças. Já o pessoal do governo e seus economistas falam enfaticamente a favor da necessidade e da prática de política industrial. Nessa discussão, gastam-se papel, tempo de TV a cabo e horas de palestras.

É uma polêmica interessante, mas surrealista, pois não existe de fato uma política econômica abrangente e coerente, de médio e longo prazos, que enfrente as causas da perda de competitividade da indústria. O programa Brasil Maior? Faltam envergadura e capacidade de implantação, sobram distorções. E a anarquia da política de compras de máquinas e equipamentos para a área do petróleo ou a confusão dos critérios de crédito subsidiado do BNDES? Têm alguma racionalidade em termos uma política industrial? Nenhuma!

Alguém poderia indagar: “E daí? Qual é o problema de o Brasil se desindustrializar? Temos agricultura pujante, comércio próspero e outros serviços se expandindo. Tudo isso gera emprego e renda. Devemos seguir comprando mais e mais produtos industriais lá fora, pois dispomos dos dólares para tanto: vendemos minérios e alimentos e recebemos muitos investimentos externos”.

Desde logo, nada contra sermos grandes exportadores de produtos agrominerais. Os Estados Unidos fizeram isso nos século 19 e boa parte do século 20 e ainda viraram a maior potência industrial do planeta, expandindo ao máximo a exportação de manufaturas. A riqueza em commodities não é a causa necessária de retrocesso industrial. Pode, sim, ser fator de avanço. O retrocesso só está existindo porque os frutos dessa riqueza não estão sendo utilizados com sensatez e descortino.

Ao se desindustrializar, o país está perdendo a sua maior conquista econômica do século 20. Estamos a regredir bravamente à economia primário-exportadora do século 19; a médio e longo prazos, esse modelo é vulnerável no seu dinamismo, por ser muito dependente do centro (hoje asiático) da economia mundial. Os países com desenvolvimento brilhante têm sido puxados pela indústria, setor que é o lugar geométrico do progresso tecnológico e da geração dos melhores empregos em relação à média da economia.

O Brasil tem 190 milhões de habitantes, a 77ª renda per capita e o 84º IDH do mundo. É preciso ter claro: sua economia continental não proporcionará a renda e os milhões de empregos de qualidade que o progresso social requer tendo como eixo dinâmico o consumo das receitas de exportação de commodities.

A indagação retórica que fiz acima envolve um conceito que tornaria o futuro da economia brasileira vítima de um presente de leniência e indecisão. Conceito que pauta, de fato, o lulopetismo. É que um marketing competente consegue dar uma roupagem moderna a essa nova vanguarda do atraso.

Medidas de estímulos à economia são necessárias, dizem analistas (O Globo, 10/01/2012)

10 terça-feira jan 2012

Posted by jlcoreiro in Mídia

≈ 1 comentário

Medidas de estímulos à economia são necessárias, dizem analistas

Autor(es): agência o globo:Bruno Villas Bôas
O Globo – 10/01/2012
Ao  mesmo tempo em que houve avanços para a criação de um imposto sobre  transações financeiras e a inclusão de mecanismos de controle da  disciplina fiscal, os líderes de Alemanha e França ressaltaram, após a  reunião de ontem, a necessidade de novos estímulos ao crescimento  econômico e à criação de empregos para atacar a crise na zona do euro.  Enquanto alguns analistas veem a disciplina fiscal comum como passo  necessário, outros destacam que, sem esse “segundo pilar”, com foco no  crescimento, não será possível sair da crise.

Na avaliação do  professor Luiz Carlos Prado, do Instituto de Economia da UFRJ, a  aparente incoerência de a chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente  francês, Nicolas Sarkozy, passarem a dar ênfase também a medidas de  estímulo, em paralelo aos pacotes de austeridade fiscal, pode ser  considerada normal.

– Os políticos europeus estão pressionados  pelas campanhas eleitorais. As oposições estão na frente das pesquisas  de opinião. A saída da crise só com medidas de austeridade, recessivas,  representa derrota nas urnas – diz Prado.

Já para o professor José  Luis Oreiro, do Departamento de Economia da Universidade de Brasília  (UnB), as autoridades alemães e francesas sabem que “austeridade sem  crescimento não resolve a crise”.

Como as possíveis ações citadas  por Merkel e Sarkozy passam pela criação de empregos e aumento da  competitividade, Oreiro antevê medidas para flexibilizar o mercado de  trabalho nos países da periferia da Europa. Segundo o professor, parte  do modelo exportador alemão está baseado em acordos – feitos após a  reunificação, nos anos 1990 – entre empresariado e sindicatos para, ao  mesmo tempo, reduzir o custo relativo da mão de obra (com salários  subindo menos do que a produtividade) e controlar o desemprego.

– Ou seja, o plano seria levar o modelo alemão para outros países – aposta Oreiro.

União monetária com desunião fiscal é problema

O  desafio, porém, será equilibrar os dois “pilares” – austeridade fiscal e  estímulo ao crescimento. Segundo Prado, como esse equilíbrio não é  simples, o processo de saída da crise pode ser marcado por diferenças  entre discurso e prática.

Segundo Alberto Ramos, economista para a  América Latina do banco Goldman Sachs, a disciplina fiscal é  fundamental. Nos últimos dez anos, a indisciplina fiscal, aliada ao  baixo crescimento, levou a dinâmica das dívidas públicas da zona do euro  a um ponto preocupante.

– Dado que é uma união de economias com  graus muito diferentes de competitividade, é importante ter maior  coordenação e harmonia fiscal na zona do euro. Uma união monetária com  desunião fiscal cria as tensões que estamos vendo – explica Ramos.

Para  André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, os países da  zona do euro estavam atentos aos problemas fiscais nos últimos dez  anos, mas faltou coesão política para mexer no “vespeiro de corte de  gastos públicos”.

– Essa crise é fundamental para fortalecer a  zona do euro. A Alemanha ganhou um “presente” para terminar a unificação  – diz Perfeito.

Do céu ao inferno em 10 anos, euro completa uma década de vida (Correio Braziliense, 31/12/2011)

02 segunda-feira jan 2012

Posted by jlcoreiro in Mídia

≈ 2 Comentários

 

Sílvio Ribas

Publicação: 31/12/2011 08:00 Atualização:

Lançada em janeiro de 2002 para fortalecer a Zona do Euro, a moeda comum perdeu força após o superendividamento de países como a Grécia, onde a violência tomou as ruas contra a união monetária (Kai PfaffenbachReuters - 6/1/04) Lançada em janeiro de 2002 para fortalecer a Zona do Euro, a moeda comum perdeu força após o superendividamento de países como a Grécia, onde a violência tomou as ruas contra a união monetária

Bem diferente da festa popular do réveillon de 2002, o décimo aniversário de circulação do euro, amanhã, será marcado por protestos organizados em redes sociais. A área em frente à sede do Banco Central Europeu (BCE), na cidade alemã de Frankfurt, concentrará a maior parte dos indignados, ilustrando bem o elevado nível de tensão e pessimismo na Zona do Euro. Para especialistas ouvidos pelo Correio, 2012 será o grande teste para a unidade dos 17 países que até agora aderiram à moeda comum, tendo nos bastidores um confronto entre a maior potência do grupo, a Alemanha, e o quarteto apelidado de sul da Europa — Espanha, Portugal, Grécia e Itália. Os economistas duvidam que a moeda única acabe. Mas todos admitem que o clube do euro está, enfim, muito mais exigente com seus sócios.

O espaço de circulação do euro foi aberto com 12 países e continuou se ampliando, mesmo após a turbulência bancária originada nos Estados Unidos e que obrigou governos europeus a se endividarem para conter os efeitos da crise. As adesões de países pequenos como Eslovênia (2007), Chipre e Malta (ambos em 2008), Eslováquia (2009) e Estônia (2011) foram comemoradas. “O euro é irreversível”, sentenciou Herman Van Rompuy, presidente do Conselho Europeu. Em contrapartida, “a Europa vive o momento mais dramático desde a Segunda Guerra”, alertou a chanceler alemã Angela Merkel.

Mais seletiva a novos candidatos, a Zona do Euro pode até ficar menor, caso esforços individuais e coletivos de seus atuais países-membros não obtenham sucesso. “Se não ocorrer em 2012, o racha do euro dificilmente virá depois”, definiu José Luiz Oreiro, professor da Universidade de Brasília (UnB). No seu entender, a fuga da moeda comum acarretaria pelo menos seis meses de forte instabilidade financeira e até três anos de recessão no país que tomar a atitude.

 (John Kolesidis/Reuters - 19/10/11) 


Preocupação

 “Há 25% de chance de haver abandono dos membros mais frágeis — Grécia, Itália e Espanha. O caso grego se explica pelo débito soberano impagável; o italiano, pela falta de consenso político; e o espanhol, pelo custo menor para sair”, calculou. Para o economista, tudo vai depender de como os cidadãos reagirão à austeridade exigidas pelo momento.

Um dos fatores extras de desestabilização é a sucessão incerta do presidente francês Nicolas Sarkozy — que divide com Merkel a liderança do grupo — nas eleições de maio. Mas a questão central, sublinhou Oreiro, é a competitividade perdida pelo sul da Europa, onde produtos e mão de obra estão sobrevalorizados. “O ajuste da taxa local de câmbio, hoje na casa de US$ 1,30, só viria com troca de moedas ou pelo agravamento da própria crise europeia”, disse. Nesse raciocínio, ele não descarta emissões de euros para derrubar a divisa, numa ação inspirada no Federal Reserve (Fed, o Banco Central norte-americano).

Crescer encurtaria a saída da crise, mas é algo que ninguém espera que ocorra tão cedo. A situação tensa na Europa esfriou as vendas de Natal no continente e reforçou a recessão aberta neste semestre. “O ano de 2012 é esperado com grave preocupação”, anotou um estudo da consultoria internacional Deloitte. A economista Sandra Polónia Rios, diretora do Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento (Cindes), acredita que deserções do euro podem ocorrer a partir de 2013. Até lá, França e Alemanha construiriam um modelo para reforçar a integração econômica e a política das nações que efetivamente tocarão o euro adiante.

“A coordenação fiscal terá de ser maior que o acordo da cúpula da União Europeia (UE) anunciado em dezembro e vetado pelo Reino Unido. Mesmo com a autoridade supranacional, devem surgir, enfim, penalidades automáticas para quem descumprir metas”, explicou Sandra. “O empobrecimento de países limita sacrifícios ditados por governos e isso pode levar a deserções”, ressaltou.

Brasil

No papel de fiadoras do diálogo, autoridades econômicas do bloco monetário se esforçam para mostrar otimismo. O ministro de Finanças da Alemanha, Wolfgang Schaeuble, descarta o colapso da Zona do Euro e aposta na sua estabilização ao longo de 12 meses, pondo fim a três anos de crise da dívida. “Teremos o risco de contágio sob controle”, afirmou. Ele reconheceu, contudo, que os problemas, em alguns países, são particularmente grandes e que resolvê-los levará muito tempo.

Além das expressivas perdas na bolsa de valores, os efeitos da crise europeia já alcançaram a economia real brasileira na forma da retração do crédito e do comércio internacional. O economista Fabio Giambiagi, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), avalia que esse processo avançará em 2012, mas com menor intensidade que na crise de 2008 e 2009. “Creio que o país enfrentará dificuldades temporárias. A Europa passará por uma recessão, prejudicando as exportações do país. Por outro lado, os mercados europeus já vêm perdendo peso na economia mundial há muito tempo, de modo a resultar em consequências menos graves que às do passado recente”, ponderou.

Para Giambiagi, o maior perigo para o Brasil está numa eventual quebra de bancos importantes da Zona do Euro. Por enquanto, ele vislumbra uma crise europeia séria no próximo ano, mas sem colapso do sistema financeiro nem saída de países do bloco da moeda comum.

Antídotos aos abalos

Apesar de sentir reflexos da crise europeia, a economia brasileira ainda exibe um determinado grau de blindagem, que é explicado, aos olhos dos especialistas, por condições econômicas distintas, parte delas obtidas após a última crise financeira global. Ernesto Lozardo, da Fundação Getulio Vargas (FGV-SP), vê como pontos favoráveis ao Brasil sistema bancário estruturado, empresas capitalizadas, renda e crédito bem distribuídos, capacidade de rolagem da dívida pública e baixa exposição às exportações. Ele lembra que o mercado interno segue robusto, o consumo está em alta, empresários e consumidores estão otimistas com o futuro e a política fiscal está sob controle. As preocupações, por ora, se restringem à piora do crédito e ao comércio global, mas, sobretudo, à desaceleração da China

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